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Exercícios físicos para diabéticos: uma revisão de literatura

Ejercicios físicos para diabéticos: una revisión de la literatura

 

*Universidade Castelo Branco. LABIMH-UCB-RJ

**Universidade Traz os Montes e Alto Douro, UTAD, Portugal

***Universidade Presidente Antônio Carlos, UNIPAC, Leopoldina, MG

(Brasil)

Bernardo Minelli Rodrigues* | Júlio César Correa Neto Carias** ***

Dihogo Gama de Matos** | André Luiz Zanella**

Ricardo Luiz Pace Júnior** | Michelli Fernandes Pimenta de Figueiredo**

Gabriela Rezende de Oliveira Venturini*** | Mauro Lúcio Mazini Filho***

personalmau@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O estilo de vida da população em nível mundial, com diminuição de atividades físicas (sedentarismo) e o aumento do consumo de alimentos refinados, ricos em açúcares simples e gorduras saturadas levou a um processo de desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético (LUDVIK,1998; DOUCET et al;1998), com isso, a população começou a adquirir doenças provocadas pela má alimentação e pela hipocinesia. Uma doença advinda destes maus hábitos cotidianos é diabete melitos (DM) que é uma desordem metabólica crônico-degenerativa de etiologia múltipla que associada à falta e/ou a deficiente ação de hormônio insulina produzido pelo pâncreas (DULLIUS e LOPES, 2003). Para uma prescrição segura eficiente de exercícios para diabéticos deve-se ter atenção para o tipo de diabetes e liberação médica e para realização das atividades, deve-se realizar uma anamnese e uma avaliação criteriosa do educador físico juntamente com exames laboratoriais que o médico responsável solicita para prescrição de fármacos específicos. A mutidisciplinaridade dos profissionais e o embasamento científico necessário a estes é uma ferramenta positiva para controles e prescrição do exercício físico que será responsabilidade do profissional de educação física.

          Unitermos: Diabetes Melitos. Exercícios físicos. Profissional de Educação Física

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    O estilo de vida da população em nível mundial, com diminuição da atividade física (sedentarismo) e o aumento do consumo de alimentos refinados, ricos em açúcares simples e gorduras saturadas levou a um processo de desequilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético (LUDVIK,1998; DOUCET et al, 1998), com isso, a população começou a adquirir doenças provocadas pela má alimentação e a falta de exercícios.

    Cerca de 3% da população mundial, aproximadamente 100 milhões de pessoas, padecem de diabetes melitos, uma doença crônica degenerativa não-contagiosa, que leva a uma maior mortalidade entre adultos e idosos e a uma menor perda da qualidade de vida.

    Para que haja um controle dessa patologia, há a necessidade que a população tenha consciência que saudáveis hábitos de vida se faz necessário para melhoria da saúde. Para isso, temos algumas indicações na literatura que sugerem que 150 minutos semanais de atividades leves a moderada é uma medida quantitativa para que as pessoas sejam consideradas ativas (CIOLAC E GUIMARÃES, 2004).

    Entretanto, para que ocorra melhores resultados quanto a diminuição do peso corporal e melhorar a resistência a insulina, tem sido recomendado que programas de exercícios para obesos comecem com o mínimo de 150 minutos semanais em intensidade moderada e progridam gradativamente para 200 a 300 minutos semanais na mesma intensidade (ACSM, 2001). Entretanto, deve-se levar em consideração todas indicações médicas e físicas dos novos adeptos a prática da atividade física e ter bom senso quanto as prescrições.

    Os exercícios devem ser rigorosamente controlados por um profissional de educação física qualificado a exercer tal função e ter um acompanhamento médico sempre que necessário quanto a exames e prescrições de fármacos necessários para controle da doença, como exemplo da insulina.

    O objetivo do presente estudo foi orientar quanto aos benefícios do exercício físico para população com diabetes melitos, mostrando a importância destas atividades e a conscientização para saúde.

Diabetes Melitos (DM)

    Diabetes melitos é um distúrbio crônico metabólico devido a uma resposta secretória defeituosa ou deficiente da insulina, que se manifesta na utilização inadequada dos carboidratos (glicose) com conseqüência (hiperglicemia). É uma desordem metabólica crônico-degenerativa de etiologia múltipla que associada à falta e/ou a deficiente ação de hormônio insulina produzido pelo pâncreas (DULLIUS e LOPES, 2003).

    A DM diminui a capacidade do organismo de oxidar o material energético ou glicose que retira dos alimentos para a energia. A glicose é transportada pelo sangue para as células que necessitam de insulina, que é produzida pelo pâncreas para permitir que a glicose se movimente para o interior. Sem insulina, a glicose se acumula no sangue e é eliminada pela urina por meio dos rins (NEIMAN,1999).

    Elas podem aparecer devido a diversos fatores como: obesidade, hereditariedade, alimentação inadequada, stress, gravidez, sedentarismo, etc. Ela é dividida em tipo I e II.

    A tipo I ou insulino dependente é caracterizado por uma distribuição auto-imune de células betas do pâncreas, ou seja, o próprio corpo destrói por engano o tecido que produz a insulina. É conhecida por diabetes infanto-juvenil por se manifestar geralmente neste período, onde o indivíduo depende de insulina extra (insulino dependente).

    Segundo Pollock (1993), o diabetes tipo I instala-se de forma mais rápida e é mais difícil de ser controlada e é tratada por meio de aplicações de insulina.

    A DM tipo II, a insulina está presente, mas não é eficiente para estimular a absorção de glicose nas células, o que é chamado resistência à insulina para compensar este efeito.

    A diabetes do tipo II se instala geralmente, de forma insidiosa, e resulta de uma produção reduzida de insulina pelo pâncreas ou de uma diminuição na sensibilidade dos receptores celulares à insulina. Ela é tratada inicialmente com dieta e exercícios, agentes hipoglicemiantes orais e, finalmente, para alguns indivíduos com a intervenção medicamentosa de insulina (POLLOCK,1993).

Prescrição de atividades para diabéticos

    Ao contrário da maioria dos hormônios, as concentrações de insulina no sangue diminuem durante o exercício em pessoas sem diabetes porque uma quantidade menor insulina é secretada pelo pâncreas. Como o músculo esquelético é quantitativamente o tecido mais importante no corpo para absorção de glicose, especialmente durante o exercício, e como a insulina é o principal estímulo para a absorção de glicose nas células em repouso, esse declínio na secreção de insulina durante o exercício parece, à primeira vista, um paradoxo. No entanto, a necessidade de insulina para a absorção de glicose diminui durante o exercício, porque as próprias concentrações musculares estimulam a absorção de glicose no músculo, mesmo quando não há insulina, a diminuição natural da insulina durante o exercício é necessária para evitar a hipoglicemia (HAYASHI et. al., 1997; HOLLOSZY, 2003).

    Inicialmente para a prescrição de uma atividade física para diabéticos é necessária a liberação médica, e que esse cliente esteja com os índices glicêmicos controlados, se for insulino-dependente.

    Segundo Novaes e Vianna, (2003), o primeiro passo para prescrição de exercícios é obter do indivíduo um exame que relate a condição dos níveis sanguíneos de glicose. É necessário também realizar uma avaliação antes de iniciar o programa de exercícios.

    Se antes do exercício a glicemia estiver entre 90mg/dl é porque há necessidade que se consuma de uma dose extra de carboidrato, e se estiver acima de 270 mg/dl deve-se retardar a atividade e medir as cetonas na urina, e se as mesmas forem negativas pode-se começar a atividade mas se forem positivas, faz-se necessário a intervenção por insulina e só deve-se começar as atividades quando as cetonas forem negativas (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2000).

    O controle de glicemia se baseia no nível de aproximadamente 250mg% e ausência de sintomas (VIVOLO,1994).

    Para que o início das atividades físicas seja realizado, é necessário que seja coletado todas informações possíveis do cliente bem como as avaliações antropométricas, cardiorespiratórias, composição corporal e um exame bioquímico completo.

    Ao se prescrever um exercício, deve-se ter consciência o tipo de diabetes e ficar atento para algumas questões que segundo Novaes e Vianna (2003), o diabético tipo I deve se precaver-se quanto à prática de atividade física logo após a aplicação de insulina. No tipo II, os exercícios ajudarão a perder ou manter o peso corporal. Deste modo, deve-se tomar cuidado com os exercícios que contribuem para que o sobrepeso do indivíduo comprima os vasos e comprometa a circulação sanguínea. O controle do volume e intensidade devem ser sempre realizados respeitando os apontamentos científicos que tangem as devidas prescrições para esta população específica. Ficar atento também com o horário de pico de insulina é outra obrigação que deve ter os profissionais envolvidos em tal processo.

    Segundo Vivolo (1994), os diabéticos bem controlados devem tomar cuidado com a hipoglicemia que pode ocorrer antes, durante, logo após ou nas 24 horas seguintes ao término da atividade física, pois o nível de glicose continuará a cair. Já nos mal controlados, a atividade física pode elevar o nível de glicose no sangue e também produzir ou aumentar os corpos cetônicos de forma indesejável.

    As pessoas com diabetes tipo I, não precisam restringir a atividade física, desde que a glicemia seja controlada adequadamente, já no tipo II o exercício físico tem um papel importante no controle da glicemia. A produção da insulina não é, em geral, uma preocupação nesse grupo, particularmente durante os estágios inicias da doença e conseqüentemente, o principal problema desse tipo de diabetes é a ausência de células alvo à insulina. Como essas células tornam-se resistente a esse hormônio, este não pode exercer sua função de facilitador do transporte de glicose através da membrana celular, com a contração muscular possui um efeito similar ao da insulina, porque a permeabilidade da membrana à glicose aumenta com a contração muscular, possivelmente em razão de um aumento de transportadores de glicose associados a membrana plasmática (WILMORE,1999).

    Vivolo (1994), afirma que a atividade física provoca uma diminuição do risco de doenças cardíacas, melhora da hipertensão arterial e em combinação com a dieta exerce um controle da DM tipo II, eliminando, em alguns casos, a necessidade de medicação.

    Monitorar a glicemia do individuo sempre antes da atividade, durante e depois para se um controle da glicemia são alternativas que dispomos para prescrições seguras, eficientes e também como modo de segurança para saúde desta população.

    Segundo o ACSM (2000), o individuo diabético deve se exercitar de 5 a 7 dias por semana, com a duração entre 30 e 40 minutos e a intensidade variando entre 60 à 70% da freqüência cardíaca máxima ou 50 à 60% do VO2 máximo. A atividade predominante deve ser a aeróbia. Entretanto atividades neuromusculares como força e flexibilidade tendem a ajudar nos resultados positivos no controle da doença.

Cuidados a tomar

    A prática de exercícios físicos só é recomendada quando os níveis circulantes de glicose no sangue são mantidos sob o controle mediante o uso de insulina e de dieta adequada. Caso isso não ocorra, há risco de levar o indivíduo diabético a um estado de hipoglicemia (GUEDES,1995; COCADE e MARINS, 2005).

    É importante a informação sobre os efeitos provocados pelos medicamentos utilizados pelo indivíduo. Os pacientes que ingerem simultaneamente insulina e betabloqueadores, podem mascarar os sintomas de hipoglicemia e de elevação da freqüência cardíaca (NOVAES e VIANNA, 2003).

    Segundo o ACSM (2000), exercícios de intensidade elevada ou longa duração devem ser evitados, acima de 60 minutos, como também em temperaturas elevadas.

    Deve ser dada uma atenção especial aos pés dos diabéticos, pois é comum apresentarem neuropatia periférica, nervos doentes, com alguma perda de sua sensibilidade. Como os exercícios, há tendência da diminuição do peso corporal e uma maior circulação periférica ajudando assim na maior sensibilidade e diminuição para que este risco venha a acontecer. Para ajudar ainda mais neste aspecto, deve haver seleção adequada quanto ao uso de calçados e todos cuidados preventivos.

    Segundo Chisholm (1992), a doença vascular periférica é igualmente mais comum entre os pacientes diabéticos e por essa razão, a circulação das extremidades, especialmente os pés encontram-se muitas vezes comprometidas.

    Não fazer uso de insulina no local onde o grupamento muscular vai ser solicitado no treinamento do dia e também ficar atento ao horário de seu pico.

Considerações finais

    Quanto a prescrições de exercícios para um indivíduo com diabetes, devemos ficar atentos quanto: ao tipo de diabetes, composição corporal, antropometria, idade, e realizar uma anamnese detalhada para conhecer melhor esse indivíduo, suas limitações, fármacos que ingerem, entre outras informações importantes.

    Após esta etapa, deve-se escolher a melhor atividade de acordo com o objetivo deste indivíduo e suas limitações, lembrando de sua patologia em primeiro plano.

    O ideal é um trabalho conjunto entre o profissional de educação física, o médico e o nutricionista. Onde o profissional de educação física irá prescrever a atividade baseada na avaliação e recomendação do médico e no tipo de dieta que o nutricionista passou, juntamente com o objetivo do aluno.

    O tipo de atividade não precisa ser somente aeróbico, mais o ideal é o conjunto de uma atividade aeróbica com uma neuromuscular, tomando cuidado com o peso para não causar muito impacto nas articulações e não dificultar passagem do fluxo sanguíneo, através compressão dos vasos sanguíneos.

    Atento também ao horário que foi ministrada a insulina, o tipo que foi usada, e o local aplicado. Deve-se aferir a glicemia antes da atividade e se ela estiver <80-100 mg/dl deve-se consumir carboidratos antes do treino e deve-se evitar o exercício no dia se a glicemia estiver entre 250 e 300 mg/dl e com cetonas presentes no sangue está menor que 300mg/dl, uma recomendação do ACSM (2000).

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  • CIOLAC, EG; GUIMARÃES, GV. Exercício Físico e Síndrome Metabólica. Rev Bras Med Esporte, Vol. 10, N 4, 2004.

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  • DULLIUS. J; ALONSO LÓPEZ, R. F. Atividades físicas é parte do tratamento para diabéticos: mas quem é o profissional que deve prescrever? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 9, n. 60, maio, 2003. http://www.efdeportes.com/efd60/diabet.htm

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  • NEIMAN, D.C. Exercício e saúde – como se previnir de doenças usando o exercício como seu medicamento. São Paulo: Manole, 1999.

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  • POLLOCK, MICHAEL L. & WILMORE, JACK H. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrisão para prevenção e reabilitação. 2ed. Rio de Janeiro: Medsi. (Trabalho original publicado em 1984), 1993.

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