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A acessibilidade para a prática do esporte adaptado por pessoas 

com deficiência de um clube esportivo da cidade de Santiago, RS

La accesibilidad a la práctica del deporte adaptado por parte de personas

con discapacidad en un club deportivo de la ciudad de Santiago, RS

 

*Mestrando em Actividade Física Adaptada

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal

Professor de Educação Física

Vida em Movimento – Atividades de Condicionamento. Físico

**Professor de Educação Física

Vida em Movimento – Atividades de Condicionamento Físico

Vinícius Denardin Cardoso*

Rodrigo Sudatti Delevatti**

vinicardoso@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A acessibilidade é um tema presente diariamente no cotidiano de pessoas com deficiência, através da acessibilidade, esta população se sente ou não motivada a enfrentar as barreiras físicas existentes em suas respectivas cidades, através disso, o objetivo deste estudo foi analisar a acessibilidade de um clube esportivo para a prática do esporte adaptado por pessoas com deficiência. O estudo foi descritivo e usou observação dos espaços físicos e uma entrevista com o responsável pelo estabelecimento esportivo. Verificamos que o clube esportivo observado não oferta a acessibilidade adequada a pessoas com deficiência em seus ambientes físicos, também evidenciou o desconhecimento das necessidades dos alunos por parte do professor responsável.

          Unitermos: Acessibilidade. Pessoas com deficiência. Esporte adaptado

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 142 - Marzo de 2010

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1.     Introdução

    A acessibilidade é uma necessidade de pessoas com deficiência, faz parte de sua cidadania, porém muitas vezes é ignorada no planejamento de espaços e vias públicas de uma cidade, o resultado disso são as inúmeras barreiras arquitetônicas existentes, tais como: ausência de transporte adaptado, ausência de rampas especiais para a locomoção, banheiros sem corrimão para apoio, mobiliário urbano não adaptado (telefones, bebedouros, caixas bancários, correios), estacionamentos sem vagas para pessoas com deficiência, entre outros. São barreiras que pessoas com deficiência ou limitações físicas se deparam em seu cotidiano, e dessa forma aumenta ainda mais a exclusão desses indivíduos.

    Conforme Lerina (1981) nos relata, a segregação social de pessoas com deficiências é aumentada em decorrência de barreiras impostas pela arquitetura de uma cidade ou de um determinado local. Segundo Lima (2006) a não concretização das medidas de acessibilidade, não só dificulta a locomoção desse segmento da população, como propicia a segregação e a discriminação das pessoas com deficiência, por privar-lhes a possibilidade de usufruir algo que é direito de toda a sociedade sem distinção.

    Cardoso apud Emmel e Castro (2003) aborda que os fatores comportamentais são associados às barreiras existentes, na qual a exclusão estaria vinculada a existência desses obstáculos.

    Neste sentido, a oportunidade que o ser humano tem de crescer leva a sua valorização onde ele pode se manifestar, expandir e desenvolver suas atividades, mas esta busca se torna limitada pelos obstáculos arquitetônicos. (COSTA, 2004)

    Sabemos que existe uma população muito grande de pessoas com deficiência e que o Esporte Adaptado pode contribuir para a promoção da qualidade de vida desta população, para isso, tem se buscado proporcionar a essa população esportes que estimulem benefícios no aspecto motor e psicossocial.

    A oportunidade da prática esportiva para pessoas com deficiência é de extrema eficácia para a promoção da qualidade de vida das mesmas, segundo Melo e López (2002) “é a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias a sua deficiência e promover a integração social do indivíduo”.

    De acordo com Duarte e Werner (1995) “o esporte adaptado consiste em adaptações e modificações em regras, materiais, locais para as atividades possibilitando a participação das pessoas portadoras de deficiências nas diversas modalidades esportivas”, e conforme Gorgatti (2005), “o esporte adaptado pode ser definido como esporte modificado ou especialmente criado para ir ao encontro das necessidades únicas de indivíduos com algum tipo de deficiência”.

    Desta forma, através do esporte adaptado estamos proporcionando condições para que essa população também se reconheça como ser humano e busque seu desenvolvimento de forma lúdica e prazerosa. Inúmeros benefícios são evidenciados com a prática esportiva, entre estes podem ser destacados, além da melhora geral da aptidão física, grandes ganhos de independência e autoconfiança para a realização das atividades diárias, além de uma melhora do auto-conceito e da auto-estima dos praticantes.

    Tendo em vista, que todo ser humano tem os mesmos direitos e merece as mesmas oportunidades, de acordo com suas individualidades é que se buscou analisar a acessibilidade de um clube esportivo da cidade de Santiago – RS que oferece atividades esportivas para pessoas com deficiência. Acredita-se na importância dessa investigação como uma ferramenta de reflexão e mudanças em estruturas dentro dos clubes esportivos, e também na formação do profissional em educação física.

2.     Metodologia

    Este estudo se caracterizou como sendo do tipo descritivo. Foi identificado um clube esportivo da cidade de Santiago, RS. A partir disso foi agendada e realizada uma observação dos espaços físicos desse clube esportivo em relação à sua acessibilidade para a prática esportiva de pessoas com deficiência. Também foi realizada uma entrevista com o professor responsável pelas atividades esportivas para pessoas com deficiência. Esta entrevista foi constituída de perguntas abertas referentes aos espaços físicos deste clube e quais as maiores dificuldades encontradas por pessoas com deficiência durante a chegada, permanência e saída do estabelecimento.

3.     Resultados

    Foram constatados a presença de 5 pessoas com deficiência durante a prática esportiva, realizada em dois dias da semana. Destas, 3 pessoas eram cadeirantes com lesão medular, 1 pessoa apresenta sequelas de poliomielite e 1 pessoa possui amputação nos membros inferiores.

    Em relação ao ambiente físico do clube esportivo identificou-se uma barreira no acesso a porta principal do clube esportivo, uma vez que era estreita a ponto de impossibilitar o acesso com uma cadeira de rodas ou um andador. Também esta porta não possuía alguma rampa que pudesse auxiliar o acesso de um cadeirante, era composta de degraus.Uma pessoa que faz uso de cadeira de rodas só teria acesso por uma entrada secundária do clube. Para um pessoa com mobilidade reduzida o clube também não estava adequado a ofertar o acesso, já que não possuía nenhuma espécie de corrimão que pudesse auxiliar no deslocamento dessas pessoas.

    Em relação a vestiários, ambos apresentavam problemas para cadeirantes, existiam uma indisponibilidade para a cadeira de rodas, o aluno/participante deveria transpassar a porta lateralmente, também não apresentava nenhuma barra ou suportes para o auxílio de um cadeirante, no vaso ou mictório.

    A piscina, que é o local das atividades esportivas ofertadas, não ofereçe nenhuma adaptação para receber pessoas em situação de deficiência, nenhuma rampa ou barra de apoio lateral. Seu piso também não ofereçe nenhuma adaptação para melhor estabilidade dos alunos.

    Os corredores também não apresentavam suportes para auxílio na locomoção de pessoas com mobilidade reduzida.

    As maçanetas e interruptores encontravam ao alcançe de todos facilmente, dessa forma qualquer pessoa poderia utilizá-los. Os bebedouros encontrados não permitiam o alcance de uma pessoa em cadeira de rodas.

    No clube ainda existe uma Lancheria e um balcão de informações/pagamentos, porém ambos situam-se no pavimento superior do clube, e não existia elevador de acesso, somente escadas, o que impossibilita que uma pessoa em cadeira de rodas alcançe o 2º pavimento.

    Em relação ao entrevista com o professor, em sua percepção o ambiente estava propício a receber pessoas com deficiência, acreditava que os alunos não enfrentavam nenhuma dificuldade para chegar ao ambiente das atividades, se mostrou surpreso com o número de barreiras arquitetônicas encontradas no clube.

4.     Considerações finais

    A prática de atividade esportiva para pessoas com deficiências além de proporcionar todos os benefícios para seu bem estar e qualidade de vida, também a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secundárias à sua deficiência e promover a integração social da pessoa com deficiência. O esporte adaptado é uma ferramenta importante na reabilitação de indivíduos com deficiência, pelos benefícios motores, psicológicos e sociais, além de ter como objetivos o lazer e a competição, são considerados aceleradores do processo de reabilita­ção.

    Seus benefícios são muitos, como a melhoria da autoconfiança para a realização das atividades diárias, valorização pessoal, auto-estima, melhora da condição física, aprimoramento das capacidades físicas gerais e prevenção de deficiências secundárias (BRAZUNA e MAUERBERG-DECASTRO, 2002; GORLA et al, 2005; GORGATTI et al, 2008).

    Os cuidados com a acessibilidade devem ser seguidos desde a construção, através de uma planificação criteriosa e disposição interna dos equipamentos e materiais que permitam o livre acesso. Infelizmente, as adaptações para o atendimento de pessoas com deficiência não são adotadas como um item padrão na construção, mas como uma possibilidade para atender essa demanda. Isto acaba por limitar o contato do deficiente com a população e consequentemente sua socialização, fatos estes que favorecem a manutenção do preconceito e discriminação.

    Segundo Rodrigues (2004) as barreiras arquitetônicas têm que ser vistas não somente como um conjunto de rampas e medidas a serem respeitadas, mas como uma filosofia geral de acolhimento, conforto e facilidades em todas as dependências dos edifícios.

    Conforme Duarte e Cohen (2006) a acessibilidade ao espaço construído não deve ser constituída como um conjunto de medidas que favoreceriam apenas as pessoas com deficiência, o que poderia até aumentar a exclusão espacial e a segregação destes grupos, mas sim medidas técnico-sociais destinadas a acolher todos os usuários em potencial.

5.     Conclusão

    Ao final do presente estudo observamos que o clube esportivo em questão não ofereçe e não está preparado para ofertar atividades esportivas para pessoas com deficiência com segurança e qualidade. Seus profissionais desconhecem as realidades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, preocupados apenas em garantir o acesso a qualquer forma.

    Acredita-se que através deste estudo, o clube em questão se prepare e projete medidas para eliminar suas barreiras arquitetônicas afim de garantir atividades esportivas com a acessibilidade que toda pessoa tem direito.

Referências bibliográficas

  • BRAZUNA, M. R.; CASTRO, E. M. A trajetória do atleta portador de deficiência física no esporte adaptado de rendimento: uma revisão da literatura. Motriz Jul-Dez 2001, Vol. 7, n.2, pp. 115-123

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  • DUARTE, C.R. COHEN, R. Proposta de metodologia de avaliação da acessibilidade aos espaços de ensino fundamental. In: Anais NUTAU 2006: Demandas Sociais, Inovações Tecnológicas e a Cidade. São Paulo: USP, 2006.

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  • GORLA, J. I. (Org.) . Educação Física Adaptada: o passo a passo da avaliação. 1. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2008. v. 2000. 132 p.

  • LIMA, D.G., Atividade Física e Qualidade de Vida no Trabalho. In: Anais do I Congresso Oeste de Educação Física, esporte e lazer. Brasília, setembro de 1998.

  • LIMA, M.S.C. Cenas da prática de atividade física e esporte para deficientes. In: Anais do 3º Seminário Internacional Ciência e Tecnologia na América Latina. Campinas:2006. v. 1. p. 1-7.

  • MAUEBERG-DE CASTRO, Eliane. Atividade Física Adaptada. Ribeirão Preto: Tecmed, 2005.

  • RODRIGUES, D. A. Inclusão na Universidade: Limites e possibilidades da construção de uma universidade inclusiva. Revista de Educação Especial da UFSM, n. 23, 2004.

  • SOLER, R. Educação física inclusiva na escola em busca de uma escola plural. 1ª ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

  • WINNICK, J. P. Educação Física e Esportes Adaptados. 3ª ed. São Paulo: Editora Manole: 2004.

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