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Análise do comportamento táctico de futebolistas através 

do teste de ‘GR3-3GR’: estudo de caso de uma equipa sub-11

Análisis del comportamiento táctica de futbolistas por medio del test ‘GR3-3GR’: estudio de caso en un equipo sub-11

Tactical behaviour in soccer: analysis of an under-11 team by the “GR3-3GR” test

 

*Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, Belo Horizonte, MG, Brasil

**Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil

***Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, FADEUP, Porto, Portugal

****Centro de Investigação, Formação, Inovação

e Intervenção em Desporto, CIFI2D, FADEUP, Portugal

Prof. Ms. Israel Teoldo da Costa* *** | Prof. Dr. Júlio Garganta*** ****

Prof. Dr. Pablo Juan Greco** | Profa. Dra. Isabel Mesquita*** ****

Prof. Daniel Castelão*** | Prof. Ezequiel Müller***

Prof. Bernardo Silva***

israelteoldo@gmail.com

 

 

 

Resumo

          O objectivo do presente estudo consiste em analisar os princípios de jogo realizados por 18 jogadores de Futebol de uma equipa tendo em consideração a frequência de realização, o local e o resultado da acção táctica. A amostra consiste em 763 acções tácticas desempenhadas por jogadores sub-11 de um clube português. O instrumento utilizado para a recolha e análise de dados foi o teste “GR3-3GR” que perminte avaliar as acções tácticas de acordo com dez princípios tácticos fundamentais do jogo de Futebol. Foi realizada a análise descritiva e o teste do Qui-quadrado (c²), com um nível de significância (p≤0,05). Os resultados mostraram que os jogadores possuem maior facilidade para realizar as acções relacionadas aos princípios tácticos ofensivos do que as acções relacionadas aos princípios tácticos defensivos. Conclui-se que os atletas da equipa analisada necessitam melhorar, principalmente, o desempenho dos princípios “contenção”, “equilíbrio” e “unidade defensiva”.

          Unitermos: Futebol. Desempenho táctico. Princípios de jogo

 

Abstract

          The aim of this study is to compare game principles performed by 18 novice soccer players taking into account the respective frequency, place of action and tactical outcome. The sample analyzed integrates 763 tactical actions performed by initiate players from one Portuguese club. The test "GK3-3GK" was used to provide the evaluation of tactical actions according to ten basic tactical principles of soccer game. For data analysis it was used a descriptive analysis and chi-square (c²) test (p≤0.05). The results showed the players have more facility to execute tactical actions related to the offensive principles than defensive principles. We conclude that players have to improve, mainly, the performance of the “Delay”, “Balance” and “Defensive Unity” principles.

          Keywords: Soccer. Tactical performance. Game principles

 

Agradecimento

          Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Européia para América Latina, bolsa nº E07D400279BR”

 

          Esse trabalho foi apresentado na forma de pôster no I International Symposium of Sports Performance: Performance Enhanced by Bridging the Gap between Theory and Practice, Vila Real, Portugal – Julho 2009

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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Introdução

    A análise do comportamento táctico no Futebol justifica-se plenamente quando se consideram três fatores específicos do jogo que não são sempre considerados pelo simples espectador: 

  1. a maioria das ações no jogo acontece sem a posse de bola(1)

  2. jogadores com limitado domínio das habilidades técnicas podem jogar Futebol se tiverem compreensão tática do jogo(2)

  3. a falta de conhecimento e o raciocínio tático ineficaz são causas decisivas para a execução errada da habilidade técnica(3). Para se aceder à essas informações pesquisadores têm utilizado os recursos da Análise Notacional(4) e da Metodologia Observacional(5).

    Buscando obter informações dessa natureza o presente estudo foi realizado com o objetivo de analisar o comportamento táctico de uma equipe de Futebol Sub-11 por meio do teste “GR3-3GR”.

Material e métodos

Amostra

    No presente estudo, 18 jogadores de Futebol Sub-11 foram analisadas. Estes jogadores realizaram 401 acções tácticas defensivas e 362 acções tácticas ofensivas. Não foram analisadas as acções relativas à reposição da bola pela linha lateral, os livres e as situações em que não houve movimentação do jogador no campo de jogo.

Instrumento

    Os jogadores realizaram um jogo reduzido com 4 minutos de duração (3 X 3 com guarda-redes). O teste “GR3-3GR” é projetado em uma área de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura. Com exceção da regra do fora de jogo, todas as regras oficiais de futebol são aplicadas. Tal teste tem como objectivo avaliar as acções tácticas executadas pelos jogadores (com e sem a posse de bola) de acordo com os dez princípios tácticos fundamentais do jogo de futebol. Além disso, o teste leva em consideração a localização de realização e o resultado das acções. Com base nestas informações diversos índices de desempenho são calculados, relativos aos princípios tácticos de jogo, localização e resultado das acções.

Procedimento

    A recolha de dados foi efectuada em um clube português, com o consentimento dos seus responsáveis. Os jogadores foram organizados aleatoriamente em equipas e receberam informações sobre o objectivo do teste. Todos os jogadores tinham os seus coletes numerados do modo a facilitar a respectiva identificação. Foram concedidos aos jogadores 30 segundos de “familiarização”, findos os quais se deu início ao mesmo.

Material

    Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmara digital PANASONIC NV – DS35EG. O material de vídeo obtido foi introduzido em formato digital num computador portátil via cabo e convertido em ficheiros “.avi”. Para o tratamento de imagem e análise do jogo foi utilizado o software Utilius VS e Soccer Analyser.

Análise estatística

    Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows®, versão 17.0. Para a caracterização da amostra foram realizadas análises descritivas de média e desvio padrão (dados contínuos - número e percentual de erros cometidos, e índices de performance táctica) - e distribuição de freqüência (dados categóricos ou nominais - princípio táctico, localização e resultado da ação táctica). A distribuição normal dos dados foi verificada pelo teste Kolmogorov-Smirnov e a homogeneidade de variância foi assegurada pelo teste de Levene. Recorreu-se ao teste ANOVA para comparar as médias dos índices de performance, das ações tácticas e dos seus erros e locais de realização(6). O qui-quadrado (c²) com índice de significância de p≤0,05 foi usado para verificar a associação entre a freqüência dos princípios realizados pelos jogadores. O teste Kappa de Cohen foi utilizado para aferir as fiabilidades dos valores dos índices de performance e das observações dos inter e intra-observadores.

Análise da fiabilidade

    As observações foram realizadas por três observadores treinados que possuíam concordância inter-observadores igual a 0,93 (erro padrão=0,014), 0,82 (erro padrão=0,022) e 0,85 (erro padrão=0,020). Para efeitos de aferição da fiabilidade intra-observador, foram reavaliadas 218 acções tácticas desempenhadas dos jogadores, o que representa 28,57% da amostra, portanto, acima do valor de referência (10%), apontado pela literatura(7). Os resultados da fiabilidade intra-observadores exibiram valores de Kappa de 0,95 (erro padrão=0,014), 0,89 (erro padrão=0,022) e 0,92 (erro padrão=0,018) para os três avaliadores, que também são superiores aos valores de referência (0,61) apontados pela literatura(8).

Resultado e discussão

    Os resultados referentes às acções tácticas desempenhadas pelos jogadores no teste GR3-3GRsão apresentados na Tabela 1. Optou-se por expor os dados na sequência de critérios avaliados no próprio teste, ou seja, apresentaram-se primeiramente as informações relativas às frequências e percentagem de erros das acções por cada princípio, seguida da localização de execução das mesmas no campo de jogo e, posteriormente, os resultados finais.

    Ao analisar os dados contidos na Tabela 1 observa-se maior frequência para acções dos princípios de “Cobertura Ofensiva” e de “Espaço” durante a fase ofensiva e os de “Equilíbrio” e de “Unidade Defensiva” durante a fase defensiva. Verifica-se também uma baixa frequência do acções do princípio de “Cobertura Defensiva” que pode ser atribuída ao posicionamento e movimentação dos jogadores da equipa que se encontra na fase ofensiva, impedindo acções defensivas direccionadas ao adversário marcado pelo atleta em contenção.

    Ao observar a percentagem de erro constata-se uma maior incidência nos princípios de “Contenção”, de “Equilíbrio” e de “Unidade Defensiva”. Estes três princípios juntos são responsáveis por 75,9% de todos os erros relacionados à execução dos dez princípios fundamentais, o que demonstra uma ineficiência da fase defensiva.

    Em relação à localização, a Tabela 1 nos mostra uma alta incidência de acções ofensivas realizadas no meio campo defensivo. Esta característica pode ser justificada pela fragilidade defensiva apresentada pela equipa que posiciona seus marcadores mais recuados com o intuito de possuir superioridade numérica em relação ao adversário. A equipa apresenta uma estratégia ofensiva baseada na manutenção da posse de bola através da realização de passes no meio campo defensivo a fim de organizar seus jogadores antes de avançar ao meio campo ofensivo. Pode-se reforçar isto a partir dos resultados das acções tácticas onde se observa uma grande tendência de manter a posse de bola, consubstanciado pela baixa frequência de recuperação da posse de bola.

Tabela 1. Princípios, Localização e Resultados das acções tácticas fornecidos pelo teste “GR3-3GR”.

*A percentagem de erro (% Erro) refere-se ao número de acções realizadas sem êxito para cada um dos princípios

    A Tabela 2 mostra os índices de performance por jogador. Estes índices foram calculados para cada princípio, por cada fase do jogo (ofensiva e defensiva) e por jogo. Através destes valores é possível constatar a eficiência táctica de cada jogador e da equipa. Os valores apresentados na tabela 2 mostram que os jogadores apresentam heterogeneidade em suas performances.

    Ao comparar os índices de performance de cada jogador com as médias da equipa para cada um dos princípios tácticos, observa-se que três atletas obtiveram índices inferiores às médias da equipa em até dois princípios, sete jogadores obtiveram índices inferiores em três ou quatro princípios, sete jogadores obtiveram índices inferiores em cinco ou seis princípios e um jogador obteve índices inferiores em sete princípios.

    Ao analisar os Índices de Performance Táctico Ofensivo (IPTO) e os Índices de Performance Táctico Defensivo (IPTD) de cada jogador, observa-se que apenas três jogadores apresentam eficiência defensiva superior à ofensiva, o que pode ser uma das justificativas para a dificuldade apresentada pelos jogadores em realizar acções tácticas defensivas. Observa-se também que seis jogadores obtiveram índices abaixo da média da equipa durante a fase ofensiva enquanto sete obtiveram índices inferiores durante a fase defensiva.

    De um modo geral, a equipa estudada apresenta maior competência para realizar as acções relacionadas aos princípios tácticos ofensivos do que as acções relacionadas aos princípios tácticos defensivos. Esta característica é evidente quando comparamos a média dos IPTO da equipa (9,9) com a média dos IPTD da equipa (6,7).

    Quanto ao Índice de Performance Táctico de Jogo (IPTJ) é possível observar que oito atletas obtiveram valores de médias inferiores às apresentada pela equipa. Destes, três obtiveram médias inferiores em ambas as fases do jogo (ofensivo e defensivo).

    Portanto, é possível concluir que os atletas da equipa analisada apresentam diferentes níveis de rendimento táctico, tanto no que respeita aos princípios da fase ofensiva como no que se reporta aos da fase defensiva. Com base nesta constatação e os valores referentes à performance ofensiva e defensiva, é razoável concluir que elas indicam que a equipa tem que melhorar, principalmente, o desempenho dos princípios “contenção”, “equilíbrio” e “unidade defensiva”.

Tabela 2. Índice de performance dos jogadores

M - Média. dp - Desvio Padrão. IPTO- Índice de Performance Táctica de Jogo (Calculado pela média de todas as acções relacionadas aos princípios ofensivos). 

IPTD - Índice de Performance Táctica Defensivo (Calculado pela média de todas as acções relacionadas aos princípios defensivos). 

IPTJ - Índice de Performance Táctica de Jogo (Calculado pela média de todas as acções tácticas realizadas durante o teste).

OBS.: Em destaque (itálico + cinza) encontram-se todas as médias dos atletas inferiores as médias da equipa.

Referências

  1. Garganta J. Modelação táctica do jogo de futebol – estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento. [Tese de Doutoramento]. Porto: Universidade do Porto; 1997.

  2. Oslin J, Mitchell S, Griffin L. The Game Performance Assessment Instrument (GPAI): Development and Preliminary Validation. Journal of Teaching in Physical Education 1998;17:231-43.

  3. Teodorescu L. Problemas de teoria e metodologia nos jogos desportivos. Melo de Carvalho A, editor. Lisboa: Livros Horizontes Lda; 1984.

  4. Hughes C, Franks I. Notational analysis of sport. London: E. & F.N Spon; 1997.

  5. Anguera M, Blanco A, Losada J, Hernández A. CODEX: un programa informático para codificación de registros observacionales. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 18, 2000. http://www.efdeportes.com/efd18/codex.htm

  6. Pestana MH, Gageiro JN. Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. 3ª ed. Lisboa: Lisboa Edições Sílabo; 2003.

  7. Tabachnick B, Fidell L. Using Multivariate Statistics. New York: Harper & Row Publishers; 1989.

  8. Landis JR, Koch GC. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics 1977; 33: 1089-91.

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