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Discutindo os conceitos de risco e 

saúde no campo da Educação Física

Discutiendo los conceptos de riesgo y salud en el campo de la Educación Física

 

*Graduandos do 8º semestre do curso de licenciatura em Educação Física pela

Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, BA

** Graduando do 9º semestre do curso de Medicina pela

Universidade Federal da Bahia, UFBA, BA

***Graduado do curso de licenciatura em Educação Física pela

Universidade Estadual de Santa Cruz e especialista em Saúde Coletiva

habilitação sanitarista pela Faculdade de Tecnologia de Ciências, FTC, BA

(Brasil)

Dirceu Santos Silva*

dirceu_09@yahoo.com.br

Kleidiana Cássia Silva Borges*

kleidicassia@yahoo.com.br

Marcel Ivan dos Santos*

marcelivans@yahoo.com.br

Thadeu Santos Silva**

thass_50@hotmail.com

Franklin Ferraz Santos***

franklin.f@bol.com.br

 

 

 

Resumo

          A discussão sobre risco é multifatorial, pois os grupos humanos criam estratégias fazem escolhas (ou não) sobre seus modos de viver, o que pode expô-los a diversas situações de risco. A racionalidade biomédica tem se pautado no conceito epidemiológico de risco, ou seja, utiliza diversos meios para contabilizar e medir o risco. Nesse sentido, o avanço das técnicas da biologia molecular muito contribuíram, entretanto, essa vertente preocupa-se em estudar estruturas cada vez menores do corpo humano, desconsiderando outros fatores inerentes ao risco que são estudados por outras áreas. O objetivo deste artigo é suscitar uma reflexão acerca do debate sobre o “risco” na Educação Física, assim como, analisar as concepções sobre saúde, fatores comportamentais de estilo de vida que influenciam no processo saúde-doença. Para isso, serão consideradas as questões de interesse/poder econômico, político e midiático. Constatou-se que os mecanismos midiáticos influenciam diretamente no entendimento dos conceitos relacionados ao “risco” e saúde. É perceptível ainda, a necessidade de conscientização social na busca de minimizar os riscos relacionados aos campos da saúde e educação física. Destaca-se ainda a necessidade de estudos mais consistentes que envolvam os “riscos” relacionados ao “sedentarismo” e “obesidade”, merecendo assim, mais destaque no meio acadêmico.

          Unitermos: Risco. Saúde. Educação Física

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    É crescente a quantidade de estudos que enfatizam o conceito de “risco”, bem como a forma como o termo tem sido debatido por diversos campos profissionais e que vem sendo frequentemente divulgado nos meios de comunicação de massa. Essas discussões focam em informações que tornam os indivíduos mais atentos aos aspectos cotidianos que influenciam diretamente a saúde de cada indivíduo, tais como: atividade física, a alimentação, o trabalho, as relações interpessoais, dentre outros múltiplos aspectos existentes que são de grande relevância para a saúde do indivíduo (VAZ, 2007).

    A tecnologia moral dita comportamentos e normas através dos meios de comunicação que veiculam informações e expõem todos os dias o sofrimento de pessoas estranhas que são vítimas de doenças, crimes, catástrofes naturais e tecnológicas (VAZ et. al., 2007). As notícias sobre saúde e risco na mídia sofrem influências dos poderes hegemônicos, interessados na veiculação de determinadas informações.

    Nesse sentido, Adorno citado por Rangel-S (2007, p. 1381) desenvolveu “o conceito de ‘indústria cultural’, para se referir aos meios de comunicação de massa, vistos como produtores de mercadoria ou bens de consumo culturais, em uma sociedade capitalista em expansão, configurando-se como poderoso mecanismo de dominação”, que faz com que os indivíduos vivam o presente na ameaça de riscos iminentes que podem desencadear futuras doenças.

    Atualmente, o "risco" ocupa um espaço de destaque nas discussões, concepções e práticas de saúde na contemporaneidade, inclusive na categoria de análise e reflexões acerca da produção científica em diversos campos de pesquisa. Esta preocupação com os riscos são debatidos em diversas áreas, desde a Saúde, Epidemiologia, Engenharia até Ciências Sociais, Econômicas e Políticas. No entanto, os focos destas discussões são distintos e na pesquisa presente, foram analisadas as reflexões acerca dos fatores de risco relacionadas ao comportamento humano “risco/sedentarismo” e “estilo de vida saudável” na contemporaneidade.

    Para a presente pesquisa, foram consideradas as interpretações antropológicas, sociológicas e filosóficas que trazem à tona as formulações críticas sobre os riscos na vida cotidiana, isto é, associam-no as questões de interesse/poder econômico, político e midiático.

    Dessa forma, o objetivo central do artigo foi suscitar uma reflexão acerca do debate sobre o “risco” na Educação Física e analisar como são tratadas as concepções sobre saúde, fatores comportamentais e de estilo de vida, que influenciam no processo saúde-doença.

Significado do risco na sociedade contemporânea

    Segundo o dicionário Houaiss, o significado da palavra risco “assinala a ideia de perigo mais ou menos previsível e enfatiza a variante de origem italiana rischio (séc. XIII) no sentido de perigo relacionado a uma ação, do direito marítimo, ou na tradição militar; sorte ou má-sorte de um soldado”. Logo, o risco aparece como probabilidade de ocorrer um determinado evento negativo ou não, em decorrência de fatores que estejam influenciando as suas ações concretas (CASTIEL, 1996).

    Segundo Luhmann (1998 p.72) “o conceito de risco considera uma diferença de tempo, isto é, a diferença entre o julgamento anterior e o julgamento posterior à ocorrência da perda”. Assim a administração do risco (futuro) vai depender da racionalidade em que as decisões serão tomadas, com base na probabilidade de ganhos e perdas em tempos distintos.

    Na sociedade contemporânea, o risco é posto como elemento central da racionalidade individual e coletiva diante das incertezas da vida (CZERISNIA, 2004). Para Mitjavila (2002) o conceito de risco apresenta diversos sentidos que variam de acordo com o setor e o fim ao qual ele está sendo empregado. Explicita que na medida em que o risco se opera por intermédio de probabilidade ou improbabilidade de ocorrência futura, qualquer mensuração torna-se fictícia e, portanto sem compromisso. O interesse científico sobre o risco é tido como consequência da necessidade de identificar tanto as bases, quanto os resultados sociais da vida moderna.

    O risco como elemento probabilístico, de um lado, permite “conhecer” as potencias fontes de agravo, adoção de medidas preventivas, bem como de segurança e, de outro, acabam gerando ansiedade e incerteza. Estes se referem à diversidade de fatores de risco e das dificuldades em se estabelecer o estado de saúde, “pré-saúde” e doença (CASTIEL e GUILAM, 2006).

    É válido ressaltar que o conceito de risco não está exclusivamente relacionado à área de saúde. Disciplinas como Epidemiologia, Engenharia, Ciências Sociais, Políticas e Econômicas, trabalham com o risco para avaliar possíveis custos e perdas. Um exemplo do cotidiano são as seguradoras de carro e de vida que quantificam os valores desses seguros proporcionais aos níveis de riscos de acidentes. Estudos desenvolvidos por uma equipe de pesquisa em Economia da Saúde da Universidade de York, na Inglaterra, apresentaram formas de quantificar a qualidade de vida e o risco. O QALY (Quality-Adjusted Life Years) é obtido através de “um cálculo acumulado (por área geográfica ou divisão geopolítica) dos anos com qualidade de vida não-vividos por motivo de doença, incapacidade ou morte”. E o DALY (Disability-Adjusted Life Years), tem como objetivo medir o tempo de vida com incapacidade e tempo perdido devido à mortalidade prematura, sendo ambos indicadores de saúde (ALMEIDA FILHO, 2000, p.11).

    Corroborando com a ideia, Lupton (1999) afirma que a noção de risco é multiforme, envolvendo assim aspectos: ambientais (diferentes tipos de poluição), econômicos (miséria, desemprego), condutas pessoais e/ou estilo de vida (maneiras de comer, beber, fumar e não exercitar-se), dimensões interpessoais (forma inadequada de manter relações sexuais), e “criminais” (relacionado à violência urbana).

    Assim, os epidemiologistas modernos passaram a medir os fenômenos ligados a promoção da saúde e ao adoecimento. Para tal, julgaram necessário quantificar, criar indicadores que medissem a morbidade nas populações e possibilitassem comparações entre populações diferentes para determinar fatores de risco e de proteção (CASTIEL e GUILAM, 2006).

    Segundo Gabe (1996) o discurso da saúde pública em geral classifica o risco em duas categorias: os ambientais, relacionados ao meio onde os indivíduos vivem e aqueles resultantes de determinado estilos de vida e/ou condutas pessoais.

Influência da mídia no controle de risco e percepção de saúde

    Os meios midiáticos que veiculam conhecimentos sobre o controle de risco em grande escala, são na maioria das vezes, contraditórios e não adquiri a confiança de toda a sociedade. Os indivíduos são constantemente “bombardeados” por informações que qualificam determinado alimento, por exemplo, como essencial à saúde do indivíduo e posteriormente, afirmam que o mesmo alimento é o “vilão” da saúde. Diante disso, é importante pensar uma forma de comunicação de risco com maior credibilidade no que se refere à confiabilidade da informação e maior alcance social (VAZ, 2007).

    O estereótipo divulgado e os padrões de corpo estabelecidos pelos meios de comunicação de massa influenciam diretamente o estilo de vida das pessoas. A busca pelo corpo perfeito e/ou utópico também está relacionada aos programas e ao conceito de saúde propostos pela Organização Mundial de Saúde que, em 1986, ao afirmar que a saúde não pode ser mais vista como a ausência de doença, mas sim como um estado de completo bem-estar físico, mental e social (ALMEIDA FILHO, 2000).

    Este conceito de saúde continua influenciando diretamente os indivíduos na busca de um bem-estar e/ou corpo perfeito improvável de se conseguir, pois a todo o momento os indivíduos estão passando por algum tipo de distúrbio fisiológico, emocional, espiritual ou mental. No entanto, mesmo com esta influencia construída historicamente é notório que o conceito de saúde que vigora na atualidade, foi formulado na VIII Conferência Nacional de Saúde, que a caracteriza como resultado das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso a posse de terra e aos serviços de saúde. Assim sendo, o conceito de saúde é ampliado não ficando limitado apenas a ausência de doenças (MINAYO, apud PALMA, 2001).

    Czeresnia (2004) afirma que, o controle do risco é um aspecto inerente ao processo civilizador. Segundo Freud (Apud Czeresnia, 2004, p. 252) ainda diz que “tudo que se busca com o fim de proteção contra ameaças de sofrimento humano faz parte da civilização”. Nesta perspectiva Freudiana, em que as estratégias de prevenção de doença são entendidas como capazes de disciplinar os sujeitos, a lógica de normalizar diretamente o comportamento dos indivíduos e grupos sociais caminha com o conceito de risco. Czeresnia (2004, p. 452) vai além ao afirmar que:

    [...] ocorre então um processo de regulação em que os sujeitos são impelidos a realizar voluntariamente escolhas saudáveis orientadas por cálculos de risco. Neste contexto, risco na sociedade de hoje é compreendido como tecnologia moral, através das quais indivíduos e grupos sociais são manejados para estar em conformidade com os objetivos do Estado neoliberal. Cria-se uma esfera de liberdade para os sujeitos, para que estejam aptos a cuidarem de si mesmos, exercendo uma autonomia regulada.

    Sabe-se ainda que um dos mecanismos para o controle de risco na sociedade é a comunicação de risco, que surgiu nos Estados Unidos da América na década de 1980 e tem como objetivo criar estratégias estruturadas para lidar com os riscos ambientais e ocupacionais desenvolvidos na sociedade.

    Segundo Lucchese (2001) a comunicação de risco nos países desenvolvidos busca o bem-estar público através da proteção da população e promoção dos interesses sanitários. Nos países periféricos é relatado o inverso, visto que o tema é altamente negligenciado pela comunicação do risco, sendo voltado para os valores estéticos como a implantação de próteses de silicone, cirurgias de redução de estômago, utilização de hormônios de crescimento e de hormônios para ganho de massa muscular.

    Dessa forma, surge a necessidade de criar meios de comunicação mais seguros para que possa influenciar de forma positiva os países menos desenvolvidos, já que atualmente a comunicação ainda acontece de forma equivocada com um discurso voltado apenas para os padrões estéticos.

    Quando a informação é transmitida de forma inadequada pode levar o indivíduo a “culpabilização”. Bagrichevsky et al. (2007) acrescenta que a exposição a um determinado risco na sociedade atual é capaz de gerar um forte sentimento de culpa nas pessoas quando se afastam da normalidade do corpo magro, belo, jovial e esbelto. Comportamentos como a ingestão de bebidas alcoólicas em grande quantidade, comidas gordurosas no caso da obesidade, inatividade física quando apresentam doenças coronarianas, o fumo relacionado ao câncer de pulmão, dentre outros estilos de vida são considerados danosos à saúde e ganham destaque nos meios de comunicação de massa.

    Assim, a comunicação é de grande relevância e têm um poder de transformação de comportamentos ruins em hábitos considerados mais saudáveis. Apesar dos benefícios, observa-se que o processo de veiculação do conhecimento através dos meios midiáticos apresenta-se falho no que se refere ao estabelecimento de um consenso entre os leigos e cientistas, pois a linguagem destes não é entendida pelos leigos. Logo, seria necessária uma transmissão com uma linguagem que alcance o máximo de pessoas, isto é, de fácil entendimento (VAZ, 2007).

Debate sobre risco na Educação Física e Saúde

    Frente a esses questionamentos e inquietações, surge a necessidade de refletir como a Educação Física se enquadra nesse contexto. Logo, observa-se a importância da atividade física na minimização dos riscos relacionados ao conceito de saúde.

    O discurso da ausência de atividade física no mundo contemporâneo, isto é, o sedentarismo associado ao estilo de vida, gera implicações na saúde do indivíduo e das coletividades. Segundo Bagrichevsky et al. (2007), as políticas estatais do Brasil têm vinculado à ideia de utilizar e prescrever práticas de atividades físicas como forma de minimizar os efeitos “nocivos” do sedentarismo. Essas práticas físicas servem de combate às doenças crônicas degenerativas que se fundamentam nas teorias etiológicas do estilo de vida e nas constantes produções estatísticas em saúde delineada por pesquisas epidemiológicas.

    Fraga (2006) acrescenta ainda que os programas de promoção em saúde apresentam a atividade física como um elemento central na busca de um estilo de vida ativo. Segundo Kavanagh e Broom (1998), os estilos de vida podem ameaçar a integridade moral do indivíduo a partir do momento que se associa às escolhas e atitudes equivocadas, levando o indivíduo a auto-culpabilização por praticarem condutas morais que se afastam do conceito defendido por pesquisadores.

    É pertinente ressaltar que não existe o intuito de negar os efeitos benéficos da atividade física sob o ser humano. Todavia, o discurso é norteado na perspectiva de analisar como essas práticas de atividade física são impostas pela sociedade capitalista sem observar o contexto nos quais os indivíduos estão inseridos.

    A questão central refere-se à expropriação dos valores e significados das práticas da cultura corporal, que são expostas e perpassam pelo imaginário social das coletividades numa perspectiva impositiva, medicalizada, culpabilizante, balizada pelo contingente de gastos calóricos para se evitar os riscos à saúde. Atualmente, muitas pesquisas biomédicas estudam a relação da diminuição da prática de atividade física diária (sedentarismo) com os comportamentos danosos à saúde na tentativa de fundamentar essa noção de comportamentos de risco (BAGRICHEVSKY et al, 2007).

    Fraga (2006) ainda afirma que a atividade física realizada de forma compulsória pode levar a diminuição dos riscos relativos ao sedentarismo em determinado grupo e circunstâncias. O valor atribuído à prática de atividade física está cada vez mais vinculado às melhorias no rendimento orgânico por ela proporcionada. Nessa perspectiva Vaz (2007) afirma que a atividade física como aspecto da vida influencia diretamente o processo saúde-doença e tem interferências diretas nos organismos dos indivíduos que praticam certas atividades.

    Na Educação Física, Bagrichevsky e Estevão (2007) abordam um crescimento de produções científicas dos últimos anos sobre a temática do sedentarismo relacionada ao estilo de vida o qual vem se multiplicando nas investigações epidemiológicas e ganhando destaque no que se refere à consequência de vários agravos na saúde da população. Noutra perspectiva, vale salientar que o profissional de Educação Física não deve restringir-se apenas as atividades físicas, estilos de vida, sedentarismo e obesidade. É preciso entender os fatores ambientais, socioeconômicos, políticos, além do acesso ao lazer, saneamento básico, dentre os múltiplos aspectos em que cada indivíduo está inserido.

    Para Bagrichevsky et al. (2007) a cultura do risco enfatiza bastante o valor das escolhas pessoais na construção do estilo de vida. Entretanto, não são todas as classes sociais que têm a possibilidade de se desvencilhar de comportamentos de risco. Um exemplo comum em países do terceiro mundo diz respeito aos trabalhadores rurais que se expõem a condições de trabalho que extrapolam o limiar de esforço suportado pelo corpo. Podemos citar os trabalhadores “bóias frias” colhedores de cana que morrem por excesso de esforço laboral. Corroborando com a ideia, Castiel (1996) faz uma reflexão pertinente ao abordar:

    Uma crítica comum ao conceito estilo de vida é referente à sua difícil utilização em contextos de miséria e aplicação a grupos sociais em que as margens de escolha praticamente inexistem. Muitas pessoas não elegem estilos para levarem suas vidas. Não há opção disponível. Na verdade, nessas circunstancias, o que há são apenas estratégias de sobrevivência (CASTIEL, 1996, p. 258).

    Segundo Castiel (1996, p. 238), parece haver uma percepção coletiva sobre os riscos como “uma aura de ameaça sobre todos nós”, que pode se efetivar de maneira particularizada a qualquer momento.

    Assim, percebe-se que as pessoas buscam viver mais e melhor, e para isso muitos procuram se adequar a um estilo de vida dito saudável apresentado pelos meios de comunicação de massa, que deram grande vazão ao crescente número de estudos sobre o risco através de tecnologias disseminando informações à população.

Considerações finais

    Longe de chegar a uma conclusão, fica evidente que os termos: “risco” e saúde relacionados à Educação Física necessitam de uma discussão mais consistente, já que esta relação estudada pode melhorar o entendimento acerca do processo saúde-doença, sendo de grande relevância para minimizar os “riscos” como a inexistência de práticas de atividades físicas (sedentarismo), obesidade, relações interpessoais, trabalho, dentre outros elementos que proporcionam riscos a saúde.

    Vale salientar ainda uma questão pertinente relacionada aos agravos decorrentes das causas externas, dentre elas os acidentes automobilísticos, visto que, as mortes por acidentes de carro têm crescido assustadoramente e na maioria das vezes são provocadas pela alta velocidade associada a outros fatores como alcoolismo, sinalização, qualidade de estradas, rodovias etc. Neste contexto, é preciso pensar os riscos existentes na sociedade, desde riscos relacionados à saúde até os relacionados a comportamentos sociais com o intuito de minimizá-los, seja por meio de comunicação de massa, seja por meios educativos e preventivos.

    É preciso repensar o comportamento que é praticado relacionado ao risco e que está intimamente incentivado pela sociedade, meios de comunicação de massa e até mesmo pela família. Estas exposições ao risco, muitas vezes estão diretamente ligada ao “status” social, como é o caso dos esportes radicais, gênero do qual fazem parte o bungee jumping, o rafting e o montanhismo na modalidade escalada, por exemplo, que aumentam a possibilidade de acontecer um acidente. No entanto, ainda continuam ganhando destaque nos meios de comunicação de massa e são praticados em busca de um destaque social. Outros riscos ainda mais abrangentes como os “pegas de carros” ou “rachas” que aumentam o risco coletivo de acontecer alguma tragédia, mas, mesmo assim, tem um crescente público.

    Ocorre que os indivíduos são incentivados a realizar “voluntariamente” escolhas saudáveis, pautados em cálculos de risco. Desta forma, o risco na sociedade contemporânea é considerado como tecnologia moral, através da qual pessoas e grupos sociais são impelidos a estar em conformidade aos objetivos de grupos políticos e econômicos dominantes.

    Diante do exposto, percebe-se que os riscos relacionados à saúde se referem a um processo mutifatorial, que recebe influência diretamente dos meios de comunicação de massa. Sabe-se que são múltiplos os riscos que encontramos nas sociedades contemporâneas e o sedentarismo é apontando como um dos fatores de risco mais importantes, já que pode influenciar no aparecimento e agravo de doenças crônico-degenerativas. Neste contexto, observa-se que o estilo de vida ativo relacionado às atividades físicas é de fundamental importância na saúde dos indivíduos, no entanto, é necessário pensar o contexto em que está sendo aplicada.

    Contudo, espera-se que estudos na área de Educação Física atentem aos conceitos e programas de saúde pública que interferem na construção da corporalidade humana e que na atualidade não condizem com a realidade social.

Referências

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