Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes obesos atendidos por um hospital da rede pública de saúde de Campo Grande, MS Perfil epidemiológico de niños y adolescentes obesos atendidos por un hospital de la red pública de salud de Campo Grande, MS |
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*Graduado em Educação Física. **Instituto de Ensino Superior da Funlec – IESF Escola de Saúde Pública de Mato Grosso do Sul – ESP/MS (Brasil) |
Thiago Maia Pedro* Joel Saraiva Ferreira** |
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Resumo O objetivo deste estudo foi identificar o perfil epidemiológico de um grupo de crianças e adolescentes obesos, atendidos por um programa de tratamento de obesidade, realizado em um hospital da rede pública de saúde de Campo Grande, MS. A população investigada constituiu-se de 224 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos. Os dados foram obtidos por meio das informações contidas nos prontuários destes pacientes. Os resultados do estudo demonstraram que os valores de IMC não seguem um crescimento linear, mas são bastante altos para todas as faixas etárias pesquisadas. Em relação aos dados bioquímicos, chama a atenção o fato da glicose plasmática em jejum descrever uma leve propensão destas crianças e adolescentes a médio ou longo prazo poderem sofrer de diabetes, e os altos níveis de colesterol e triglicérides podendo ocasionar doenças coronarianas. Além disso, o consumo de calorias diárias total apresenta variação de 2500 a 4000 calorias e as horas diárias de sedentarismo variam de 2,5 a 4 horas, nas diferentes faixas etárias pesquisadas. Com isso, conclui-se que há grandes riscos à saúde desta população, inclusive com a possibilidade de desencadeamento de doenças do aparelho cardiovascular, já que existem vários fatores de risco presentes. Unitermos: Perfil epidemiológico. Crianças. Adolescentes. Obesidade |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010 |
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Introdução
A obesidade infantil é tida como o problema nutricional que mais rapidamente cresce no mundo inteiro, sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a doença do século XXI 1. Sua gravidade se dá pelo fato de que há uma forte associada desta doença com outros problemas de saúde, principalmente aqueles relacionados ao sistema cardiovascular e, por isso, quando a relação obesidade e saúde são examinadas, é necessário considerar não só o excesso de gordura corporal, mas a localização do tecido adiposo no corpo humano 2.
A obesidade é definida como uma doença complexa, multifatorial, caracterizada por excesso de tecido adiposo, envolvendo interações complexas entre genética, atividade física, fatores culturais e manutenção de um comportamento, que atinge uma parte expressiva da população entre crianças e adolescentes 3.
Os fatores que podem levar o indivíduo a tornar-se obeso são diversos, mas apenas 5% dos casos de obesidade são causados por doenças endocrinológicas. O restante dos casos refere-se a situações ligadas ao estilo de vida adotado, sendo que os fatores relacionados ao balaço nutricional encontram-se desequilibrados, favorecendo a formação de reservas energéticas na forma de tecido adiposo 4,5.
No Brasil, é importante destacar que cada vez mais os graus de obesidade se expandem pelo acúmulo de gordura em diferentes partes do corpo, tendo como algumas das causas fundamentais o sedentarismo, alterações bioquímicas e a alimentação com excesso de energia, derivada principalmente de alimentos ricos em hidratos de carbono e gorduras 6.
Além da quantidade de tecido adiposo, o padrão de distribuição de gordura pelo corpo é um fator de risco muito importante, representando riscos de doenças cardiovasculares, infarto e diabetes, principalmente se essa gordura estiver com um grande acúmulo na região abdominal 7.
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a prevalência da obesidade vem se expandindo muito devido a fatores como a modernização, a urbanização e o novo modelo de vida da sociedade, tendo como conseqüência um maior consumo de calorias devido a facilidade de alimentação, como também a falta de tempo e em alguns casos a insegurança urbana, além da precariedade de espaços públicos para a realização da atividade física em seu dia-a-dia, gerando um balanço energético positivo 8.
As estimativas de prevalência da obesidade infantil mundial são alarmantes e informam que há cerca de 17,6 milhões de crianças obesas com idade inferior a 5 anos. Já o número de crianças com idade entre 6 e 11 anos dobrou desde a década de 1960 e a obesidade na faixa etária de 12 a 17 anos aumentou de 5% para 9% em todo o mundo. Estima-se que no Brasil cerca de 20% das crianças são obesas e 32% da população apresentam um alto grau de excesso de peso, sendo 25% referentes a casos de obesidades mais graves. Acredita-se que no Brasil já há mais crianças obesas do que desnutridas 9.
Associado a esse quadro epidêmico, surgem outras doenças e agravos relacionados a presença de tecido adiposo, tais como: hipertensão arterial, resistência à insulina, diabetes, doença pulmonar, osteoartrite, vários tipos de câncer, altos níveis de colesterol LDL, VLDL e triglicerídeos, desvio do centro de gravidade do corpo e problemas psicológicos 10, 11.
Como a obesidade é resultante de um estado crônico de balanço energético positivo, no qual o ganho de energia (calorias) superou o gasto, o seu tratamento deve providenciar um balanço energético negativo. Logo, para alcançar isto, é necessário diminuir a ingesta alimentar por meio de dietas restritivas, cirurgias, drogas anorexígenas e/ou aumentar o gasto de energia por meio de exercícios 12.
No caso da obesidade infantil, para o tratamento ter um bom resultado é preciso uma reeducação alimentar, um aumento nas atividades físicas como andar para a escola, elevador versus escada, as brincadeiras fora de casa, como também as atividades físicas programadas, como as aulas de Educação Física, as aulas de esportes (natação, vôlei, futebol, ginástica, dança, artes marciais, etc.). Além disso, um suporte emocional, ou seja, o nível de motivação da criança do querer muito emagrecer é um dos principais fatores de sucesso 13.
Em relação ao tipo de exercício físico a ser realizado, com o intuito de diminuir a massa gorda corporal, aqueles classificados como aeróbios têm sua eficácia relacionada ao gasto durante a prática do exercício para a ressíntese de ATP. Já os exercícios anaeróbios contribuem para a manutenção da massa magra corporal e elevação do gasto energético em repouso relacionado ao metabolismo basal, além do fortalecimento dos sistemas muscular, esquelético e articular, o que favorecerá as condições de prática de exercícios com a diminuição do risco de ocorrência de lesões 14, 15.
Considerando as condições expostas, relacionadas a gravidade do quadro da obesidade infantil em todo o mundo, realizou-se este estudo, o qual teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico de crianças e adolescentes obesos, atendidos por um programa de tratamento de obesidade infanto-juvenil, em um hospital da rede pública de saúde de Campo Grande–MS.
Materiais e métodos
Este estudo caracteriza-se como sendo do tipo descritivo, quantitativo de campo e foi desenvolvido com 224 crianças e adolescentes de 6 a 17 anos, que buscaram atendimento visando o tratamento da obesidade em um hospital da rede pública de saúde da cidade de Campo Grande (MS).
Foram coletados dados secundários, oriundos dos prontuários dos pacientes atendidos pelo programa de tratamento da obesidade infantil realizado pelo Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. Os dados coletados foram referentes ao período de 2006 a 2008, sendo analisados os seguintes itens que constam nos prontuários dos pacientes:
Da ficha de cadastro: a idade, o sexo, o peso (inicial) e a altura (inicial);
Do questionário de atividade física: o período (horas semanais) de inatividade física;
Do recordatório alimentar: o valor calórico total (VCT);
Do exame de sangue: a glicemia, o colesterol total e os triglicérides.
A coleta de dados teve inicio no dia 30 de maio de 2008 e foi encerrada no dia 11 de agosto de 2008. O material utilizado para a pesquisa dos dados foi um formulário para registro das informações, os quais foram posteriormente armazenados em uma planilha do programa Excel for Windows XP.
Antes de iniciar a coleta de dados, foi encaminhado um documento solicitando ao coordenador do programa de terapia da obesidade infantil realizado no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, autorização para a realização desta pesquisa. Somente após a assinatura de autorização, iniciou-se a busca por informações nos prontuários médicos dos pacientes atendidos pelo programa.
Os dados obtidos nesta pesquisa foram agrupados por afinidade entre as variáveis de estudo. Com isso, calculou-se a média e o desvio padrão de cada item. Com os valores médios de algumas variáveis foram criados gráficos que representam as características de cada grupo etário analisado.
Para que todos os dados coletados fossem aproveitados, foram formadas classes de idade com intervalo de dois anos (6 e 7 anos, 8 e 9 anos, 10 e 11 anos, 12 e 13 anos, 14 e 15 anos, 16 e 17 anos). Desta forma, foi possível realizar as análises estatísticas com os grupos (etário ou gênero) que possuíam pequeno número de indivíduos.
Apresentação e discussão dos resultados
Os dados obtidos no estudo são apresentados a seguir, sendo que na Tabela 1 estão expressos os valores descritivos da população investigada, no que se refere às características antropométricas. Na Tabela 2 são apresentados os dados referentes ao balanço energético e, em seguida, na Tabela 3 são apresentados os dados bioquímicos destes indivíduos.
Para facilitar a visualização da distribuição de algumas variáveis analisadas neste estudo, são apresentadas três figuras com os valores médios de meninos e meninas, conforme as classes de idade. Na Figura 1 são apresentados os valores referentes ao Índice de Massa Corporal (IMC), na Figura 2 são apresentados os valores do consumo calórico diário e na Figura 3 são apresentados os valores do número de horas diárias de inatividade física da população investigada.
Tabela 1. Valores antropométricos (Média ± Desvio Padrão) de crianças e adolescentes obesos de 6 a 17 anos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Classes de idade |
N |
Sexo |
Peso (kg) |
Estatura (m) |
IMC (kg/m2) |
6 e 7 anos |
15 |
Feminino |
45,6 ± 14,8 |
1,31 ± 0,09 |
26,1 ± 4,8 |
Masculino |
43,8 ± 6,8 |
1,29 ± 0,06 |
26,4 ± 2,1 |
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8 e 9 anos |
50 |
Feminino |
51,7 ± 10,7 |
1,41 ± 0,09 |
25,8 ± 3,2 |
Masculino |
51,5 ± 7,9 |
1,41 ± 0,06 |
25,6 ± 2,4 |
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10 e 11 anos |
63 |
Feminino |
60,5 ± 11,5 |
1,50 ± 0,08 |
26,9 ± 3,7 |
Masculino |
64,3 ± 15,1 |
1,50 ± 0,05 |
28,5 ± 5,6 |
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12 e 13 anos |
56 |
Feminino |
74,9 ± 19,8 |
1,57 ± 0,08 |
30,1 ± 6,5 |
Masculino |
83,9 ± 15,4 |
1,62 ± 0,08 |
31,9 ± 4,6 |
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14 e 15 anos |
26 |
Feminino |
92,9 ± 10,2 |
1,67 ± 0,06 |
33,5 ± 4,1 |
Masculino |
106,3 ± 25,8 |
1,70 ± 0,08 |
36,2 ± 6,4 |
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16 e 17 anos |
14 |
Feminino |
100,9 ± 18,3 |
1,63 ± 0,05 |
38,3 ± 8,3 |
Masculino |
104,5 ± 16,3 |
1,74 ± 0,08 |
34,6 ± 4,5 |
Identifica-se na Tabela 1, que nas faixas etárias de 8 a 13 anos há um número elevado de pacientes que procuram atendimento no programa de tratamento de obesidade e que seus valores médios de peso corporal e estatura aumentam conforme a faixa etária também se eleva. Já os valores de IMC não seguem um crescimento linear, mas são bastante altos para todas as faixas etárias pesquisadas, pois ultrapassam inclusive o valor considerado elevado para adultos 16.
Tabela 2. Valores relacionados ao balanço energético (Média ± Desvio Padrão) de crianças e adolescentes obesos de 6 a 17 anos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Classes de idade |
N |
Sexo |
Ingesta Calórica Diária |
Horas Diárias de Sedentarismo |
6 e 7 anos |
15 |
Feminino |
2508,4 ± 1035,2 |
2,8 ± 0,7 |
Masculino |
2690,8 ± 650,4 |
2,5 ± 1,2 |
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8 e 9 anos |
50 |
Feminino |
2666,9 ± 631,2 |
2,3 ± 1,1 |
Masculino |
2936,8 ± 775,7 |
3,7 ± 1,9 |
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10 e 11 anos |
63 |
Feminino |
2764,6 ± 691,5 |
2,9 ± 1,3 |
Masculino |
3118,7 ± 993,9 |
3,6 ± 2,4 |
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12 e 13 anos |
56 |
Feminino |
2503,3 ± 696,1 |
3,0 ± 1,4 |
Masculino |
2948,6 ± 745,1 |
3,3 ± 1,9 |
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14 e 15 anos |
26 |
Feminino |
2812,7 ± 1074,2 |
2,8 ± 1,9 |
Masculino |
3788,9 ± 477,1 |
3,8 ± 3,9 |
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16 e 17 anos |
14 |
Feminino |
3034,8 ± 1441,1 |
3,2 ± 1,7 |
Masculino |
3545,6 ± 672 |
3,8 ± 0,8 |
O equilíbrio energético é a relação entre o consumo energético, traduzido pelo equivalente calórico dos nutrientes que compõem a dieta e a demanda energética associada ao equivalente do trabalho biológico realizado, porém esta energia é sintetizada dos alimentos que não são consumidos, sendo a relação consumo-demanda energética apresentada em três possíveis situações às quais são: equilíbrio energético positivo, quando o consumo excede a demanda energética; equilíbrio energético negativo, se a demanda ultrapassa o seu consumo, passa a existir um déficit; e o equilíbrio isoenergético que é a condição na qual o consumo e a demanda energética são iguais 17.
Na Tabela 2, identifica-se que tanto as horas de sedentarismo como a ingesta calórica diária apresentam valores superiores para os meninos, exceto na classe de idade de 6 e 7 anos, em que a média do grupo feminino é maior na variável representativa das horas diárias de sedentarismo.
Tabela 3. Valores bioquímicos (Média ± Desvio Padrão) de crianças e adolescentes obesos de 6 a 17 anos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Classes de idade |
N |
Sexo |
Glicose |
Colesterol total |
Triglicérides |
6 e 7 anos |
15 |
Feminino |
91,1 ± 4,4 |
145,8 ± 17,3 |
84,2 ± 33,6 |
Masculino |
86,0 ± 5,8 |
178,6 ± 42,4 |
84,0 ± 26,3 |
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8 e 9 anos |
50 |
Feminino |
89,0 ± 6,0 |
167,4 ± 25,6 |
103,7 ± 40,8 |
Masculino |
90,7 ± 9,4 |
154,7 ± 27,7 |
102,3 ± 34,2 |
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10 e 11 anos |
63 |
Feminino |
86,5 ± 9,2 |
169,8 ± 26,9 |
95,9 ± 31,1 |
Masculino |
87,7 ± 6,8 |
173,2 ± 37,5 |
102,8 ± 43,2 |
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12 e 13 anos |
56 |
Feminino |
86,6 ± 7,6 |
160,4 ± 32,1 |
114,4 ± 45,6 |
Masculino |
88,6 ± 5,5 |
155,5 ± 33,7 |
116,3 ± 68,6 |
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14 e 15 anos |
26 |
Feminino |
85,5 ± 7,6 |
162,2 ± 22,6 |
110,8 ± 57,9 |
Masculino |
98,8 ± 22,1 |
182,5 ± 54,2 |
155,5 ± 125,9 |
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16 e 17 anos |
14 |
Feminino |
86,8 ± 4,8 |
171,6 ± 42,4 |
113,2 ± 33,6 |
Masculino |
98,8 ± 5,9 |
165,2 ± 30,8 |
94,6 ± 48,0 |
Existe uma série de conseqüências do excesso de peso e da obesidade, que representam fatores de risco para doenças, sendo que a obesidade tanto pode constituir um risco primário como pode exercer sua influência por meio de outros fatores, como a hipertensão, diabetes e menor concentração plasmática de colesterol de alta densidade (HDL). E conforme o individuo vai se tornando o obeso ocorre uma redução no número de receptores de insulina, com concomitante redução na sensibilidade à insulina, assim gerando uma superprodução deste hormônio numa tentativa de controlar os níveis glicêmicos 18.
Na Tabela 3, o item glicose descreve uma leve propensão destas crianças e adolescentes a médio ou longo prazo poderem sofrer de diabetes por terem valores glicêmicos elevados, e altos níveis de colesterol e triglicérides podendo ocorrer doenças coronarianas, dentre outras doenças diretamente ligadas aos altos valores dos marcadores bioquímicos encontrados nestes pacientes, sendo em todas as classes de idade os valores bastante elevados.
Figura 1. Representação gráfica dos valores médios do Índice de Massa Corporal (IMC) de crianças e adolescentes obesos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Nota-se na Figura 1, que na média do IMC tanto para meninos com para meninas os valores na faixa etária de 6 a 9 anos são parecidos, mas nos meninos havendo uma elevação dos 10 aos 14 anos quando encontra seu pico de elevação, com uma leve queda nos 15 aos 17 anos. Já nas meninas esse aumenta começa em torno dos 10 anos e continua a aumentar nas demais faixas etárias até os 17 anos, chegando à adolescência com valores médios superiores aos dos meninos.
Isso pode representar um grande risco à saúde desses indivíduos, pois apesar de o corpo como uma totalidade consistentemente seguir um padrão de crescimento, partes especificas, como tecidos e órgãos, têm taxas de crescimento diferenciadas. Essas taxas de crescimento diferenciadas podem resultar em mudanças observáveis na aparência como um todo e também especificamente em relação ao sistema adiposo, com um papel vital no armazenamento, isolamento e proteção. Esse sistema continua a se desenvolver gradualmente nos meninos durante a adolescência, já as meninas experimentam um aumento mais drástico no mesmo período 5.
Figura 2. Representação gráfica dos valores médios do consumo calórico diário de crianças e adolescentes obesos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Na Figura 2, os valores médios de consumo calórico da ingesta nos dois gêneros já começa entre 2500 a 2700 calorias matendo-se em ligeira elevação até os 11 anos. Em seguida, há uma leve queda na faixa etária de 12 a 13 anos e novamente um aumento nas faixas subsequentes, só que nas meninas esse aumento atinge seu ápice em torno de 2700 calorias, enquanto que nos meninos se aproxima das 3500 calorias.
Muitos fatores podem influenciar na ingestão de alimentos. Em um primeiro plano destacam-se os aspectos culturais e os hábitos adquiridos no meio familiar. Psicologicamente, alguns indivíduos reagem a situações emocionais estressantes mediante a privação ou o excesso de alimentos. Vários mecanismos fisiológicos, como distúrbios hormonais também podem levar a um maior consumo de alimentos, estando relacionado intimamente à idade, ao sexo e podendo alcançar picos durante a adolescência. 3
Figura 3. Representação gráfica dos valores médios do número de horas diárias de inatividade física de crianças e adolescentes obesos, distribuídos por classe de idade (n = 224)
Na representação das horas de inatividade física ou sedentarismo (Figura 3), destaca-se na classe de 8 e 9 anos do grupo masculino uma elevação nas horas de sedentarismo, tendo uma diminuição entre os 10 a 13 anos, e novamente mantendo esse nível elevado dos 14 aos 17 anos. No sexo feminino o ápice de horas de inatividade física encontra-se entre os 16 e 17 anos.
A falta de atividade física regular está diretamente associada à ocorrência de uma série de distúrbios orgânicos, o que comumente têm-se denominado doenças hipocinéticas, considerando assim que a infância e a adolescência se constituem nos períodos críticos mais importantes com relação aos aspectos motores, seja quanto a fatores biológicos ou culturais, nos quais o organismo se encontra especialmente sensível à influência dos fatores ambientais 19.
Conclusões
Há evidências de que a adoção do estilo de vida inadequado vem favorecendo o aumento na prevalência de obesidade, sobretudo no que diz respeito a hábitos alimentares e sedentarismo. Juntamente com esta doença, podem surgir outras comorbidades, principalmente relacionadas ao sistema cardiovascular.
Conclui-se com este estudo que o perfil epidemiológico das crianças e adolescentes pesquisados é bem complexo e preocupante do ponto de vista da manutenção da saúde, pois apresenta parâmetros bioquímicos elevados em todas as faixas etárias, consumo de calorias diárias total com valores expressivos entre 2500 a 4000 calorias e horas diárias de sedentarismo de 2,5 a 4 horas. Todos estes fatores contribuem, isoladamente ou em conjunto, para o agravamento das condições de saúde dos indivíduos estudados.
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