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Avaliação do peso corporal e as relações com 

o cotidiano da população estudantil da cidade de Formiga, MG

Evaluación del peso corporal y las relaciones con la vida cotidiana de la población estudiantil de la ciudad de Formiga, MG

 

Licenciatura Plena em Educação Física, pelo Centro Universitário de Formiga, MG

Pós-Graduada em Treinamento Desportivo e Personal training pelo CUF

Mestranda em Educação, Cultura e Organizações Sociais, pela FUNEDI/UEMG

Professora de Educação Física na rede municipal e estadual de ensino de Formiga, MG

Marcela de Melo Fernandes

marcelamelo29@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Este trabalho apresenta e discute os resultados de pesquisa realizada com estudantes do Ensino Médio da cidade de Formiga (MG), sobre a problemática do peso corporal. Caracterização da amostra: foram pesquisados 100 alunos, dos sexos masculino e feminino, com idades variando entre 14 e 19 anos. Procedimentos: além da medição de peso e altura, para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), foi aplicado um questionário com perguntas direcionadas às diversas áreas envolvidas no controle do peso corporal. Resultados: foram constatados casos de obesidade e perda de peso entre os estudantes, com indícios de possíveis casos de anorexia nervosa. Conclusões: os casos de obesidade na população estudada são superados pelos casos de peso abaixo do normal, havendo a possibilidade de existirem casos de anorexia nervosa, entre estes últimos. Foram constatados também alto grau de sedentarismo e maus hábitos alimentares, além de opiniões preconceituosas contra os obesos.

          Unitermos: Obesidade. Anorexia. Sedentarismo

 

Abstract

          This work presents and it discusses the research results accomplished with students of the Medium Teaching of the city of Formiga (MG), on the problem of the corporal weight. Characterization of the sample: 100 students were researched, of the masculine and feminine sexes, with ages varying between 14 and 19 years. Procedures: besides the weight measurement and height, for calculation of the Index of Corporal Mass (IMC), a questionnaire was applied with questions addressed to the several areas involved in the control of the corporal weight. Results: cases of obesity and weight loss were verified among the students, with indications of possible cases of nervous anorexia. Conclusions: the cases of obesity in the studied population are overcome by the cases of weight below the normal, having the possibility of cases of nervous anorexia exist, among these last ones. They were also verified high sedentary degree and bad alimentary habits, besides opinions preconceived against the obese ones.

          Keywords: Obesity. Anorexia. Sedentary

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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1.     Introdução

    O cuidado com o corpo tem caracterizado os últimos anos da história da humanidade. São milhares de pessoas exercitando-se em ruas e praças, academias proliferando-se em todos os cantos das cidades, revistas especializadas sendo publicadas quase que diariamente, livros sendo editados em um ritmo constante, inúmeros sites na Internet dedicados ao tema. Enfim, hoje, o que não faltam são informações sobre os cuidados que se deve ter com o corpo. Num tempo em que as formas físicas e os músculos esculpidos constituem o padrão de beleza, o excesso de peso e a obesidade transformaram-se na grande epidemia do planeta, com conseqüências desastrosas na saúde física e psíquica da população. Em muitos países industrializados ocidentais a obesidade é ainda um estado físico que carrega um estigma de preconceito. As pessoas obesas são geralmente consideradas não atraentes fisicamente e possuidoras de uma série de falhas de caráter. Recentemente, a psicopatologia nos indivíduos obesos tem mudado. Já existe forte tendência por parte da classe médica de entender a obesidade como sendo conseqüência – e não a causa – do preconceito e da discriminação a que as pessoas com sobrepeso estão sujeitas. Um lado menos visível da questão, mas com alto grau de letalidade, é o problema da anorexia nervosa, que caracteriza como um tipo de Transtorno Alimentar que envolve perturbações no comportamento alimentar do indivíduo, sendo sua principal característica o medo mórbido de engordar (APA, 1994). A sua incidência têm aumentado nas últimas décadas, especialmente entre as mulheres jovens dos países ocidentais (DUNKER & PHILIPPI, 2000; HAY, 2002,). Dados epidemiológicos têm mostrado que a incidência média anual da anorexia nervosa na população em geral é de 18,5 por 100.000 entre as mulheres e 2,25 por 100.000 entre os homens (HAY, 2002). Alteração alimentar caracterizado pela recusa à alimentação e excesso na prática de atividade física. Atingindo preferencialmente adolescentes e jovens do sexo feminino, é um transtorno psíquico que leva a pessoa à compulsão de emagrecer, mesmo reconhecendo já ter atingido um limite de peso muito baixo, potencialmente letal.

    O número de casos de anorexia nervosa têm crescido assustadoramente, nos últimos anos. Enquanto os meios de comunicação reforçam cada vez mais os estereótipos de beleza, muitas vezes irracionais, característicos das últimas décadas, a obsessão pelo corpo perfeito domina a vida de inúmeras garotas. O objetivo deste trabalho é o estudo de uma população estudantil, alunos do ensino médio, do município de Formiga (MG), para detecção de casos de alteração de peso, associados a transtornos alimentares e uma análise dos fatores que podem interferir na questão. Inicialmente, havia-se planejado apenas o estudo da obesidade. Entretanto, a alta porcentagem de alunos abaixo do peso normal chamou-nos a atenção para o outro lado do problema. Como se verá, é uma porcentagem mais alta que a de obesidade, em ambos os sexos. Como justificativa para a realização de um trabalho que aborda este tema, podemos dizer que se faz de grande importância que os profissionais de Educação Física tenham o conhecimento necessário sobre como atuar em situações que necessitam de cuidados bastante específicos, como é o caso dos que envolvem as mudanças de peso, para assim evitar que durante as aulas realizadas o aluno sofra algum tipo de dano por estar realizando uma atividade que não esteja de acordo com suas necessidades e limitações. No caso dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes o desafio torna-se ainda maior, pois envolve também a possibilidade de detectar distúrbios alimentares e alterações de peso precocemente, antes que os danos se tornem crônicos e mesmo irreversíveis. Adotou-se na pesquisa o método indutivo na abordagem do tema. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário, aplicado aos alunos após um pequeno esclarecimento sobre o tema e a obtenção da necessária concordância em participar da pesquisa. Também foram medidos o peso e altura dos alunos, possibilitando o cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC), utilizado para classificá-los nas diversas faixas de peso. Os profissionais ligados à Educação Física devem estar cientes destes fatos, apoiando os esforços para alterar e auxiliar em todos os comportamentos e hábitos que visam melhorias relativas à saúde.

2.     material e método de avaliação do peso em estudantes adolescentes da cidade de Formiga (MG)

2.1.     Caracterização da amostra

    A pesquisa foi realizada com 100 estudantes do Ensino Médio (1º a 3º anos), alunos de uma escola estadual da cidade de Formiga (MG). A escola situa-se na zona urbana e atende, preferencialmente, a estudantes oriundos das classes média baixa e média. Seguindo a tendência mundial, o sexo feminino é majoritário, havendo praticamente o dobro de meninas nas turmas (Figura 3). Este fato vem de encontro aos objetivos da pesquisa, uma vez que os transtornos alimentares atingem preferencialmente mulheres jovens, segundo Sua prevalência é alta, com 90 a 95% dos casos ocorrendo no sexo feminino (ABOTT et. al., 1993).

    A maioria dos alunos encontra-se na faixa de idade entre 16 e 17 anos. A idade média encontrada foi de 15 anos e 11 meses para as meninas e 16 anos e 4 meses, para os meninos (Figura 4).

2.2.     Procedimentos

    Contatada a diretora da escola, foi-lhe feito um breve relato do trabalho em curso, com esclarecimentos sobre os objetivos e a metodologia propostos. Havendo obtido autorização para o prosseguimento da pesquisa, fui encaminhada às salas de aula acompanhada pela Orientadora Educacional, que responsabilizou-se pelo contato com os alunos, e expondo, de maneira sucinta, a tarefa que seria empreendida. Após uma breve conversa com os alunos, onde coloquei-me disponível para o esclarecimento de eventuais dúvidas, obtive a concordância dos mesmos, dando início à coleta de dados. Os alunos foram pesados e medidos, para possibilitar o cálculo do IMC. Foram utilizados, nesta medição, aparelhos pertencentes à própria escola, devidamente calibrados, segundo certificado exibido pela diretoria. A seguir, foi-lhes repassado o formulário (Apêndice A). Durante o preenchimento do formulário a investigadora esteve presente, sendo às vezes questionada quanto a algumas dúvidas surgidas. Os esclarecimentos necessários foram feitos em voz alta, atingindo igualmente todos os alunos da turma, e com o devido cuidado para que não influenciassem as respostas.

3.     Resultados e discussão

3.1.     A primeira constatação é a alta incidência (43%) de transtornos de peso entre os alunos pesquisados. Os casos de obesidade (15% no total) distribuem-se igualmente entre os sexos, com ligeira predominância entre os homens (16,3% contra 14,3%); um total de 28% dos alunos encontra-se abaixo do peso, sendo que esta condição atinge 29,7% dos meninos e 27,0% das meninas (Figura 5). Apesar do índice relativamente pequeno de obesos, chama atenção os índices de IMC encontrados para os casos de obesidade mórbida: uma das meninas apresentou IMC de 48,73 e o IMC de um dos alunos é de 49, 86. Também em relação ao limite inferior houve surpresas, quando constatamos duas alunas com IMC inferior a 14,5, ou seja, com todas as características de subnutrição. Entre os meninos, foi encontrado um caso de IMC igual a 15,32, para um aluno que mede 1,83 m e pesa apenas 51 kg.

    Quanto à componente Atividade Física, a maioria dos alunos (56%) declara exercer rotineiramente atividades moderadas, como caminhar rapidamente e executar tarefas manuais. Mas um índice de 33% é assumidamente sedentário, caminhando somente distâncias curtas e passando quase a totalidade do dia inativo (Figura 6).

    O grau de sedentarismo é bastante superior nos membros do sexo feminino (41,3% contra 18,9%), o que se confirma nas questões em que se pesquisou um estilo de vida ativo incorporado às atividades do dia-a-dia. Dessa forma, 57,1% das meninas declarou caminhar ou pedalar rotineiramente; esse índice, entre os garotos, é de 73,0% (Figura 7). Os meninos revelam-se menos propensas a enfrentar escadas, preferindo o conforto relativo oferecido pelos elevadores (Figura 8).

    No lazer, as atividades que exigem ativa participação física, como ciclismo, caminhada e dança, surgem na vida dos alunos de maneira bastante diversificada (Figuras 9 e 10). Assim, enquanto a maioria (76%) pedala ou faz caminhadas ao menos duas vezes na semana, independente do sexo, a maioria dos meninos (81,1%) declara não praticar nenhum tipo de dança; este índice é menor entre as meninas (49,2%).

    No tocante à prática sistemática de atividade física, entretanto, temos um índice muito reduzido de alunos, independente do sexo (Figuras 11 e 12). A prática de ginástica localizada só se faz presente na vida de 15% dos alunos, com ligeira superioridade do sexo feminino (15,9% contra 13,5%). A musculação, realizada por apenas 9% dos alunos, é praticada por uma porcentagem maior de meninos (16,2% contra 4,8%).

    A prática de esportes, por outro lado, está presente na vida dos alunos, com maior ou menor intensidade. Apenas 5,5% dos garotas e 17,5% das meninas atestaram não praticar nenhuma modalidade esportiva, no transcorrer da semana. O sexo masculino é mais propenso à prática desportiva, sendo que 48,6% dos entrevistados pratica esportes mais de duas vezes na semana. As garotas, por sua vez, praticam mais moderadamente, e a grande maioria (46%) faz esportes uma vez por semana (Figura 13).

    Os exercícios aeróbios fortes, como correr, remar, nadar, etc. também fazem parte do cotidiano dos alunos, sendo que a maioria (53%) os pratica uma vez por semana (Figura 14). Desconfia-se que o bom índice de respostas positivas obtido deve-se, em grande parte, à Educação Física escolar, pois durante a aplicação do formulário a investigadora foi questionada, em todas as turmas, sobre a validade dos exercícios praticados durante estas aulas, na escola. Como se manifestou um dos estudantes, oralmente, ao receber a informação de que a ginástica praticada nas aulas de Educação Física poderia ser considerada: “Ufa, ainda bem que vale, porque senão a dona aí ia ficar pensando que eu sou preguiçoso, não gosto de ginástica.”

    Relativamente ao componente Nutrição, a situação mostra-se mais complicada. A maioria dos alunos (38%) costuma fazer 4 refeições por dia, mas neste item encontramos extremos que beiram a calamidade. Constatamos que 9% dos alunos, no total (índice entre as mulheres de 11,1%), costuma fazer 8 ou mais refeições por dia. No outro extremo, 8% dos alunos (índice absolutamente igual, entre meninos e meninas) faz somente 2 refeições por dia. E, caso extremo, tivemos a manifestação de 4,8% das garotas, no sentido de que não fazem nem uma refeição regular por dia, só se alimentando convenientemente quando obrigadas pelos pais (Figura 15).

    A respeito, é importante frisar que esta última informação foi obtida devido a manifestações espontâneas das alunas, que questionaram sobre a resposta que deveriam dar à questão. Deve-se lembrar, aqui, que a recusa à ingestão de alimentos é um dos sintomas que caracteriza a anorexia nervosa. Não se está afirmando ser este o caso, pela falta de exames médicos específicos, mas é importante salientar que são garotas que apresentam IMC alterado, em torno de 15,5.

    Os maus hábitos alimentares revelam-se nas questões específicas, em que se pesquisou o consumo de determinados alimentos na dieta dos estudantes (Figuras 16, 17, 18 e 19).

    Associado aos maus hábitos alimentares, temos a constatação de hábitos pouco saudáveis praticados após as principais refeições. Hábitos como assistir televisão e dormir após as refeições integram o cotidiano da maioria dos alunos (56%), enquanto que a prática de atividades físicas, como caminhada, é a realidade de poucos (11%) (Figura 20).

    O fator hereditário parece ter pouca influência nos transtornos de peso observados, principalmente no tocante aos casos de obesidade. Com efeito, na grande maioria das famílias (72%) não existem casos de obesidade entre os parentes próximos (Figura 21). Entre os 28% que relataram a existência de obesos na família, constatamos um único caso de obesidade (obesidade tipo II); no entanto, foram constatados 4 casos de deficiência de peso. Inclusive, em um dos casos mais graves, de uma garota que só se alimenta quando obrigada, temos presença de pai e mãe obesos.

    Já na componente Ansiedade temos um quadro bastante diferenciado, entre os dois sexos. A maioria das garotas considera-se ansiosa (66,7%), enquanto que um grande número de meninos (51,4%) classifica-se como de temperamento calmo (Figura 22). A porcentagem de estudantes que se classificou como tensa, por outro lado, é extremamente pequena, nos dois sexos (7,9% das meninas e 8,1% dos garotos).

    Quando confrontados com questões específicas, destinadas a verificarem atitudes e reações a situações de stress, percebemos uma grande disparidade relativamente ao tipo de ocorrência ser mais ou menos próximo da realidade dos alunos. Assim, no primeiro caso, quando colocados perante o fato de terem um imprevisto qualquer que impeça a realização de uma atividade de lazer programada, a grande maioria (73%) afirma conseguir manter a calma (Figura 23).

    Entretanto, quando colocados frente a uma situação mais próxima de sua realidade atual, como a participação em concursos vestibulares, provas e exames profissionais, uma boa porcentagem (24%) dos alunos se descontrola. Nesta situação, comem em demasia, como forma de aliviar a tensão e a ansiedade (Figura 24).

    As garotas revelam-se menos controladas, perante situações de frustração como a exposta na primeira questão, enquanto que os meninos demonstram-se mais ansiosos na segunda situação (a porcentagem de compulsão na alimentação salta de 8,1% para 24,3%, da primeira para a segunda questão, entre os garotos).

    A maioria dos alunos (77%) não tem o hábito de praticar exercícios para relaxamento, quando sob situações de stress e tensão. Surpreendentemente, a porcentagem de garotos que pratica técnicas de relaxamento é muito superior à das meninas, conforme demonstrado na Figura 25.

    Finalmente, foi analisada a visão e perspectivas dos alunos quanto à problemática de alterações no peso corporal. Questionados quanto ao grau de satisfação com seu atual peso corporal, apenas 39% dos estudantes manifestou-se favoravelmente. A grande maioria demonstra-se insatisfeita, querendo ganhar ou perder peso (Figura 26).

    Chama a atenção a alta porcentagem de meninas (50,8%) que desejam emagrecer, quando se lembra que existe apenas um porcentual de 22,1% de garotas acima do peso recomendado.

    A alimentação constitui motivo de prazer para a grande maioria dos alunos pesquisados (72%). Para 15% deles, o ato de alimentar-se é problemático, pois tendem a comer compulsivamente, sem limites. Para outros 13% a alimentação diária é traumática, pois admitem sentir nojo dos alimentos que ingerem (Figura 27). Novamente aqui notam-se indícios de possíveis casos de anorexia nervosa, entre os alunos.

    A presença de episódios de vômito após a ingestão de alimentos é pequena, entre os alunos estudados. Apenas 19%, no total, relataram episódios de vômito e náusea, ocasional ou constantemente (Figura 28). Novamente chama a atenção o caso de dois alunos, um garoto e uma garota, que asseguraram, voluntariamente, ter este tipo de manifestação diariamente.

    A influência dos padrões de beleza exaustivamente divulgados pela mídia pôde ser sentido nas respostas obtidas na última questão. A grande maioria dos alunos (70,1% dos meninos e 79,3% das garotas) concorda que “magros são mais bonitos”, enquanto que 48,6% dos meninos e 38,1% das meninas concordaram que “gordos são sujos” (Figura 29).

    O preconceito em relação às pessoas obesas foi confirmado na segunda série de afirmativas, quando 91% dos alunos exprimiram a opinião de que “sentiriam-se bem namorando alguém excessivamente magro”, enquanto somente 19% afirmaram que “sentiriam-se bem namorando uma pessoa obesa” (Figura 30).

3.2.     Discussão dos resultados

    Baseados nas respostas obtidas na pesquisa, podemos concluir:

  1. os casos de obesidade (15% no total) distribuem-se igualmente entre os sexos, com ligeira predominância entre os homens (16,3% contra 14,3%).

  2. um total de 28% dos alunos encontra-se abaixo do peso, sendo que esta condição atinge 29,7% dos meninos e 27,0% das meninas. Foram encontradas duas alunas com IMC inferior a 14,5 e um aluno que mede 1,83 m e pesa apenas 51 kg (IMC igual a 15,32).

  3. uma porcentagem de 33% dos alunos é assumidamente sedentário, caminhando somente distâncias curtas e passando quase a totalidade do dia inativo.

  4. a prática de ginástica localizada só se faz presente na vida de 15% dos alunos, com ligeira superioridade do sexo feminino (15,9% contra 13,5%).

  5. a musculação, realizada por apenas 9% dos alunos, é praticada por uma porcentagem maior de meninos (16,2% contra 4,8%).

  6. apenas 5,5% dos garotas e 17,5% das meninas atestaram não praticar nenhuma modalidade esportiva, no transcorrer da semana. O sexo masculino é mais propenso à prática desportiva, sendo que 48,6% dos entrevistados pratica esportes mais de duas vezes na semana. As garotas, por sua vez, praticam mais moderadamente, e a grande maioria (46%) faz esportes uma vez por semana.

  7. os exercícios aeróbios fortes, como correr, remar, nadar, etc. também fazem parte do cotidiano dos alunos, sendo que a maioria (53%) os pratica uma vez por semana.

  8. a maioria dos alunos (38%) costuma fazer 4 refeições por dia. Constatamos que 9% dos alunos, no total (índice entre as mulheres de 11,1%), costuma fazer 8 ou mais refeições por dia. No outro extremo, 8% dos alunos (índice absolutamente igual, entre meninos e meninas) faz somente 2 refeições por dia. E, caso extremo, tivemos a manifestação de 4,8% das garotas, no sentido de que não fazem nenhuma refeição regular por dia, só se alimentando convenientemente quando obrigadas pelos pais.

  9. os maus hábitos alimentares revelam-se nas questões específicas, em que se pesquisou o consumo de determinados alimentos na dieta dos estudantes. O consumo de batatas fritas, alimentos gordurosos e sanduíches é alto, entre os pesquisados. Já o consumo de verduras e frutas, embora presente na vida da maioria dos estudantes, deixa a desejar.

  10. hábitos como assistir televisão e dormir após as refeições integram o cotidiano da maioria dos alunos (56%), enquanto que a prática de atividades físicas, como caminhada, é a realidade de poucos (11%).

  11. na grande maioria das famílias (72%) não existem casos de obesidade entre os parentes próximos. Entre os 28% que relataram a existência de obesos na família, constatamos um único caso de obesidade (obesidade tipo II); no entanto, foram constatados 4 casos de deficiência de peso. Inclusive, em um dos casos mais graves, de uma garota que só se alimenta quando obrigada, temos presença de pai e mãe obesos.

  12. a maioria das garotas considera-se ansiosa (66,7%), enquanto que um grande número de meninos (51,4%) classifica-se como de temperamento calmo. A porcentagem de estudantes que se classificou como tensa é extremamente pequena, nos dois sexos (7,9% das meninas e 8,1% dos garotos).

  13. a maioria dos alunos (77%) não tem o hábito de praticar exercícios para relaxamento, quando sob situações de stress e tensão. Surpreendentemente, a porcentagem de garotos que pratica técnicas de relaxamento é muito superior à das meninas.

  14. apenas 39% dos estudantes está satisfeita com seu peso atual. Chama a atenção a alta porcentagem de meninas (50,8%) que desejam emagrecer, quando se lembra que existe apenas um porcentual de 22,1% de garotas acima do peso recomendado.

  15. a alimentação constitui motivo de prazer para a grande maioria dos alunos pesquisados (72%). Para 15% deles, o ato de alimentar-se é problemático, pois tendem a comer compulsivamente, sem limites. Para outros 13% a alimentação diária é traumática, pois admitem sentir nojo dos alimentos que ingerem.

  16. a presença de episódios de vômito após a ingestão de alimentos é pequena, entre os alunos estudados. Apenas 19%, no total, relataram episódios de vômito e náusea, ocasional ou constantemente.

  17. os estereótipos de beleza, freqüentemente divulgados pela mídia, influenciam a visão dos alunos em relação à obesidade. A grande maioria dos alunos (70,1% dos meninos e 79,3% das garotas) concorda que “magros são mais bonitos”, enquanto que 48,6% dos meninos e 38,1% das meninas concordam que “gordos são sujos”.

  18. já 91% dos alunos exprimiram a opinião de que “sentiriam-se bem namorando alguém excessivamente magro”, enquanto somente 19% afirmaram que “sentiriam-se bem namorando uma pessoa obesa”.

  19. apesar de serem necessários exames médicos para apuração efetiva da situação, foram encontrados indícios de possíveis casos de anorexia nervosa, entre os alunos pesquisados.

4.     Conclusão

    Os transtornos associados ao peso corporal, de natureza física ou psíquica, constituem um dos mais fascinantes e importantes ramos de estudo e pesquisa da atualidade. Enquanto os meios de comunicação disseminam estereótipos irreais de beleza, milhares de pessoas, no mundo inteiro, frustram-se na tentativa de adequarem-se a este ideal fantasioso. Em contraposição, os hábitos da vida moderna favorecem o sedentarismo, fazendo os índices de obesidade acentuarem-se de forma nunca vista. Uma das populações mais influenciáveis, nesta questão, é a dos adolescentes e jovens. Pressionados pelo ideal de beleza inatingível, com as cabeças povoadas por sonhos de grandeza e utopias de sucesso, muitas vezes inculcados pelos pais, ansiando como nunca pertencer a um grupo com rígidos padrões ditados pela mídia, os jovens sofrem e lutam diariamente. É neste segmento que proliferam as dietas milagrosas, o uso de esteróides anabolizantes e drogas inibidoras do apetite, a compulsão pela atividade física e os transtornos alimentares. Enquanto cresce assustadoramente o número de jovens obesos, a outra face do problema mata suas vítimas aos poucos, silenciosamente – a Anorexia Nervosa, distúrbio psíquico com alto índice de mortalidade. Os profissionais de Educação Física têm uma importante contribuição a oferecer, na detecção precoce dos problemas e no encaminhamento dos jovens aos especialistas indicados. É importante ressaltar que estes profissionais constituem, possivelmente, os primeiros a tomarem conhecimento de algum distúrbio relativo ao peso corporal. Entre a população estudantil de Formiga, o problema do peso corporal manifesta-se em suas duas formas extremas – um grande índice de obesidade e uma porcentagem alarmante de adolescentes abaixo do peso, muitos com índices de subnutrição. Considerando-se que a escola pesquisada congrega preferencialmente alunos das classes média e média baixa, deve-se descartar a hipótese de subnutrição por fatores econômicos, voltando-se a interpretação para o campo psicosocial. Não se pode, a partir dos dados da pesquisa, inferir-se casos de anorexia nervosa e bulimia na população estudada. Seriam necessários exames médicos e medições mais apuradas, antes de se concluir por este diagnóstico. Porém, indícios bastante fortes sugerem um bom número de casos destes distúrbios entre a população estudantil de Formiga - MG. Não se pode, também, emitir parecer conclusivo sobre os fatores que influenciam a obesidade no grupo estudado. Novamente, fortes indícios sugerem ser uma combinação de hábitos alimentares inadequados e alto grau de sedentarismo. Mas seriam necessários testes mais apurados antes de qualquer afirmativa. Uma das constatações da pesquisa foi a influência dos estereótipos de beleza nas concepções preconceituosas dos alunos. A obesidade foi relacionada a “sujeira”, como se fosse um distúrbio causado por falta de higiene. O obeso, também, revelou-se pouco atraente para o sexo oposto, envergonhando aquele que com ele tiver um relacionamento íntimo. Por outro lado, a magreza excessiva é considerada bonita e desejável. Não se deve esquecer que, ao lidarmos com transtornos de peso, estamos lidando com distúrbios potencialmente letais. Seja no caso da obesidade, ou no da anorexia, as conseqüências do transtorno podem ser graves e irreparáveis, tanto no aspecto físico quanto no psíquico.

    É inegável o valor da atividade física no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas. Os benefícios advindos da prática de exercícios, de uma dieta equilibrada e balanceada, de atividades desportivas, têm sido demonstrados em pesquisas sérias à exaustão. A prática regular de atividades físicas vem contrabalançar a inatividade gerada pelo estilo de vida atual, que muito diminuiu as oportunidades que as pessoas têm de se manterem ativas e em movimento.

    Em uma sociedade caracterizada pelo sedentarismo, onde as pessoas passam inúmeras horas sentadas à frente de um computador ou de uma máquina qualquer, onde o transporte é sempre feito por meios mecanizados, onde até mesmo as atividades de lazer são eminentemente passivas, a prática de atividades físicas e desportivas é essencial para a manutenção da saúde e do bem-estar.

Referências

  • ABOTT DW, ACKERMAN SH, AGRAS WS, BANZHAF D, BARBER J, BARTLETT JC, et al. Practice guideline for eating disorders. Am J Psychiatry. N. 212, p. 212-224, 1993.

  • DUNKER, K.L.L., PHILIPPI, S.T. Hábitos e comportamentos alimentares de adolescentes com sintomas de anorexia nervosa. Revista de Nutrição da PUCCAMP, n.16, p. 51-60, 2003.

  • HAY, P.J. Epidemiologia dos transtornos alimentares: estado atual e desenvolvimentos futuros. Revista Brasileira de Psiquiatria, n.24, p. 13-17, 2002.

  • WASHINGTON. American Psychiatric Association - APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 4. e.d., 1994.

Apêndice A - Questionário

Idade: ________________ Sexo: _________

1. Geralmente, você caminha ou anda de bicicleta (ao menos 800m cada percurso), ao invés de usar automóvel?

a) Sim

b) Não

2. Você prefere usar as escadas, em lugar do elevador?

a) Sim

b) Não

3. Em relação a suas atividades diárias, a melhor descrição é:

a) passa a maior parte do tempo sentado e só caminha distâncias curtas

b) na maior parte dos dias realiza atividades físicas moderadas (como caminhar rápido) ou executa tarefas manuais

c) diariamente realiza atividades físicas intensas ou trabalho pesado

4. Duas ou mais vezes por semana você pratica atividades físicas leves, como passear de bicicleta ou caminhar.

a) Sim

b) Não

5. Ao menos uma vez por semana você pratica algum tipo de dança.

a) Sim

b) Não

6. Ao menos duas vezes por semana você faz ginástica localizada.

a) Sim

b) Não

7. Você faz musculação duas ou mais vezes na semana.

a) Sim

b) Não

8. Você joga basquete, vôlei, futebol ou pratica qualquer outro esporte:

a) Não pratica

b) Uma vez por semana

c) Duas vezes por semana

d) Três ou mais vezes na semana

9. Você participa de exercícios aeróbios fortes, como correr, pedalar, remar ou nadar:

a) Não pratica

b) Uma vez por semana

c) Duas vezes por semana

d) Três ou mais vezes por semana

10. À frente de cada alimento, assinale:

A. Se você não o consome

B. Se você consome de vez em quando

C. Se você consome uma vez por semana

D. Se você consome mais de duas vezes na semana

a) Sanduíches ( ) b) Carnes gordurosas ( )

c) Batata frita ( ) d) Frutas e verduras ( )

11. Quantas refeições você faz, por dia? ___________________

12. Após as refeições principais (almoço e jantar), você costuma:

a) Caminhar

b) Trabalhar

c) Estudar

d) Ver televisão

e) Praticar esporte

f) Dormir ou tirar um cochilo

g) Outro (citar) ___________________________

13. Você possui:

a) Pai obeso

b) Mãe obesa

c) Pai e mãe obesos

d) Irmãos obesos

14. Quando planeja algum programa e, na hora tão esperada, alguma coisa dá errado e é preciso desistir, você:

a) Mantém a calma e remarca o programa

b) Desconta toda a raiva nos doces

c) Dispara a comer tudo que vê pela frente

15. Nas vésperas de provas e concursos, ou chegando próximo à data do vestibular, você:

a) Fica o mais calmo possível, alimenta-se de comidas leves e ingere bastante líquido

b) Alimenta-se o dia todo, pois não consegue se livrar da ansiedade

c) Estuda muito, e ao lado dos livros tem sempre balas e doces

16. Você se considera:

a) Calmo

b) Ansioso

c) Tenso

17. Em relação a seu peso, você:

a) Está satisfeito

b) Gostaria de engordar

c) Gostaria de emagrecer

18. A sua reação frente aos alimentos é melhor descrita como:

a) Você sente prazer, alimentando-se adequadamente

b) Você sente tanto prazer que não consegue se controlar

c) Você sente nojo, e só se alimenta por ser obrigado

19. Você tem acessos de náuseas e vômitos após as refeições?

a) Sim

b) Não

c) Raramente

20. Em relação às afirmativas abaixo, assinale aquelas com as quais você concorda totalmente:

a) Pessoas magras são mais bonitas, mais elegantes e se dão melhor na vida

b) Pessoas gordas são sujas, estão sempre suando e com cheiro ruim

c) Eu não namoraria uma pessoa muito gorda, porque teria vergonha de ser visto com ela

d) Eu não namoraria uma pessoa muito magra, porque teria vergonha de ser visto com ela

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revista digital · Año 14 · N° 142 | Buenos Aires, Marzo de 2010  
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