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Comparação da função cardíaca através do ECO-D entre 

indivíduos sedentários e indivíduos que praticam 

exercícios aeróbicos tipo caminhada

Comparación de la función cardiaca por medio del ECO-D entre personas 

sedentarias y personas que practican ejercicios aeróbicos tipo caminata

 

Curso de Fisioterapia

Área de ciências biológicas e da saúde

Faculdade Guilherme Guimbala – FGG

(Brasil)

Adriane Brem | Heloísa Planinc

Marianne Briesemeister | Micheli Martinello

heloisap.fisio@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente artigo compara e analisa as funções cardíacas através do exame ecodopplercardiograma transtorácico de indivíduos sedentários com indivíduos que realizam exercícios aeróbicos tipo caminhada regularmente. Foram analisadas medidas ecodopplercardiográficas de 10 indivíduos, dos quais foram divididos em dois grupos, sendo o grupo A constituído por 5 indivíduos sedentários, com idade média de 45,60 anos, IMC médio 24,20 kg/m², 60% do sexo feminino e o grupo B, constituído por indivíduos praticantes de exercício físico aeróbico regular, na modalidade tipo caminhada, com idade média de 46,40 anos sendo 60% do sexo feminino, com IMC médio de 24,05 kg/m². As análises estatísticas dos valores obtidos pelo ecodopplercardiograma transtorácico, foram realizadas através do cálculo t student. Os grupos de indivíduos praticantes de exercícios aeróbicos apresentaram uma diferença significativa das seguintes variáveis: Vsf (ml), Vdf (ml), Dsf (cm), Ddf (cm), VE (ml), MVE (gramas), com exceção do PPVE (cm). Os resultados permitiram concluir que os indivíduos praticantes de exercícios aeróbicos, avaliados por métodos não invasivos, representam respostas adaptativas ao treinamento físico aeróbico tipo caminhada, com características fisiológicas.

          Unitermos: Função cardíaca. Sedentário. Treinamento aeróbico

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    Doenças associadas ao estilo de vida sedentário são consideradas como um importante problema de saúde publica mundial.1 As doenças cardiovasculares representam um conjunto de afecções com etiologias e manifestações clínicas variadas, determinando cerca de 30% das mortes registradas no mundo2,3 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a projeção é que esse grupo de doenças seja a primeira causa de mortes em todos os países em desenvolvimento até 2010.3 No Brasil, é considerada a causa mais freqüente de morbimortalidade.4

    De acordo com estudos epidemiológicos há uma relação inversa entre o nível de atividade física diária e a morbimortalidade por doenças cardiovasculares, independente do grau de adiposidade presente no indivíduo.5 Não somente na prevenção de doenças cardiovasculares e redução dos sintomas da doença já instalada, a atividade física é eficaz na prevenção da obesidade, diabetes, dislipidemias, entre outras.6 Evidências confirmam o papel decisivo na prática de atividade física na promoção da saúde, na qualidade de vida, e na prevenção e/ou controle de diversas doenças.7 Portanto, esta é um importante componente de um estilo de vida saudável, envolvendo a integração de componentes e determinantes de ordem biológica e psico-sócio-cultural.7,8

    De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC) e o American College of Sports (ACSM) indica-se para a promoção da saúde, que se deve realizar atividade física de intensidade moderada, pelo menos trinta minutos por dia, na maior parte dos dias da semana, continuamente. Essas mesmas recomendações são recomendadas pela American Heart Association (AHA), como uma estratégia de prevenção de doenças cardiovasculares.6

    A partir disso, este estudo tem como objetivo comparar e analisar por meio do ecodopplercardiograma transtorácico as funções cardíacas de indivíduos sedentários com indivíduos que realizam regularmente exercício aeróbico, do tipo caminhada.

Materiais e métodos

    Trata-se de um estudo descritivo do tipo exploratório, onde foram selecionados 10 indivíduos, subdivididos em dois grupos: Grupo A – constituído por 5 indivíduos sedentários, conforme Rodrigues (2008), com idade média de 45,60 anos (variando de 42 a 50), Índice de Massa Corpórea (IMC) médio 24,20 kg/m², (variando de 22,26 a 28,05 kg/m²), sendo 60% do sexo feminino (3 mulheres e 2 homens); Grupo B – constituído por 5 indivíduos praticantes de exercício físico aeróbico regular,9 sendo apenas na modalidade tipo caminhada, com idade média de 46,40 anos (variando de 40 a 50 anos), sendo 60% do sexo feminino (3 mulheres e 2 homens), com IMC médio de 24,05 kg/m², (variando de 22,26 a 25,35 kg/m²).

    Os critérios para elegibilidade no estudo foram idade entre 40 e 50 anos, sem delimitação de sexo, IMC abaixo de 29 kg/m², ausência de medicamentos que interferiram na função cardiovascular, ausência de comorbidades cardíacas, pulmonares, vasculares e/ou osteomioarticulares associadas, e aceitar participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

    A coleta de dados foi feita por meio de entrevista pessoal durante consulta ambulatorial na região de Joinville/SC, em que se aplicava um questionário que avaliou se pratica caminhada como única atividade física, a freqüência semanal, a duração, em minutos, e o período (meses). Depois de selecionados, os indivíduos foram encaminhados para avaliação física pelo médico cardiologista, onde foram analisados: ausculta pulmonar e cardíaca, freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pressão arterial, eletrocardiograma e ecodopplercardiograma transtorácico (ECO-D transtorácico Phillips Envaiser C, transdutor eletrônico multifreqüencial 2-4 setorial). As imagens ecocardiográficas foram obtidas nas posições precordiais padronizadas, seguindo-se as diretrizes da American Society of Echocardiography10 . Por meio deste, foi possível fazer a coleta dos seguintes dados: parede posterior do VE (cm), diâmetro diastólico e sistólico final (cm), volume diastólico e sistólico final (ml), o volume de ejeção (ml) e massa ventricular esquerda (gr).

    As variáveis foram apresentadas com médias e desvios-padrão. Os dados categóricos foram avaliados pelo teste t Student. Os dados paramétricos foram comparados com os testes t pareado. Todas as análises estatísticas foram efetuadas considerando-se o nível de significância de 5% (p 0,05) e de 1% (p ≤ 0,01).

Resultados

    Observou-se que as características antropométricas e etárias dos indivíduos do grupo A e do grupo B são homogêneas, sendo o Grupo A: peso kg (71,40 ± 8,78), Altura (m) (1,71 ± 0,06), idade (anos) (45,60 ± 3,61), IMC (kg/m²) (24,20 ± 2,05); e Grupo B: peso kg (70,00 ± 5,37), altura (m) (1,71 ± 0,04), idade (anos) (46,40 ± 3,38), IMC (kg/m²) (24,05 ± 1,31).

    Os resultados referentes ao volume sistólico final (Vsf) e do volume diastólico final (Vdf) dos grupos A e B estão descritos nos gráficos 1 e 2: O grupo A apresentou Vsf de 35,10 ±5,54 e Vdf de 101,22 ± 13,70. Já o grupo B apresentou Vsf de 47,4 ± 3,88 e Vdf de 138,6 ± 9,84.

Gráfico 1 e 2. Comparação do Vsf e Vdf (ml) entre ambos os grupos

    Já os gráficos 3 e 4 apresentam os valores dos diâmetro sistólico final (Dsf) e diâmetro diastólico final (Ddf) do grupos A e B. O primeiro apresentou Dsf de 3,22 ± 0,11 e Ddf de 4,68 ± 0,25 e o segundo grupo Dsf de 3,59 ± 0,22 e Ddf de 5,15 ± 0,19.

Gráfico 3 e 4. Comparação do Dsf (cm) e Ddf (cm) entre os grupos A e B

    Comparando os valores do volume de ejeção - VE (ml) do grupo A com o grupo B, o primeiro apresenta valores mais baixos, sendo 66,22 ±7,89 e 91,20 ± 7,43, respectivamente. Já o gráfico 5 apresenta os resultados obtidos pelo ECO-D transtorácico da massa ventricular esquerda - MVE (gr) de ambos os grupos com os seguintes valores: grupo A 180,22 ± 11,87 e grupo B 210,68 ± 27,45.

Gráfico 5. Comparação da MVE (gramas) entre ambos os grupos

    O Gráfico 6 exibe os resultados obtidos da parede posterior do ventrículo esquerdo PPVE (cm) de ambos os grupos. O grupo A obteve média e desvio padrão de 0,95 ± 0,05, e o grupo B apresentou 0,93 ± 0,03. Observou-se o valor de 0,45 no teste t de student, sendo assim, sem significância para p ≤ 0,01 e p ± 0,05.

Gráfico 6. Comparação do PPVE (cm) entre ambos os grupos

Discussão

    De acordo com Weineck11, pode-se afirmar que a capacidade de adaptação cardíaca, é influenciada por um grande número de fatores (idade, sexo, nível de condicionamento físico, quantidade e qualidade de sobrecarga e alimentação), como pressupostos básicos para a elevação da capacidade de todo o organismo ou de seus sistemas. Sendo assim, a presente pesquisa apresenta uma amostra homogênea em relação à idade, sexo, modalidade do treinamento e nível do condicionamento físico. Ao analisar a diferença do IMC entre as categorias de atividade física, verificou-se que à medida que houve aumento da freqüência e da duração da atividade física, menor foi o IMC desses indivíduos, reforçando assim o importante papel da prática de atividade física para diminuição do balanço energético e conseqüente redução ou manutenção do peso12.

    De acordo com os resultados, houve um aumento do volume sistólico final do grupo praticante de caminhada. Treinamento acarreta um aumento no volume sistólico do coração durante o repouso e o exercício. Essa modificação pode resultar de quatro fatores: aumento no volume interno do VE (conseqüente à expansão do volume plasmático induzida pelo treinamento) e a massa, rigidez cardíaca reduzida, tempo de enchimento diastólico aumentado (em virtude da bradicardia induzida pelo treinamento) e, possivelmente, função contrátil intrínseca do coração aprimorada9.

    As adaptações predominantes incluem: aumento do diâmetro diastólico e sistólico final da cavidade ventricular esquerda, da espessura parietal e da massa ventricular esquerda, melhora do enchimento diastólico e redução da freqüência cardíaca. Os resultados deste estudo evidenciaram um aumento significativo do diâmetro diastólico e sistólico final e aumento do volume sistólico final do grupo praticante de caminhada com relação ao grupo sedentário. Segundo Ghorayeb13, acrescentam que a hipertrofia ventricular esquerda desenvolve-se como processo compensatório ou adaptativo a um estímulo hemodinâmico, representando a sobrecarga de pressão e/ou volume. A teoria, que melhor explica os padrões de hipertrofia, considera que a resposta ventricular se processa no sentido de manter o estresse parietal ventricular relativamente constante e o volume sistólico adequado.

    O maior volume de ejeção resulta de um grande volume ventricular, acompanhado por uma melhor contratibilidade do miocárdio. Os resultados da presente pesquisa, afirmam que houve realmente um aumento do volume de ejeção em relação aos indivíduos que praticavam caminhada regularmente. Esses achados estão de acordo com os resultados de vários estudos que compararam grupos de atletas de diferentes modalidades esportivas com grupos controles sedentários.13, 14, 15

    O sistema cardiovascular sofre alterações devido o treinamento aeróbio, ou seja, o peso e o volume do coração, em geral, aumentam com o treinamento aeróbio. Uma hipertrofia cardíaca constitui uma adaptação normal ao treinamento, sendo caracterizada por um aumento no tamanho da cavidade ventricular esquerda, assim como por um espessamento de suas paredes. O treinamento aeróbio é caracterizado por provocar um aumento no tamanho da cavidade ventricular; já o espessamento das paredes cardíacas constitui uma adaptação mais característica do treinamento de força9. Na presente pesquisa, pode-se constatar que não houve diferença significativa da parede posterior do ventrículo esquerdo entre os indivíduos sedentários dos que praticavam caminhadas regularmente, pois esses resultados dependem da natureza, da duração e intensidade do exercício13.

Conclusão

    Esse estudo vem corroborar com a preocupação mundial em se estabelecer programas que incentivem mudanças no estilo de vida, visando maior controle de peso, uma vez que a obesidade é um dos determinantes para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis16.

    Pelos dados obtidos sobre os efeitos do treinamento de exercícios aeróbicos tipo caminhada sobre o organismo, ficou evidente a seriedade da modalidade para a melhora das funções cardíacas, tais como: Vsf (ml), Vdf (ml), Dsf (cm), Ddf (cm), MV (gramas) , VE (ml), promovendo aos indivíduos melhor condicionamento cardíaco, proporcionado prevenção de doenças cardiovasculares e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Referências

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  2. Rodrigues TFF, Philippi ST. Avaliação nutricional e risco cardiovascular em executivos submetidos a check-up. Rev. Assoc. Med. Bras. v.54 n.4 São Paulo jul./ago. 2008.

  3. Eyken EBBD, Moraes CL. Prevalência de fatores de risco para doenças cardiovasculares entre homens de uma população urbana do Sudeste do Brasil. Cad. Saúde Pública v.25 n.1 Rio de Janeiro jan. 2009.

  4. Viebig RF, Valero MP, Araújo F, Yamada AT, Mansura AJ. Perfil de saúde cardiovascular de uma população adulta da região metropolitana de São Paulo. Arq. Bras. Cardiol. v.86 n.5 São Paulo maio 2006.

  5. Cunha IC, Peixoto MRG, Jardim PCBV, Alexandre VP. Fatores associados à prática de atividade física na população adulta de Goiânia: monitoramento por meio de entrevistas telefônicas. Rev. bras. epidemiol. v.11 n.3 São Paulo set. 2008.

  6. Silva RB, Costa-Paival, Neto AMP, Braga AA, Morais SS. Atividade física habitual e risco cardiovascular na pós-menopausa. Rev. Assoc. Med. Bras. v.52 n.4 São Paulo jul./ago. 2006.

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  8. Guerras S, Oliveira J, Ribeiro JC, Teixeira-Pinto A, Duarte JA, Mota J. Relação entre a atividade física regular e a agregação de fatores de risco biológicos das doenças cardiovasculares em crianças e adolescentes. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. v.3 n.1 Recife jan./mar. 2003.

  9. Mcardle WD, Katch F, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

  10. Guimarães J. Diretriz para normatização dos equipamentos e técnicas de exame para realização de exames ecocardiográficos. Cardiol, p. 37-41, janeiro/fevereiro/março. 2004.

  11. Weineck J. Biologia do esporte. São Paulo: Manole , 1991.

  12. Mendonça CP, Anjos LA. Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento do sobrepeso/obesidade no Brasil. Cad Saude Publica 2004;20(3):698-709.         

  13. Ghorayeb N, et al. Hipertrofia ventricular esquerda do atleta. Resposta adaptativa fisiológica do coração. Cardiol, v. 85, set. 2005.

  14. Roeske WR, O'Rourke RA, Klein A et al. Noninvasive evaluation of ventricular hypertrophy in professional athletes. Circulation 1976; 53: 286-92.  

  15. Batlouni M, Abrão HD, Ghorayeb N, Gizzi LC, Zorzo D, Sauaia N. Alterações eletrocardiográficas em atletas profissionais: l. Sobrecargas ventriculares. Arq Bras Cardiol 1980; 35: 95-110.    

  16. World Health Organization. Global strategy on diet, physical activity and health. Geneva: World Health Organization; 2004.

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