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Antropometria, dermatoglífias e qualidades físicas básicas de atletas

de futebol, portadores de acondroplasia, da cidade de Belém, PA

Antropometría, dermatoglifias y cualidades físicas básicas de jugadores 

de fútbol, portadores de acondroplasia, de la ciudad de Belém, PA

 

*Laboratório de Biociências da Motricidade Humana – LABIMH/RJ

Programa de Mestrado em Ciência da Motricidade Humana – UCB/RJ

**Universidade Federal do Pará – UFPA/PA

Instituto de Educação – Licenciatura Plena em Educação Física – UFPA/PA

***Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/RJ

LABIMH-UFRJ/CNPq
(Brasil)

Jorge Luis Martins da Costa*

jlfitness@uol.com.br

José Alex Cantuária Queiroz*

ac.queiroz@bol.com.br

Paulo José dos Santos Morais*

paulojose@ceap.br

Wellington Fabrício da Costa Martins**

fabricio.edf06@hotmail.com

José Fernandes Filho***

jff@eefd.ufrj.br

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi analisar e relacionar as características antropométricas, dermatoglíficas com as qualidades físicas básicas de atletas de futebol, portadores de acondroplasia. A amostra foi escolhida intencionalmente (n=11) do sexo masculino. Utilizou-se metodologia descritiva e relacional ex post facto com delineamento de perfil. Foram realizadas medidas antropométricas, de identificação do perfil dermatoglífico, e realizados testes: Burpee; Sargent Jump Test; 30 Metros; 40 Segundos; e Teste de 12min. Nas medidas antropométricas obtiveram-se os escores: massa corporal (46,14±12,68), estatura (121,73±11,46) e IMC de (30,88±6,37). Quanto às características das impressões digitais: D10= 12,45±3,88; SQTL= 108,73±31,39; A= 3,6%; L= 68,2%; W=28,2%. Os resultados mostraram que o grupo apresenta três características marcantes: velocidade, coordenação e força. A relação SQTL x 40m/seg. foi a única que apresentou resultado significativo com r =-7301 para um (p<0,05). Portanto 53,31% da variação do SQTL podem ser explicados devido à baixa quantidade de linhas e o teste de velocidade.

          Unitermos: Dermatoglifia. Qualidades físicas básicas. Acondroplasia

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    A acondroplasia, doença relatada desde a antiguidade é a forma mais comum e melhor conhecida do nanismo desproporcionado, e vem atraindo, durante séculos, a atenção de estudiosos (DICHETCHEKENIAN et. al., 1987). É uma herança autossômica dominante, com 80% a 90% das crianças acondroplásicas nascendo de famílias com pais e irmãos normais, vindo a ocorrer em função de uma mutação no gene do receptor do fator de crescimento do fibroblasto tipo 3, tendo como conseqüência a incapacidade de formar ossos a partir da cartilagem (MORAIS et. al., 2006). O termo acondroplasia foi sugerido por Parrot em 1878, que até então achava que os portadores dessa doença não possuíam cartilagem de crescimento (LOPES et. al, 2008).

    As qualidades físicas são determinadas geneticamente, isto é, toda pessoa nasce com certa quantidade de força, resistência e flexibilidade, mas ninguém nasce com habilidade para uma modalidade específica, sendo sua identificação e adequação essenciais para o êxito no treinamento do desporto (TAVARES, 2009; TUBINO, 2005).

    O alto nível de demanda física exigido nos jogos de futebol faz com que seja importante que os atletas tenham, cada vez mais, um bom desenvolvimento das qualidades físicas, tornando imprescindível, uma boa avaliação dessas variáveis (DAROS et. al., 2008). Desse modo, a utilização de métodos indiretos para a estimativa e avaliação da potência aeróbica e anaeróbica, força, velocidade, e coordenação, tem-se mostrado como uma alternativa bastante atraente, principalmente por meio de testes de campo, apesar das suas limitações, extensamente discutidas pela literatura (CYRINO et. al., 2005).

    O método dermatoglífico vem se estabelecendo como uma importante forma de desvelar a ciência no campo desportivo, mediante sua correlação com as qualidades físicas. Essa linha de pesquisa tem sido objeto de uma série de estudos recentes envolvendo os mais variados esportes, tais como, Futsal (DANTAS & FERNANDES FILHO, 2002), Voleibol (MEDINA & FERNANDES FILHO, 2002), Ginástica Olímpica (JOÃO & FERNANDES FILHO, 2002), Pentatlo Militar (SILVA et. al., 2003), Triatlo (ANJOS, FERNANDES FILHO & NOVAES, 2003), Voleibol feminino (ZARY et. al., 2003), Futebol de campo (CASTANHEDE, DANTAS & FERNANDES FILHO, 2003), Corrida de Orientação (FERREIRA & FERNANDES FILHO, 2003), nadadores de fundo e meio-fundo (PÁVEL & FERNANDES FILHO, 2004), esgrimistas estrangeiros (PINHEIRO DA CUNHA & FERNANDES FILHO, 2004), Atletas de GRD (MENEZES, L.S.; FERNANDES FILHO, 2006), Policiais do BOPE (SANTOS M. R, FERNANDES FILHO, 2007), Voleibol Feminino (FONSECA et. al., 2008 ).

    Especificamente no futebol, os estudos são desenvolvidos visando ao estabelecimento de uma melhor compreensão e adequação do crescimento dos seus praticantes e, conseqüentemente, à orientação mais apropriada para a prática e ao aumento do desempenho esportivo na própria modalidade (MOREIRA, A. et. al., 2008). Recentemente, um time de futebol da cidade de Belém do Pará, no Brasil, os “Gigantes do Norte”, ganhou notoriedade como sendo o primeiro time de futebol formado por portadores de acondroplasia no mundo (NARDIN, 2008) participando de partidas amistosas e, sendo uma equipe atípica no que tange a sua constituição, merece um tratamento específico com relação ao seu treinamento e preparação física, exigindo a necessidade de se conhecer mais sobre essa população. Todavia, não se tem parâmetros estabelecidos para prescrever de forma coerente esse treinamento.

    Sendo assim, o objetivo desse estudo foi de analisar e relacionar as características antropométricas, dermatoglíficas e avaliar as qualidades físicas básicas desses atletas de futebol, portadores de acondroplasia, propiciando conhecimentos aos técnicos, treinadores, preparadores físicos e auxiliando no treinamento físico específico dessa população, além de servir como referencial para novas pesquisas científicas.

Métodos

    Este estudo segue um delineamento de pesquisa descritiva e relacional ex post facto com delineamento de perfil (THOMAS, NELSON & SILVERMAN, 2007). Os sujeitos selecionados para este estudo foram onze atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-Pa. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido sobre os procedimentos utilizados, possíveis benefícios e riscos atrelados à execução do estudo, seguindo Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil, 2002) e da Resolução de Helsinki (WMA, 2008). O projeto de pesquisa foi aprovado (protocolo n° 0137/2008) pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UCB / RJ.

    Depurou-se a amostra de acordo com os seguintes critérios de exclusão: contra-indicações para a prática de exercícios aeróbicos, tais como: cardiopatias descompensadas, hipertensão arterial não controlada, entre outras, e quaisquer condições musculoesqueléticas que possam servir de fator interveniente à prática da atividade (osteoartrite, fratura recente, tendinite e uso de prótese), problemas neurológicos, uso de medicamentos que possam causar problemas ao estudo.

    No grupo selecionado foram avaliadas: a massa corporal (Kg) e a estatura (cm) com a utilização de uma balança – precisão de 0,01 Kg - com estadiômetro – escala de precisão de 0,1 cm - da marca FILIZOLA (Brasil) e respeitando o prescrito no International Standards for Anthropometric Assessment (MARFELL-JONES, OLDS, STEWART & CARTER, 2001). A partir dos dados de estatura e massa calculou-se o índice de massa corporal (IMC, peso/estatura2). Para a análise das impressões dermatoglíficas, foi utilizado o protocolo de Cummins e Midlo (1961) através do coletor de impressões digitais da marca IMPRESS.

    No método da dermatoglifia são apresentados três desenhos (figura1): o Arco (A), desenho sem delta que se caracteriza pela ausência de trirrádios ou deltas; a Presilha (L), desenho representado por um delta (trata-se de um desenho meio fechado em que as cristas da pele começam de um extremo do dedo, encurvam-se distalmente em relação ao outro, mas sem se aproximar daquele onde se iniciam, podendo ser interna e externa); e o Verticilo (W), desenho representado por dois deltas (este último trata-se de uma figura fechada, em que as linhas centrais concentram-se em torno do núcleo do desenho).

Figura 1: Desenhos dermatoglíficos

    As qualidades físicas básicas foram avaliadas de acordo com protocolos específicos. A avaliação da Coordenação realizou-se através do Teste de Burpee (JOHNSON; NELSON, 1979). Para avaliação da Força Explosiva realiza-se o Teste de Impulsão Vertical Sargent Jump Test (JOHNSON; NELSON, 1979). A avaliação da Velocidade foi realizada através do Teste de 30 metros lançado utilizando uma área útil de aproximadamente 50 metros (JOHNSON; NELSON, 1979) e dois cronômetros da marca TECHNOS G408. Já para a avaliação da resistência anaeróbica foi realizado o Teste de 40 segundos (MATSUDO, 1992). E para a avaliação da resistência aeróbica foi realizado o Teste de 12 min. (COOPER, 1968).

    O tratamento estatístico utilizado foi o descritivo, com valores médios e seus derivados. Foi aplicada a correlação de Pearson entre as características Dermatoglíficas com as medidas das qualidades físicas básicas para verificar a relação entre as variáveis em estudo. A caracterização dos grupos quanto às suas fórmulas digitais foram demonstradas em valores médios e percentuais. Para a avaliação dos resultados foram utilizados o programa EXCEL e o pacote estatístico SPSS versão 14.0.

Resultados

    Os resultados dos valores médios e seus derivados para idade, peso, estatura e índice de massa corporal do grupo de atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-Pa são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Valores médios e seus derivados para idade, peso, estatura e índice de massa corporal.

    Na Tabela 2 apresentam-se os valores médios e seus derivados para as qualidades físicas básicas do grupo de atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-PA.

Tabela 2. Valores médios e seus derivados para as qualidades físicas básicas

    Os resultados descritivos do grupo de atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-Pa; quanto aos valores em percentuais referentes aos tipos de desenhos A, L, W são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Valores em percentis para os tipos de desenhos dermatoglíficos A, L e W

    Na tabela 4, são apresentados os resultados descritivos do grupo de atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-Pa, em valores médios e seus derivados referentes aos tipos de desenhos D10 e SQTL.

Tabela 4. Valores médios e seus derivados para os tipos de desenho dermatoglíficos D10 e SQTL

    Na tabela 5, são apresentados os resultados das correlações entre as características dermatoglíficas e os escores obtidos nos testes das qualidades físicas básicas, utilizando-se o coeficiente de correlação de Pearson, com Variação explicada (R), e probabilidade de significância do resultado (p), sendo p<0,05 Resultado significativo

Tabela 5. Correlação entre as características dermatoglíficas e os resultados dos testes de qualidades físicas básicas

Discussão

    Na intenção em determinar o perfil de atletas de futebol, portadores de acondroplasia da cidade de Belém-Pa, investigou-se as características antropométricas, dermatoglíficas e a relação com o rendimento nas qualidades físicas básicas (força, coordenação, velocidade, resistência anaeróbica e resistência aeróbica) para que esses resultados possam servir como base para futuras pesquisas.

    Conforme a tabela 1, em relação à estatura os valores são de 121,73±11,46cm, explicados pela anormalidade das cartilagens de crescimento, definidas por um gene autossômico dominante, sendo que, a média de estatura dos acondroplásicos está entre 70 e 140 cm no máximo, na fase adulta (LOPES et. al. 2008).

    Quanto à massa corporal, foram encontrados valores médios correspondentes a 46,14±12,68kg. Em relação ao IMC os valores são de 30,88±6,37(kg/m²), caracterizando um estado de sobrepeso (OMS, 1995; apud FERNANDES FILHO, 2003) o que encontra paralelo na literatura, pois há uma tendência à obesidade entre os acondroplásticos, por apresentarem o tronco relativamente grande em relação aos membros que são curtos e/ou também por levarem uma vida sedentária proveniente dessa anomalia (CERVAN et. al. 2008).

    Estudos relatam a importância de se determinar as qualidades físicas básicas para cada atividade desportiva (CASTANHEDE, DANTAS E FERNANDES FILHO, 2003; SILVA DANTAS et. al., 2002; MEDINA et. al., 2002, CASTANHEDE et al., 2003; ROQUETTI FERNANDES et al., 2004), com o intuito de alcançar melhor rendimento físico. Conforme tabela 2, o resultado encontrado referente à resistência aeróbica foi de 26, 43 ml.kg-1.min-1, o que demonstra ser quase que a metade do valor encontrado nos estudos de (SANTOS & FERNANDES FILHO, 2007) que avaliou pessoas não-acondroplásicos. Escores que necessitam ser avaliados a partir dos obtidos em outros estudos, o que não é possível no momento, pois na literatura não se encontram resultados com indivíduos acondroplásicos.

    Na tabela 3 podemos observar que os resultados correspondem aos padrões obtidos com os estudos de Castanhede, Dantas e Fernandes Filho (2003), que encontraram as mesmas características em jogadores de futebol de campo de alto rendimento do Rio de Janeiro, pois segundo Abramova (1995) o alto nível de D10, a ausência de Arco (A), o aumento da parcela de W, caracteriza as modalidades esportivas, e as diferenças em grupos de resistência de velocidade, e nas modalidades de jogos a mesma tendência. Sobre o SQTL a média encontrada de 108,7 linhas pode evidenciar a importância do nível de força para as atividades do futebol de campo aqui investigadas, indo ao encontro dos resultados obtidos em estudos militares com pára-quedistas, em Santos (2004) e com pilotos de caça, em Sampaio (2002). Sobre o tipo de desenho, verifica-se, primeiramente, o baixo percentual de Arcos (A), que é uma característica marcante do alto rendimento esportivo em qualquer modalidade e, principalmente, naquelas em que são necessários altos níveis de resistência e coordenação motora, como é o caso do futebol de campo.

    Em relação ao D10, os esportes de resistência e de força se relacionam a valores baixos de D10 e SQTL; os esportes de resistência, a valores intermediários; e as modalidades que necessitam de coordenação complexa a altos valores. Segundo Abramova et al. (1995), a ampliação do campo de atividade de jogo, ou seja, a dificuldade em realizar atividades motoras durante a prática desportiva relaciona-se com a complexidade dos desenhos digitais e com um aumento de D10.

    Na tabela 4 podemos observar que sobre o tipo de desenho, verifica-se, primeiramente, o baixo percentual de Arcos (A), que é uma característica marcante do alto rendimento esportivo em qualquer modalidade e, principalmente, naquelas em que são necessários altos níveis de resistência e coordenação motora. Os valores de A, L, W, D10 e SQTL são semelhantes aos encontrados nos estudos de Silva Dantas et al., (2002), Medina et. al., (2002) Castanhede et al., (2003) Roquete Fernandes et al., (2004) demonstrando a importância do nível de força e da coordenação para as atividades de voleibol, futsal e futebol de campo.

    Na tabela 5 verificamos que o perfil dermatoglífico no grupo estudado se enquadra na CLASSE III, para D10 III, e na CLASSE III, para SQTL, segundo a classificação de índices dermatoglíficos e somato-funcionais de Abramova et al. (1995). A CLASSE III é caracterizada pela elevação de SQTL e D10 é sintomática em desporto de propriocepção complexa e de maior complexidade motora.

    A relação SQTL x 40m/seg foi a única que apresentou resultado estatisticamente significativo para (P<0,05). Portanto, 53,31% da variação do SQTL podem ser explicadas pela variação do teste de 40m/seg, para o grupo ou equipe em estudo. Em relação às outras correlações, não apresentaram resultado estatisticamente significativo para (P>0,05)

Conclusão

    O grupo apresenta três características marcantes, a velocidade – que apresenta maior percentual -, coordenação e força, demonstradas pelos valores no presente estudo, apesar de suas limitações físicas decorrentes da acondroplasia. Por ser o futebol uma atividade que exige níveis elevados de velocidade, coordenação e força, mesmo um indivíduo que não seja potencializado geneticamente pode obter bons níveis nestas qualidades físicas se praticar o futebol antecipadamente. A partir disto podemos afirmar que o fenótipo age junto ao genótipo. De outro modo, indivíduos com essas características potencializadas, mesmo iniciando sua prática um pouco mais tardia podem obter sucesso.

    Dessa forma a demartoglifia torna-se um importante aliado no momento da avaliação, já que possui índice de correlação entre seus desenhos e as qualidades físicas básicas. Um programa de treinamento bem orientado e direcionado juntamente com uma avaliação física adequada, que possa proporcionar ao indivíduo um reconhecimento global de seu estado atual e do seu potencial, pode contribuir de forma positiva e proveitosa para a sua pratica esportiva.

    O estudo se torna relevante na medida em que evidencia a necessidade de se conhecer as características antropométricas, dermatoglíficas e das qualidades físicas básicas de acondroplásicos atletas de futebol, que certamente servirá aos técnicos, treinadores, preparadores físicos na facilitação da prescrição e no desempenho desses atletas, bem como despertará o interesse de outros indivíduos portadores dessa mesma desordem genética a praticarem se não a mesma, outras modalidades desportivas.

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