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Análise dos fatores motivacionais para a prática do voleibol em adolescentes de clubes especializados e de programas sociais da prefeitura de Porto Alegre

Análisis de los factores motivacionales de adolescentes para la práctica del voleibol

 en clubes especializados y en programas sociales de la municipalidad de Porto Alegre

Analysis of motivational factors for the practice of adolescents in volleyball 

clubs and specialized programs of social municipal de Porto Alegre

 

*Mestrando Educação Física

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

**Doutor Ciências do Desporto

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Rafael Gambino Teixeira*

Carlos Adelar Abaide Balbinotti**

rafa.gambino@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Devido à grande popularização do voleibol nas últimas décadas, e a imensa procura por meios para praticá-lo, objetivou-se neste estudo identificar os principais motivos que levam adolescentes (13 - 18 anos) a optarem por esta prática desportiva. Buscou-se também identificar as diferenças motivacionais entre os dois grupos observados e que, desenvolvem o voleibol em ambientes distintos e com metodologias de ensino distintas: os clubes especializados (Voleibol Técnico) e o programa social (Voleibol Social), ambos situados no município de Porto Alegre (RS – Brasil). Foram analisados 80 jovens, 40 de clubes especializados e 40 do programa social. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física, de BALBINOTTI (2004). Este instrumento aponta os fatores motivacionais para a prática de atividade física em seis dimensões: a saúde; a competitividade; o prazer; a sociabilidade; o controle do stress e; a estética. Os dados foram analisados conforme as categorias de motivação elaboradas por BALBINOTTI. Entre os resultados observa-se que na perspectiva estatística os grupos estudados não apresentam diferenças. Apenas com relação à dimensão competitividade os grupos apresentam uma diferença significativa favorável ao grupo do programa social. A conclusão dos resultados apresenta como motivos principais para a prática do voleibol as dimensões prazer e saúde, seguida das dimensões sociabilidade, competitividade, estética e controle do estresse sucessivamente.

          Unitermos: Fatores motivacionais. Voleibol. Clubes especializados. Programa social

 

Abstract

          Due to the great popularity of volleyball in recent decades, and the intense search for ways to practice it, the aim of this study to identify the main reasons why adolescents (13 - 18 years) to opt for this sport. It also sought to identify motivational differences between the two groups met and that they develop volleyball in different environments and with different teaching methods: the specialized clubs (Volleyball Forum) and social programs (Social Volleyball), both located in the municipality of Porto Alegre (RS - Brazil). We analyzed 80 people, 40 of specialized clubs and 40 for Social.com instrument to collect data, we used the Motivation Inventory to Practice Regular Physical Activity in BALBINOTTI (2004). This instrument shows the motivational factors for physical activity in six dimensions: health, competitiveness, the pleasure, sociability, stress control and, aesthetics. The data were analyzed according to categories of motivation developed by BALBINOTTI. Among the results observed in the statistical sense that the groups do not differ. Only with respect to the competitiveness dimension groups show a significant difference in favor of the group's social program. The conclusion of the results presented as the main reasons for volleyball practice the dimensions of pleasure and health, then the dimensions of sociability, competitiveness, aesthetics and stress management succession.

          Keywords: Motivational factors. Volleyball. Specialized clubs. Social program

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    Nas últimas décadas, o esporte que mais se popularizou foi, sem sombra de dúvida, o voleibol. Os títulos mundiais, olímpicos, e no circuito mundial de praia mostra a realidade do voleibol brasileiro. Hoje o Brasil é reconhecido como o país mais evoluído do mundo na modalidade. As conquistas internacionais das nossas seleções, o espaço na mídia ocupado por esse esporte, o surgimento dentro dele de novos ídolos e o sucesso em termos de marketing esportivo, tornaram o voleibol o segundo esporte dos brasileiros. O voleibol é um dos esportes mais procurados atualmente, seja para lazer, seja para manter a saúde, seja para competir. Ainda aponta que a televisão fez com que, independentemente de classe social, o brasileiro passasse a gostar do voleibol, a entendê-lo e a praticá-lo. É muito comum em nossos dias que, milhares de crianças e adolescentes procurem meios para praticar o voleibol, o que nos transmite a consciência de que o voleibol é um esporte popular, que a sociedade quer praticá-lo, por simples prazer ou para se tornar um profissional da área (BOJIKIAN, 1999). Entende-se então, que é necessário para haver um bom desenvolvimento da aceitação e melhor aprendizagem das atividades, um programa relacionado com interesses dos indivíduos que participam dessas atividades.

    A motivação para a prática desportiva constituí um caminho fecundo, de investigação psicológica básica e, sua aplicação de conhecimento vem sendo utilizada por profissionais das atividades físicas e desportivas (PAIM, 2001). A motivação depende entre outros, da personalidade dos indivíduos, de aspirações pessoais, de incentivos de natureza econômica e social, variando com a idade, com o gênero e com fenômenos étnicos, culturais e sociais. Para um trabalho de prática desportiva, faz-se necessário saber o que é mais importante para os participantes, quais os fatores que influenciam decisivamente os níveis de motivação e qual a melhor maneira de inter – relacionar e usar estes conhecimentos (CARRON, 1980; GAYA; CARDOSO, 2004).

    A investigação da motivação no âmbito esportivo durante anos foi centrada no esporte competitivo e de alto rendimento. No entanto, é crescente o estudo motivacional na prática de atividades físicas. A motivação é uma variável importante no esporte e na atividade física, tanto no que se refere à aprendizagem, quanto para o desempenho. Entretanto, as definições de motivação, fazem que o termo se aplique com significados distintos e contraditórios o que dificulta a comunicação entre os profissionais que atuam nessa área (MARTINEZ & CHIRIVELLA, 1995).

    É importante saber que, em determinadas circunstâncias, alguns motivos adquirem predominância sobre os outros, orientando o indivíduo para certos objetivos, ou seja, direcionando o seu comportamento. Da mesma forma que certos motivos, têm maior intensidade em diferentes indivíduos, dependendo de fatores como personalidade de cada um, bem como indivíduos diferentes podem realizar a mesma atividade, animados por motivos diferentes e de intensidade diferente (MACHADO APUD PAIM, 2003),

    É necessário, para haver um bom desenvolvimento da aceitação e melhor aprendizagem das atividades físicas, um programa relacionado com os interesses dos indivíduos que participam dessas atividades. (MACHADO, 1997).

    Esta pesquisa trata da análise dos fatores motivacionais que influenciam os adolescentes nesta busca, para praticar o voleibol, seja em clubes especializados, seja e em programas sociais da prefeitura de Porto Alegre.

    Os objetivos específicos deste trabalho são os seguintes: (1) Verificar os fatores que motivam adolescentes a praticarem voleibol em clubes especializados; (2) Verificar os fatores que motivam que motivam adolescentes a praticarem voleibol em programas sociais da prefeitura de Porto Alegre; (3) Verificar se os motivos para a prática do voleibol estão de acordo com a metodologia utilizada no ambiente de ensino (clubes especializados – voleibol técnico, programas sociais – voleibol social); (4) Traçar um perfil comparativo entre os fatores motivacionais dos adolescentes para a prática do voleibol em clubes especializados e em programas sociais da prefeitura de Porto Alegre.

    Desta forma, esta pesquisa pretende contribuir para identificar o perfil desta população, bem como propor aos profissionais da área da Educação Física aplicações, estratégias e intervenções pedagógicas e metodológicas relacionadas aos fatores motivacionais para a prática do voleibol por adolescentes de clubes especializados e programas sociais de Porto Alegre.

Método

Delineamento da pesquisa e participantes

    Este estudo se caracteriza como uma pesquisa descritiva do tipo ex post facto descritivo. A população foi constituída por adolescentes, praticantes de voleibol da cidade de Porto Alegre (RS - Brasil). Foram analisados na totalidade, 80 jovens, com idades entre 13 e 18 anos (média = 14,55 e desvio padrão = 1,39), de dois âmbitos diferentes de ensino do voleibol (voleibol social e técnico). 40 jovens de um programa social, centro comunitário de Porto Alegre e 40 de clubes especializados no ensino do voleibol.

Instrumentos de medidas

Avaliação Motivacional

    Utilizou-se, para coleta dos dados, o Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física, de BALBINOTTI (2004). Este instrumento pretende verificar os fatores motivacionais para a prática de atividade física, associando-os as seis dimensões anteriormente citadas: a saúde; a sociabilidade; a estética; o controle do estresse; a competitividade e; o prazer.

    Tratam se de 126 itens agrupados 6 a 6, seguindo a seqüência das dimensões a serem analisadas. Estas seis dimensões, segundo BALBINOTTI (2004), são as mais comumente relacionadas à motivação para a prática de atividades físicas regulares. Cada um dos 126 itens requer uma resposta, estas por sua vez são dadas numa escala de tipo LIKERT, bidirecional graduada em cinco pontos partindo de “ISTO ME MOTIVA POUCO” (1) à “ISTO ME MOTIVA MUITÍSSIMO” (5).

    Para obtenção dos resultados finais, foram analisados cada item, separados por dimensão associada. Todas as dimensões apresentam o mesmo número de questões.

Procedimentos de coleta de dados

    Para a coleta dos dados, fez-se necessário uma visita a instituições de ensino do voleibol e uma conversa com os professores e responsáveis destes locais.

    Com o aval para o procedimento, nos dias 14/07/2005, 26/07/05, 02/08/05, 11/08/05 (Centro Comunitário) e 15/09/05 e 01/09/05 (Clubes Especializados) iniciou-se o trabalho de coleta, os alunos responderam o Inventário.

    Os alunos eram selecionados se estivessem de acordo com o grupo para a pesquisa (idade entre 13 e 18 anos). Estes eram agrupados em número de no máximo 15 e acompanhavam o avaliador até um espaço reservado e isolado. Cada jovem recebia uma cópia do Inventário de Motivação à Prática Regular de Atividade Física (BALBINOTTI, 2004) e uma caneta; esperavam o avaliador dar as instruções e iniciavam o procedimento de resposta. Conforme fossem acabando de responder as questões, os alunos eram liberados para voltarem à quadra e retornarem ao treino ou aula de voleibol.

Procedimentos de análise dos dados

    Os dados foram analisados posteriormente, com a utilização de dois softwares: Microsoft Excel versão 97 (agrupar as informações em variáveis distintas) e SPSS versão 10.0 (cálculos e análises requeridas).

Resultados

    Os objetivos deste trabalho são analisar quais os fatores motivacionais apresentados por adolescentes para a prática do voleibol, em clubes especializados e em programas sociais da prefeitura de Porto Alegre, além de analisar estes fatores de acordo com a metodologia de ensino aplicada nestes ambientes distintos de aprendizagem da modalidade. Objetivou-se uma análise individual de cada grupo, além de uma geral entre os dois grupos estudados. Para obtenção dos resultados, realizou-se análises descritivo - exploratórias dos dados, bem como procedimentos estatísticos de comparação de médias. Para este fim, adotou-se um índice de significância de 0,05.

    Foram estudados 80 indivíduos, (31 homens e 49 mulheres), com idades entre 13 e 18 (Média = 14,55; DP = 1,39), praticantes do voleibol.

    Para análise dos dados, resolveu-se por identificar o grupo dos clubes especializados como G1 e, o grupo do programa social de G2.

    A Tabela 1 apresenta um estudo pormenorizado das análises descritivas (tendência central, dispersão e distribuição). Os resultados mostram-se satisfatórios e observa-se uma relativa homogeneidade nas medidas de tendência central (média, trimédia e mediana) entre as respostas do inventário. Em relação à distribuição dos dados, pode-se observar que é mesocúrtica e simétrica, mesmo assim, aplicou-se o cálculo da normalidade de Shapiro-Wilk, estando seus resultados sistematicamente expostos na Tabela 1. Estas três evidências demonstram a confirmação da hipótese de normalidade da distribuição.

    Posteriormente à análise descritiva, procurou-se obter o perfil motivacional dos grupos, para tanto, realizou-se um teste t para amostras pareadas, onde busca-se a comparação das dimensões entre si, verificando se existem diferenças entre elas. Os resultados deste teste podem ser observados nas tabelas 2 e 3.

    Para o grupo clube especializado (G1), prazer e saúde foram as dimensões que mais motivam seus integrantes à prática regular de atividades físicas, no entanto, não se pode precisar, através da estatística, seu posicionamento no perfil, visto que, suas médias não se diferem estatisticamente (p > 0,05). Em seguida está a dimensão sociabilidade, cuja posição está bem localizada; é maior estatisticamente que a dimensão posterior, mas menor estatisticamente que a anterior. Na seqüência, existe outro agrupamento, formado pelas dimensões competitividade, estética e controle do estresse sucessivamente. Por fim, aparece mais um agrupamento, formado agora pelas dimensões estética e controle do estresse.

Tabela 2. Teste t paraeado – clube especializado (G1)

    Para o grupo do programa social (G2), ocorre um agrupamento entre as dimensões mais motivantes, prazer e saúde, porem, não se pode precisar o posicionamento entre saúde, sociabilidade e competitividade, que também não apresentam diferença estatística entre si. A mesma situação ocorre entre as duas últimas dimensões apresentadas, estética e controle do estresse.

Tabela 3. Teste t paraeado – programa social (G2)

    Embora não existam diferenças no ordenamento dos perfis entre os grupos, existem diferenças nominais entre suas médias. A verificação da existência de diferenças estatísticas entre elas, realizou-se através do teste t para amostras independentes. Os resultados expostos na tabela 4, nos apontam que, apenas na dimensão competitividade as médias apresentam diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05).

Tabela 4: Teste t para Amostras Independentes

Discussão dos resultados

    O objetivo principal deste estudo foi analisar os fatores motivacionais para a pratica do voleibol, levando-se em consideração adolescentes praticantes do esporte em dois âmbitos distintos de ensino da modalidade, os clubes especializados e o programa social. Como resultados da pesquisa, encontrou-se prevalência nas dimensões prazer e saúde, seguidas das dimensões sociabilidade, competitividade, estética e controle do estresse. Resultados estes, apresentados pelos dois grupos quando analisados na forma geral e individualmente.

    A dimensão competitividade foi à única que apresentou diferenças significativas favoráveis ao grupo do programa social.

    A prevalência na dimensão prazer pode evidenciar que toda criança ingressa nos programas de iniciação desportiva em busca do divertimento, da alegria e do prazer (SCALON et. al., 1999). Não estão preocupadas com competições ou desenvolvimento técnico. O prazer seria então, a busca por interesse, simplesmente pelo desejo de praticar uma atividade (REQUIXA, 1974). Podemos apontar, segundo estudos que a prevalência da dimensão prazer se da baseada na iniciação (SCANLAN APUD SCALON et. al., 1999). Os resultados apontam idéias de iniciantes, de novatos na prática do esporte. Outros estudos definiram a diversão como o motivo mais significativo para a prática, em modalidades desportivas distintas (McCLEMENTS; FREY; STEFFAN, APUD GAYA; CARDOSO, 2004). O bem estar provocado pela atividade física faz com que o indivíduo a ela influenciado, volte a praticá-la mais e mais vezes, é a principal forma de se manter uma pessoa aderida a um programa de exercícios (DECI; RYAN, 1985).

    O grupo do programa social, não apresentou surpresa quanto a este resultado, visto que a metodologia aplicada a este ambiente de ensino do voleibol valoriza bastante o fortalecimento da livre iniciativa, da participação e as relações humanas (SUVOROV; GRISHIN, 1990). Para o grupo dos clubes especializados, onde a metodologia do ensino do esporte visa à técnica; a formação do atleta; a dimensão prazer aparecer em primeiro lugar surpreende. A técnica motiva para esforços mais fortes, o que contradiz o resultado do “prazer” (DURRWACHTER, 1984). A prevalência da dimensão prazer neste âmbito poderia ser então entendida como uma fuga para o erro, para a derrota? Digo que pratico voleibol por prazer porque, se eu perder a derrota não será tão frustrante? Cabe ai novos estudos a fim de validar este resultado e comprovar sua veracidade nas respostas dos adolescentes.

    A dimensão saúde, também apontada como um dos fatores mais motivante para a prática do voleibol, condiz com a maior parte dos estudos realizados com a motivação em relação a pratica de atividade física. A criança se preocupa muito com a sua saúde, portanto, ela vai em busca de um hábito de vida saudável para adquirir ou manter mais saúde, força e desenvolver um bom preparo físico (SCALON et. al., 1999). Maslow (APUD TAGLIARI et. al., 1998), apontam em seus estudos a satisfação das necessidades fisiológicas, a saúde, em primeiro lugar como fator motivacional para a prática de atividades físicas. Um motivo para isto poderia ser o fato de que pais, professores e técnicos, realizam um trabalho de conscientização, influenciando os alunos a manter hábitos de vida saudável, praticar exercícios regularmente e manter um bom aspecto físico. Cardoso (1998), em seu estudo de fatores motivacionais para a prática do futsal, apontou a dimensão saúde como a mais motivante para o desenvolvimento da modalidade e justificou a importância disto, referindo-se as influências dos pais, professores e técnicos sobre os adolescentes. Estes jovens ao perceberem o bem estar que sentem os indivíduos que os cercam ao desenvolverem programas de exercícios, acabam entendendo que o mesmo pode ser benéfico para sua saúde também. Não podemos desconsiderar ainda a influência da mídia. Televisão, Internet, revistas, rádio ou outros meios que consideravelmente colaboram na mudança de comportamento da população.

    Tanto para o grupo dos clubes especializados, como para o do programa social, a saúde aparece como o segundo fator de motivação. Isto nos remete a importância dada pelos jovens de hoje para com os benefícios da atividade física.

    O fator sociabilidade foi apresentado como um intermediário de motivação para a prática do voleibol. Embora se esperasse que o grupo do programa social apresentasse um índice maior em relação ao outro grupo nesta dimensão; devido aos parâmetros estudados anteriormente que citam o ensino do voleibol neste ambiente; não foi evidenciada diferença significativa em relação a este fator motivacional.

    Pode-se dizer que a sociabilidade difere das primeiras dimensões apresentadas, prazer e saúde, pois, ela envolve o indivíduo em relação a outras pessoas. O prazer e a saúde, apontados como os principais fatores motivacionais, agem sobre o indivíduo individualmente, são preocupações de cada ser, não influenciam nos outros (MURRAY APUD DeROSE, 2002). A sociabilidade está na interação, na capacidade de desempenhar papéis sociais, valores e conhecimento. Talvez ela não tenha aparecido como destaque, pois, nesta faixa etária, os jovens estão buscando seu papel social, sua afirmação e, para isso, muitas vezes esquecem dos outros para pensarem somente em si próprio. Estes jovens estão, ou acabaram de entrar na adolescência, uma fase da vida turbulenta, onde o indivíduo está em constante busca de sua identidade.

    Em muitos estudos, como por exemplo, o fator sociabilidade não apresenta destaque entre os mais apontados pelos grupos estudados como fator motivacional para a prática desportiva (GAYA; CARDOSO, 2004; CARDOSO, 1998; TAGLIARI et. al., 1998).

    A dimensão competitividade, a quarta apontada pelos adolescentes como fator de motivação, apresentou diferenças significativas em relação aos grupos estudados. O grupo do programa social obteve vantagem em relação a este fator, o que surpreende, visto que nos clubes especializados a metodologia utilizada para ensinar o voleibol colabora para este tipo de situação, diferente do programa social, onde a participação é considerada mais importante.

    Em estudos realizados com atletas jovens, a competitividade aparece com destaque entre os principais motivos para a prática de atividades físicas, diferentemente dos resultados obtidos nesta pesquisa (FONSECA et. al., 2001; PAIM, 2001). No programa social, são raras ou quase inexistentes as competições. Os alunos competem apenas entre si numa determinada parte da aula. Talvez esta idéia de competição, de jogar com os amigos, sem pressões ou responsabilidades acabou sendo levada em consideração ao responderem as questões do Inventário.

    O clube especializado sim investe em jogos contra equipes externas e até mesmo com viagens com este propósito. Cabe-se ai, novamente, uma investigação com os alunos para descobrir quais os receios de competir, se existentes é claro. Será medo da derrota, de frustrar pais, professores e treinadores? A competição deveria ser estimulada somente aos alunos que se interessam por ela. Levar um jovem a competir sem que isto lhe seja interessante pode prejudicar sua motivação e aderência no esporte. Neste sentido, podemos verificar a importância de se estudar a motivação, conhecer quais os reais motivos que levam os jovens, adultos e crianças quando buscam uma atividade física. Trabalhar com um grupo de indivíduos sem saber o real significado pelo qual ingressam na atividade, ou exercício específico pode muitas vezes afastar ou prejudicar estes, com relação a sua continuidade no esporte (SCALON et. al., 1999).

    Os fatores, dimensões, que menos motivam os adolescentes analisados foram à estética e o controle do estresse, sucessivamente. Praticar o voleibol para manter uma imagem corporal bonita não está entre os interesses principais desta população. As idéias de que a estética aparece como um valor de “extrema” importância nesta sociedade não faz justiça aos resultados desta pesquisa (MEINBERG, 1990). Os adolescentes almejam sim saúde, mas não o ideal do corpo perfeito. Talvez esta resposta negativa seja uma maneira de tentar aceitar-se como é, com o aspecto que tem. Podem, de certa forma, observarem os atletas como figuras bonitas e, pensar que, praticando a modalidade também atingirão este biotipo. Uma espera em longo prazo, sem preocupações presentes.

    O controle do estresse é evidenciado por muitos estudos como a “doença do século”, um somatório de fatores intrínsecos e extrínsecos que, caso não seja controlado pode causar complicações. Adolescentes nesta faixa etária (13-18 anos) ainda não possuem muitas responsabilidades, fazendo com que, neste caso, não apresentem fatores para adquirir estresse (NUNOMURA et. al., 2004). Nas respostas dadas ao Inventário (BALBINOTTI, 2004), todos os alunos do voleibol responderam não trabalhar e ainda serem estudantes, o que assegura a teoria da “pouca responsabilidade”. Jogam voleibol, são levados e buscados por pais e mães, não necessitam estar presentes em todos os jogos, treinos e aulas da modalidade. Certamente o controle do estresse não seria enfatizado nesta população.

    Deci & Ryan (1985), classificaram em sua Teoria da Autodeterminação, a motivação como: intrínseca, extrínseca e amotivação. Nos resultados encontrados neste estudo, pode-se verificar que a dimensão prazer, apresentada como a mais motivante para a prática do voleibol, enquadra-se dentro do conceito de motivação intrínseca, aquela que engaja a pessoa em uma atividade pelo seu próprio desejo, porque simplesmente gosta. As dimensões saúde, sociabilidade, competitividade, estética e controle do estresse, apontadas na seqüência, variam dentro destes conceitos. Cabe-se lembrar, como citado anteriormente, os fatores de motivação intrínseca são os principais agentes para se manter um indivíduo aderido a um programa de atividades físicas.

    Embora os resultados apresentados sejam estes e todos apresentem bases em teorias existentes, vale a pena lembrar que o estudo deixa parâmetros para novas pesquisas nesta área. Muitos jovens responderam aos itens do Inventário sem dar o devido valor as questões referentes ao “meio termo”, ou seja, era “motiva muito” ou “motiva pouco”, não existia o “motiva muitíssimo” ou o “motiva pouquíssimo”. Não podemos discutir a fidedignidade do estudo e de seu instrumento, mas deixa-se em aberto para novos trabalhos referentes ao tema. Fornecem-se aqui, estratégias que poderão ser utilizadas por profissionais de Educação Física quando, estes, encontrarem-se diante da necessidade de trabalhar com este tipo de população.

Considerações finais

    Como já citado, este trabalho objetivou analisar os principais motivos que levam adolescentes a praticarem o voleibol em dois âmbitos distintos de ensino da modalidade. Objetivou-se também realizar uma análise comparativa entre os dois grupos estudados; clubes especializados e programa social; além de uma análise referente à metodologia utilizada no ambiente de prática do esporte.

    A partir destes objetivos, interpretou-se que os motivos que levam adolescentes a praticarem o voleibol, tanto em clubes especializados quanto no programa social não diferem, há igualdade de motivos. Ambos os grupos apresentam como principal motivo o prazer, afirmando o caráter participativo do programa social, porém surpreendendo em relação aos clubes especializados e sua metodologia voltada para o caráter técnico.

    A dimensão saúde aparece em segundo lugar, o que evidencia a preocupação dos jovens com seu bem estar físico. O fator sociabilidade vem logo em terceiro lugar, seguido pelas dimensões competitividade, estética e controle do estresse. A competitividade aparece com uma diferença significativa favorável ao grupo do programa social, surpreendendo novamente, pois, neste local de prática desportiva visa-se a participação e a interação social.

    Por fim, considera-se também que outros fatores intervenientes venham a influenciar estes resultados, como a conduta e objetivos dos treinadores e a participação positiva ou negativa, parcial ou total da família na mentalidade do jovem, aspectos que outras análises mais qualitativas podem ajudar a compreender.

Referências

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