Mensuração de velocidade com mudanças de direção em atletas da escola de futebol do Grêmio, Núcleo Lages, SC Medición de la velocidad con cambios de dirección en jugadores de la escuela de fútbol del Gremio, Núcleo Lages, SC |
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*Graduado de Educação Física pela FACVEST Treinador Profissional de Futebol de Campo Pelo Sindicato de Treinadores Profissionais do RS **Graduada em Educação Física pela UNIPLAC (Brasil) |
Paulo Roberto Alves Falk Dyane Paes Pereira |
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Resumo O futebol atual requer força e potência muscular em diferentes velocidades de movimentos, especificamente velocidades rápidas. A força máxima do sistema neuromuscular nos membros inferiores é de extrema importância no futebol, sendo um diferencial para jogadores de alto nível. Há necessidade de avaliar a potência no futebol através de arrancadas e mudanças de direção em pequenas distancias, pois segundo BANGSBO, 1994; REILLY, BANGSBO & FRANKS, 2000; WINKLER, 1985, durante uma partida de futebol, jogadores de alto nível realizam em média 100 corridas curtas rápidas (sprints) dos quais aproximadamente 65% não excedem 16 metros. Sendo assim se faz necessário obter informações atualizadas dos níveis de aptidão física dos atletas, para um melhor aprimoramento das cargas de treinamento e, é neste sentido que constatamos o surgimento de diferentes tipos de testes motores. A velocidade deve ser treinada tanto no período preparatório, como no competitivo. Weineck (2000) sugere força e velocidade são importantes para o atleta de futebol suportar a partida, pois sempre que exigidas ações decisivas, como acelerações, frenagens, mudanças de direção, fintas, dribles e roubadas de bola. No presente estudo com amostra de 23 alunos da Escola de Futebol do Grêmio de Lages/SC, todos do sexo masculino com idades entre 14 e 17 anos sendo a média 15,3 e desvio padrão ± 0,99. Os resultados alcançados no teste foram média 7,96s e desvio padrão ± 0,47 no deslocamento em circuito sem bola e no deslocamento em circuito com bola a média 11,54s e desvio padrão ± 1,24. Unitermos : Velocidade. Futebol. Deslocamento
Abstract |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010 |
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Introdução
O futebol é um dos esportes mais populares do mundo, apresentando mais de 240 milhões de praticantes em 2000 (WONG e HONG, 2005). Com esta demanda de praticantes se faz necessário entender cada vez mais sobre as exigências físicas deste esporte. Nunes (2004) aponta que para jogar qualquer modalidade coletiva, entre elas o futebol, ter a habilidade de mudar de direção com precisão e rapidez é uma característica necessária para os atletas. Devido à realização repetida de esforços curtos e intensos, a potência anaeróbia representa uma importante capacidade para o futebolista (DANIEL, 2003). Neste entendimento e orientando o estudo para o treinamento de crianças e adolescentes devemos entender a especificidade do futebol e a elaboração de testes direcionados ao futebol. As crianças e os adolescentes devem iniciar um trabalho sempre partindo dos exercícios mais simples aos mais complexos exercícios de reação, até atingirem os mais diferentes exercícios de reação e de formas técnico-táticas de jogo específicas do futebol (WEINECK, 2000). Os principais métodos utilizados para crianças e adolescentes são os métodos de repetição e intervalos curtos (WEINECK, 1991). Segundo BOMPA (2002), o treinamento de velocidade na pós-puberdade deve se tornar específico, relacionando-se com as exigências da modalidade praticada. No caso específico do futebol, não se deve esquecer a utilização da bola neste tipo de treinamento. Os exercícios físicos com bola aproximam-se do jogo e tem um efeito benéfico (KUNZE, 1987). Para GOLOMAZOV e SHIRVA (1996), treinar a velocidade com bola aumenta a precisão do chute.
Exigências físicas do futebol atual
O futebol atual requer força e potência muscular em diferentes velocidades de movimentos, especificamente velocidades rápidas. São realizados durante uma partida: 10 a 20 sprints a cada 70 segundos, aproximadamente 15 corridas com mudança de direção, 10 cabeceios, 50 envolvimentos com bola, aproximadamente 30 passes, bem como, mudanças de ritmo de corrida e contrações vigorosas para manter o equilíbrio e o controle de bola contra pressões defensivas (Bangsbo et al., 1991). No relato de Mohr, Krustrup e Bangsbo (2003) atletas de futebol realizam em média 110 ações de alta intensidade em espaços de 5m a 30m, sendo 39 delas em “sprint”. No que refere-se à exigência energética a liberação da energia anaeróbia é responsável por sprints curtos, saltos, mudanças rápidas de direção e disputas de bola. O metabolismo anaeróbio é determinante no que se refere a quem corre mais rápido ou salta mais alto, o que é crucial para o resultado do jogo. (Wragg et al.,2000)
Treinamento de velocidade
A produção de força máxima do sistema neuromuscular nos membros inferiores é de extrema importância no futebol, sendo um diferencial para jogadores de alto nível. De acordo com Gorostiaga et al. (2004) jogadores atingem diferentes níveis, pela habilidade em atingir força máxima muscular com alta velocidade de contração ao executar as ações explosivas requeridas no futebol: saltar, trotar, chutar, girar e correr em curtas distancias. Para BOMPA (2002), parte da capacidade de velocidade é determinada por fatores genéticos. Quanto maior for a proporção de fibras de contração rápida maior será a capacidade de contração explosiva do organismo. Apesar da relação da velocidade com a genética, não é um fator limitante, pode ser melhorada com o treinamento adequado.
Segundo POEL e EISFELD, citado por WEINECK (2000, p. 406) o treinamento da velocidade deve ocorrer em quatro níveis:
Coordenação geral, por meio do treinamento da corrida.
Melhoria do poder de saída e de reação com o uso de formas de treinamento semelhantes ao jogo.
Treinamento da velocidade por intermédio de formas de treinamento específicas do futebol com a utilização da bola.
Treinamento da força.
O treinamento com pesos e o treinamento em circuito têm sido amplamente utilizados em jogadores de futebol. De fato, a literatura tem indicado que ambos os métodos são efetivos para melhorar a força máxima, na velocidade de sprint e na altura do salto vertical em jogadores de futebol (DUPONT et al., 2004; HOFF e HELGERUD, 2004; LEMMINK et al., 2004).
Segundo Weineck (2000) Velocidade é uma combinação de força e excelente resistência, o que é necessário para a realização dos movimentos com máxima rapidez em todo o tempo. Velocidade é a capacidade, com base na mobilidade dos processos do sistema nervo-músculo e da capacidade de desenvolvimento da força muscular, de completar ações motoras, sob determinadas condições, no menor tempo (FREY, citado por WEINECK, 1991, p. 210).
Justificativa
Tubino e Moreira (2003) concordam no que se refere aos testes simular uma atividade competitiva e/ou laboral. Entretanto existem outros requisitos para selecionar um teste. No que se refere ao desporto o teste deve determinar os esforços da modalidade com o objetivo de estabelecer avaliações com ações similares aos fundamentos dos jogos coletivos. Com o intuito de obter informações quanto aos níveis de desempenho motor da população jovem, constata-se o surgimento de diferentes tipos de testes motores, que estabelecem o comportamento de normalidade do desenvolvimento motor, como parte dos estudos de crescimento, além de poder comparar os níveis de aptidão física de crianças e adolescentes em diferentes amostras da população (Braz, 2008). Deste modo segundo Ronque et al. (2007) podendo contribuir para a melhoria de diversos componentes da aptidão física relacionada à saúde, como força, resistência muscular, resistência cardiorrespiratória, flexibilidade e composição corporal.
Buscamos alguns autores para justificar a criação de um teste de velocidade com mudança de direção em distâncias curtas. Para GODIK e POPOV (1999) os preparadores físicos devem mudar constantemente a forma de aplicação dos exercícios de velocidade. A velocidade deve ser treinada tanto no período preparatório, como no competitivo. No período competitivo, utilizar principalmente exercícios específicos e com bola, as distâncias exercitadas devem compreender entre cinco e setenta metros, com duração entre três e oito segundos. No sentido do tempo de duração encontramos em Bangsbo et al.(1991) o estudo em que cada jogador corre de 1000 a 1400 metros em velocidade de endurance, principalmente em deslocamentos curtos, com mudanças de direção a cada 4 – 6 segundos. No planejamento do teste sobre a distância utilizamos a referência de BANGSBO, 1994; REILLY, BANGSBO & FRANKS, 2000; WINKLER, 1985, onde relatam que durante uma partida de futebol, jogadores de alto nível realizam em média 100 corridas curtas rápidas (sprints) dos quais aproximadamente 65% não excedem 16 m. E por fim para explicar o formato do teste baseamos em Ekblom (1992) onde seu estudo caracteriza a necessidade do jogador realizar mudanças de direção, em função da trajetória da bola ou da disputa com o adversário. Esta afirmação vem de encontro com Acero (2000) onde define que a velocidade pode se manifestar de algumas maneiras no futebol, através de atos motores acíclicos e cíclicos que se repetem várias vezes: várias saídas e sprints, sem e com mudanças de direção, ações de jogo e de combate e resistência de velocidade com tomada de decisão rápida. Para Borges e Barbanti (2001) a administração de testes envolvendo apenas as habilidades motoras fundamentais tem sido recomendado para todas idades e níveis de aprendizagem, uma vez que se pode considerar que tais habilidades possuem as capacidades motoras básicas como força, velocidade e resistência, pois são atributos fisiológicos manifestados por todas as tarefas específicas do movimento.
Resumindo a necessidade de avaliar a potência no futebol através de arrancadas e mudanças de direção em distâncias curtas Weineck (2000) sugere força e velocidade são importantes para o atleta de futebol suportar a partida, pois sempre que exigidas ações decisivas e ligadas mais intimamente à potência anaeróbia como acelerações, frenagens, mudanças de direção, fintas, dribles e roubadas de bola, este atleta estará pronto para um bom desempenho de alta potência. Segundo SCHMID e ALEJO (2002), a velocidade é mais complexa do que correr o mais rápido possível. A velocidade no futebol inclui rapidez, tiros curtos, movimentos rápidos em todas as direções, a habilidade de reagir e parar rapidamente, velocidade e tempo de reação. Com estes estudos, citações e referências pretendemos justificar a criação deste teste específico ao futebol.
Público alvo
Nossa amostra compreende alunos regularmente matriculados em escola de futebol de Lages/SC, com cronograma de aulas 3 (três) períodos semanais com duração de duas horas aproximadamente. Para nosso estudo relacionamos um total de 23 (alunos) praticantes da modalidade de futebol, todos do sexo masculino, compreendidos na faixa etária entre 14 e 17 anos de idade.
Padronização do teste de velocidade com mudança de direção com e sem utilização da bola
Utilizamos para realizar o teste de velocidade, um campo de futebol gramado com as dimensões de 90 metros de comprimento, por 45 metros de largura, localizado no bairro Habitação na cidade de Lages/SC. O teste foi realizado com a padronização dos alunos em alguns critérios, como uniforme padrão, composto de shorts, camiseta e meias da escola de futebol e utilização de chuteiras. O horário de aplicação ocorreu das 14h às 16h, todos no mesmo local e data. Para mensuração do tempo utilizou-se cronômetro da marca SL888T Oregon, para todos os avaliados. Para o teste foi delimitado uma área de cerca de 20 metros, onde posicionamos cones para que os avaliados pudessem realizar as mudanças de direção, conforme esquema abaixo, onde a distância entre os cones 1 e 2 = 4 metros, distância entre os cones 2 e 3 = 4 metros, distância entre os cones 3 e 4 = 4 metros e a distância entre os cones 4 e 5 = 2 metros, distância entre os cones 5 e 6 = 2 metros e entre os cones 6 e 7 distância de 2 metros onde o avaliado realiza desaceleração do movimento.
O avaliado partirá para a realização do percurso na máxima velocidade após o sinal do apito do avaliador, percorrendo entre os cones conforme orientação acima e após cruzar completamente o cone de número 6 (seis) o tempo será mensurado em segundos. Sendo o espaço de 2 metros entre os cones 6 e 7 para desaceleração. Os testes foram realizados em duas etapas, inicialmente sem a utilização da bola e em velocidade máxima, e num segundo momento com a utilização da bola e o controle da mesma realizando todo o percurso mensurando os dois tempos.
Resultados
Os resultados encontrados para a amostra de 23 atletas estão expressos na tabela a seguir:
Média |
15,3 |
7,96s |
11,54s |
Desvio Padrão |
± 0,99 |
± 0,47 |
± 1,24 |
Conclusão
Por tratar-se da velocidade umas das capacidades físicas determinantes ao sucesso no futebol, entendemos ser necessário o desenvolvimento de diversos testes e exercícios condicionantes desta valência corroborando com Barbanti (1996) onde ele divide a velocidade em: velocidade de reação, velocidade de movimentos acíclicos, velocidade de locomoção (máxima) e velocidade de força, encontramos nesta forma de avaliação a presença destas quatro subdivisões da velocidade.
Ainda com referência em estudos anteriores a este, Weineck (2000, p. 356), classifica formas de velocidade e entre elas cita:
Velocidade de reação - reagir rápido em ações surpresas do adversário, da bola e dos companheiros de equipe.
Velocidade de movimento sem bola - realizar movimentos cíclicos e acíclicos em alta velocidade.
Velocidade de ação com bola - realizar ações com bola em alta velocidade.
Velocidade-habilidade - agir de forma rápida e efetiva em relação às suas possibilidades técnico-táticas e condicionais.
Todas estas formas de velocidade podem ser observadas no exercício objeto deste estudo. Sendo assim consideramos necessário comparativos posteriores com a mesma amostra para comprovar a validade de tal avaliação.
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