Eficácia da prática bio-operacionalizada de exercícios em mini cama elástica sobre funções neurais básicas de escolares Eficacia de la práctica bio-operacionalizada de ejercicios en mini cama elástica sobre funciones neuronales básicas de escolares Effectiveness of the practice of physical activities on small elastic bed upon basic neural functions of school children |
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*Graduanda em Educação Física Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro **Mestrando em Ciência da Motricidade Humana LABNEU II, UCB- LANPEM/CNPq/UCB/RJ ***Doutor em Fisoterapia Membro conveniado do Laboratório de Neuromotricidade e Perfomance Motora (LANPEM) Universidade Castelo Branco/RJ Pesquisador do Centro Universitário de Caratinga – MG ****Mestre em Educação, Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro *****Doutor (Ph.D) em Aprendizagem e Desenvolvimento Motor Coordenador do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Neuromotricidade e Perfomance Motora (CNPq). Universidade Castelo Branco/RJ |
Aline Ribeiro Costa* Carlos Magno Monteiro Silva** Marcus Vinicius de Mello Pinto*** Edvaldo de Farias**** Vernon Furtado da Silva***** (Brasil) |
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Resumo Este estudo verificou se a prática de exercícios em mini-cama elástica pode beneficiar o desenvolvimento de funções de processamento neural que são normalmente vinculadas à realização de tarefas de alta ordem cognitiva, definidas neste estudo como tarefas de demandas bio-operacionais. A amostra foi composta por 18 crianças na faixa etária media de 10 anos, estudantes de uma escola da rede privada, no Rio de Janeiro, sendo que 9 deles são praticantes da modalidade de exercícios em cama elástica (Grupo Experimental) e, os outros nove, não praticavam estes exercícios, e sim os relacionados com as atividades de Educação Física. As tarefas de testes incluíram, teste de reação para estímulos visuais, em situações de complexidade e não-complexidade à estruturação da resposta e de 4 outras relacionadas aos itens de uma bateria psicomotora. Duas delas dependentes de demandas cognitivas altas (bio-operacional) e, as outras duas, baixa demanda cognitiva (bio-estrutural). Os dados referentes ao tempo de reação foram estudados por uma ANOVA 2 (grupos) x 4 (escores pré e pós-período de exercícios) e os escores dos itens da bateria, pelo teste “t” de student. Em ambos os casos, o grupo experimental foi significativamente superior ao controle nos testes, cujas tarefas eram de demandas cognitivas altas, mas não quando estas demandavam cognição baixa. Estes resultados foram interpretados em favor da importância de uma metodologia de referência construtivista, mesmo em tarefas tão técnicas quanto às específicas dos exercícios na cama elástica. Unitermos: Aprendizagem motora. Desenvolvimento psicomotor. Mini-trampolim. Métodos de ensino
Abstract This study has examined the if practice of exercises in mini-elastic bed can benefit the development of neural processing functions, which are usually linked to performance of high-order cognitive tasks, demanding a high bio-operational processing level. The sample comprised 18 children aged 10 years of media, students of a school's private network in Rio de Janeiro, with 9 of them being practitioners of the form of exercises in bed elastic (Experimental Group) and the other 9 do not practiced these exercises, but were related to Physical Education basic activities. The tasks were tests of reaction to visual stimuli, in situations of complexity and non-complex structure of the response. For the 4 items related to the psychomotor battery two of them depended on higher cognitive demands (bio-operational) and the other two, low cognitive demand (bio-structural. Data of the reaction time were studied by an ANOVA 2 (groups) x 4 (scores before and after period of training) and for the scores of the battery items, was used the student “t” test. In both cases, the experimental group was significantly superior to the control one, when the duties were of high cognitive demands, but not when they demanded low cognition. These results were interpreted in favor of the importance of teaching by constructivist methods, even in tasks such as the specific for mini tramp exercises. Keywords: Motor learning. Psychomotor development. Mini-tramp. Teaching method |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010 |
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Introdução
Problemas de aprendizagem são comuns em qualquer área de estudos e ensino e podem ser pensados como ligados ao organismo do aprendiz, e/ou ao meio ambiente no qual o processo se desenvolve.
Neste contexto, a aprendizagem de tarefas motrizes tende, naturalmente, a oferecer meios que incentivam a prática e o envolvimento, bastando, ao professor, a sabedoria de compor as suas aulas na forma mais atraente possível e atuar de forma harmônica em seu projeto pedagógico, promovendo reforços, correções e feedback emocional, de forma que o aprendiz possa utilizá-los devidamente.
Por conseguinte, um fator muito importante em relação à função do educador físico é o entendimento pleno sobre os meios e fins do conteúdo a ser ensinado. Para tanto, além da tarefa de ensinar, o mesmo precisa atrelar às suas funções docentes, a referência da pesquisa em torno da efetividade do método utilizado.
A busca por técnicas e ou material alternativo ou mais atraente para o desenvolvimento de aulas tem levado profissionais na área da Educação Física à utilização de novos instrumentais que precisam de formulações científicas em termos da adequação do seu uso.
Um destes é o Mini-trampolim, instrumento que tem se mostrado altamente apreciado por crianças em todas as faixas de idade, fato que, em muitos casos, leva-as a o preferirem sobre outros, antes, convencionalmente utilizados (SHIELHLL, 2006).
Um dos estudos bastante interessante sobre este assunto, foi realizado em função do nível de impacto quando do salto sobre os pés (ALVES; LIMA, VILLAS, 2008). Neste estudo ficou comprovado que níveis de impacto brandos não promovem qualquer tipo de lesão física, sendo recomendados à prática do mini-trampolim por crianças e pré-adolescentes. Outros estudos focaram sobre a eficácia da prática em termos de aprendizagem específica, tais como coordenação motora e equilíbrio (CURY; MAGALHÃES, 2006).
A despeito da aceitação de uso, até que ponto uma participação sistemática em programas desta natureza pode ser realmente efetiva em termos de desenvolvimento da motricidade mais ampla do seu praticante? De acordo com a divisão implícita no compêndio global da motricidade humana, esta pode ser dividida em dois blocos normalmente definidos como bio-estrutural e bio-operacional (CALOMENI et.al, 2009). O primeiro relacionado a qualidades físicas utilizadas em tarefas com demanda de baixa análise cognitiva e, o outro, quando a demanda, nestas, requerem níveis altos de gerência cognitiva.
Em referência a prática de movimentos da mini cama elástica poder-se-ia, a princípio, derivar-se uma hipótese de que esta deveria resultar em desenvolvimento de condições bio-estruturais por natureza. Mas ao se considerar a possibilidade teórica de que o método de ensino pode influenciar no resultado da prática, emerge a possibilidade de que um programa de base construtivista possa promover, também, ganhos de ordem bio-operacional.
A presente pesquisa se destina a examinar esta possibilidade, visto que, para ser considerada como uma tarefa eficaz ao desenvolvimento da criança, em ambos os domínios, bio-estrutural e bio-operacional da sua motricidade precisam ser garantidos em termos das exigências implícitas na sua prática.
A literatura, aponta algumas atividades psicomotoras que tendem a acelerar certos processos e mecanismos neurais que se reflete sobre a competência hábil-motriz das mesmas (GUEDES; MELO; TEODÓSIO, 2004). Considerando-se a possibilidade teórica de que algumas atividades psicomotoras influenciam, em uma maior proporção, o desenvolvimento hábil-motor da criança e que faltam pesquisas elucidativas e especificamente voltadas para este fenômeno, o foco de orientação da presente proposta de pesquisa está direcionado ao exame de tal possibilidade.
Aprender em qualquer domínio ou classe objetiva não é uma condição simples. O contexto da estruturação do ensino polemiza entre dois fatores fundamentais: à vontade de aprender e a condição de ensinar; e ambos os casos a motivação e a estruturação do ensino são fatores excepcionalmente relevantes (SANCHES et al, 2004).
Para Barros (2005) o universo infantil é vasto e rico de estímulos variados, portanto é de suma importância que a criança experimente diversas oportunidades de movimento durante a infância, permitindo a mesma um amplo acervo motor. Sua motricidade é justificada por sua própria existência no mundo, integrando-se com fatores sociais e ambientais, encontrando-se influenciada por uma série de limitações de várias naturezas, gerando desequilíbrio entre os corpos mentais, emocionais, físico ou cósmico (PEREIRA, 2005).
De acordo com Mascarenhas et al (2004) o desenvolvimento motor é visto como um processo complexo, contínuo que se estende ao longo da vida, ocorrendo em seqüência ontogênica, em termos de pré-requisitos. Essa contínua alteração no comportamento, acontece por meio da necessidade das tarefas, da biologia do indivíduo e o ambiente em que ele vive, viabilizado tanto pelo processo evolutivo quanto pelo social.
Em cada idade e de acordo com a maturação biológica, e acumulação de experiência, o desempenho locomotor da criança se aprimora. Cada aquisição influencia na anterior, onde os movimentos tomam características mais significativas (GOBBI et al, 2007).
Desta forma, aprender é mudar um comportamento em função da experiência e das trocas de informações com o meio. Todo este evento só se torna viável através da plasticidade de processos neurais cognitivos, que possibilitam o aprendizado de tarefas incorporadas em diferentes maneiras no cérebro (CUNHA et al 2004).
De acordo com Andrade e Luft (2006), através de determinadas áreas cerebrais, emergem os processos cognitivos que envolvem planejamento e organização de seqüência de estruturação motriz, com o envio das ações específicas aos movimentos planejados. Outras áreas do cérebro também são responsáveis por ajustes constantes durante a execução de movimentos. Todavia, para a execução de novas habilidades motoras, fazem-se necessários ajustes cognitivos que dependem, até certo ponto, da competência abstrativa do executante. Ou seja, uma dependência de cognição de alto nível, conseguida em função da prática e da experiência, correlatas a síntese de feedback efetivo (CHIVIACOWSKY et al, 2007).
Por ser o corpo, um dos meios inerentes à aquisição motora, incluindo os aspectos cognitivos e afetivos do evento de aprendizagem, pode-se deduzir, conforme afirma Valentini et al (2008), que qualquer trabalho que tenha por finalidade potencializar o desenvolvimento de habilidades motoras é essencial à identificação do nível de desenvolvimento e capacidade operacional do aprendiz. No entanto para Oliveira (2002) existem poucos estudos descrevendo padrões de atividades físicas em escolares e suas determinantes. Infelizmente, como destaca este mesmo autor, estes dados não são, ainda, conhecidos em termos significativos, portanto, até certo ponto o quadro da situação dessa população, em termos de perfis de motricidade precisa ainda ser definido.
Por sua natureza dinâmica, a mini cama elástica, gera instabilidade no equilíbrio estático e dinâmico e conseqüente necessidade de processamento mental rápido, assim como análises espaciais temporais e suas consciências sobre o corpo (SHIELHLL, 2006).
Apesar de Merida e Massagardi (2002), relatarem escassez de bibliografia referente aos métodos de ensino sobre mini cama elástica, onde a mesma é considerada por eles um equipamento novo, Dornelles, Steigleder e Padilha (2006) por desconhecerem da utilização de mini cama elástica como instrumento de ensino consideram este, um recurso material perigoso e de difícil acesso.
De encontro a essa afirmação, pode-se dizer que na mini cama elástica, ocorre o que os físicos chamam de “impulso” sobre o aluno, que deve ter o mesmo valor caso o aluno saltasse sobre o solo (igual à variação da quantidade de movimento). Entretanto, como a interação do aluno com a mini cama elástica é mais demorada, o tempo decorrido para a força de reação anular sua quantidade de movimento é bem maior que na queda sobre o solo rígido, pois o tempo de interação do praticante com o solo duro é de apenas alguns milésimos de segundo (SILVA, 2009).
Como dito por Máximo e Alvarenga (2003), o impulso é definido como sendo igual à força multiplicado pelo tempo. Observa-se então que para que seja produzido o mesmo impulso, o valor da força de reação será muito menor na colisão com a mini cama elástica.
Por esse motivo, analisando-se a partir dos conceitos da física e sua da matemática, fica evidente que os níveis de impacto que normalmente se processam nos exercícios na cama elástica, não apresentam força que possa comprometer componentes ósseos e/ou articulares, desde que efetivamente controlados nas condições acima expostas.
Analisando-se o que foi acima discutido, pode-se hipotetisar em referência, que os exercícios que compõem o quadro de práticas na cama elástica, dispõem de uma variedade de movimentos que podem ser úteis ao desenvolvimento de várias competências inerentes à motricidade da criança ou de indivíduos em idades mais avançadas. Todavia, para ser utilizada com preceitos profissionais relacionados à efetividade e ética de ensino, os mesmos precisam ser comprovados como tal.
Materiais e métodos
A referente pesquisa se ateve à verificação de possíveis contribuições que um programa prático de exercício em mini cama elástica, com vista ao desenvolvimento psicomotor de escolares na média de 10 anos idade, estudantes de ensino fundamental em uma escola de rede privada localizada num bairro da zona oeste do Rio de Janeiro.
A amostra foi composta por 18 (dezoito) alunos, voluntários, de ambos os gêneros na faixa etária de 10 (dez) anos, sendo todos eles estudantes do ensino fundamental de um bairro considerado de classe média alta, estes não praticantes de nenhuma atividade física que não a educação física escolar comum. Conforme o exposto pelo setor de saúde da Instituição, todos os alunos foram verificados como isentos de qualquer relato de disfunção neuromotora. A seleção dos mesmos ocorreu sob um formato aleatório, na constituição de dois grupos. Um destes o grupo experimental (praticante de mini cama elástica) e o outro, grupo controle (não praticante de mini cama elástica). O primeiro incluindo crianças que praticavam tal atividade por dois anos na data do início da pesquisa. Foram aferidos resultados de um pré-teste (tempo de reação/Dupla escolha) há aproximadamente um ano atrás, em ambos os grupos, e atualmente estes mesmos grupos realizaram novamente o mesmo teste definindo a situação de pós-teste.
O estudo atendeu às normas para pesquisa com seres humanos, conforme a orientação do Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, e aprovado pelo Comitê de Ética na pesquisa - CEP da Universidade Estácio de Sá (UNESA/RJ), registrada sob o número CAAE- 0242.0308.000-0. Os representantes dos alunos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, tornando-os cientes de todo o processo. A instituição através da figura de seu responsável também assinou um termo de consentimento autorizando a utilização de suas instalações para realização da pesquisa.
Para atender os objetivos implícitos na configuração metodológica deste estudo, foi necessária a utilização de dois instrumentos de testes. Sendo eles: Bateria Psicomotora (Vitor da Fonseca, 1995), um instrumento validado e utilizado em várias pesquisas do mesmo tipo (Almeida, 2006). Sendo utilizados desta, itens de bases bio-operacional e bio-estrutural, e do Manual da Bateria em seu item de significação psiconeurológica dos fatores psicomotores (Fonseca, 1995). Um outro teste utilizado foi o teste de tempo de reação motora em situação de dupla escolha (AMARAL, 2002). Aplicado com o objetivo de verificação da eficácia de operação mental dos grupos, em situação de baixa ordem de cognição (bio-estrutural) e alta demanda cognitiva (bio-operacional). Configurado em um soft estruturado para tempo real, o qual permite a manipulação dos contextos inerentes às necessidades do estudo. O soft foi operacionalizado em um computador da marca Sansung (SyncMater-551), Pentium 4- 2.6, 1 GB, com 40HD.
Em relação à intervenção, os procedimentos ocorreram de tal forma: Os participantes dos grupos foram testados de forma individual, não sendo permitida a assistência nem dos componentes do outro, nem do próprio grupo. O local de teste foi mantido silencioso, ambiente claro, arejado e próprio para a devida análise da tarefa a ser executada em cada momento dos testes. Para os testes da bateria psicomotora foram selecionados tarefas de estruturação bio-operacional, representados pelos fatores equilibração (um subfator do grupo de testes de equilíbrio estático) e estruturação espaço-temporal (um subfator do item organização e estruturação dinâmica), ao todo, somando-se 6 itens da referida bateria de testes. Os mesmos foram operacionalizados sob testes de acordo com os procedimentos definidos no manual da bateria. Em ambos os fatores, o sucesso da performance (escores) dependia do uso sistematizado de operações mentais lógicas e criativas que caracterizam o uso da bio-operacionalidade quando da execução das tarefas.
Antes da verificação da performance em cada teste desta bateria, foi feita uma demonstração pelo pesquisador. Após a demonstração, foi perguntado, a cada criança se havia entendido bem a tarefa. Após a confirmação, foi solicitado que a mesma iniciasse o teste.
Após os testes da bateria psicomotora, a criança em situação de teste foi encaminhada para a verificação de tempo de reação motora. Neste teste a criança executou 20 tentativas, sendo 10 delas, na versão bio-estrutural (baixa demanda cognitiva) enquanto que as outras 10 tentativas ocorreram na versão bio-operacional. Sentada diante da tela, a criança foi instruída para acionar uma tecla (determinada) tão logo um ponto iluminasse na cor verde, no lado direito ou esquerdo da tela. Uma lâmpada (led) amarela que aparecia no centro da tela do computador (sobre os dois pontos destinados ao aparecimento da luz verde) indicava a necessidade da criança estar atenta à iluminação do ponto verde (“atenção”). Após o sinal amarelo, um dos dois possíveis pontos de cor verde era iluminado (aleatoriamente), momento em que a tecla (em linha com ele) era acionada pela criança (versão bio-estrutural). Na versão bio-operacional, a tecla era acionada de forma cruzada (ponto-verde à esquerda com a mão direita e vice-versa). Foi recomendado que a resposta fosse feita “tão logo” o ponto verde iluminasse. A cada 5 tentativas, esta recomendação era novamente efetivada. Foi dado um descanso de 5 minutos entre os testes bio-estrutural e bio-operacional. Antes de iniciar cada grupo de execuções reais, foi dada 2 (duas) tentativas como prática, visando-se a adaptação da criança à tarefa. Este procedimento ocorreu para as duas modalidades de testes.
O grupo experimental (praticante de exercício em mini cama elástica) se exercita, regularmente, nesse instrumento, duas vezes por semana em dias alternados, com duração de 45 minutos por sessão. Os exercícios são estruturados e orientados por um profissional da área de educação física, onde o mesmo une conhecimentos variados a fim de executar, no seu plano de aula, conteúdos, estratégias, metodologias e objetivos a fim de atender as necessidades do grupo trabalho. Considerando esta pratica atraente e dinâmica, ela por sua vez oferece oportunidades de exploração de movimentos diversos, realizada ao som de músicas variadas. O estabelecimento onde ocorre à prática oferece aos praticantes boas instalações, utilizando um recurso material (cama elástica), apresentando as seguintes características: 20 cm de altura e 97 cm de diâmetro com estrutura de ferro, sem marcas, organizado dispostamente em intervalo pela sala (espelhada) onde o espaço físico capacita em média 20 mini camas elásticas.
Convêm ressaltar que o método utilizado obedece a uma organização visualizada sob a essência da prática construtivista, considerando-se a permanente necessidade do aprendiz analisar, refletir, testar todo o contexto de suas ações de aprendizagem.
Resultados e discussão
A seguir serão apresentados os resultados obtidos na coleta de dados. Para efeito deste estudo, utilizou-se de dois tipos de estatística no estudo dos dados, ou seja, descritiva e inferencial. Na descritiva os fatores de interesse foram à média e desvios-padrão dos grupos, comparados em termos dos escores obtidos tanto nos itens da Bateria Psicomotora, quanto no tempo de reação motora, sendo este relacionado com a natureza bio-estrutural e bio-operacional das tarefas estudadas. Estes dados estão mostrados na Tabela 1.
Tabela 1. Escores médios e desvios padrão dos grupos experimental e controle no teste de reação motora (bio-operacional)
O teste de homogeneidade de variância identificou que a amostra da pesquisa era homogênea com índice 0,147>0,05. Já o escore da ANOVA aplicada (0,01<0,05) mostrou que na comparação entre os dos dados dos grupos controle (não praticante de mini cama elástica) e o grupo experimental (praticante de mini cama elástica) ocorreram diferenças estatisticamente significantes.
Como teste complementar, para se determinar onde ocorreram essas diferenças o teste de Tukey mostrou através das múltiplas comparações, que o grupo experimental no pós-teste teve um desempenho estatisticamente significante quando comparados ao pré e pós-teste do grupo controle. Esse resultado não se repetiu com os dados do pré-teste deste mesmo grupo, onde, nas comparações feitas, não foram observadas quaisquer diferenças estatisticamente significantes. A figura 1 deixa claro este fato.
Figura 1. Escores médios dos testes de tempo de reação motora associados ao grupo de prática na cama
elástica (experimental), dimensões bio-operacional e bio-estrutural, em versões pré e pós-período de prática
Na Tabela 2, observa-se os resultados dos testes posteriores de Tukey, buscando-se verificar a localização das diferenças encontradas pela ANOVA.
Tabela 2. Múltiplas comparações dos dados bio-operacionais feitas através do teste de Tukey HSD
A seguir são apresentados os dados descritivos do grupo que praticou a mini cama elástica, versus o que não praticou na dimensão bio-estrutural.
Tabela 3. Dados descritivos dos escores bio-estruturais nos grupos jump e controle
O teste de homogeneidade não apresentou índice >que 0.05, comprovando a homogeneidade da amostra da pesquisa. Na ANOVA, com gl (1) 3; gl (2) 32 e F= 24, 642, o índice foi 0,000 portanto <0,05, caracterizando que houve diferença estatística na amostra.
A tabela 4 apresenta as múltiplas comparações dos dados bio-estruturais nos grupos controle e jump, nos testes, nos momentos pré e pós-teste.
Tabela 4. Descrição dos índices obtidos através do teste de Tukey HSD, nas múltiplas comparações
possíveis das variáveis bio-estruturais nos grupos da pesquisa, nos seus diferentes momentos
As comparações feitas mostraram que, para os dados bio-estruturais, não houve diferença estatística entre os dados do pré e pós teste, nos grupos experimental e controle. Porém, essa diferença existiu quando comparados o pré-teste do grupo experimental com o pré e pós-teste do grupo controle. Com relação ao grupo experimental, no momento pós-teste, houve também uma diferença significante quando esse foi comparado com o pré e pós-teste do grupo controle. Caracterizando que o grupo experimental foi significativamente melhor que o grupo controle em todas as comparações feitas com variáveis bio-estruturais (Figura 2).
Figura 2. Escores médios dos testes de tempo de reação motora associados ao grupo controle, não praticante da cama elástica,
dimensões bio-operacional e bio-estrutural, em versões pré e pós-período da prática realizada pelo grupo experimental
Com relação à utilização da BPM para verificação da bio-operacionalidade dos grupos, observou-se uma diferença de 25% entre o grupo praticante de mini cama elástica e o grupo controle. O teste T de Student aplicado para se verificar se essa diferença foi estatisticamente significante, encontrou o índice de p=0,02, portando p<0,05, caracterizando que estatisticamente essa diferença foi significativa.
Tabela 5. Comparação dos escores dos grupos nas tarefas bio-operacionais selecionadas da Bateria Psicomotora
Analisando os dados estatísticos, pode-se concluir que a diferença do grupo experimental através do pré-teste e do pós teste não houve muita significância, pois o mesmo já praticava exercícios em mini cama elástica a aproximadamente um ano quando foi aferido o resultado do primeiro teste (pré teste), resultados estes vindos do teste do tempo de reação, porém ficou evidente as contribuições positivas que esta prática ofereceu ao grupo experimental em relação ao grupo controle, que como se pode observar a variação de resultados obtidos do grupo controle no pré-teste e no pós-teste variaram muito pouco.
Os testes escolhidos para aferir a bio-operacionalidade extraída da Bateria Psicomotora de Vítor da Fonseca mostraram melhora de 25% em média.
Isso nos mostra que o exercício em mini cama elástica colabora de maneira significativa em ambos os casos (Bio-operacionalmente e Bio-estruturalmente), mas ele contribui mais com o lado Bio-estrutural.
Este resultado já era esperado, pois como a atividade física em si, independente de qual seja, sempre envolve habilidades e desenvolvimentos motores, seria então impossível que somente os aspectos cognitivos fossem melhorados.
É a mente interagindo com o corpo físico. O pensar e o agir nestes casos são indissociáveis.
Como o propósito desse estudo era aferir se seria possível melhorar os aspectos cognitivos associados a bio-operacionalidade, observou-se através deste trabalho que o mesmo, de fato ocorre de forma estatisticamente significativa, portanto a hipótese é verdadeira sob este aspecto, ou seja, a atividade física trabalhada de forma lúdica e direcionada para melhorar a cognição é um fato.
A própria melhora bio-estrutural em si também representa um ganho que não pode ser desconsiderado, pois ela é de grande relevância para o desenvolvimento do indivíduo, aperfeiçoando aspectos como coordenação motora e habilidades corporais que facilitarão sua integração e interação com o meio em que vive (ALMEIDA, 2006).
Conclusões
Visto que, uma intervenção por meio de exercícios em mini-cama elástica reflete-se, de maneira positiva, no desenvolvimento hábil motor do aprendiz, o trabalho com o uso deste instrumento pode contribuir também com o aperfeiçoamento cognitivo dos mesmos. Interessantemente, de forma lúdica e atraente, levando-os a melhoras consideráveis de bi-operacionalidade, aprimorando aspectos como tempo de reação, tomada de decisão e raciocínio lógico. Estes dados podem servir como referência para um repensar sobre a responsabilidade do professor de Educação Física e da sua atuação como educador, não só do corpo, mas também da mente do seu educando. Levando-o, também, a considerar o fato de que em todo tipo de ensino, mesmo de uma tarefa simples, se faz possível um empreendimento para o desenvolvimento de uma mente competente em termos da sua operacionalidade.
O campo de atuação do profissional referente à área de educação física é vasto, mas não cessa onde está. Cabe ainda, a ele, professor, a responsabilidade de ampliar e aprimorar ainda mais o leque de opções de trabalho e alternativas técnicas e pedagógicas na direção de um ensinar para, o aprender como aprender. Nesta linha, a prática de exercícios físicos não fica de fora da essência idealista neste sentido. Bastando que se relacione neste domínio, o aprender sobre a saúde e sobre a consciência do físico corporal.
Logicamente, não é de se pensar sobre os resultados deste estudo, como fato inusitado nem, tão pouco, como algo pueril. Na verdade, a escassez de estudos centrados no seu tema específico, garante, ao mesmo, uma visão de grande importância, ao se considerar que um grande número de programas de educação física vem adotando o uso da cama elástica sob um formato de quase independência de conteúdo. Ou seja, no Brasil, já milhares de crianças que os praticam, existindo uma tendência muito grande de aumento no seu número de praticantes.
Em assim sendo, estabelecer conhecimento científico sobre a relação de custo e benefício para a criança participante desta atividade é uma questão de ética e humanidade social.
A partir da hipótese aqui comprovada que o trabalho em mini cama elástica pode contribuir com o desenvolvimento cognitivo da criança, de forma lúdica e atraente, levando-os a melhoras competências bio-operacionais e estruturais da mente pode-se pensar neste estudo como alinhado aos pressupostos acima dimensionados.
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digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires,
Febrero de 2010 |