efdeportes.com
Filosofia da práxis: entre a teoria e a prática

 

Acadêmico do curso de Educação Física do

Centro de Ciências da Saúde e do Esporte – CEFID – UDESC

(Brasil)

Jonas Godtsfriedt

jog1000@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O processo de reflexão da ação, especificamente sobre o seu saber e fazer é de forma objetiva e resumida uma possível explicação para a filosofia da práxis. A finalidade deste artigo é de mostrar de forma ligeira algumas definições sobre a filosofia da práxis e motivar o uso desta filosofia no ambiente da Educação Física. O material teórico relacionado neste artigo tem a intenção de propiciar a reflexão sobre o papel da filosofia da práxis na Educação Física, para que ela alcance o seu devido espaço na educação, formando cidadãos que tenham uma atitude filosófica e pensamento crítico.

          Unitermos: Filosofia da práxis. Educação Física. Educação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

1 / 1

Introdução

    A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio (CHAUÍ, 1997).

    Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filosofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber (CHAUÍ, 1997).

    Segundo Chauí (1997) os pensadores clássicos definiam filosofia da seguinte forma:

  • Para Platão a filosofia é um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos;

  • Descartes afirmava que a filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes;

  • Para Kant a filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana;

  • Marx declarou que a filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e que se tratava agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos.

  • Merleau-Ponty escreveu que filosofia é um despertar para ver e mudar nosso mundo;

  • Já Espinosa disse que a filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.

    Gramsci (1991) disse o seguinte: Talvez seja útil distinguir a filosofia do senso-comum, para melhor indicar a passagem de um momento ao outro. Na filosofia, destacam-se notadamente as características de elaboração individual do pensamento; no senso-comum, ao invés, as características difusas e dispersas de um pensamento genérico de uma certa época em um certo ambiente popular, mas toda filosofia tende a se tornar senso-comum de um ambiente, ainda que restrito. Trata-se, portanto, de elaborar uma filosofia que – tendo já uma difusão ou possibilidade de difusão, pois ligada à vida prática e implícita nela – se torne um senso-comum renovado pela coerência e pelo valor das filosofias individuais.

    O processo de reflexão da ação, especificamente sobre o seu saber e fazer é de forma objetiva e resumida uma possível explicação para a filosofia da práxis. A finalidade deste artigo é de mostrar de forma ligeira algumas definições sobre a filosofia da práxis e motivar o uso desta filosofia no ambiente da Educação Física.

Conceitos da filosofia práxis

    Para Gramsci filosofia da práxis é a atividade teórico-política e histórico-social dos grupos “subalternos” que procuram desenvolver uma visão de mundo global e um programa preciso de ação dentro do contexto em que vivem, com os meios que têm à disposição, visando a construir um projeto hegemônico alternativo de sociedade (SEMERARO, 2005).

    Seu foco não está na visão positivista de ciência, mas na relação entre práxis e epistemologia, uma vez que a especificidade epistemológica da pedagogia encontra seu suporte, na prática educativa, práxis considerada em uma dimensão de intencionalidade (FRANCO, 2003). Precisamente porque a pedagogia viabiliza uma práxis educativa, a práxis pedagógica será o exercício do fazer científico da pedagogia sobre a prática educativa (FRANCO, 2003).

    A configuração do objeto da educação será uma se enfocado sob o prisma da concepção humanista tradicional da filosofia da educação e será outra, caso se adote a perspectiva da concepção humanista moderna ou analitica ou crítico-reprodutivista ou histórico-crítica (dialética) (SAVIANI, 1990).

    Gramsci trabalha categorias de pensamento para fazer a crítica burguesa: folclore, senso comum, religião, bom senso, "filosofia da práxis"; e grande contribuição trouxe para o processo revolucionário com sua batalha pela construção de uma nova mentalidade, de uma nova educação, de uma nova cultura e de um novo homem (SABOIA, 1990).

    A atividade humana não deve ser meramente receptora de informações, ou seja, não se deve aludir a idéia de concepção de uma vida onde predomine o determinismo, pois este acaba por ser revoltante para aqueles que lutam por melhores condições de vida, gerando para estas pessoas situações de impotência perante a vida, não podendo alterar seu presente e quiça o seu futuro. E por fim levarão uma vida sem motivação, frustrada, contemplativa, repleta de tédio e decepções.

Filosofia e a Educação Física

    O professor de Educação Física por meio de suas reflexões critico-filosóficas, em especial sobre educação e sociedade, consegue vincular a sua prática com a teoria (SCHREIBER, 2005).

    Ainda são fatos isolados os momentos em que o professor transmite a visão de mundo, despertando, ou não, no aluno o senso crítico e a capacidade de intervenção social, através de questionamentos e reflexões sobre a realidade em que se vive (SCHREIBER, 2005). Enquanto permanece alienado e vazio, o professor não percebe que está distante de uma intervenção crítica na sociedade, portanto a possibilidade de êxito é nenhuma, a frustração é certa e a ação de moldar vai continuar prevalecendo (SCHREIBER, 2005).

    Por isso, definir o que é e o que não é Educação Física, é tarefa sempre arriscada e problemática, pois tal decisão não seria científica, no sentido de neutra, mas ideológica, porque pressuporia um projeto, inevitavelmente carregado de pré-concepções, valores, etc., não por uma distorção que se poderia evitar, mas porque é assim mesmo que se definem os objetos de pesquisa (BETTI, 2005).

    A Educação Física não se caracterizaria, então, como uma .ciência. específica, mas como uma área acadêmico profissional com necessidades e características próprias, que se vale das diversas ciências e da filosofia para construir seus objetos de reflexão e direcionar sua intervenção pedagógica (BETTI, 2005).

    Buscando a superação dos dualismos recorrentes identificados no debate teórico-epistemológico da Educação Física, Betti (2005) propôs uma Teoria da Educação Física concebida como um campo dinâmico de pesquisa e reflexão. A teoria assim proposta poderia sistematizar e criticar conhecimentos científicos e filosóficos, receber e enviar demandas à prática social, e às Ciências e à Filosofia (BETTI, 2005). A prática passaria a configurar-se como possibilidade de mediação entre a matriz científica e a matriz pedagógica que se apresentam no debate sobre a identidade epistemológica da Educação Física, entre a teoria e a prática, entre o fazer corporal e o saber sobre esse fazer (BETTI, 2005).

Conclusão

    O material teórico relacionado neste artigo tem a intenção de propiciar a reflexão sobre o papel da filosofia da práxis na Educação Física, para que ela alcance o seu devido espaço na educação, formando cidadãos que tenham uma atitude filosófica e pensamento crítico.

Referências bibliográficas

  • BETTI, M. Educação física como prática científica e prática pedagógica: reflexões à luz da filosofia da ciência. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 183-197, 2005.

  • CHAUÍ, Marilena de Sousa. Convite a filosofia. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1997.

  • FRANCO, Maria Amélia Santoro. A Pedagogia como ciência da educação. 1. ed. campinas: papirus, 2003. v. 01. 142 p.

  • GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. 9ª ed. Rio de Janeiro: Editora da Civilização Brasileira, 1991. Tradução de: Carlos Nelson Coutinho.

  • SABOIA, B. A Filosofia Gramsciana e a Educação. EM ABERTO, Brasília, ano 9, n.45, jan. mar. 1990.

  • SAVIANI, D. Contribuições da Filosofia para a Educação. EM ABERTO, v. 9, n. 45, p. 3-9, 1990.

  • SCHREIBER, M. B.; SCOPEL, Evânea; ANDRADE, A. Educação Física Escolar e Filosofia: uma prática consciente. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 87, 2005. http://www.efdeportes.com/efd87/efd.htm

  • SEMERARO, G. Filosofia da práxis e (neo)pragmatismo. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 29, p. 28-39, 2005.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/

revista digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires, Febrero de 2010  
© 1997-2010 Derechos reservados