A outra face do Programa Segundo Tempo. As políticas esportivas de Luiz Inácio Lula da Silva com o advento do neoliberalismo La otra cara del Programa Segundo Tempo. Las políticas deportivas de Luiz Inácio Lula da Silva con el advenimiento del neoliberalismo |
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Licenciado em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Brasil) |
Leandro Dias Gomes |
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Resumo O objetivo deste estudo foi investigar as medidas políticas adotadas no governo de Lula da Silva com relação ao crescimento do esporte no Brasil, analisando as parcerias entre instituições sociais e governo federal, para a concretização de programas governamentais como o Programa Segundo Tempo (PST). A abordagem metodológica escolhida foi a crítico-dialética que tem a finalidade de encontrar o ponto chave entre a realidade cotidiana e a realidade articulada pela classe dominante. Foi realizado um estudo de caso da aplicação do PST em uma instituição de caráter religioso, sem fins lucrativos, parceira do Ministério dos Esportes. Para análise foram tomados como procedimentos observação das aulas e entrevistas com funcionários, estagiários e alunos da Instituição. O resultado das análises salientou que os envolvidos vêem com bons olhos o PST, pois auxilia na manutenção da entidade, além de contribuir para a melhora da índole dos participantes das aulas. Como conclusão, nota-se que são políticas de aliviamento à pobreza e políticas compensatórias que buscam amenizar as faltas da classe trabalhadora. Unitermos: Programa Segundo Tempo. Políticas esportivas. Luiz Inácio Lula da Silva
Trabalho produzido fruto da monografia, orientado pelo Prof. Dr. Hajime Takeuchi Nozaki |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010 |
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1. Neoliberalismo: como tudo se iniciou
Nota-se atualmente uma grande expansão de políticas esportivas no Brasil. Aos olhos de um trabalhador, passa-se a imagem que o governo federal está preocupado em garantir, através do esporte, melhorias a esta classe, tais como: bem estar, saúde, higiene, qualidade de vida e outras. Porém, aos olhos de alguns autores críticos, estas políticas buscam alienar a população como forma de esconder os problemas da sociedade, medidas que paliativamente solucionam as situações de desigualdade, que são geradas pela crescente crise do capital. Nesta perspectiva abordaremos o surgimento do neoliberalismo.
As ideias neoliberais ganharam repercussão a partir da chegada da crise do modelo econômico do pós-guerra, em 1973, quando o mundo capitalista avançado entrou em uma longa e profunda recessão, com baixas taxas de crescimento e altas taxas de inflação. (ANDERSON, 2000.).
Ricardo Antunes (1999) lembra que estas mudanças iniciaram a partir 1973, com o surgimento do regime de acumulação flexível, que se caracteriza pela nova divisão de mercados, desemprego, divisão global do trabalho, capital volátil, fechamento de plantas industriais, reorganização financeira e tecnológica, entre tantas mutações que marcam essa nova fase da produção capitalista.
O Estado de Bem-Estar, antes visto como apaziguador das recessões profundas de ordem social, política e econômica, caiu em descrença, sendo alvo de críticas. Para ampliar esta crise o choque do petróleo, a saída do Estado da economia e a crise do Estado operário do leste europeu contribuiu para uma maior desconfiança com relação ao desempenho do Estado de Bem Estar. (FRIGOTTO, 2000).
O neoliberalismo tem como principal medida controlar o poder do Estado enxugando os gastos públicos. Assim, procura eliminar o Estado de Bem-Estar Social, que passa a tomar a posição de Estado mínimo. (ibid.). Atua, portanto, para além da regulação do mercado, para além do âmbito da regulação da economia, regulando também ideias e pessoas. Pelo que se pode perceber, o neoliberalismo contém proposições que vão além da esfera econômica e implica em rever a relação do Estado com as políticas sociais, em fortalecimento do capital e controle sobre a organização dos trabalhadores. (ZANARDINI, 2006).
A América Latina foi palco da primeira experiência neoliberal sistemática do mundo, mais especificamente no Chile em 1973, sob a ditadura de Augusto Pinochet, regime este considerado como pioneiro do ciclo neoliberal da história contemporânea. Foram tomadas como medidas duras: a desregulamentação do mercado, desemprego massivo, repressão sindical, redistribuição de renda em favor dos ricos e privatização de bens públicos. (ANDERSON, op. cit.).
Foi nos anos 1980 que a política neoliberal ganhou destaque nas regiões de capitalismo avançado. A Inglaterra, considerada um país de capitalismo avançado, adotou, durante o governo Thatcher, as políticas neoliberais, as quais apresentavam como medidas intervencionistas a contração de emissão monetária, elevação das taxas de juros, diminuição dos impostos sobre os rendimentos altos, abolição de controles sobre os fluxos financeiros, criação de níveis de desemprego massivos, aplastamento de greves, imposição de uma nova legislação anti-sindical, corte de gastos sociais e lançamento de planos de privatizações. Esse pacote de medidas foi o mais sistemático e ambicioso de todas as experiências neoliberais em países de capitalismo avançado. A desigualdade foi um dos agravantes causados pelo neoliberalismo. (ibid.).
No Brasil, este programa começou a ser implantado nos anos 90, com a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), que acabou sendo deposto pelo impeachment. Em seguida assumiu Itamar Franco (1992-1994), até chegar a Fernando Henrique Cardoso. O primeiro governo de Fernando Henrique, como salienta Lucia Neves (1999), foi um sucesso de centralização na sua definição e a descentralização na sua operacionalização.
O sucessor de Cardoso, depois de oito anos de governo, foi Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Os dois eram de partidos opostos, contudo, as medidas neoliberais se mantiveram e ainda com reformas mais relevantes na administração do petista. (ANTUNES, 2005).
Lula criou várias propostas que paliativamente resolveram basicamente as dificuldades da população de baixa renda. Estas políticas são definidas como eixos de aliviamento à pobreza (LEHER, 1999). Destas políticas a que será abordada neste texto é o Programa Segundo Tempo (PST), um programa que tem em sua intenção oferecer a prática esportiva. Investiu-se alto no esporte no governo de Lula da Silva para subsidiar este programa.
O esporte atualmente é considerado com uma das grandes oportunidades para a população, especificamente no Brasil, contudo esta medida vai muito além dos olhos dos participantes do Programa Segundo Tempo, promulgado pelo Ministério dos Esportes.
Estas medidas esportivas não são ingenuamente destinadas somente à sua prática. Para Hajime Nozaki e Adriana Penna (2007) no século XX o esporte foi utilizado como propaganda na Guerra Fria, além de, sob o ponto de vista do campo cultural, foi tratado como equivalente do desenvolvimento econômico de determinado Estado-nação.
Em 2002, o Secretário-Geral, Kofi Annan reuniu uma Força Tarefa para implantar o esporte como sistema das Nações Unidas. Assim, tal esforço foi registrado em um documento denominado Relatório da Força Tarefa entre Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento do milênio. (ONU, 2003, apud ibid.).
Este relatório apontava inúmeras contribuições que o esporte poderia oferecer, além das várias nações ligadas a Metas de Desenvolvimento para o Milênio (MDMS), que trabalhariam em parcerias para o desenvolvimento sustentável e a paz, partindo do princípio “que o esporte é, nesse sentido, capaz de exercer influência sobre a saúde, reduzindo a probabilidade de doenças através da mobilização social, além deste aspecto contribuir como um importante setor para a geração de empregos e para a participação de voluntários”. (ibid., p. 207).
Porém, Nozaki e Penna (op.cit.) avaliam a necessidade de se observar as políticas para o esporte no Brasil executadas no governo de Lula da Silva de forma crítica:
Na perspectiva dos interesses deste governo, o esporte é eleito como instrumento, por excelência, de inclusão social. O esporte, ao ser revestido pelo discurso do acesso à cidadania, direito de todos, responsabilidade empresarial, dentre outros, ganha no governo Lula, status de esporte social. (p. 210-212).
Com isso o esporte tomou grandes proporções transformando em proposta política.
Em seguida será explicitado o referencial teórico que foi utilizado nesta pesquisa.
2. Referencial teórico-metodológico
Nesta perspectiva de encontrar respostas para estas políticas de apaziguamento a pobreza, como referencial teórico metodológico foi escolhida a abordagem crítico-dialética, desenvolvida por Karl Marx, que tem como objetivo revelar a verdade escondida dentro do processo de acumulação capitalista. (GAMBOA, 2000).
Silvio Gamboa (ibid.) ressalta que a verdade permanece retida entre a burguesia capitalista e o Estado, bloco minoritário em relação à classe trabalhadora, mas majoritário ao poder que exercem sobre as políticas nacionais, dominando os veículos de comunicação, escondendo qualquer indício que comprometa a lógica por trás deste programa. Nesta linha de raciocínio, Gamboa (ibid.) novamente nos salienta da importância desta abordagem: “Essas pesquisas manifestam um ‘interesse transformador’ das situações ou fenômenos estudados, resgatando sua dimensão sempre histórica e desvendando suas possibilidades de mudança”. (p. 97).
Para analisar como se dá a ação deste programa nesta instituição, buscará elaborar estratégias de pesquisa apropriadas para responder às questões que o trabalho levanta. Assim, a pesquisa utilizará o estudo de caso proposto por Antônio Gil (1991). Este tipo de investigação analisa um evento particular, enfatiza o conhecimento de uma instância de classe ou pelo fato de ser interessante, que neste caso é o funcionamento do Programa Segundo Tempo em uma instituição de presença religiosa. Esclarece que a maior utilidade do estudo de caso está em pesquisas exploratórias, indicadas por sua flexibilidade para a construção de hipóteses ou reformulação de problemas.
Como trabalho de campo, foi analisada a implantação do PST, em uma instituição de cunho religioso, a Filhos do Senhor (FS), que se localiza em um bairro de periferia na cidade de Três Lagoas (MS). Foram efetuadas entrevistas com o corpo docente e com os alunos e observações de aulas, além da minha contribuição por ser funcionário desta instituição. Vale-se neste momento fazer uma análise desta instituição para um bom entendimento do estudo.
3. A Filhos do Senhor: um pouco da sua história e o surgimento do bairro
O bairro onde se localiza a filhos do Senhor (FS) foi construído entre os anos de 1961 e 1962. A área que forma a estrutura do bairro serviu de alojamento a trabalhadores que estavam empenhados em construir uma usina hidrelétrica e com o passar dos anos foram sendo construídas novas moradias. Atualmente, após quatro décadas, o bairro conta com cinco núcleos habitacionais. (MARTINEZ, 2009). Acabou se tornando um bairro com grandes problemas sociais devido ao seu crescimento desordenado. Grande parte destas famílias possui problemas de ordem econômica, social além de sofrerem violência tanto física, quanto psicológica
No documento analisado conta que a partir de 2002, o diretor desta entidade, que é missionário, começou seu trabalho filantrópico, pois se sensibilizou com o bairro. Através da ajuda de financiamento estrangeiro oriundo de seu país de origem, começou a estabelecer contato com a comunidade desse local oferecendo atividades recreativas, formativas e de lazer, além do culto ecumênico.
A FS faz parte de uma congregação religiosa que tem presença em todos Estados brasileiros. Caracteriza-se como entidade católica, beneficente, educativo-cultural e de assistência social, sem fins lucrativos.
Os recursos oriundos para a construção e manutenção da entidade são adquiridos por intermédio de parceiras como a Prefeitura Municipal, com um grupo que movimenta donativos na Europa, além da própria congregação. Porém, com todo este apoio, argumentam que ainda não é suficiente para a manutenção da estrutura, pois eles não cobram dos participantes nenhuma taxa de participação, portanto, a saída encontrada foi abraçar a proposta do governo federal. Esta iniciou a parceria com o Ministério dos Esportes a partir de julho de 2006, sendo presente a entrada do Programa Segundo Tempo na FS.
O objetivo principal desta parceria com estes núcleos assistenciais era fornecer formação esportiva, educativa e desenvolvimento de atividades lúdicas para crianças e jovens com faixa etária entre 6 a 21 anos. As crianças e jovens que terão prioridade em ser beneficiados para participar do programa, são feitas exigências como: estarem regularmente matriculados na escola pública, possuírem maior vulnerabilidade social, pessoal, dificuldades no aprendizado, convivência em grupo e serem da comunidade local.
O material para as aulas, o Ministério dos Esportes, por meio do PST, fornece os principais insumos para a prática esportiva e do lazer. O PST destina aos parceiros vagas para estagiários, com o objetivo deles poderem por em prática seus conhecimentos adquiridos na graduação. São pago a eles uma bolsa de R$ 300,00 para uma carga horária de 20 horas semanais.
Tal relação elucida bem a questão da precarização deste tipo de trabalho, pois o estágio é o momento em que o aluno deveria ir a campo para desenvolver, por em prática seus conhecimentos adquiridos, com o auxílio de um profissional já graduado. Porém, o que se observa é oposto, o estagiário acaba assumindo uma função que não lhe compete neste momento de formação. Torna-se uma solução que as empresas tomam para se livrar dos encargos trabalhistas contratando-os como mão de obra barata e muito rentável à lógica capitalista.
Acácia Kuenzer (1998) contribui com esta afirmação que a “Velha lógica, que produz crescentemente a exclusão pela exploração do trabalho [é a] Velha lógica do fetiche da mercadoria, que continua, não só dominante, mas hegemônico”. (p. 67).
Além da observação das aulas de Kung Fu e Voleibol, foram realizadas entrevistas com os estagiários, funcionários e 10 alunos que trabalham e participam da entidade, praticando esportes, não sendo exposta a identidade dos entrevistados, dando a eles nomes fictícios.
4. O Programa Segundo Tempo: Diretrizes e práticas na Instituição Filhos do Senhor (FS)
Este tópico foi divido em 5 eixos temáticos, sendo considerados os pontos de vista mais relevantes das entrevistas e das observações realizadas com os protagonistas da FS, ou seja, alunos, os estagiários e os funcionários da entidade.
4.1. O esporte como saída da marginalidade e a busca da empregabilidade
O esporte acaba se tornando uma saída dos governos para manter a paz entre os trabalhadores que porventura possam reivindicar uma política mais justa e digna para sua classe social.
O esporte, na visão dos entrevistados, pode contribuir para as famílias dos envolvidos como forma de prevenção às doenças ocasionadas pelo sedentarismo ou pela obesidade e também auxiliá-las na educação, pois no bairro em que funciona o projeto, existe uma alta vulnerabilidade social.
Como o Estado no âmbito neoliberal acaba tendo uma postura assegurar o mínimo à população fica incapaz de administrar as reformas necessárias para o retorno do crescimento econômico e das medidas sociais. Desta forma, os governos são levados a criar medidas que amenizam a pobreza, como no governo de Lula da Silva, sendo PST uma destas medidas.
Com efeito, Diana, a monitora, resumiu tudo o que os outros companheiros disseram sobre este ponto: “Ajuda, porque como muitos pais têm que trabalhar, não têm onde deixar seus filhos, sabendo que estão aqui, sendo cuidados, recebendo alimentação que estão aprendendo algo de útil, pode ser bom pra eles”. Contudo, sobre a ótica marxista, esta proliferação do esporte tem como característica desviar a atenção da população para os problemas sociais que assolam a vida da classe trabalhadora.
Para o estagiário Carvalho, o esporte não deixa de criar situações de discriminação. Para ele, todos têm o mesmo valor e ressaltou que este é o caminho que se deve focar.
Ao observar o esporte com uma visão fenomênica, percebe-o como promotor da paz, pois cessa conflitos, inclui os que estão à margem da sociedade, cria tolerâncias entre as pessoas. Porém, analisando-o de forma mais profunda, é possível situá-lo enquanto um agente do desenvolvimento capitalista, destacando medidas tomadas pelas grandes corporações como forma de mascarar a realidade, de domesticar a classe trabalhadora.
4.2. O Programa Segundo Tempo (PST): política de aliviamento a pobreza
Os entrevistados relataram que o PST é de grande valia para esta instituição, pois fornecem materiais e ajudam na educação esportiva, social e humana dos praticantes.
Para o estagiário Peixoto, o esporte promovido pelo PST tem o intuito de proporcionar, em um segundo momento, práticas esportivas que visam criar autonomia para poder desenvolver, mudar situações como comportamento, respeito ao próximo, ou seja, um processo ético de construção.
Carvalho e Diana concordaram que o PST pode auxiliar os participantes, proporcionando uma formação, aprendizagem e interação com outros semelhantes, ocupando seu tempo livre, o que evitaria o contato com as drogas e violência. Esta visão relaciona-se com a do esporte, a do Relatório da Força Tarefa entre Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento do milênio.
Batista acredita que ajuda na educação dos alunos pelo esporte, pois como o PST fornece materiais esportivos, por meio dele pode-se criar situações de ensino e incentivar a prática esportiva.
Os alunos que freqüentam as atividades são do bairro onde está situada a instituição e também de outras localidades vizinhas. Como são bairros periféricos e de famílias com um poder aquisitivo baixo, estes são alvos comumente de violências psicológicas, físicas e até sexuais, além das famílias serem desestruturadas. Com isso, pode-se inferir que os alunos, na sua maioria, têm altos índices de indisciplina e violência e que se comunicam com gírias, com palavras de baixo calão e com brigas. Os entrevistados Antônia, Diana e Batista relataram que os alunos são provenientes de famílias de baixa renda e que na sua maioria não têm uma cultura educacional eficaz, por serem em grande parte bem numerosas, sendo a média de filhos por família de no mínimo dois.
Como ressaltado anteriormente por Leher (op. cit), o importante é ponderar sobre o foco de alívio da pobreza não como medidas que atendam a uma erradicação deste fenômeno social/econômico, pois os dirigentes do sistema do capital, organismos internacionais, bancos internacionais e países de capitalismo central, visualizam que a atual forma de organização das políticas econômicas e sociais não são capazes de eliminar a pobreza.
Vale destacar aqui o fator ideológico do esporte como alívio à pobreza. São políticas compensatórias promovidas pelo Estado, que tem como foco as ações sociais. No governo de Lula da Silva pode ser exemplificado o caso do PST, programa que garante a prática de esportes, tendo como público-alcance a população mais vulnerável. São programas de renda mínima, que por outro lado não asseguram a formação de atletas de alto rendimento, mas buscam a proliferação do esporte para todos, esporte social. O PST está dentro das políticas de focalização e alívio da pobreza difundida pelos organismos internacionais e apoiada pelo governo brasileiro, no mandato do governo Lula da Silva. O ideal do Banco Mundial hoje não é o de superar a pobreza, mas sim aliviá-la.
As políticas compensatórias do PST difundidas pelo governo de Lula da Silva vêm ao encontro da proposta de trabalho da FS, no sentido de melhorar a índole dos praticantes das atividades do programa e freqüentadores da instituição. Porém, o que se contrapõe é a intencionalidade, pois a FS busca desenvolver valores morais como: disciplina, educação religiosa, respeito e outros, para que possam mudar suas realidades de vida. Já o PST busca em seus objetivos formar para paz, reduzindo conflitos, como uma forma de maquiar as desigualdades discrepantes entre burguesia e operários.
É muito importante a presença do PST nesta instituição, pois os materiais que são fornecidos reduzem os gastos e o valor mensal atribuído, ajuda a pagar as contas, além de ser importante para a manutenção do projeto, pois contribui para responder aos honorários gastos mensalmente.
Para Diana, Antônia e Batista, o PST ajuda a população que é economicamente desfavorecida, oferecendo esporte e auxiliando na educação. Para eles, é possível afirmar que o programa afasta as crianças e jovens do mundo do crime, proporcionando um momento de aprendizagem, no convívio em grupo, incentivando a população à prática de esportes. No entanto, é possível igualmente se afirmar que uma das razões centrais do PST é seguir a linha do apaziguamento dos conflitos, mantendo a população tranqüila.
O desenvolvimento do PST na FS não é muito esclarecido, as únicas informações que os monitores recebem são por meio da coordenadora da instituição. Batista comentou que a recomendação a ele passada é de sempre planejar suas aulas, saber bem trabalhar com as pessoas, ter capacitação para trabalhar com os alunos.
Na verdade este é um ponto do PST, ele tem em sua estruturação a descentralização como foco. O que se busca são dados quantitativos no final dos prazos, ficando a forma de encaminhar os trabalhos a critério das instituições. Na instituição não é transmitida nenhuma informação e observou-se que há uma autonomia por parte de cada instituição para realizar suas atividades. O máximo que o programa faz é subsidiar os suportes materiais e recursos financeiros. O PST não propõe orientações pedagógicas para o desenvolvimento das atividades na FS. Das observações realizadas nas aulas, notei um caráter tradicional nelas, a mesma dinâmica de alongamento, aquecimento, fundamentos e outros, o que desmotiva os alunos.
No entanto, este programa não garante a formação de atletas de alto nível. Ali, no máximo, os alunos participam de eventos esportivos. Eles sonham, até muitos saem desta instituição para ir participar de outras escolinhas de futebol da prefeitura local, achando que lá terão mais chances de se tornarem grandes jogadores. Neste município, é muito baixo o número de pessoas que consegue seguir carreira de jogador de futebol. Porém o que precisa se frisar é que a formação de atletas de alto nível é difícil através do PST, ainda que algumas crianças sonhem com isto.
Confirmando esta análise, Batista e Carvalho destacaram que formar atletas também não é o objetivo desta entidade, muito menos do PST. Lá se busca a formação social dos praticantes, livrando-os da interação com o meio externo e proporcionando interatividade com outros participantes.
Peixoto e Carvalho comentaram que para a realização de suas atividades é necessário o cumprimento de 20 horas/aula semanais. Como estas aulas não cumprem as 20 horas de trabalho, eles devem participar de atividades aos finais de semana, como forma de liquidar horas em débito.
Estas são situações que encontram o trabalho do estagiário, as mudanças nos sistemas de produção exigem um trabalho de novo tipo, um trabalhador mais qualificado, participativo, multifuncional, polivalente, dotado de uma maior realização no espaço do trabalho. Estas são medidas que respondem apenas à sociedade capitalista contemporânea. Percebe-se uma reconfiguração do poder no local de trabalho e no próprio mercado de trabalho, muito mais em favor dos empregadores do que dos trabalhadores.
A prestação de contas, segundo a coordenadora da entidade, é feita periodicamente, a cada trimestre são passadas ao núcleo central das instituições e estes repassam ao governo federal. Cobra-se o número de participantes da instituição, o cardápio servido naquele tempo.
4.3. O trabalho do estagiário na Filhos do Senhor
Este item apresenta como funciona o trabalho dos estagiários e a avaliação, tanto dos funcionários da FS, quanto os próprios estagiários do PST, sobre suas condições de trabalho.
Peixoto administra as atividades de voleibol e Carvalho as de Kung Fu. Estes estagiários devem estar regularmente matriculados e freqüentes na universidade para participar do programa. Na FS, alguns foram desligados por não estarem nestas condições. Carvalho interrompeu seu curso, porém, como neste período a FS estava sem o financiamento do Segundo Tempo, ele continuava ministrando as aulas.
Estes estagiários exercem função de professores que já têm uma graduação e experiências com trato de relações sociais, esportivas e outras. Os dois adquiriram certa experiência, pois já trabalham há alguns anos com estas modalidades, por serem atletas.
Porém, ainda não conseguem dominar as turmas, não criam laços afetivos com os envolvidos, o que seria uma alternativa para facilitar seu trabalho. Realizando uma comparação com o que é dito nos documentos de orientação, o estagiário deveria ser apenas um apoio para o professor, só que exercem a função de professores. No ano de 2008 os estagiários eram apenas auxiliares, mas como os professores efetivos foram saindo e não foram repondo o quadro, acabaram assumindo o controle das atividades.
Esta falta de preparo dos estagiários foi percebida quando do apoio didático das atividades, pois não tem um responsável direto pelo andamento das aulas esportivas e culturais, que dê um suporte de planejamento para os professores. Trabalhei como responsável no suporte às atividades ao público, mas no auxílio da metodologia esportiva não podia opinar, já que exercia um trabalho mais voltado a área administrativa. Assim, apenas apoiava no preenchimento dos planos de aula e também na mediação de conflitos. Diana também notou que não existe ninguém diretamente e com formação na área de educação física para apoiar os instrutores, ficando, portanto, a critério de cada um.
Antônia relatou que o diretor da instituição os orienta que conversem, discutam sobre as dificuldades. Contudo, Batista ressaltou que as orientações em relação às práticas pedagógicas são realizadas pela coordenadora pedagógica da instituição, que fica responsável por este acompanhamento, havendo uma discordância na fala dos dois entrevistados.
Desde o início da contratação de estagiários pela FS, muitos estudantes passaram por esta instituição, alguns tiveram passagens rápidas. Esta situação se dá pela falta de preparo que muitos se encontram e muitos por não se sentirem bem trabalhando com um público com tantos problemas sociais.
Para Diana os pontos positivos são que os estagiários sabem lidar com os alunos, atendem às suas necessidades, os deixam felizes, porém levanta aspectos negativos com relação à pontualidade dos horários.
Eles dificilmente justificam suas faltas, não avisam previamente a ausência, acabam não comunicando os alunos, os frustrando, o que cria uma descrença perante o professor.
Diana acrescentou que também fazia parte do PST o uniforme, que consistia apenas em camisetas com o logo do programa. Os uniformes é um ponto de discussão.
Com esse discurso, comprova-se o aspecto do esporte na perspectiva do alívio à pobreza. Esta política não possibilitará a eliminação da mesma, pois neste modelo econômico e social que atualmente é hegemônico, a pobreza está condenada a se perpetuar juntamente com o capitalismo. Portanto, não é com programa de alívio da pobreza, que conseguiremos erradicá-la, mas com um conjunto de modificações que transformaria não apenas grupos focalizados, mas a sociedade como um todo.
4.4. Os dilemas de ser professor e de ser aluno
Este bloco buscou levantar como é a relação dos estagiários com seus alunos, as dificuldades que encontraram, as alegrias que os fazem continuar nesta caminhada.
Manter um relacionamento com os alunos é uma grande porta de entrada para entender as dificuldades e o pensamento deles. Os estagiários comentaram que todo início de um trabalho com pessoas novas, encontram uma dificuldade. Peixoto apontou como normal esta dificuldade durante o processo de educação, mas hoje já observa uma melhoria do comportamento, da postura. As crianças já se conscientizaram e assim passam a ter maior responsabilidade sobre suas atividades, sendo mais pontuais com o horário, mostrando um grande avanço no seu desenvolvimento. Carvalho teve dificuldade com as regras, diz que constantemente elas eram infringidas, porém, com o decorrer do tempo, eles criaram um vínculo de amizade que facilita o trabalho dele com esta interação.
A pontualidade no horário não foi tão sentida nas aulas de Carvalho. Nas observações realizadas, notei muitos atrasos, tanto por parte dos alunos e principalmente dele. Por outro lado, nem se interessou em buscar os motivos do atraso pelos alunos e ainda mais em dar sua própria justificativa.
A realização profissional é um motor de impulsão para buscar nossas metas de vida e o local onde se realiza este trabalho tem que ser instigante para o professor, para que seu trabalho naquela entidade possa ser realizado. Carvalho justificou seu trabalho na instituição para adquirir uma experiência prática, pois tinha conhecimento deste trabalho social apenas por meio de outros colegas e na teoria. Assim, argumenta que enriquecerá seu currículo, trazendo experiências mais objetivas com esse público. Para Peixoto, trabalhar nesta entidade vai além da experiência profissional, associa a execução do voleibol com a necessidade do projeto como forma de “tentar modificar uma sociedade melhor”. Crê que em sua formação trouxe muita bagagem, experiência e atualmente agrega valores a ele.
Trabalhar com o que gosta, conseqüentemente traz felicidades, alegrias. Carvalho está feliz trabalhando nesta entidade e explica que está adquirindo mais conhecimento e também cita a estrutura da entidade, pois pode realizar diversas atividades, já que o terreno é muito espaçoso. Para Peixoto, o financeiro fica para segundo plano, a gratificação está na missão de conscientizar, de potencializar em cada criança, em cada adolescente, tornando uma sociedade mais consciente, com mais atividade, mais ativa. Encerra dizendo que este é seu papel como educador, mediador.
Um ponto para ser exposto é no entrosamento nas respostas dos estagiários serem indagados sobre as maiores alegrias de estarem trabalhando nesta instituição. Para os estagiários é “ver o sorriso no rosto das crianças quando eles estão desenvolvendo uma atividade [torna-se] prazeroso, [tanto] pra ele, [quanto] para nós”.
Como em todo percurso, há obstáculos. A dificuldade pautada por eles é com respeito ao comportamento, criam atritos constantemente, a forma de se expressar, o linguajar, e eles frisam novamente que como a missão de educador é corrigir estes problemas, não é nada que não possa ser superado. Outra dificuldade está no elevado número de desistências das aulas, pois muitos pais tiram seus alunos por indisciplina, tanto na escola, com baixo rendimento, quanto em casa, e muitas vezes nem comunicam a instituição, que também acaba tendo prejuízos.
4.5. O esporte como promotor da cidadania
Os alunos que foram entrevistados, responderam sobre a contribuição do esporte em suas vidas. Ressaltaram que foram importantes e tiveram uma mudança de comportamentos, atitudes após a prática de esportes que poderão levar para sua vida futura.
Nesta entidade sócio-educacional, a finalidade é proporcionar momentos de aprendizagem e uma mudança de hábitos, dado que neste bairro os moradores, principalmente os do complexo habitacional mais novo, têm sérios problemas sociais. Então, este acaba sendo uma resposta para esta situação dos moradores.
Cidadania é a palavra que melhor expressa o que se busca com os alunos desta obra. Os alunos foram indagados se realmente o esporte pode proporcionar a formação de cidadãos. A cidadania, na perspectiva liberal se trata da conformação do trabalhador nos moldes do marco capitalista. É justamente o que prevê o PST na linha do esporte como alívio à pobreza.
Para Felipe, uns dos alunos da FS, o esporte trouxe cidadania porque na instituição ele aprendeu a ter respeito e foi respeitado por todos, e por esse motivo ele se sente um cidadão. Diana criticou esta postura do governo que de vez em quando propõe ações para a sociedade. Os alunos Elize e Glauco concordaram ao dizer que se entrar para aprender algo, respeitarem as normas, pode considerar verdadeiros cidadãos, porém se entrarem com o intuito de vandalizar, não poderá se considerar esta postura como de cidadãos.
Respeitar as regras é umas das primeiras lições que se aprende, todos vêem como fundamentais para a disciplina do ser social. Porém, para Valter Bracht (1992), tem-se um sentido contrário à submissão às regras, são condições de uma sociedade estruturalmente autoritária. Pelas regras das competições o esporte imprime no comportamento as normas desejadas da competição e da concorrência, o ensino dos esportes nas escolas enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras e dá a estas um caráter estático e inquestionável, o que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim, ao acomodamento em reconhecer e aceitar regras pré-fixadas.
Para Hamilton eles se sentem iguais perante os outros, tendo oportunidade como outros sem distinção. Para Mariano, a cidadania encontrada é devido à existência de direitos dentro da FS que no mundo externo não são respeitados. Para Lídia, podem ser oportunizados porque a partir desta iniciativa “eles estão participando de uma coisa que eles não faziam antes”. João comentou que levanta a auto-estima dos participantes e por esse motivo as pessoas se sentem cidadãs e com oportunidades de emprego.
Para ser cidadão não é suficiente proporcionar apenas uma auto-estima
elevada. Ser cidadão é saber viver em sociedade, estando ciente dos anseios
comuns. É participar ativamente das decisões de sua comunidade, influenciar
modos de vida de maneira positiva ao seu redor, exercer os direitos
constitucionais adquiridos e lutar pelos que virão. É preservar o meio
ambiente, a natureza, os animais, os seus semelhantes, os opostos. É ser
solidário, ser político, decidido e, sobretudo, estar
consciente de todas as atitudes tomadas em prol da sociedade.
Carvalho expôs que as regras que são implantadas os orientam para ter esta visão de cidadania. Nos cursos que eles fazem na instituição proporcionam uma interação com outros jovens no campo de trabalho, na relação familiar, pois ocupam seu tempo com educação e no esporte se adquire aprendizado.
Concluindo esta questão, o PST tem em seu bojo características de apoiar a formação de bons cidadãos, pois ela se amálgama com a finalidade da instituição que é a de formar pessoas socialmente dignas perante a sociedade. Porém, nota-se que o governo federal usa estas políticas como forma de manter esta classe com o mínimo de direitos.
Esporte social é a grande marca deste programa do Ministério, pois, as atividades visam o acesso a práticas esportivas para todos participantes. Para complementar esta questão, Diana comenta que esta característica está ligada com a sociedade, devido estar atendendo um público de periferia e por este motivo confirma que o esporte promovido pelo PST tem característica de ser esporte social.
Uma sociedade igualitária é uma utopia que todos buscam. Nesta perspectiva, houve um embate de opiniões. Para Felipe, Hamilton, Lídia e Nilda o esporte pode promover direitos de igualdade. Justificaram que praticando o esporte, mudam, traz mais oportunidades. Para eles, o esporte não é uma estrutura restrita, todos podem participar, até as pessoas com necessidades especiais, os doentes mentais neste caso e promovem até campeonatos, os jogos paraolímpicos, que existem também os esportes mistos, nos quais homens e mulheres interagem.
Contudo há outro grupo que tem uma opinião divergente dos demais. Este grupo de alunos tem uma visão mais crítica quanto à igualdade, compreendendo que na verdade o esporte não traz igualdade perante os antagonismos de classe. Elize, Glauco e Karoline justificaram que cria uma desigualdade. Apontaram a questão econômica como um grande problema, pois os que têm um poder aquisitivo maior procuram grandes clubes e os que não têm condições acabam procurando grupos gratuitos e abertos à comunidade, sem alentos para a carreira profissional: “a classe rica tem esporte melhor que [a] pobre, desigual pelo caráter, pela forma, pelo dinheiro”. (Glauco). O outro ponto seria que alguns alunos não entendem as limitações do próximo e acabam se frustrando e isso faz quebrar a união do grupo. Característica de igualdade só está na intuição, só tem a criar o oposto, não se pode dizer que o tipo de esporte dado no PST tem a mesma característica de um esporte de alto rendimento.
Como o objetivo deste esporte social é criar cidadão e não fomentar atletas de alto nível, os jovens deram relato de sua vida antes de ingressarem nas atividades: Todos foram unânimes em relatar que eram indisciplinados em suas famílias, na escola tinham um rendimento abaixo da média, tinham um relacionamento ruim com as amizades e que não tinham objetivos: “Eu era muito briguenta, não prestava atenção nas aulas, respondia os professores, meus pais, tudo que falava comigo eu criticava, não aceitava as opiniões das pessoas”. (Karoline). “Em casa eu vegetava, assistia televisão o tempo todo, só comia, enchia a pança, ficava sem nada, eu era uma pessoa muito tímida, ficava com vergonha de conversar com as pessoas, eu era um pouco ignorante com as pessoas também, não aceitava qualquer coisa”. (Lídia).
Depois que começaram a freqüentar as atividades, no geral, afirmaram que suas vidas melhoraram, começaram a ter sentido. No caso de Elize, Karoline, Nilda, Ilma, João, Glauco e Elize, foi tão importante que acabaram se tornando voluntários na obra.
A expansão do esporte pode criar novas fontes de emprego, pois o campo da educação física é um dos alvos do programa, conseqüentemente gera muitas oportunidades de emprego, mas não dignos, com um valor econômico justo. Todos os entrevistados concordam sobre o ponto de vista da empregabilidade. Antônia disse que na própria instituição já teve alunos que fizeram do esporte sua renda.
Batista disse que os alunos que, desde pequenos, participam das atividades, podem estar agregando conhecimentos para a vida e quando se inserirem em uma empresa podem estar usando estes conhecimentos. O trabalho em equipe é um desses conhecimentos que Carvalho, cita, pois esta interação vai ser facilitada no ambiente de trabalho.
Diana foi além e disse que podem até chegar a uma universidade, tornando-se professores e atletas. Peixoto, estagiário que ministra as aulas de kung fu, analisou sua experiência na qual, por meio do esporte, capta recursos para sua subsistência, conseguindo financiar seu curso superior. No entanto, fez ressalvas, quando afirmou que o governo nacional reduz os impostos de grandes empresas que patrocinam a formação de cidadãos e citou o caso do PST, que toma este tipo de ação.
Muitos consideraram válidas estas medidas de empregabilidade pelo esporte, fazendo menção sobre estas oportunidades de emprego. São várias oportunidades de emprego, mas os valores pagos são baixos.
Porém outros responderam positivamente, como o caso de Lídia que disse que uma pessoa que já pratica esportes já é considerada uma atleta e por esse motivo já se pode considerar com um emprego. Para Karoline, Mariano e Nilda, o PST está ligado com os cursos de formação, como por exemplo, secretariado, informática e auxiliar administrativo. Os alunos que estão fazendo estes cursos na instituição são geralmente os próprios praticantes das atividades e muitas empresas estão os contratando e por esse motivo aliam o esporte do Segundo Tempo com seu trabalho.
Para Antônia e Elize o esporte não tem relação com este contexto, para os outros surgiram várias hipóteses: Batista discutiu que no caso desta instituição as crianças muitas vezes se conflitam entre si e os funcionários mostram que na vida tem regras e que devem ser seguidas, limitando estas situações que podem ocorrer fora da instituição, na sociedade. Diana ressaltou que já está diminuindo o número de pessoas que fica exposto a estas situações violentas e com esta postura já se nota uma diminuição das crises.
Elize fez um comentário muito feliz sobre este tema, vende-se a imagem de que pelo esporte pode-se conseguir ser um futuro esportista e garantir uma vida melhor, porém o PST não tem este intuito, os que conseguem, são trabalhos subalternos, com grande exploração da mão-de-obra como é do trabalho de estagiário.
Pode-se inferir que os envolvidos com o PST aprovam esta iniciativa do Ministério dos Esportes como de fundamental importância para manter a instituição, pelos recursos que são garantidos a Filhos do Senhor.
Disseram que o programa promove além da prática gratuita de atividades esportivas, também garante cidadania e melhora na conduta dos praticantes, tornando-se pessoas melhores, mais compreensivas, deixando de ser agressivos e com perspectivas futuras na vida. Os alunos relataram que a sua inserção nas atividades promovidas pelo PST ajudaram nos estudos, melhorando o seu interesse na escola, no relacionamento com a comunidade e com os amigos e principalmente com as famílias.
5. Conclusão
A título de conclusão, buscou-se estudar nesta pesquisa a influência que as políticas neoliberais têm em nível mundial. A crise do capitalismo provoca no Estado mudanças na estrutura social, destituindo os direitos da população, como forma de manter a hegemonia da burguesia capitalista.
Com isso, os governos, como forma de evitar reivindicações por parte da classe trabalhadora, acrescentam os preceitos neoliberais e promovem políticas assistencialistas como forma de minimizar estes problemas.
Desde a entrada das políticas neoliberais nos governos brasileiros, são inúmeras as políticas que foram implantadas nesta direção. Os governos apoiados pela publicidade expõem imagens em defesa destes programas.
A promoção do esporte é um tema muito debatido por estudiosos, pois ele foi tomado pelas grandes nações como grandes auxiliares na promoção da paz, e sua prática na saúde corporal, mental e social. São formas de manter os trabalhadores despreocupados com a política.
É uma política que está na pauta dos países neoliberais e que agrava ainda mais a crise destes, além de maximizar a pobreza da classe trabalhadora.
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