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Nível educacional e prática de atividade física em 

áreas publicas do município de Presidente Prudente

Nivel educativo y práctica de actividad física en áreas públicas del municipio Presidente Prudente

Educational level and Practice of Physical Activity in public areas of Presidente Prudente city

 

*Graduando do Curso de Educação Física – Unesp, Presidente Prudente

**Graduado em Educação Física – Unesp – Presidente Prudente

***Doutorando em Educação Física – Unesp, Campus de Rio Claro

****Doutores do curso de Educação Física – UNESP

Campus de Presidente Prudente

(Brasil)

Felipe Ferolla*

Robson Chacon Castoldi** | Rômulo Araújo Fernandes***

Olga Cristina de Mello Malheiro**** | Sérgio Minoru Oikawa****

Ismael Forte Freitas Júnior****

robgol_unesp@yahoo.com.br

 

 

 

Resumo

          Com o advento da industrialização e o crescimento tecnológico, houve um aumento do sedentarismo e uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade. Junto a estes acontecimentos, percebe-se a falta de informação e descaso da população para com os benefícios à saúde causados pela prática de atividade física regular. Desta maneira, o objetivo do presente estudo foi observar a associação da prática de atividade física com o nível educacional de freqüentadores de áreas públicas de Presidente Prudente. Foram definidos sete locais de estudos, onde foram observados 258 indivíduos, de ambos os sexos, sendo 106 homens e 152 mulheres, com idade entre 18 e 76 anos. Para o estudo, foi utilizado um questionário específico e previamente testado. Para a análise estatística foi utilizado o Software SPSS 10.0. Observou-se que há indícios de maior prevalência de sobrepeso e obesidade em indivíduos com menor grau de escolaridade. Também se notou que, a prática de atividade física é realizada em maior proporção por indivíduos com nível superior e pós-graduados. Concluiu-se que, o nível educacional é um fator que coopera na prática habitual de atividade física.

          Unitermos: Nível educacional. Prática de atividade física. Parques públicos

 

Abstract

          The advent of the industrialization and the technological growth brought an increase of sedentary lifestyle and a bigger predominance of overweight and obesity. Furthermore, these events realize the population’s information and disregard lack with the benefits to the health caused by the regular practice of physical activity. In this context, the main objective of this present study was to observe the association of the practice of physical activity with the educational level of regular Presidente Prudente’s public areas visitors. Seven public places were defined for the studies, where 258 individuals, of both sexes, being 106 men and 152 women, aged between 18 and 76 years old, were interviewed. The study used a previously tested and specific questionnaire. The statistical analysis was based on the Software SPSS 10.0. The study pointed noticed that there are signs of bigger predominance of overweight and obesity in individuals with less scholarship degree. Also, it is noticed that the practice of physical activity takes place in bigger proportion in individuals with superior and post graduation level. At last, it is possible to affirm that the practice of physical activity is proportional related with the education level.

          Keywords: Educational level. Practice of physical activity. Public parks

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    O aumento do sedentarismo deixou de ser um problema particular para se tornar um importante fator de risco na saúde publica atual (TERRES et al. 2006). É bem difundido que a diminuição da prática de atividade física pode acarretar em sobrepeso e obesidade. O excesso de gordura tem-se associado à maior prevalência e incidências de doenças cardiovasculares, diabetes, ao aumento do triglicerídeo e do colesterol (FONSECA et al, 1998). Pode-se dizer ainda, que a inatividade física é um importante fator para o aparecimento de doenças crônico-degenerativas (MILLER et al., 1997).

    A prática de atividade física diminui o risco de aterosclerose e suas conseqüências (angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral), contribui para o controle da obesidade, hipertensão arterial, diabetes, osteoporose, dislipidemias, e diminui o risco de afecções osteomusculares e de alguns tipos de tumores como o de colo do útero e de mama (ALVES et al., 2005). O exercício físico também favorece o controle da ansiedade, depressão, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma, proporcionando uma melhora na auto-estima e bem estar de seus praticantes (ERLICHMAN et al., 2002).

    Estudos quanto a vivencias no âmbito do lazer das pessoas que freqüentam parques públicos, observadas no cotidiano, mostram que estratégias políticas adotadas por cidades para possibilitar a participação dos cidadãos nesses ambientes que conectam preservação ambiental, cultura e lazer tiveram sucesso (RECHIA, 2003). Segundo (NIEMEYER, 2000), o estimulo mais importante para o aumento dos freqüentadores de parques teve origem a partir do movimento norte americano conhecido como Park Moviment, que teve o objetivo de introduzir a prática de atividade física em parques públicos. Grandes cidades brasileiras como Curitiba vem criando programas junto a secretarias de saúde, esporte e lazer para melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos tendo como meta principal construir junto à população curitibana um estilo de vida saudável (RECHIA, 2003).

    O nível de escolaridade pode ser um fator contribuinte na prática habitual de atividade física. Alguns estudos têm mostrado que o sedentarismo é mais freqüente entre as mulheres, idosos e indivíduos com menor nível escolar (CRESPO et al., 2000).

    A relação entre nível sócio-econômico dos indivíduos e presença de obesidade é bastante freqüente nos países desenvolvidos. A revisão sistemática desses estudos indica que, nesses países, a obesidade tende a ser mais freqüente nos estratos da população com menor renda, menor escolaridade e com ocupações de menor prestígio social, sendo essa tendência particularmente evidente entre mulheres adultas (SOBAL; STUNKARD, 1989). Segundo Monteiro et al., (2001), o nível de escolaridade é a variável chave que responde pela associação inversa atualmente encontrada no Brasil nos casos de obesidade. A partir de tal fato, este trabalho pretendeu investigar se existe associação entre o nível educacional e a prática de atividade física em áreas públicas de Presidente Prudente.

Materiais e métodos

Amostra

    O estudo utilizou uma amostra de 258 indivíduos, de ambos os sexos, sendo 106 homens e 152 mulheres, com idade entre 18 e 76 anos (42,05 ± 15,79), freqüentadores de áreas públicas de lazer da cidade de Presidente Prudente. Para o estudo foram selecionados sete locais públicos, delineados através do contingente de freqüentadores.

Locais de coleta

    Foram definidos sete locais para coleta de dados, Parque do Povo, Praça das Andorinhas, Jardim Itapura I, Fundo de Vale do Bairro Ana Jacinta, Jardim Vale Verde, para o Ginásio Municipal de Esportes “Watal Ishibabashi” e o Fundo de Vale do Bairro São Mateus.

Distribuição amostral e exclusão do estudo

    Foram entrevistados 300 freqüentadores de sete áreas públicas da cidade de Presidente Prudente. Estabeleceu-se um critério de divisão probabilística da amostra de 300 freqüentadores. Após a coleta, 13 questionários continham respostas incompletas, motivo pelo qual foram excluídos, passando então a amostra para um total de 287 avaliações. Procurando diminuir o risco de vieses no estudo, foram excluídos todos que apresentavam idade inferior a 18 anos (n=29), pois, em variados aspectos, a fase de adolescência não condiz com a realidade e as obrigações da vida adulta, como a atenção voltada ao trabalho e a família, restando assim, maior disponibilidade de tempo para a realização de atividades de lazer e com isso a procura pela atividade física e obstáculos encontrados podem se diferenciar do restante da população. Portanto, a amostra foi composta por 258 indivíduos maiores de 18 anos.

Instrumentos

    Para a coleta dos dados, utilizou-se um questionário específico para o estudo, previamente testado em um projeto piloto, contendo 22 questões. As questões compreendiam estatura e peso corporal referidos, idade, principais motivos que as levavam a praticar exercícios, motivos que as impediam, por quanto tempo praticavam atividade física, freqüência semanal e grau de escolaridade das pessoas que concordaram com a entrevista.

Coleta de dados

    A aplicação dos questionários foi realizada através de abordagem aleatória, nos três períodos do dia, sendo 40% no período matutino, 20% no vespertino e 40% no noturno. Foram entrevistados indivíduos de ambos os sexos e praticantes de diferentes atividades. Como forma de retribuição a participação no estudo, os entrevistados receberam o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e orientação sobre diminuição ou manutenção do peso corporal.

Distribuição amostral

    No presente estudo, a amostra foi distribuída em quatro grupos: grupo 1 (primeiro grau completo), grupo 2 (segundo grau completo), grupo 3 (ensino superior completo) e grupo 4 (pós graduação completa). Após serem agrupadas, as respostas obtidas no questionário foram analisadas de acordo com a escolaridade.

Composição corporal

    Para a obtenção do (IMC), foi utilizada a equação entre peso e o duplo produto da estatura (Peso/Estatura²). Após este procedimento os indivíduos foram classificados de acordo com o estado nutricional, seguindo as normas da OMS (1995). No presente estudo utilizou-se apenas dois grupos, sendo o grupo 1: Eutróficos (IMC < 25 Kg/m²) e o grupo 2: Sobrepesados e Obesos (IMC > 25 Kg/m²).

Análise estatística

    Foi utilizada a estatística descritiva para obtenção do percentual de respostas e teste Qui-quadrado de “Pearson” [(X2) = p] para analise da associação entre as variáveis, com significância de (0,005). Para o cálculo utilizou-se o Software SPSS (10.0 from Chicagoâ).

Resultados

    Ao se analisar a classificação nutricional dos praticantes identificados pelo grau de escolaridade, observou-se que, mesmo não mostrando significância do ponto de vista estatístico, há indícios de que indivíduos com menor grau de escolaridade possuíam maior prevalência de sobrepeso e obesidade.

    No grupo de indivíduos com primeiro grau completo, teve uma freqüência de apenas 35.4% de eutrofia, por outro lado, graduados e pós-graduados possuíam uma freqüência acima de 60% de indivíduos eutróficos. Notou- se também que pessoas com ensinos superiores completos e pós-graduados, a maioria dos indivíduos classificou-se em estado saudável, já a maioria das pessoas com apenas primeiro e segundo grau, classificou-se em estado de sobrepeso e obesidade (64,6% e 55,0%), (Tabela 1).

Tabela 1. Associação entre estado nutricional e grau de escolaridade de freqüentadores de áreas públicas de Presidente Prudente

Classificação Nutricional

escolaridade

Eutróficos (%)

sobrepesados e obesos

Total (%)

p

1º Grau

35,4¤

64,6¤

100

0,043

2º Grau

45,0

55,0¤

100

0,371

Superior

61,9¤

38,1

100

0,011

Pós-Graduação

60,0

40,0

100

0,439

Nota: Teste do Qui-Quadrado de Pearson.

¤ maiores valores percentuais

    Ao analisar-se a opinião pessoal sobre o grau de atividade física que o praticante se encontrava, percebeu-se que, havia uma menor ocorrência de sedentarismo nos praticantes com ensino superior (12,4%) do que nos praticantes com ensino médio (18,8%), (Tabela 2).

Tabela 2. Classificação do nível de atividade física segundo opinião dos freqüentadores

Opinião pessoal sobre o nível de atividade física

escolaridade

sedentário

moderadamente ativo

muito ativo

total

p

1º Grau

18.8

43,8

37,5

100

0,087

2º Grau

16,3¤

51,3

32,6

100

0,001*

Superior

12,4¤

61,1

26,5

100

0,001*

Pós-Graduação

6,7

46,7

46,7

100

0,091

Nota: Teste do Qui-Quadrado de Pearson.

* Significância estatística com valor de P = 0, 005.

¤ maiores valores percentuais.

    Na analise da freqüência semanal dos indivíduos, percebeu-se que pós-graduados não praticavam apenas um ou dois dias por semana (0,0%). Também foi observado que mais da metade dos praticantes com primeiro grau completo praticavam cinco dias ou mais por semana (56,3%). Já os indivíduos com ensino superior completo, preferiam praticar atividade física de três a quatro vezes por semana (51,3%), (Tabela 3).

Tabela 3. Freqüência semanal de prática de atividade física em freqüentadores de áreas públicas

Freqüência semanal

escolaridade

1 a 2 dias

3 a 4 dias

5 ou mais dias

total

p

1º Grau

12,5

31,3

56,3

100

0,001*

2º Grau

12,5

45,0

42,5

100

0,001*

Superior

15,0

51,3¤

33,6

100

0,001*

Pós-Graduação

0,0¤

53,3¤

46,7

100

0,796

Nota: Teste do Qui-Quadrado de Pearson.

* Significância estatística com valor de P = 0,005.

¤ maiores valores percentuais

    Analisando o tempo de prática dos praticantes de atividade física em áreas públicas, pode-se notar que, a maioria dos praticantes com primeiro grau começou a ter uma rotina ativa há 1 mes (29,2%), comparando com indivíduos com ensino superior, pode-se observar que a maioria começou a ter rotina ativa no período de um a cinco anos atrás (35,4%), (Tabela 4).

Tabela 4. Tempo de prática de atividade física em freqüentadores de áreas públicas

Tempo de prática

escolaridade

Até 1 mês

2 meses a 1 ano

1 a 5 anos

5 a 10 anos

Mais de 10 anos

p

1º Grau

29,2¤

16,7

20,8

18,8

14,6

0,551

2º Grau

20,0

23,8

26,3

17,5

12,5

0,328

Superior

10,6

20,4

35,4¤

15,9

17,7

0,001*

Pós-Graduação

6,7

6,7

33,3

26,7

26,7

0,323

Nota: Teste do Qui-Quadrado de Pearson

* Significância estatística com valor de P = 0,005

¤ maiores valores percentuais

    Ao ser analisado o nível educacional relacionado ao interesse pela prática de atividade física, percebeu-se que a maioria dos indivíduos gostava de praticar atividade física (47,9%, 36,3%, 40,7% e 53,3%). Pode-se perceber também que pessoas com primeiro e segundo grau praticavam também para controle de peso ou como tratamento de saúde (20,8% e 22,5%).

    Notou-se valores pequenos de pessoas que detestavam praticar atividade física, pessoas com primeiro grau e superior completo, mostraram pouca freqüência (2,1% e 2,7% respectivamente), já praticantes de segundo grau completo e pós-graduado tiveram freqüência nula de praticantes que detestavam atividade física (0,0% e 0,0%), (Tabela 5).

Tabela 5. Interesse dos freqüentadores de áreas públicas com a prática de atividade física

Interesse

escolaridade

Gosta (%)

Gosta, mas não é o que mais gosta.

(%)

Não gosta, mas pratica.

(%)

Faz para controle de peso ou problema de saúde

Detesta, só faz se for realmente necessário.

P

1º Grau

47,9¤

25,0

4,2

20,8¤

2,1¤

0,001*

2º Grau

36,3¤

36,3

5,0

22,5¤

0,0¤

0,001*

Superior

40,7¤

41,6

6,2

8,8

2,7¤

0,001*

Pós-Graduação

53,3¤

33,3

6,7

6,7

0,0¤

0,026

Nota: Teste do Qui-Quadrado de Pearson

* Significância estatística com valor de P = 0,005

¤ maiores valores percentuais.

Discussão

    O presente estudo observou que há indícios de quanto menor o nível de escolaridade do individuo, ocorre uma maior probabilidade dele ser sobrepesado ou obeso. Segundo Monteiro (2003), essa tendência atualmente é cada vez mais observada, estudos recentes em países em desenvolvimento, mostram que, o aumento da obesidade é mais freqüente em indivíduos com menores escolaridades. Estudos demonstram que a obesidade é pelo menos duas vezes mais freqüente em indivíduos com baixa escolaridade ou baixa renda do que em praticantes com alta escolaridade ou alta renda (GROL et al., 1997).

    Ao analisar a opinião dos indivíduos em relação à atividade física praticada, a maioria considerou-se ativo. Realizar exercícios regularmente é um fator que pode prevenir o ganho de peso. Adicionalmente, o condicionamento físico obtido através do exercício, reduz a mortalidade e a morbidade, mesmo nos indivíduos que se mantêm obesos (JEBB; MOORE, 1999; MCINNIS, 2000; WHO, 1997).

    Foi observado que indivíduos pós-graduados praticavam atividade física pelo menos três vezes por semana. Também foi observado que a maioria dos indivíduos de escolaridade equivalente ao primeiro grau pratica cinco vezes por semana. A associação americana do coração recomenda atividade aeróbia três vezes por semana, em uma intensidade distribuída entre leve e moderada (HASKELL et al., 2007).

    Foi notado que indivíduos graduados e pós-graduados tinham uma rotina de atividade física a mais tempo do que indivíduos com menor nível de escolaridade e, além disso, eram em sua maioria eutróficos. Pessoas com menor escolaridade ou menos favorecidas nos estratos sociais tiveram mais problemas de saúde (MONTEIRO, 2003). Obesidade é uma doença que aumenta de forma significativa a morbi-mortalidade, e está ligada à hipertensão arterial, a doença coronariana isquêmica, a doença da vesícula biliar, doenças do aparelho locomotor e os cânceres de cólon, mama, endométrio e próstata (BENGSTROM et al., 2001; WHO, 2000).

    O estudo observou também que a maioria dos indivíduos praticavam exercícios por prazer. Outros estudos observaram o aumento das catecolaminas (dopamina e noradrenalina) durante o exercício (THOREN, 1990). A dopamina vem sendo apresentada nos últimos anos como um neurotransmissor protetor da dor no SNC e está vinculada ao prazer e a motivação (WOOD, 2006).

    O estudo identificou que o nível educacional está diretamente ligado ao nível de atividade física. Tal achado pode demonstrar a necessidade da melhora educacional para que se possa ter um aumento da prática de atividade física no Brasil. Dentre suas limitações, o estudo se restringiu a investigar os freqüentadores de áreas públicas de Presidente Prudente, não observando os indivíduos em suas residências e locais de trabalho, podendo haver diferenças neste segundo grupo de indivíduos com os dados apresentados até o momento.

Conclusão

    Concluiu-se que a atividade física estava diretamente relacionada com o nível de escolaridade dos praticantes e que havia indícios de que os indivíduos sobrepesados e obesos possuíam menor nível educacional, e ainda, apesar dessa associação entre o nível educacional e o cotidiano da população brasileira, pode-se perceber que há uma carência de informações para os de freqüentadores de áreas públicas.

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