Educação Física: a busca do rigor antropológico e o sentido polissêmico de sua prática Educación Física: en busca del rigor antropológico y del sentido polisémico de su práctica Physical Education: look forward the anthropological rigidity and the polysemy meaning of its practice |
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Departamento de Educação Física Instituto de Biociências – Campus de Rio Claro (Brasil) |
Prof. Dr. Wilson do Carmo Junior |
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Resumo Este artigo faz uma reflexão sobre a Educação Física numa relação com a cultura da sua prática. Esta reflexão é feita numa abordagem multidisciplinar que pode ser conduzida em dois seguimentos teóricos: a busca do rigor antropológico sobre a prática de atividade física, e exercícios e o sentido polissêmico da sua prática. Refere-se à questão da Educação Física como fenômeno cultural presente desde as comunidades primitivas. Nesta reflexão pretende-se redescobrir (identificar) e se afirmar conceitos e dados referentes à Motricidade como categoria cultural situada numa complexa cadeia de significados. Na cadeia de significados das práticas corporais, a questão da polissemia nos traz indicativo importante para a compreensão de que o corpo e o movimento humano ultrapassam questões simplistas e exigem um tratamento dentro da universalidade sobre o seu conteúdo. Nestas reflexões existem indicativos temáticos nos princípios da fenomenologia sustentados, sobretudo, pelas idéias filosóficas de Merleau-Ponty no contexto científico e filosófico contemporâneo. Unitermos: Educação Física. Prática. Rigor antropológico. Sentido polissêmico
Abstract This article makes a reflection about Physical Education in relation with the culture of its practice. This reflection is realized with multidisciplinary approach which can be finished in two theoretical section: in search of one anthropologic rigidity about physical activity, exercises and other as polysemous sense in its practice of physical education. It refers to the question of Physical Education as a cultural phenomenon since primitive communities. In this reflection is intended to rediscover and reaffirm regarding concepts and data to “Motricidade” as cultural category placed in a multiple network of meanings. In the network of meanings of the bodily practices the question of polysemy bring a important indication to comprehension that the body and the human movement go beyond simple questions and require a treatment into the universality of its contents. In these reflections there are thematic indications on the principles of the phenomenology supported, mainly by the Merleau-Ponty’ philosophical ideas in the scientific contemporary context. Keywords: Physical Education. Practice. Anthropologic rigidity. Polysemous sense |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010 |
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Introdução
Neste texto, vamos abordar a educação física como uma questão de sentido, reflexão na qual, poderemos compreender mais profundamente a relação entre a questão do corpo e o movimento humano e sua relação com a educação física e quais caminhos poderiam tomar para mostrar que é possível ampliar conceitos sobre a corporeidade e a motricidade através de um olhar de múltiplos sentidos. Atualmente, os termos corporeidade e motricidade humana vêm sendo objetos de estudos em várias áreas do conhecimento, sobretudo, na esfera acadêmica, ambiente este no qual, surge um campo teórico cujas fronteiras e limites de competências, ora se ajustam, ora se equivocam nas interpretações. Diversos intelectuais, ou estudiosos do tema, têm-se dedicado a mostrar a importância de tais conceitos em diferentes análises ou abordagens. Aqui, especificamente, nos limitamos a demonstrar a questão da corporeidade e da motricidade, cujo conteúdo se situa na ampla e importante área denominada educação física. Entendemos assim, que dentro de um vasto repertório de natureza prática, teórica e técnica, e capacitação de estudiosos sobre o tema educação física, sua natureza e seu conceito parecem divergir dentro da visão antropológica.
Devemos considerar, contudo, que o entendimento dessa área exige um estudo cuidadoso quando nos atemos para firmar a sua totalidade de sentido, entendendo por totalidade aquilo que representa o conjunto de conceitos e situações da prática que expressam seu significado; e, por sentido, tudo o que aborda um conteúdo dessa prática e que expressa um determinado significado ou valor para o homem. A busca da totalidade de sentido supõe a polissemia1, ou a multiplicidade de sentidos. Assim, questões conceituais tornam-se polêmicas, além de simples declarações ou apontamentos teóricos, sendo necessário redescobrir os diversos sentidos contidos nas categorias de conhecimento que revelam a educação física como atividade cultural. Ou seja, como um conjunto de saberes sobre questões humanas que possam ser identificados com o fenômeno motor humano, no sentido da sua expressão e representação, e que permita o reconhecimento de uma atividade prática cuja interação corpo-motricidade eleve a relação organismo-exercício físico a um patamar mais apurado. Daí a exigência de uma compreensão que envolva a corporeidade e a motricidade num significado que revele a relação corpo-movimento como uma atividade de seres vivos em constante mutação e em situações permeadas pela cultura.
Visamos resgatar o sentido antropológico da educação física, aquele no qual verificamos a exposição sistemática dos conhecimentos sobre corporeidade e motricidade do homem, compreendendo a antropologia e a filosofia como referência para a educação física. Também, entender a antropologia como reflexão, numa correlação entre a natureza da corporeidade e da motricidade humana em suas diferentes concepções, sobretudo quando as questões que empregamos para identificar o homem em suas adaptações ao meio, tal como é a questão do esforço exigido na busca da sobrevivência. Nesse caminho de reflexão, tal processo poderá indicar o sentido da motricidade como uma cultura da prática de exercícios.
Um tema assim tão aberto e com possibilidades de discussões interdisciplinares - a tentativa de entender a educação física, motricidade e corporeidade como cultura -, exige o uso de categorias carregadas de polissemia e requer a contribuição da filosofia para restabelecer os múltiplos sentidos das atividades inerentes ao ser humano e, sobretudo, da cultura humana.
O termo educação física, nessa proposta, surge como elemento mediador entre a natureza prática do homem e sua relação com o mundo dos objetos, utensílios, símbolos de suas inferências e interferências nas coisas da vida. Sendo assim, revelar uma motricidade humana que engloba a totalidade humana e que possa fazer sentido para a prática de uma educação física como prática cultural, exige pensar, refletir e compreender as estruturas corporais e motoras associadas às estruturas complexas da cultura.
Sem muitas certezas, a capacidade de reflexão que temos sobre motricidade humana talvez esteja sendo explorada de maneira tímida, pois, considerando a contribuição da filosofia no trato dos problemas humanos, não encontramos um retrospecto ou conjunto de conhecimentos de base filosófica que possa garantir uma compreensão da educação física aplicada à cultura, e da motricidade humana entendida como atividade para a vida complexa dos seres humanos. O que vemos freqüentemente é um discurso que reduz o sentido da motricidade à natureza mecânica de um organismo funcional, e que situa o exercício como algo dinâmico que garante determinados níveis de rendimento; ou um discurso sobre as práticas corporais ainda com olhares restritos à perspectiva orgânica e biológica, que parece não contemplar ou não conseguir atingir significados para além do lado prático.
Sabemos do perigo que é tentar investigar a educação física, sobretudo, quando estão em jogo conceitos como motricidade e corporeidade, porém compreendemos a necessidade da área para se afirmar como uma área de conhecimento ou disciplina científica. Entretanto não podemos ignorar as dificuldades de delimitação do campo epistemológico quando seus conceitos chaves podem ser vistos por diferentes sentidos. Neste caso, trata-se de um campo aberto a diversas interpretações e novas reflexões.
Motricidade como força de sentido
Será que podemos anunciar a motricidade como linguagem, símbolo ou sinal cultural? Por força de sentido, tratar da motricidade como fenômeno humano exige a visão polissêmica, sem a qual não poderíamos estabelecer relações amplas em qualquer nível de reflexão. Talvez seja possível inserir temas filosóficos que possam referendar as questões da motricidade como a atividade humana em sua essência e nela afirmar o conceito de educação física como cultura.
Parece ser necessário criar um quiasma2 intelectual, inteligente e aberto, para tentar redescobrir e reafirmar conceitos e dados referentes à motricidade como categoria situada numa complexa cadeia de significados com referência às condições da vida humana. Cadeia esta que relaciona desde as dimensões corporais relativas à tarefa dos músculos até a tarefa intelectual do refinamento do discurso e da compreensão da fala e da língua. Nesse sentido, é possível combinar esses elementos e deles extrair a capacidade de recriar elos e conexões conceituais sobre a questão do corpo e da motricidade do homem. Em meio à subjetividade desse argumento, há uma possível lógica na vida do sujeito motor, entremeada entre a motricidade e a linguagem.
Podemos dizer que há uma lógica na educação física, enquanto categoria da cultura corporal e motora, porém ainda oculta nas muitas outras linguagens. Essa lógica pode revelar os nexos entre a natureza da motricidade como um dado objetivo e a construção discursiva e subjetiva sobre a mesma. A compreensão dessa lógica pode ainda revelar dimensões poéticas e mágicas. Tanto que, pelos caminhos da antropologia, tais revelações mostram a força de novos sentidos: "É preciso, antes de tudo, formar o maior catálogo possível de categorias; é preciso partir de todas aquelas das quais é possível saber que os homens se serviram. Ver-se-á então que ainda existem muitas luas mortas, ou pálidas, ou obscuras no firmamento da razão". (LÉVI-STRAUSS, 1974, p. 36)
É provável que tenhamos que realmente redescobrir a motricidade nas dimensões ainda não reveladas. De qualquer forma, o olhar anatômico, físico-químico que tão abrangentemente justifica nossa motricidade, esse mesmo olhar pode estar voltado para dentro de uma educação física comparada à cultura. Mesmo que timidamente conjugadas – educação física e cultura – já oferecem uma possibilidade ampla de revelação de novos sentidos.
Talvez por isso, hoje, com a reflexão cuidadosa, seja necessário recuperar, para a educação física como disciplina, os seus fundamentos da maneira como fazemos no seu aspecto antropológico. É possível dizer que, na educação física, há uma concepção de motricidade que é humana, e, nela, uma condição filosófica, que é a reflexão. Na sua essência, referimo-nos ao movimento humano, à motricidade, como a maneira de intervir ou mesmo existir do ser humano. Entendo a motricidade humana como categoria filosófica que exprime, no homem, suas condutas motoras, e delas trazem conceitos que podem permitir a interação entre educação física e outras áreas do conhecimento.
Esse contato com outras disciplinas nos trará aberturas mais significativa do ponto de vista da formação de um conceito plausível na área da questão motora do homem. Nesse sentido, surge a questão: como torná-la parte do conteúdo disciplinar e de um conceito que possa dar identidade para educação física? É possível fundar a polissemia das práticas corporais e nelas agregar conceitos de educação física como uma atividade da cultura geral? Mesmo que em tais questões, ainda que de forma dispersa, existam conteúdos distanciados sobre o tema motricidade que sinalizam reflexões apuradas sobre as dimensões filosóficas da educação física.
Algumas obras e trabalhos permitem essas reflexões. MERLEAU-PONTY (1991), por exemplo, faz-nos acreditar, numa premissa essencial que permite catalisar certa ordem das coisas motoras e gestuais na linguagem indireta e nas vozes do silêncio. Seria pouco provável que Merleau-Ponty em seu tratado de antropologia pudesse fazer referência a uma motricidade reduzida à natureza organicista da ginástica ou a qualquer outra categoria de práticas corporais de maneira isolada. Vemos a partir da abordagem de Merleau-Ponty, um todo articulado quando a questão é o corpo humano. Muito mais que um organismo, natural por sua fisiologia e conceitual pelo sentido dado, o homem é ser em movimento que faz acontecer sua corporeidade, na arte, na linguagem, na fala, na gestualidade e nas expressões da sua motricidade.
A natureza da fala é orgânica, o sentido da fala é visual, o efeito da fala transpõe o verbal. Há muito mais que dizer e expressar sobre os dados envolvidos com a natureza humana que se comunica e que se move. Vimos que assim é o que se pode exprimir numa obra de arte, sobretudo na questão estética. Expressar é se comunicar, como revela MERLEAU-PONTY (1969) no seu conceito de olhar espiritual, cuja referência é o olhar do artista que retrata o corpo, e que nele expressa movimento. Com esses princípios, visamos o significado da corporeidade, ditar as coisas com o corpo, e afirmar que a motricidade nele nasce como força de expressão. Assim nasce um todo articulado, assim torna-se visível a polissemia, o fazer sentidos. Com as coisas corporais e motoras, o todo dos sentidos requer o diálogo tônico, tanto quanto o diálogo com suas forças invisíveis. Talvez o que teria sido o gestual no início dos tempos. Essa analogia nos encaminha para a reflexão sobre o nosso logos atual.
Faz sentido, sobretudo para a educação física, a discussão aberta quando se discute corpo e motricidade e quando o motivo dessa discussão reporta para a sobrevivência do homem. Todo o repertório motor do homem advindo da estrutura biomecânica, que implicava na exploração do mundo, num convívio permanente entre fazer com o corpo e o gesto motor da intencionalidade da fala, volta-se, como investimento, para a manutenção da vida.
Motricidade como forma de linguagem induz a relação gesto-fala. Implica articular a motricidade com a intencionalidade, o indicativo da intenção, a maneira de intervir com o corpo na totalidade de sentido. Seria a resposta integrada do corpo em direção ao seu destino de ação. Tanto que foram, segundo STAROBINSK (1984) que relata essa questão nos grunhidos primitivos, as acuradíssimas articulações verbais que geraram a oratória, e, ao cabo, poderiam gerar a graciosidade coreográfica da expressão corporal. Uma espécie de gramática esculpida nas combinações das frases e das refinadas movimentações de músculos do rosto, braços, tórax, quadris e pernas. Essas combinações refletem o conteúdo simbólico demonstrado na condição humana quanto ao uso do corpo como instrumento de comunicação.
A polissemia da motricidade também aparece na taxionomia do domínio motor. Na maturação de um simples reflexo, no refinamento e elaboração de uma habilidade básica fundamental, ou até no desenvolvimento das capacidades perceptivas e destrezas motoras. Nesse sentido, os estudos de GALLAHUE (1989) demonstram que o homem é um ser corporal em motricidade constante. O autor sinaliza a taxionomia do processo de maturação fisiológica que explica as condutas motoras do ser humano. Não muito distante desta interpretação, MAUSS (1974) analisa a natureza das mesmas condutas motoras nas comunidades tribais, como sendo “técnicas corporais” que expressam “práticas corporais” e que são entendidas como sinais antecedentes de toda a cadeia de significados da motricidade humana. Ora sinalizam-se assim, duas vertentes conceituais que se assemelham na observação dos atos físicos na mesma dimensão de atos mágicos, expressos apenas no conteúdo da linguagem. As técnicas que implicam o uso do corpo como ferramenta e as práticas que orientam a vida humana denotam o sentido eficaz da aprendizagem situacional das condutas motoras. Exemplos de um desenvolvimento motor cujo meio ambiente é seu referencial fundamental mais promissor na observação, interpretação das ações motoras e, sobretudo, na amplitude de múltiplos sentidos. Não é mero acaso que para executar uma tarefa que implica a manipulação do objeto e a exploração do meio extensivo à vida, as práticas corporais estão sempre presentes. Mauss observa uma cadeia de significados na necessidade do uso do corpo destacando três dimensões: a relevância sociológica, psicológica, e fisiológica. Gallahue denota o fundamento do movimento sistematizado, taxionômico e demonstrável pela visão explicativa do fenômeno. Curiosamente, ambos convergem no campo teórico-técnico numa expressão das condutas motoras cujas categorias conceituais constroem, igualmente, um único conceito de prática. Ainda que tardiamente, podemos reivindicar um tratamento científico filosófico para demonstrar a importância das práticas e da técnica corporal como recurso antropológico na mesma maneira na qual foi construída a ampulheta de Gallahue. Observação tal que viria a colocar em debate duas vertentes que se encontram numa mesma proposta de reflexão. È nesse sentido que a dança, as atividades lúdicas, a imitação para aprender com o mundo natural é que reforça a probabilidade de abrir o debate sobre a corporeidade como simbologia referente ao ser corporal e a motricidade como signos de uma nova linguagem.
A noção de técnica corporal nos conduz a observar o sentido prático de qualquer tarefa ou intervenção no meio onde o corpo humano se faz como ferramenta. Tal condição comum à espécie humana apenas se diferenciam dentro do olhar antropológico. Tal processo se revela quando vimos compreender a relação corporeidade e cultura, fenômeno no qual, onde cada sociedade em particular faz uso do corpo como uma forma eficiente de atuar, mover, sentir a vida em motricidade constante como forma de expressão e de linguagem. De certa maneira, ela demonstra haver uma corporeidade em seu sentido conceitual, talvez uma abertura para o debate entre corpo natural e corpo conceitual. O resultado dessa reflexão seria a revelação polissêmica, a integração do ser humano ao ser corporal e motor, a unidade conceitual e seus domínios com o mundo natural. Talvez teria sido assim, quando do esforço e do condicionamento físico que conhecemos hoje e sua semelhança com as habilidades básicas que uniram o atletismo primitivo com o atletismo olímpico; maneiras semelhantes de fazer uso dos movimentos, habilidades capacidades físicas, num constante treinamento para aperfeiçoar o sentido de sobrevivência. O primeiro, a singularidade da competição do ser humano com o mundo natural. O segundo a particularidade de uma modalidade que se sustenta pelo seu simbolismo, a condição primária que faz do espetáculo olímpico o reflexo de um repertório de movimentos universais. Assim vemos que a atividade física se volta ao referencial antropológico que sinaliza a necessidade de engajar o símbolo à modalidade, o rito ao espetáculo, nasce dessa relação a semântica da motricidade e dentro dela a metáfora educação física.
Se na abordagem antropológica, àquela na qual, vimos os primatas com extrema destreza se superarem na luta pela vida, seja como exercício da expressão e gestualidade aplicada como fenômeno de comunicação e significado, é nessa condição que vemos a prática corporal ser transformada em simbolismo. Como necessidade ou prazer de mover, ato físico como um projeto motor da imitação à a conduta pedagógica, como uma espécie de treinamento diário, coerente com as exigências do trabalho e da busca pela saúde e sobrevivência. O corpo, na anatomia e mecânica estruturada se ajusta ao espaço e ao esforço para obter o rendimento ou sucesso de tarefas cotidianas necessárias à sobrevivência de qualquer espécie. Tarefas tais como a cópula, a busca de alimento e a defesa ou domínio de território, são vistas como experiências motoras e como um processo de treinamento contínuo para conseguir constantes resultados que aperfeiçoem as condições de vida. O uso do corpo tem, além da lógica da aprendizagem motora, um significado antropológico constantemente corrigido pela necessidade de aprender para viver: as primeiras formas de adaptação, que ao longo do tempo transformaram-se em atividades físicas para sobrevivência e em formas da linguagem. Mauss descreve a técnica corporal como a base do que poderia ser hoje a polissemia da prática: a técnica corporal como sinônimo da educação e da compreensão dos elementos que compõem a uniformidade do uso do corpo, na estrutura de uma comunidade tribal e, por analogia, de qualquer outra sociedade. É por esta razão que é possível entender o corpo como entidade antropológica de articulação de sentidos. Gallahue traduz seus estudos como aspectos comparativos com os modelos teóricos, estabelecendo as classificações e desenvolvimento, de forma tal, que trás à luz da teoria o mesmo teor e profundidade na qual Mauss o fez na sua observação nas comunidades primitivas. Esse aspecto da reflexão de Maus nos conduz a reflexão sobre o desenvolvimento humano, sobretudo, a condição original, na qual o corpo e o movimento humano tornam-se fenômenos de uma cultura da prática original e de princípios norteadores para uma cultura da espécie, não unicamente uma cultura daquilo que entendemos ser a Educação Física de forma isolada de outras disciplinas.
Na prática, seria uma antropologia dos sentidos
Na antropologia, a observação é ponto fundamental. Observar nos coloca diante da capacidade dos cinco sentidos nas suas dimensões físicas relacionadas ao uso do corpo. Por ação do corpo, exploramos o meio ambiente, descobrimos a imensidão do espaço natural e somos exigidos a ser habilidosos na exploração de utensílios ou equipamentos, ou mesmo, na capacidade de transitar ou nos movimentar no espaço físico, seja num ambiente natural ou artificial. Entretanto, às vezes, assistimos às limitações no uso das habilidades e não conseguimos nos identificar com a tarefa motora, parecendo-nos difícil articular os sentidos, quando, diante da necessidade de responder aos esforços, a dificuldade surge como algo misterioso ou desconhecido.
Essas dificuldades tidas com ausência de sinestesia, tato ou luminosidade nos exigem novos esforços para sustentar um organismo sensível. Parece que perdemos o alfabeto que traduz a linguagem dos sentidos, sentimo-nos perder o ato motor espontâneo. Perdemos o que teria sido na linguagem primata a primeira expressão, onde reinava o que havia de mais primitivo na nossa motricidade e corporeidade: a capacidade de exploração (BUYTENDJIK, 1957).
Curiosamente, quando usamos o corpo em tarefa desconhecida para nossa capacidade motora e obtemos sucesso, descobrimos, com o tempo, que somos dotados de infinitas capacidades motoras que poderiam ser lidos como instintos de força do corpo ou como novos sentidos da capacidade da comunicação do nosso organismo sensível. Basta observar, de maneira pura e simples, um bebê em fase de desenvolvimento motor para crer que a toda fala corresponde um ato motor, o gesto propriamente dito; o desenvolvimento de uma atividade ou tarefa implica no aprimoramento da capacidade motora ou da capacidade de se comunicar ou vice-versa. Esse entendimento pode ser observado por WALLON (1945) em crianças quando estas reagem a estímulos quando expostas em situações as quais exigem adaptações a novas situações, seja de alegria, perigo, sensações de dor e prazer, fome e sede.
Na visão de Wallon, o psiquismo do outro, para os bebês, não parece ser algo estranho, pois se revela na expressão e aparência corporal: gestos, mímicas - uma sinestesia que habita o interior do organismo como um todo articulado. Cada gesto é uma fala, e terá ali mesmo sua representação mental tanto quanto é muscular. Quando esse mesmo organismo puder ser sentido como linguagem transitando entre o ato e o pensamento, temos por experiência a observação como anúncio da reflexão, nem sempre lógica ou de explicação imediata, porém, uma identificação com a vida motora, um espécie de tensão psíquica, como diz Wallon, que se conjuga como ato de pensar e de se mover. Uma espécie de ginástica especializada, uma ocupação precoce de sua sensibilidade, que de alguma maneira irá fornecer à linguagem os seus mecanismos sensoriais e motores.
Nas manifestações que implicam relações entre a afetividade e o movimento, nasce uma representação mental que faz sentido, e, nela, o primeiro ato de aprender. Mesmo a imitação que exige apenas um estado de atenção que não se ensina, exige um gesto e requer articulação dos sentidos. Nessa relação entre gesto e linguagem repousam os fundamentos da aprendizagem original.
Ora, se a antropologia, como a entendemos aqui, nos leva a recuperar os estados primitivos do homem para compreender a sua evolução, por que não considerar o legado antropológico das relações entre gesto motor e linguagem corporal como um instrumento adequado para pensar a motricidade? Não menos distante dessa questão está o discurso sobre o uso do corpo na sociedade contemporânea. Nesse sentido, vale perguntar sobre a importância da reflexão antropológica para a compreensão da complexa condição da corporeidade na vida humana. A perspectiva antropológica permite repensar o projeto motor humano e o significado dos cinco sentidos para além da concepção biológica e teórica. Por exemplo, como entender na sociedade contemporânea o imobilismo e o sedentarismo? Parece que o ambiente se tornou inanimado. Parece que a motricidade de que dispomos tornou-se mais simples e, de acordo com as exigências do ambiente, ao organismo é dado um modo cômodo de reação. O corpo humano, em sua biomecânica que se deforma pela ausência de uma percepção apurada, parece ter-se adaptado ao empobrecimento das posturas cômodas e com elas da percepção limitada dos sentidos. Não sabemos exatamente como funciona o corpo enquanto seres destreinados ou inaptos para responder aos automatismos. O corpo, objeto funcional, enquanto integrante e integrado na existência física com o ambiente, já não se move tanto quanto necessita. Há, se não a perda de um estado de consciência de corpo e movimento, uma cômoda e sutil fadiga mental, tanto quanto motora.
Talvez seja preciso recuperar uma hermenêutica dos sentidos para poder enxergar um organismo com a sua motricidade limitada. Vivemos numa constante necessidade de movimento; talvez seja por isso que o jogo, o lúdico, as diferentes modalidades esportivas estão sempre na cadeia das necessidades da vida dentro de sistemas culturais específicos. Somos um todo sensorial, diz a ciência. Entretanto, ainda não está bem esclarecida a ausência da percepção para nos mantermos aptos e ativos, que nos avisa ou não sobre uma determinada reação do corpo, a quantificação e a qualificação dessa reação, os mecanismos decisórios, e até mesmo as transformações posturais necessárias a uma melhor adaptação. Perante esses desafios, a hermenêutica dos sentidos poderia nos indicar o fio que emenda a categoria sensorial que refez modos, atitudes e comportamentos treinados de acordo com as exigências do ambiente.
A hermenêutica dos sentidos considera o fato de o homem se pôr em pé e marchar uma primeira motricidade com forma de linguagem. Somos portadores de uma motricidade com sentidos, aquela que nunca deixou de ser linguagem de exploração, refinada, e que poderíamos chamar de motricidade imanente. O mover humano se transforma em força de sentido não apenas pela estrutura biomecânica ou anatômica, mas por uma organização mental que se afina com o todo do ser corporal. Nenhum gesto motor está isolado de sentido e sentimento. “O gesto lingüístico, como todos os outros, desenha ele mesmo o seu sentido” (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 253). E com o gesto motor expressivo, seria diferente? É possível acreditar que não. O sentido da motricidade é apenas o modo como agimos no mundo, o da fala é como manejamos o mundo lingüístico, e os dois se encontram nesse complô carregado de significações em duplo aspecto: filogenético e ontogenético. Esse dois aspectos deveriam ser explorados pela Educação Física não apenas como projeto científico, mas como projeto da reflexão antropológica, como processo de maturidade da razão que pode ser comparado com a maturação e aperfeiçoamento dos sentidos da corporeidade, além das conexões neurológicas; os sentidos humanos, quando articulados, nos levam a um aprimoramento sensorial, diz Merlau-Ponty.
No comportamento motor, o sentido do gesto não está por trás dele, mas está nele e se confunde com a estrutura do mundo que o gesto desenha. Por conta da motricidade, descobrimos e desenhamos, a cada instante, um novo sentido, uma nova linguagem. Quando há uma tarefa motora a ser realizada, todo um repertório neuronal e muscular se empenham em processar seus elementos para o sucesso da tarefa. Em cada nova ordem motora, encontra-se uma organização mental. Assim sobrevive o primata sem que precise conhecer o processamento de informação: sua consciência ou seu pensamento está dentro da lógica da necessidade.
Na perspectiva da antropologia dos sentidos, o ato de fazer pela necessidade supera o ato de fazer por convenção ou obrigação. Assim é o bebê como disse WALLON (1945), assim é o primata como disse MAUSS (1974), assim são nossas escolhas para as aptidões como disse MERLEAU-PONTY (1994): é com o corpo que compreendemos o mundo, assim como é pelo corpo que o percebemos. Mais que biologia da vida, motricidade é sempre pré-verbal disse Wallon; atuar é sentir emoções - sentimentos paralelos entre o tônus e a consciência.
Haveria um entendimento que ultrapassa a capacidade de ver, ouvir, tocar, gustar, provar, além do "sentido dos sentidos" biológicos? Seria o ser corporal um reflexo antropológico à maneira dos sentidos articulados, e não apenas um complexo bioquímico isolado em cada categoria sensorial? Existiria a senso-motricidade capaz de revelar segredos de uma multiplicidade de comportamentos motores? Seria possível recuperar a educação dos sentidos com a educação física que conhecemos, e nela rever o elo entre o rendimento do primata e do homem contemporâneo?
O homem primitivo possui um refinado catálogo de elementos substanciais, um mecanismo sensorial que ainda parece existir no homem contemporâneo; é o que LEROI-GOURHAM (1974) considera como sensomotricidade, o resgate dos sentidos, na visão mais apurada. Esta parece ser a razão por que, para o homem, o significado dos sentidos não se esgota na função de tão somente provê-lo de informação. Dessa maneira, ao referir-mo-nos à motricidade no seu sentido mais remoto, parece ser coerente aceitar os sentidos como ponto de reflexão, o que poderia ser um recurso seguro do ser humano no meio ambiente em que vive. MERLEAU-PONTY (1969) segue a linha antropológica e faz alusão à unidade do sentido com o pensamento e imaginação na estrutura sensorial do corpo quando este executa uma tarefa motora: pensar é tentar - tentar procurando. Tal concepção dá a entender que o projeto da educação física, com suas peculiaridades conceituais, deve se engendrar na antropologia, o que implica ver o mundo do movimento humano como a convergência do gesto com a palavra.
Considerar a corporeidade e a motricidade como fenômenos que podem associar gesto e palavras que nos levam as ações e intenções dirigidas a alguma coisa ou lugar, parece exigir certa subjetividade na análise. Os fatos observados quando nos movemos, a simples interação do movimento humano com o meio, seja para executar uma tarefa ou mesmo para responder a um estímulo, confere ao homem um certo refinamento motor especificamente humano que pode ser explicado pela ação muscular, porém não consegue explicar a intenção. Por exemplo, entendemos os elementos que compõem o quadro nervoso e muscular da visão, porém não conseguimos justificar o ato de ver (MERLEAU-PONTY, 1994). É por isso que, por mais precisa e confiável que possa ser a explanação científica do gesto motor, a bioquímica de seus elementos que converge para a resposta motora, ainda assim, não se consegue justificar por que nos movemos.
Considerações finais da primeira parte: motricidade como linguagem e como cultura da prática
Pela análise de um simples conceito de prática corporal, como a entendemos hoje, é difícil não falar em educação física como uma tarefa da cultura dos homens. Não apenas como um campo de atividades desportiva e ginástica, mas como atividade que interfere nas relações do homem com o mundo em ampla categoria de expressões e significados. No entanto, a educação física tradicional parece reduzir à condição de exercício toda a extensa capacidade de ver o corpo humano além do organismo. Daí a necessidade de fazer ou refazer a relação corpo-motricidade para que seja possível projetar a educação física como cultura. No ambiente cultural em que vivemos, investigar sobre questões da corporeidade e motricidade não se deve a serem temas singulares, da moda, ou apenas para cumprir o imediatismo da necessidade de pesquisa para confirmar a educação física como disciplina ou profissão. O nosso interesse situa-se, além disso, e se preocupa com o tema abrangente do homem, abordado hoje por diferentes áreas do conhecimento.
A reorientação dos conceitos sobre as práticas corporais, o uso do corpo e o mundo vivido3 parecem coexistir num ambiente de relações interdisciplinares, parecem estar ressurgindo nas discussões de hoje como temas relevantes. É de domínio público que tais temas vêm tomando espaço nas publicações das mais diferentes abordagens. Filósofos, sociólogos, educadores, psicólogos, professores, e todos aqueles interessados no desenvolvimento humano na sua totalidade, começam a resgatar o discurso sobre o corpo. A questão do corpo permanece na pauta como fenômeno a ser explorado. Nesse sentido, a educação física beneficia-se com a contribuição do amplo catálogo de referências sobre a corporeidade e motricidade das diferentes áreas do conhecimento.
A corporeidade e a motricidade alcançaram espaços culturais marcando etapas, sugestionando necessidades, reordenando conceitos sobre o organismo, sobre questões de saúde, bem-estar e do esporte. Além disso, firmou-se um gradual pacto educativo nas escolas, parques, clubes, comunidades, como expediente ainda profilático, medicinal ou compensatório. O corpo e o discurso sobre ele estão na agenda cultural, no manifesto estético que articula saúde e beleza, estampado no meio publicitário e jornalístico4, como recorte de conhecimento. As coisas corporais tornaram-se objetos privilegiados de sujeitos motivados pela confusa necessidade de transformar velhos em jovens, feiúra em beleza, doentes em saudáveis. O corpo parece ter-se estabelecido na ordem cultural como coisa além do bem e do mal. A nova ordem está aí, os diversos sentidos do corpo também, contudo os meios de comunicação tanto nos informam quanto nos confundem sobre o tema. O dado importante, porém, é que a cultura adotou a corporeidade e a motricidade do homem sem dar-lhe percepção clara do assunto.
Neste trabalho, pensamos educação física como um tema global para o homem e, ao assim pensarmos, percebemos que se abrem vertentes do conhecimento com enfoque interdisciplinar, incluindo as práticas corporais, o jogo, a dança, o esporte e a ginástica. Ainda que tardiamente, já há profissionais, na esfera da educação física, que se interessam pelo corpo como linguagem ou como objeto de reflexão, visando dar mais sentido ao que entendemos por práticas corporais. É o que nos permite ultrapassar as concepções biomecânica ou físico-química. Nessa perspectiva, parece que estamos redescobrindo uma corporeidade significativa para toda a humanidade. Possivelmente, uma gramática corporal atrelada à ginástica, como forma de concordância entre o saber e o fazer, para a qual que o recurso de compreensão poderia aceitar semanticamente a frase ‘saber com vigor físico’.
A cultura motora nos leva a pensar sobre a motricidade, o que requer tanto força intelectual quanto força de sentido ou, metaforicamente dizendo, esforço físico é uma condição fundamental para a consciência. Pensar é atitude da consciência, é ação motora, como já afirmou Merleau-Ponty (1957). Mover é consciência, como diz o mesmo Merleau-Ponty, e a motricidade adquire valor cultural na medida em que reflete a necessidade de sobrevivência, como já dito anteriormente. Esta necessidade se manifesta desde o primata até o homem contemporâneo: necessidade de superar distâncias, vencer hostilidades, aliviar a tensão entre o homem e o meio. Manifestam-se também nos ritos de passagens, vistos pela antropologia na dança como força de adaptação, em treinamentos de guerra e caça das comunidades tribais (MORRIS, 1973) e nas técnicas corporais e de adaptação ao crescimento de Mauss (1974). Assim como as infinitas dimensões do jogo, na sua forma lúdica, indicam a relação entre este e a vida prática e que, segundo Buytendijk (1977), insere o conteúdo semântico do ser que joga na ação da consciência. O jogo torna-se vetor de um estado de ânimo constante no qual toda a motricidade é resgatada como forma de viver. Buytendijk, em sua metáfora, diz algo profundo e de rigor psicológico, que nos faz pensar: "O jogo torna-se dono do jogador, ele o mantém escravizado" (p.81).
Fica aqui a questão para reflexão: podemos afirmar que corporeidade e motricidade formam um conjunto de fenômenos que permite ampliar e conceitos relativos às práticas corporais como conteúdo de uma ciência tanto quando a arte, de filosofia tanto quando psicologia como na sua origem e essência fenomenológica? Caberia dentro do ambiente intelectual e acadêmico da Educação Física, um encontro verdadeiramente interdisciplinar, no qual o conjunto de disciplinas possam estabelecer vínculos de rigor ontológico e que viria a confirmar e legitimar a identidade e uma cultura da prática?
Tarefa difícil. Porém questões de linguagens, aqui discutidas, na qual se abre o debate para uma polissemia das práticas corporais, o caminho fica aberto. Resta-nos o esforço de alimentar um estado de consciência como é a própria natureza da prática. Um conjunto de fenômenos que nos devolve a teoria. Sobretudo como consciência natural e expressiva. À maneira do esforço orgânico; transpiração tanto quanto inspiração como á tudo que ao ser humano é força de sentido.
Notas
A palavra polissemia indica a diversidade das referências semânticas, dos significados possuídos pela mesma palavra. Embora seja um princípio semântico, a questão da polissemia pode ser vista numa ampla categoria de significados, tanto textual como dentro do coloquial ou formas cotidianas de expressão. A obra de Ullmann, S. (The principles of Semantic. New York: Mac Graw Hill, 1966), fornece um substrato precioso para a compreensão do sentido literal da polissemia como forma lingüística e sua transcendência para a prática da vida. O que nos dá maior força para esse entendimento, como possibilidade de lidar com a figura do texto e desta para a ação. È também Ricoeur, P. (Teoria da interpretação: o discurso e o excesso de significação. Lisboa: Edições 70, 1987), um autor cuja obra ajuda a compreender a riqueza da polissemia na comunicação humana.
O termo refere-se à concepção de Merleau-Ponty, em Visível e invisível. São Paulo: Perspectiva, 1984, cap. I, p. 127. O autor interroga o sentido da reflexão, faz a crítica sobre a verdade absoluta das idéias e promulga uma possibilidade de investir nos entrelaçamentos de conceitos, linguagem, o que permitiria obter dados reflexivos mais autênticos e seguros. Para o autor, ver, falar, pensar, com certa reserva, são passíveis de conhecimento e de reflexão, são experiências irrecusáveis e enigmáticas.
O mundo vivido, predicativo que Husserl, segundo Kelkel & Schérer (1982), explora para identificar a realidade e nela fazer valer a experiência, a presença, a atitude natural, na qual se descobre, na realidade, o seu sentido mais autêntico, o acesso imediato à percepção daquilo que é e que se experimenta. A existência ‘adequada’, ‘rigorosa’, segundo o autor, o fundamento do sentido, a união entre o perceber e o saber que se vive tanto quanto pode ser refletido pela filosofia ou explicado pelo modo científico. È a experiência da vida no seu sentido literal.
Com o intuito de obter dados para esta reflexão, observou-se durante 12 meses o tempo dedicado a temas relacionados com o corpo, saúde, dietas, esportes, atividade física de todos os gêneros, em horário nobre de televisão. Verificou-se que: 30% do horário nobre das emissoras destinam-se à publicidade para temas sobre o corpo. Nas revistas de caráter mercadológico, de publicação mensal, foram catalogados 74 títulos.
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