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Iniciação esportiva do aluno portador de Síndrome 

de Down: relatos de uma instituição Sul-Capixaba

Iniciación deportiva de un estudiante portador de Síndrome de Down: relatos de una institución Sul-Capixaba

 

Universidade Castelo Branco

(Brasil)

Carlos Magno Costa Rocha

carlosmagno709@msn.com

 

 

 

Resumo

          A iniciação esportiva é um tema atual, cada vez mais estudado, pelas diferentes linhas dentro da Educação Física, todas buscando entendimento em prol de suas intervenções e interações. O entendimento da prática do desporto, independentemente das formas em que ele tem se apresentado, é diferente em valor e tem se expressado nas várias culturas existentes. Tentar vincular essa prática a uma determinada população e preestabelecer os objetivos pretendidos conferindo por ela conotação simplista, ou seja, a prática pela prática, prática a serviço de pressupostos objetivos que não sejam o homem em primeiro plano. O Esporte Adaptado começou a se expandir por causa das conseqüências da II Grande Guerra Mundial, mais especificamente entre os anos de 1944 e 1952, quando o médico inglês Ludwig Guttmann teve a idéia da criação de Esportes Adaptados para aumentar a integração dos deficientes com a sociedade e também auxiliar na recuperação das deficiências e auto-estima, já que os soldados voltavam para casa com graves lesões e mutilações. Uma experiência realizada de maneira efetiva é a da APAE de Cachoeiro de Itapemirim (ES), onde, os alunos portadores de Síndrome de Down, matriculados e freqüentando regularmente a instituição, recebem desde o momento em que iniciam sua vida escolar, uma iniciação esportiva diversificada, na qual, têm a oportunidade de entrar em contato com uma variada gama de esportes, sejam eles individuais como a natação: de forma terapêutica, auxiliando o trabalho de fisioterapia, e obedecendo um programa específico, visando futuramente a formação de atletas para integrar a equipe que representará a instituição em eventos estaduais (Olimpíada Estadual das APAE’s) e nacionais (Olimpíadas Nacionais das APAE’s).

          Unitermos: Síndrome de Down. Iniciação esportiva. Educação especial

 

Resumen

          La iniciación deportiva es un tema de actualidad cada vez más estudiado por las diferentes orientaciones de la Educación Física, todos intentando promover la comprensión de sus actividades y relaciones. El deporte, independientemente de la forma en que se presenta, tiene diferente valor y se expresa en diversas culturas. Tratar de vincular esta práctica a una determinada población y predefinir los objetivos previstos, dándole connotación simplista, o sea, la práctica por la práctica misma, la práctica al servicio de presupuestos objetivos que no sea colocar al hombre en primer plano. El deporte adaptado comenzó a expandirse por las consecuencias de la Segunda Guerra Mundial, más concretamente entre los años 1944 y 1952, cuando el médico inglés Ludwig Guttmann tuvo la idea de crear los Deportes Adaptados para ampliar la integración de las personas con discapacidad a la sociedad y también ayudar en la recuperación de las deficiencias y la autoestima, ya que los soldados regresaban a casa con graves heridas y mutilaciones. Una experiencia llevada a cabo de manera efectiva es la Itapemirim Cachoeiro APAE (ES), donde los estudiantes con Síndrome de Down, matriculados y asistiendo regularmente a la institución, reciben desde el momento en que empiezan su vida escolar, una iniciación diversificada de deportes. Tienen la oportunidad de ponerse en contacto con una amplia gama de deportes, tanto individuales como la natación: terapéuticos, apoyando el trabajo de terapia física, y articulado a un programa específico destinado a la formación de los futuros atletas para unirse al equipo que representará a la institución en eventos estatales (Juegos Olímpicos de Estado de APAE) y Nacional (APAE Olímpico Nacional).

          Palabras clave: Síndrome de Down. Iniciación deportiva. Educación especial

 

Abstract

          The sport initiation is a current topic increasingly studied by the various lines in the Physical Ed, all seeking to promote understanding of their activities and interactions. O understanding of the sport, regardless of the ways in which he has performed, is different in value and has been expressed in various cultures. Trying to link this practice to this population and predefine the intended objectives by giving it simplistic connotation, that is, practice practice, practice, service objectives of assumptions than the man in the foreground. The Adapted Sports began to expand because of the consequences of World War II, more specifically between the years 1944 and 1952, when the English physician Ludwig Guttmann had the idea for Sports Tailored to increase the integration of disabled people to society and also assist in the recovery of deficiencies and self-esteem, as soldiers returned home with serious injuries and mutilation .. An experiment carried out effectively is the APAE Cachoeiro Itapemirim (ES), where students with Down syndrome, enrolled and regularly attending the institution, receive from the moment they begin their school life, a diversified sports initiation in which they have the opportunity to get in touch with a wide range of sports, whether individual as swimming : therapeutically, supporting the work of physical therapy, and obeying a specific program aimed at training future athletes to join the team that will represent the institution in state events (Olympics State of APAE's) and national (the National Olympic APAE's).

          Keywords: Down syndrome. Initiation of sports. Special education

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    A iniciação esportiva é um tema atual, cada vez mais estudado, pelas diferentes linhas dentro da Ed. Física, todas buscando entendimento em prol de suas intervenções e interações.

    De acordo com a literatura, a infância é um momento ideal para despertar talentos por meio de experiências motoras diversificadas e somente após sua ampliação é que devemos enfocar nosso objetivo no talento esportivo.

    Nesse contexto, podemos destacar dois pontos para reflexão em relação ao desporto formal:

  1. Essas aquisições dependem de vários fatores tais como: oportunidades que em sua grande maioria dependem de engajamento em programas, projetos, clubes associativos ou a participação de uma aula de Educação Física comprometida com o aluno e com seu estágio de desenvolvimento.

  2. Orientações para a não especialização precoce, comumente despertada por aqueles que visualizam a realização das expressões motoras próximas ao desporto de rendimento.

    Essas duas colocações são descartadas quando pensamos o engajamento dos portadores de necessidades especiais no desporto adaptado:

  1. Pela ausência do atendimento regular no campo da Educação Física e de outras possibilidades de vivenciar regularmente atividades motoras.

  2. Por esse jovem ser tratado como doente e estar em busca de sua reabilitação que, na maioria das vezes, não é possível integralmente.

  3. Por não ter grupos de interesses preocupados com este segmento do desporto.

    Ao pensar o desporto e sua prática de forma lato e direcionado às pessoas em condição de deficiência, o nosso interesse recai sobre a condição física e a área da Educação Física. Podemos observar alguns fatos relevantes e merecedores de investigações acadêmicas na área do desporto adaptado.

    Por acreditar nesse fenômeno chamado Desporto e nas grandes contribuições que ele traz para seus praticantes, independente do nível técnico apresentado ainda; pelos vários objetivos pretendidos que não sejam puramente os benefícios orgânicos que, neste caso, podem ser alcançados em outras atividades físicas, é que estruturamos este trabalho, enfatizando a Síndrome de Down, e as experiências realizadas numa instituição para alunos portadores de necessidades educacionais especiais, localizada no sul do Espírito Santo, mais precisamente no município de Cachoeiro de Itapemirim.

    Vários autores têm tratado a prática do desporto como um fenômeno e seu significado relacionado à historicidade de cada povo em diferentes momentos da civilização humana, como fez HUIZINGA (1980), que citou que a civilização se tornou mais séria, em razão do fato de atribuir ao jogo apenas um lugar secundário. Terminou o período heróico, e a face agonística parece pertencer unicamente ao passado.

    O entendimento da prática do desporto, independentemente das formas em que ele tem se apresentado, é diferente em valor e tem se expressado nas várias culturas existentes. Tentar vincular essa prática a uma determinada população e preestabelecer os objetivos pretendidos conferindo por ela conotação simplista, ou seja, a prática pela prática, prática a serviço de pressupostos objetivos que não sejam o homem em primeiro plano.

    Pretendendo buscar um paralelo por meio de um entendimento desse processo na literatura existente, no campo teórico da Educação Física e nas áreas correlatas que tratam Iniciação Esportiva para o praticante do desporto convencional, estabelecemos o entendimento dessa atividade também para as pessoas em condições de deficiência, compreendendo que esta se dá dentro de outros contextos. No desporto convencional podemos recorrer dentre outros ao trabalho de Montagner (1999): "A Formação do Jovem Atleta e a Pedagogia da Aprendizagem Esportiva" no qual relata que as experiências esportivas que antecedem a atividade de competição adotada por um atleta na fase adulta é resultado de inúmeras experiências motoras e esportivas na fase de desenvolvimento motor (infância). Os atletas entrevistados relataram até oito atividades praticadas como entretenimento em jogos de crianças anteriores à modalidade desenvolvida na fase atual. Essas afirmações nos dão provável trajetória de ser trilhada pelos atletas de diferentes modalidades esportivas no decorrer de seu desenvolvimento e que contribuiu para suas performances dentro daquela modalidade escolhida.

    Ao tentar visualizar a trajetória do atleta em condição de deficiência, temos de estar atentos e preparados para entender o contexto em que se dão essas práticas, a fim de ter um histórico preciso que se dê conta de mapear sua real significação na vida dessas pessoas.

    Portanto, é fundamental responder à questão: quais as verdadeiras contribuições do desporto para as pessoas portadores de necessidades especiais em nosso país? Vários autores tem buscado respostas ao tema, sendo que, todos buscam fazer um trabalho com as habilidades motoras dentro de jogos, esportes, atividades de lazer e psicomotoras, observando sua contribuição ao desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, possibilitando ao praticante diversas maneiras de se relacionar com os meios e com suas sensações.

Desenvolvimento

    O Esporte Moderno teve início no século XIX, quando o inglês Thomas Arnold, então diretor do Rugby College resolveu codificar as práticas esportivas que se realizavam na Inglaterra, tendo como referência o “Associacionismo” inglês. Logo depois, no final daquele século, Pierre de Coubertin, ao restaurar o Movimento Olímpico, reforçou o amadorismo, que era uma forma de não permitir que as classes sociais fora da aristocracia e da burguesia pudessem usar os meios esportivos para se misturar com as chamadas elites da época. Então, o esporte entrou no século XX, na Perspectiva do Ideário Olímpico, no qual o amadorismo era a condição essencial. De certa forma, esta perspectiva rompia com a sintonia anterior a Arnold, o qual já tinha embriões de profissionalismo inserido nas apostas que cercavam as práticas esportivas. Com o Ideário Olímpico, as modalidades esportivas que não aceitaram este “amadorismo olímpico” não tomaram parte nos Jogos Olímpicos, e seguiram seus caminhos com as apostas e outras formas de profissionalização. Foram os casos do Boxe, Tênis, Rugby, Futebol Americano, Golfe e outras. O quadro esportivo ficou dividido entre Esportes Amadores (Olímpicos) e Profissionais (os demais, com um crescimento acentuado nos Estados Unidos da América)

    O Movimento Esporte para Todos, nascido na Noruega e desenvolvido principalmente a partir da adesão da Alemanha, denunciava que o Esporte não pode ser somente para uma elite pré-dotada de talentos esportivos ou de medidas antropométricas desejáveis para as modalidades esportivas. Defendia-se uma democratização das práticas esportivas e físicas. Na atualidade, este Movimento incorporou-se a busca da “Saúde/Qualidade de Vida” nas suas promoções. O Movimento Esporte para Todos consolidou-se no mundo esportivo e ingressou definitivamente no Papel do Estado dos países. O Movimento Esporte para Todos, compreende também a Educação Física, numa perspectiva de Educação Permanente.

    Os Documentos Internacionais dos Organismos ligados ao Esporte e á Educação Física foram e são manifestações das entidades responsáveis pelo desenvolvimento destas áreas, no sentido de oferecer indicações e direções para as crises instaladas. Os conteúdos destes documentos chegaram legitimados pelas comunidades compromissadas com cada um destes organismos.

    Percebia-se que o ciclo do Esporte Moderno, que reconhecia como manifestação esportiva apenas as práticas esportivas de desempenho (rendimento), estavam chegando ao fim. As crises e os conflitos aumentavam a cada grande evento esportivo internacional

    No Esporte-Lazer, também conhecido como Esporte-Participação, o princípio dominante é o do prazer, uma vez que esta prática esportiva é voluntária e as regras são causais, obedecendo às convenções estabelecidas entre os próprios praticantes. Os princípios da Participação e Inclusão podem ser considerados no Esporte-Lazer.

    Como a atual perspectiva é a do Esporte é um direito de todos, as diversas possibilidades de práticas esportivas são absorvidas nos Movimentos Esportivos, como os de Masters (idosos) e de Necessitados Especiais, como é enfatizado neste trabalho, haja visto, a importância que tal assunto vem assumindo no mundo

1.     Iniciação esportiva

    No esporte atual, a tendência é iniciar cada vez mais cedo em alguma modalidade esportiva, no intuito de obter-se, rapidamente, sucesso e vitórias. Por outro lado, essa atitude é contrária às necessidades das crianças, em especial do ponto de vista motor, considerando a importância da variedade de experiências nessa fase, principalmente para ampliar o acervo motor e ter condições de optar pela modalidade que deseja praticar.

    O sistema de competições e a preparação esportiva constituem um todo cuja relação de dominância depende do escalão etário considerado. No desporto infantil, ao contrario da prática dos adultos, a preparação não deve subordinar-se à competição. Os modelos de competição, os quadros competitivos devem contribuir para alcançar os principais objetivos da preparação desportiva dos jovens; desenvolver o gosto e o entusiasmo pela prática, fomentar expectativas realistas nos e acerca dos praticantes, promover o desenvolvimento físico e corporal harmonioso e equilibrado, promover a aprendizagem e aperfeiçoamento das técnicas fundamentais.

    Assim, as competições no desporto infantil devem ser uma oportunidade de reforço e verificação de aprendizagem alcançada no período de preparação que as antecedem

    A competição é um componente intrínseco do desporto, qualquer que seja o escalão etário e o nível da prática considerado, constituindo o principal fator motivador do progresso e desenvolvimento dos praticantes. Não é assim adequado nem realista, defender que, com base em presumíveis efeitos negativos que as mesmas possam provocar, se exclua do desporto infantil uma componente que, como fato cultural, influencia as crianças e jovens em todas as suas aprendizagens e comportamentos.

2.     Inclusão

    O movimento de inclusão social começou incipientemente na segunda metade dos anos 80 nos países mais desenvolvidos, tomou impulso na década de 90 também em países em desenvolvimento e vai se desenvolver fortemente nos primeiros 10 anos do século 21 envolvendo todos os países.

    Este movimento tem por objetivo a construção de uma sociedade realmente para todas as pessoas, sob a inspiração de novos princípios, dentre os quais se destacam: celebração das diferenças, direito de pertencer, valorização da diversidade humana, solidariedade humanitária, dentre outras.

    O conceito e a prática da inclusão são, portanto, muito recentes. Mas partes ou aspectos dessa prática já vinham ocorrendo na fase da integração social simultaneamente com o lento surgimento da inclusão, como será visto adiante. E embora a literatura mundial pertinente à inclusão já tenha se tornado extensa, o que existe em língua portuguesa ainda é pouco, além de pouco acessível.

    Os conceitos são fundamentais para o entendimento das práticas sociais. Eles moldam nossas ações, e nos permitem analisar nossos programas, serviços e políticas sociais, pois os conceitos acompanham a evolução de certos valores éticos, como aqueles em torno da pessoa portadora de deficiência. Portanto, é imprescindível dominarmos bem os conceitos inclusivistas para que possamos ser participantes ativos na construção de uma sociedade que seja realmente para todas as pessoas, independentemente da sua cor, idade, gênero, tipo de necessidade especial e qualquer outro atributo pessoal.

    Em linhas gerais podemos listar os conceitos inclusivistas abaixo:

  1. Autonomia. É a condição de domínio no ambiente físico social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce.

  2. Independência. É a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, tais como: membros da família ou profissionais especializados.

  3. Empowerment. Significa “o processo pelo qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, usa o seu poder pessoal inerente à sua condição.

    Os praticantes da inclusão se baseiam no modelo social da deficiência. Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada a partir do entendimento de que ela é que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. O desenvolvimento (por meio da educação, reabilitação, qualificação profissional, etc.) das pessoas com deficiência deve ocorrer dentro do processo de inclusão e não como um pré-requisito para estas pessoas poderem fazer parte da sociedade, como se elas precisassem pagar para ter acesso à comunidade.

    A prática da inclusão social repousa em princípios até então considerados incomuns, tais como: a aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana, a aprendizagem através da cooperação. A diversidade humana é representada principalmente, por origem nacional, sexual, religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência.

    A inclusão social, portanto, é um processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade através de transformações, pequenas e grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, mobiliários e meios de transporte) e na mentalidade de todas as pessoas, portanto também do próprio portador de necessidades especiais.

    Em várias partes do mundo, já é realidade a prática da inclusão, sendo que as primeiras tentativas começaram há cerca de 10 anos. O processo de inclusão vem sendo aplicado em cada sistema social. Assim, existe a inclusão na educação, no lazer, no transporte, etc. Quando isso acontece, podemos falar em educação inclusiva, no lazer inclusivo, no transporte inclusivo e etc. Outra forma de referência consiste em dizermos, por exemplo, educação para todos, lazer para todos, etc.

    Quanto mais sistemas comuns da sociedade adotarem a inclusão, mais cedo se completará a construção de uma verdadeira sociedade para todos, a sociedade inclusiva. Enquanto processos sociais, a integração e a inclusão são ambos de uma sociedade inclusiva. Para tanto, contudo, o processo de integração social terá uma parte decisiva a cumprir, cobrindo situações nas quais ainda há resistência contra a adoção de medidas inclusivistas. De fato, nem todas as pessoas deficientes necessitam que a sociedade seja modificada, pois algumas estão aptas a se integrarem nela assim mesmo. Mas as outras pessoas com necessidades especiais não poderão participar plena e igualmente da sociedade se esta não se tornar inclusiva.

    Os participantes do movimento de vida independente, que nasceu nos EUA em 1972 e no Brasil em 1988, causaram um impacto sem precedentes nas práticas sociais até então vigentes. Ele foi precedido pelo movimento pelos direitos dos portadores de deficiência, iniciado em 1962 nos EUA em 1979 no Brasil em contraposição à péssima qualidade de atendimento que as instituições especializadas vinham dando às pessoas com deficiência. Nos EUA, este movimento mudou o rumo das políticas sociais e leis pertinentes a este segmento populacional. Num dos centros de reabilitação e educação especial e o dos centros e programas de vida independente. Num segundo momento, além dos dois sistemas, muitos centros de reabilitação e educação especial adotaram alguns dos serviços de vida independentes, assim possibilitando aos clientes já saírem com um bom nível de independência e autonomia.

    Exemplos de serviços de vida independente, já praticados em nosso país, são os seguintes: aconselhamento de pares, atendentes pessoais, informação e encaminhamento, aparelhos assistivos, assessoria jurídica, treinamento em habilidades de vida independente, envolvimento com a comunidade, grupos de apoio, etc. O estilo de vida independente é fundamental no processo de inclusão, pois com ele as pessoas portadoras de deficiência terão maior participação de qualidade na sociedade, tanto na condição de beneficiários dos bens e serviços que ela oferece como também na de contribuintes ativos no desenvolvimento social, econômico, cultural e político da nação. Em outras palavras, vida independente e exercício da cidadania são os dois lados da mesma moeda.

    Devido ao requisito de equipamentos e espaços específicos, os esportes eram pouco praticados no passado por pessoas portadoras de deficiência. No final da década de 40 e nos anos 50, poucos hospitais e centros de reabilitação física tinham tais condições e raramente podiam separar horários para práticas esportivas. Nos casos de inexistência de espaços físicos, havia algumas iniciativas levadas a efeito fora da instituição por aqueles pacientes portadores de deficiência (geralmente física) que possuíam qualidades atléticas. Ás pessoas que não tinham pretensões competitivas, então, as oportunidades de praticarem esporte eram mínimas ou nulas.

    Já na década de 60 e seguintes o esporte e também a educação física ganharam reconhecimento e desenvolveram-se bastante. O papel do esporte e da saúde, hoje, é fator que leva seus praticantes portadores de deficiência, a superarem limitações, e aderirem às práticas.

3.     Esporte Adaptado

    O Esporte Adaptado tem a sua história iniciada em princípios do séc. XX. As primeiras atividades foram direcionadas para jovens portadores de deficiência auditiva por meio de jogos coletivos. Em 1920, os Portadores de deficiência visual começaram a praticar natação e atletismo.

    O Esporte Adaptado começou a se expandir por causa das conseqüências da II Grande Guerra Mundial, mais especificamente entre os anos de 1944 e 1952, quando o médico inglês Ludwig Guttmann teve a idéia da criação de Esportes Adaptados para aumentar a integração dos deficientes com a sociedade e também auxiliar na recuperação das deficiências e auto-estima, já que os soldados voltavam para casa com graves lesões e mutilações. As primeiras atividades aconteceram nas dependências de um hospital em Stoke Mandeville. Várias modalidades foram criadas através dos tempos, dentre elas: arco e flecha, atletismo, basquetebol, etc.

    Existem diversas modalidades que são direcionadas aos PNE’s para que exista uma igualdade de oportunidades entre todos os participantes existe uma classificação inicial que leva em conta alguns fatores, tais como: o tipo de deficiência e o grau de comprometimento, visando respeitar as limitações de cada caso, permitindo que haja uma disputa justa e não aconteça frustração entre os participantes.

    No Brasil, o desporto adaptado surgiu graças às iniciativas de duas pessoas em condição de deficiência física não sensorial, os Srs. Robson Sampaio de Almeida, residente no Rio de Janeiro, e Sérgio Serafim Del Grande, da cidade de São Paulo, na década de 50. Essa atividade de reabilitação de longo alcance teve por objetivo “levar o paciente a alcançar o mais alto grau de saúde, independência, equilíbrio e controle que a lesão permitir”. Atualmente, o Esporte Adaptado é administrado por 6 grandes instituições, que elevam o nível técnico, e divulgam os certames e torneios no país.

    Todavia, a institucionalização do desporto adaptado brasileiro veio a dar-se muito tempo depois, passando por um longo processo, composto por acontecimentos que permitam a discussão no campo da Educação Especial. Em geral e especificamente na área de Educação Física e do Desporto para as pessoas com necessidades especiais no período estudado, e que vieram a contribuir para o atendimento nesse campo, chamamos em nosso trabalho, de processo de institucionalização do desporto adaptado.

    Um grande evento destinado aos Portadores de Necessidades Especiais é a realização das PARAOLIMPÍADAS, duas semanas após o término das Olimpíadas, sempre no mesmo país. Muitas pessoas imaginam que o termo Paraolimpíadas significa Olimpíadas de paraplégicos ou mesmo Olimpíadas para deficientes, mas o termo na verdade significa Paralela aos Jogos Olímpicos. Outro evento de destaque no Brasil é o promovido pela Federação Nacional das APAE's, que, com objetivo de oportunizar a jovens atletas não só de participar de uma competição nacional, mas sobretudo momentos de congraçamento e interação social, desde o ano de 1973, vem realizando as Olimpíadas Especiais,no qual,jovens portadores das mais variadas deficiências, participam em diversas competições esportivas. As Olimpíadas, ao longo desses anos, têm se constituído num importante momento para o Movimento Apaeno; é a ocasião para os atletas monstrarem toda sua garra e superação, evidenciando habilidades e superando obstáculos.Frisando também, que anteriormente á Olimpíada propriamente dita, nos estados são realizadas as seletivas, oportunizando aos atletas, uma chance para a disputa a nível nacional.

4.     Síndrome de Down

    Foi em 1866, que Langdon Down,descreveu e utilizou pela primeira vez o termo mongolóide, no qual, segundo ele, o “aspecto dessas pessoas era tal que era difícil de admitir que fossem filhos de europeus”. Os traços físicos destas crianças as tornavam parecidas com os habitantes da Mongólia e foram por isso denominadas crianças mongólicas.Esta expressão prevaleceu, embora japoneses tenham mostrado não ser adequada, pois há diferenças entre os pacientes com mongolismo e as pessoas normais da raça mongólica.

    Apenas em 1959 cientistas franceses mostraram que os pacientes com Síndrome de Down apresentavam um defeito na divisão dos cromossomos.

    Do ponto de vista neuropatologia, segundo Lefévre (19850), o dado mais importante na referida Síndrome é a desaceleração no desenvolvimento do Sistema Nervoso Central. O cérebro é reduzido de volume e peso, especialmente nas zonas do lóbulo frontal, tronco cerebral e do cérebro. É provável que as anomalias do cerebelo sejam responsáveis pela hipotonia, isto é, a moleza dos músculos encontrada em quase todos os casos.

    As circunvoluções cerebrais,são mais simples que nas crianças normais e o local do cérebro conhecido como giro temporal superior é bem estreito, o que deve estar relacionado com o lento desenvolvimento da fala, na maior parte dos casos.

    O aspecto das crianças portadores da Síndrome é em geral bastante típico e quase sempre não se tem dúvidas sobre o diagnóstico, desde o momento do nascimento. Há um certo número de características que se encontram em variadas combinadas, sendo que os diversos pacientes apresentam um número maior ou menor de sinais, sem que se possa estabelecer relação entre o número de sinais e o grau de desenvolvimento que a criança alcançará.

    Os sinais considerados como mais característicos são: na boca, dentes pequenos, língua sulcada, palato (céu da boca) elevado na forma de ogiva; nos olhos; prega epicantal (no canto dos olhos) e formato oblíquo de fenda palpebral; nas mãos, forma grossa e curta, dedo mínimo arqueado e dobra palmar (linha na palma da mão) incluindo quatro dedos maiores; no crânio, occipital (osso da parte de trás da cabeça) achatado; e nos músculos e articulações, presença de hipotonia e flexibilidade exagerada.

    Há ainda, neles, os dentes que custam para surgir e o fazem de uma forma diferente da habitual, pois são mal alinhados e a ordem em que nascem não é a mesma que se verifica nas crianças normais. É bastante freqüente que os dentes caninos sejam pontiagudos. A língua pode ser grande e mantida fora da boca. O crânio, além de achatado na parte posterior, pode também apresentar retardo no fechamento das fontanelas, bem como podem ser evidenciados defeitos de postura no tórax, seja na coluna ou na região anterior do peito.

    Geralmente, os genitais, das crianças portadores de Síndrome de Down, são pouco desenvolvidos e os músculos da parte central do abdômem, muitas vezes, se apresentam separados.

    Os pés são bastante típicos, em virtude do grande afastamento do primeiro dedo, sugerindo o que se passa com o polegar e o indicador da mão normal. A hipotonia muscular constitui um dos sinais mais encontrados no portador de Síndrome de Down, acompanhando-o durante toda a infância e, às vezes, por toda sua vida, responsabilizando-se por importante retardo do desenvolvimento motor.Ainda, no exame neurológico, praticamente todos os reflexos pesquisados são fracos ou lentos.

    Do ponto de vista clínico, também importa mencionar que algumas crianças com Síndrome de Down apresentam má formação cardíaca ou de aparelho digestivo, e talvez 10% das atingidas, exigindo portanto um controle médico especializado.

    Os transtornos ou anomalias cromossomiais, que geram a Síndrome de Down, têm seu início na fertilização do óvulo pelo espermatozóide, ocorrendo na época da divisão celular, quando os cromossomos devem se distribuir corretamente.

4.1.     Iniciação esportiva para alunos portadores de Síndrome de Down, relatos de uma instituição Sul-Capixaba

    Os alunos portadores de necessidades especiais podem participar de qualquer atividade esportiva, bastando para isto algumas adequações quanto ao material e regras já existentes.

    Hoje existem instituições no mundo inteiro que prestam serviços especiais, gerenciando o esporte para deficientes. No Brasil, elas realizam um excelente trabalho em prol desta população.

    Esses serviços merecem destaque, haja visto, que requerem uma grande dose de sacrifício e abnegação por parte de seus membros, mas ressaltamos que esses esforços isolados dificilmente obterão pleno êxito, devido á imensidão de nosso país e a inúmeras outras razões tais como o pequeno número de seus adeptos, de ramificações, de auxílio técnico e financeiro, se não tiverem colaboração mais efetiva de federações, ligas,clubes e associações comunitárias.Deve-se frisar que, tais ações são iniciadas em nível local, até chegar ao nível nacional.

    Uma experiência realizada de maneira efetiva é a da APAE de Cachoeiro de Itapemirim (ES), onde, os alunos portadores de Síndrome de Down, matriculados e freqüentando regularmente a instituição, recebem desde o momento em que iniciam sua vida escolar, uma iniciação esportiva diversificada, na qual, os mesmos têm a oportunidade de entrar em contato com uma variada gama de esportes, sejam eles individuais como a natação: de forma terapêutica, auxiliando o trabalho de fisioterapia, e obedecendo um programa específico, assim como também a iniciação em natação e a natação propriamente dita, onde se desenvolvem os quatro estilos de nado, visando futuramente a formação de atletas para integrar a equipe que representará a instituição em eventos estaduais (Olimpíada Estadual das APAE’s) e nacionais (Olimpíadas Nacionais das APAE’s).

    Ainda em relação aos esportes individuais, na instituição os alunos recebem orientações técnicas sobre o atletismo, em especial as provas de corrida:25,50 e 100 metros, dentre outras, salto em distância e arremesso de peso

    No entanto, merecem destaque os esportes coletivos, onde, os alunos recebem um aprendizado técnico-tático em: Handebol,Basquetebol e Voleibol, sob a forma de aulas de Educação Física, em 2 aulas semanais de 50 minutos. A maior ênfase nos desportos coletivos no entanto, é dada ao FUTSAL, por ser este a modalidade disputada na Olimpíada Estadual das APAE’s, e ser classificatória para a Olimpíada Nacional.Os treinamentos são oferecidos em duas sessões semanais, nos quais são oferecidos:fundamentos técnicos e táticos, além de jogos amistosos contra equipes diversas.Devemos frisar que, tanto as modalidades individuais quanto nas coletivas, o aluno portador de Síndrome de Down, é sujeito ativo no processo, participando e desenvolvendo as atividades de forma efetiva, sob a coordenação e orientação de professores de Ed. Física da instituição.

Conclusão

    A prática do desporto pela pessoa em condição de deficiência em nosso país ainda está sem um direcionamento que dê conta de abarcar o direito desse cidadão. Ao analisarmos a participação de esportistas nas paraolimpíadas, notamos que esse fato em si não contribui para uma mudança significativa em suas vidas. Afirmamos que estes vivem dois momentos distintos e significativos em suas vidas:

  1. Momento de glória: no qual experimentam todas as sensações do sucesso e, por que não dizer, da fama.

  2. Momento do retorno a seu cotidiano na qual voltam à sua lida diária.Esta, muitas vezes sem o glamour de uma vitória ou recebimento de uma medalha. E o que pode ser ainda pior, sem o reconhecimento da própria sociedade sobre o valor dessas conquistas.

    Portanto,podemos afirmar que se faz urgente o resgate da prática desportiva por diferentes populações, em vários momentos e em diferentes circunstâncias, levando-se em conta que a busca à iniciação esportiva acontece na vida das pessoas sem condição de deficiência aparente diferentemente daquela que direciona a pessoa em condição de deficiência (física sensória,não sensória, mental). Isso pode significar que não há um caminho predeterminado para sua busca. O que se pode observar é que não há cultura esportiva que contemple as pessoas em condição de deficiência.

    Talvez porque, de forma geral, a inclusão ainda seja algo muito presente nos discursos,escapando à prática do dia-a-dia.

    É preciso desenvolver uma atitude ética perante a pessoa com deficiência, a fim de que se concretize na prática de cada novo dia, para que a mudança conceitual expressa no discurso legal, nas diretrizes governamentais e até mesmo no ideário de uma concepção humanista se tomem realidade.

    Na verdade, precisamos desenvolver atitudes que contemplem essas pessoas dentro de suas limitações, mas, para além delas.

    Então, temos que resignificar o desporto para a pessoa com necessidades especiais (independente de serem física, mental ou sensoriais), como uma possibilidade no processo de construção dessa nova pessoa, uma vez que os ganhos são atribuídos a diferentes dimensões: psicológica, social, orgânica e motora, contribuindo assim para seu posicionamento como cidadão participativo.

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revista digital · Año 14 · N° 142 | Buenos Aires, Marzo de 2010  
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