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Introdução

    A atividade física e os bons hábitos alimentares representam os principais fatores de proteção à saúde, como também no combate às doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), principalmente a obesidade, hipertensão e o diabetes, diminuindo sensivelmente os gastos com a saúde pública (HAENNEL; LEMIRE, 2002; NAHAS, 2003; BAUMAN, 2004; BASSUK; MANSON, 2003; DANIELSKI; SCHNEIDER; ROZZA, 2008; SAMPAIO, 2009).

    Para Sampaio (2009), apesar de todas as evidencias científicas, a maioria das pessoas acabam adotando hábitos sedentários. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 60% da população mundial não praticam atividade física com regularidade (WHO, 2006). Nesse sentido, a promoção de hábitos saudáveis que envolvam a prática regular de atividade física torna-se de grande importância no combate ao sedentarismo (ROWLAND, 2001).

    Neste contexto, a prática da caminhada tem merecido atenção especial, vistos ser a atividade física estruturada mais popular e mais acessível à população, sendo também utilizada como parte efetiva de programas de controle de peso e redução de DCNT (POWERS; HOWLEY, 2000; SAMPAIO, 2009).

    A caminhada é um exercício de natureza aeróbica, sendo caracterizada pelo envolvimento de grandes grupos musculares em atividade dinâmicas que resultam num aumento substancial do gasto energético e do fluxo sanguíneo, ajudando a preservar a integridade de artérias e veias, dificultando igualmente a deposição de gordura na parede dos mesmos (ANDERSEN, 1999; HOWLEY, 2001).

    De acordo com a literatura, são vários os benefícios acarretados pela prática regular da caminhada e de exercícios físicos, como por exemplo, a redução dos riscos de mortalidade por doenças cardiovasculares (HOWLEY, 2001; RIQUE; SOARES; MEIRELLES, 2002), do desenvolvimento diabetes tipo 2 (MADSON, 1992; LYRA et al., 2006), elevando os níveis de HDL e diminuindo os LDL, Colesterol Total e Triglicerídeo (STEIN, 2004; FAGHERAZZI; DIAS; BORTOLON, 2008), prevenindo a osteoporose, (STEIN, 2004; SIQUEIRA et al., 2009), alem dos benefícios psicológicos e sociais (WHO, 2006; BERGER et al., 2006).

    Em Santarém, com a construção e revitalização dos espaços públicos de lazer, a prática das atividades físicas em logradouros públicos veio crescendo nos últimos anos, sendo a espaço da orla fluvial o mais frequentado entre os praticantes de caminhada (SOUSA; SILVA, 2003).

    Sendo assim, objetivo do presente estudo foi descrever os padrões de comportamento relacionados à prática de caminhada na orla fluvial da cidade de Santarém, Pará, Brasil.

Metodologia

Tipo de estudo

    Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva do tipo exploratória. O valor da pesquisa descritiva é baseado na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio da observação, análise e descrição dos fenômenos. Já o método exploratório inclui a utilização de questionários, entrevistas pessoais e survey (THOMAS; NELSON, 2002).

Características do local do estudo

    O estudo foi realizado na orla fluvial da cidade Santarém. Este município está localizado no estado do Pará (microrregião do Médio Amazonas), na confluência de dois grandes e importantes rios: o Amazonas e o Tapajós. Apresenta-se distante 1.369 km da capital Belém, ocupando uma área de 24.154 km2 e é povoada por uma população de, aproximadamente, 300 mil habitantes (SOUSA; SILVA, 2003; CARVALHO; SOUSA; QUEIROZ, 2006).

População e amostra

    Nesta pesquisa, a população foi constituída por pessoas praticantes de caminhada na orla fluvial. A amostra foi composta de 50 indivíduos de ambos os gêneros, com média de idade de 34,0±10,3 anos.

Critérios de inclusão

    Os critérios de inclusão para os indivíduos foram: ter praticado a atividade de caminhada no espaço da orla fluvial por no mínimo 06 meses; ter idade igual ou superior a 18 anos; não ter apresentado alguma complicação de saúde que o afastasse da atividade nos últimos 06 meses; assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE).

Instrumento de coleta de dados

    Para a coleta de dados foi utilizado um questionário fechado que consistia de perguntas sobre as características demográficas (gênero e idade), prática de caminhada (quantidade de dias por semana de prática, duração da atividade, período do dia, tempo de prática) e outras perguntas relacionadas à prática de alongamento antes da caminhada, orientação médica, orientação do profissional de educação física, avaliação física periódica, objetivos da prática de caminhada e se esses objetivos estão sendo alcançados.

Aspectos éticos

    Os sujeitos foram codificados para garantir o anonimato e assinaram o TCLE, de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O TCLE foi obtido após os sujeitos da pesquisa estarem suficientemente esclarecido de todos os procedimentos que foram adotados durante o estudo.

    O termo foi elaborado em duas vias, ficando uma com o voluntário e outra arquivada, por um período de 05 anos. Foi também garantida à privacidade dos sujeitos em limitar qualquer tipo de exposição pessoal, bem como a liberdade de deixarem de participar do estudo a qualquer momento, sem que houvesse nenhuma forma de prejuízo ao seu atendimento ou represália.

Tratamento estatístico

    Os dados obtidos na pesquisa de campo foram processados e tabulados em forma de distribuição percentual, mediante utilização do programa Excel (Office 2007), para Windows.

Resultados e discussão

    O aumento da prevalência de sedentarismo na sociedade moderna tem sido apontado como um dos principais problemas de saúde pública a ser combatido na atualidade (NUNES; BARROS, 2004). De acordo com Carvalho et al. (1996) e Danielski, Schneider, Rozza (2008), a prática regular de atividade física é indispensável para a preservação da saúde. Os efeitos da atividade física, reconhecida como salutares, são os que afastam as pessoas de condições estatisticamente relacionadas com a ocorrência de doenças (SANTARÉM, 1996).

    Observando os resultados apresentados na tabela 01, pode-se notar que a amostra era composta de 30 (60%) de indivíduos do gênero masculino e 20 (40%). Com relação à faixa etária, notamos que 06 (12%) dos sujeitos tinham entre 18-20 anos, 34 (68%) estavam entre 21-45 anos, 09 (18%) tinham entre 46-60 anos e 01 (2%) apresentava idade acima dos 60 anos.

Tabela 01. Resultados da quantidade e frequência relativa do gênero e da faixa etária dos sujeitos da pesquisa

Variáveis	Quantidade de sujeitos (n=50)	%
Gênero
Masculino	30	60%
Feminino	20	40%
Faixa etária dos sujeitos da pesquisa
18-20 anos	06	12%
21-45 anos	34	68%
46-60 anos	09	18%
Acima de 60 anos	01	02%

    Ao analisarmos a quantidade e a frequência relativa das variáveis relacionadas à prática de caminhada (tabela 02), observamos que a maioria dos indivíduos (n=20; 40%) caminhavam 03 dias por semana, outros escolhiam praticar 02 dias (n=12; 24%) ou 05 dias (n=13; 26%) por semana. A duração da atividade caminhada, segundo a maior parte dos sujeitos, foi de 60 minutos (n=30; 60%), sendo também relatada a duração de 90 minutos (n=07; 14%) e 120 minutos (n=10; 20%). Os períodos favoritos para a prática de caminhada foi o da tarde (n=27; 54%) e da noite (n=18; 36%). Com relação ao tempo de pratica, a maioria respondeu que já caminhavam na orla a mais de 01 ano (n=34; 68%), outra parcela relatou que começou a praticar a menos de 01 ano (n=16; 32%).

Tabela 02. Resultados da quantidade e frequência relativa das variáveis relacionadas à prática de caminhada.

Variáveis	Quantidade de sujeitos (n=50)	%
Quantidade de dias/semana de prática de caminhada
02 dias	12	24%
03 dias	20	40%
05 dias	13	26%
07 dias	05	10%
Duração da prática de caminhada
30 minutos	03	06%
60 minutos	30	60%
90 minutos	07	14%
120 minutos	10	20%
Período do dia
Manhã	05	10%
Tarde	27	54%
Noite	18	36%
Tempo de prática de caminhada na orla
≤ 01 ano	16	32%
>01 ano	34	68%

    Estudos realizados em diversos países, inclusive no Brasil, mostraram que mudanças no estilo de vida (GOLDMAN; COOK, 1984; HASKELL et al., 1992; COLOMBO; AGUILLAR, 1997; NAHAS, 2003; PORTERO; CATTALINI, 2005), adotando uma simples caminhada de intensidade moderada por 30 minutos, 05 dias na semana, representa uma redução significativa na morbidade populacional por doenças crônicas não-transmissíveis (PAFFENBARGER et al., 1986; PATE et al. 1995; ACSM, 1998; HU, et al., 2001; SAMPAIO, 2009).

    Os resultados apresentados na tabela 03 mostraram que a maioria dos participantes (n=40; 80%) realizava alongamentos antes de iniciar a prática de caminhada. Entretanto, a maior parcela dos indivíduos relatou não receber orientação médica (n=36; 72%), nem de profissionais de educação física (n=33; 66%), tendo como consequência a não realização de avaliação física periódica (n=33; 66%). Os principais objetivos da pratica de caminhada a busca pelo melhor condicionamento físico (n=20; 40%), perder peso (n=12; 24%) e qualidade de vida (n=10; 20%). Por fim, a maioria dos indivíduos relatou que os seus objetivos em relação à prática de caminhada estão sendo alcançados (n=37; 74%).

Tabela 03. Resultados da quantidade e frequência relativa das variáveis relacionadas à prática de alongamentos, orientações médicas e 

de profissionais de educação física, avaliação física periódica, objetivos e avaliação dos benefícios da prática de caminhada

Perguntas	Quantidade de sujeitos (n=50)	%
Alongamento antes da caminhada
Fazem alongamento	40	80%
Não fazem alongamento	10	20%
Orientação Médica
Recebem orientação	14	28%
Não recebem orientação	36	72%
Orientação de um profissional de Educação Física
Recebem orientação	17	34%
Não recebem orientação	33	66%
Avaliação física periódica
Fazem avaliação física	17	34%
Não fazem avaliação física	33	66%
Objetivos da prática de caminhada
Perder peso	12	24%
Manter peso	02	04%
Estética	04	08%
Saúde	01	02%
Qualidade de vida	10	20%
Lazer	01	02%
Melhor condicionamento físico	20	40%
Alcance dos objetivos
Sim	37	74%
Não	13	26%

    De acordo com os dados acima apresentados, a maioria dos sujeitos realizava alongamentos antes da prática de caminhada. Conforme a literatura (SHELLOCK; PRENTICE, 1985; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2002; ACHOUR JÚNIOR, 2006), o alongamento deve fazer parte do processo de preparação, nas mais diversas práticas de atividade física, por ser um meio de prevenir lesões, como também acarreta na melhoria da flexibilidade e do desempenho esportivo.

    Em relação à orientação médica, observamos que a maior parcela dos indivíduos não recebe qualquer aconselhamento. Matsudo, Matsudo e Leite (2001) ressaltaram a importância da orientação médica sobre a prática de atividades físicas como forma não só da prevenção primária das doenças crônicas, mas também da prevenção secundária em pacientes com doenças cardiovasculares e outras enfermidades.

    Assim como os estudos de Torrens e Santos (2003) a maioria dos indivíduos realiza a caminhada sem qualquer supervisão ou prescrição das atividades por parte de algum profissional capacitado. Neste tipo de prática sem orientação, os resultados nem sempre são benéficos, podendo muitas vezes colocar em risco a saúde e a própria vida do praticante.

    A atuação do profissional de Educação Física neste meio é considerada extremamente baixa, o que justifica a alta porcentagem de indivíduos que não recebem orientação para a prática de caminhada e que não realizam avaliação física.

    Avaliação física é um conjunto de procedimentos sistemáticos a fim de testar, medir e analisar dados a respeito dos indicadores morfológicos e funcionais de um indivíduo ou de um grupo populacional. Junto a uma anamnese, a avaliação física deve ser empregada com a finalidade de diagnosticar as condições iniciais do avaliado, antes de começar qualquer programa de treinamento. Ela é também um ótimo instrumento para avaliar o andamento desse programa e o desempenho do cliente e/ou atleta durante o mesmo (FERNANDES FILHO, 2002)

    Observamos também que os principais objetivos da pratica de caminhada foram o condicionamento físico, perda do peso corporal e qualidade de vida. Segundo Lima (2000), as pessoas estão recorrendo à prática de caminhadas com objetivos de tentar queimar algumas calorias, reduzindo o peso corporal, como também na tentativa de obter alguma melhora da saúde orgânica geral, buscando um melhor bem estar físico, psíquico e emocional. O alcance dos objetos com a prática de caminhada também foi observada na maioria dos participantes.

Conclusão

    A partir da análise e discussão dos resultados, concluí-se que os padrões de comportamento relacionado à prática de caminhada (quantidade de dias por semana, duração, período do dia, tempo de prática e realização de alongamentos) estavam de acordo com os achados na literatura. Notou-se também a falta de orientação médica e do profissional de educação física, com também a não realização de avaliação física pela maioria dos sujeitos da amostra. Recomenda-se, assim, a realização de estudos similares, utilizando uma amostra maior e que abordem mais vaiáveis, a fim de levantar dados mais significativos a respeito desta população.

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