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Análise do desempenho em quadra de 

jogadores de futsal: um estudo longitudinal

Análisis de la performance en cancha de jugadores de futbol sala: un estudio longitudinal

Analysis of the performance of futsal players in game: a longitudinal study

 

*Professor Titular da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

Universidade de Passo Fundo (UPF)

**Professor Auxiliar da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia

Universidade de Passo Fundo (UPF)

***Professor Titular da Escola de Educação Física e Esporte

Universidade de São Paulo (USP)

Hugo Tourinho Filho*

Ben-Hur Soares**

Valdir José Barbanti***

tourinho@upf.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Com o objetivo de acompanhar o desempenho em quadra de uma equipe de futsal profissional ao longo de todo uma competição, dez jogadores foram filmados e analisados durante os jogos do Campeonato Estadual Gaúcho de Futsal – Série Ouro. Para a verificação do desempenho em quadra, foi realizada a avaliação dos seguintes critérios: passe certo, passe errado, desarme, chute certo, chute errado, chute que prensou, chute prensado, interceptação de bola, assistência e perda de bola. Para comparar o comportamento do desempenho em quadra, apresentado pelos jogadores, nos diferentes momentos de avaliação foi utilizado uma análise de variância para medidas repetidas. O teste de comparações múltiplas Post-Hoc de Bonferroni foi empregado na identificação das diferenças específicas quando a ANOVA mostrava diferenças significantes. Os resultados mostraram que, em média, o número de passes certos e o número de assistências permaneceram constantes durante o primeiro turno da primeira fase até o final do primeiro turno da segunda fase do campeonato; a partir daí, verificou-se uma queda no rendimento. Os demais critérios mantiveram-se constantes durante todas as fases do campeonato, que teve uma duração total de aproximadamente nove meses. A regularidade dos resultados apresentados pela equipe analisada vai ao encontro da literatura que tem indicado que, no período competitivo dos jogos coletivos, a forma esportiva de todo o grupo pode ser conservada por mais tempo que a forma individual.

          Unitermos: Futsal. Desempenho. Análise notacional

 

Abstract

          With the aim of accompanying the performance in game of a professional futsal team during a competition, ten players were filmed and observed during the games of the Futsal Championship of the State of Rio Grande do Sul (Brazil), golden series. In order to ascertain the performance in game, an evaluation of the following criteria was accomplished: right pass, disarmings, right kick, wrong kick, crushed kick, kick crushing, ball interception, ball loss, and assistance. In order to compare the players' performance in game in different moments of the evaluation a variance analysis for repetitive measures was applied. The Bonferroni Post-Hoc multiple comparison test was applied for the identification of specific differences when the ANOVA showed significant differences. Results showed that, on average, the number of right passes and assistances remained constant from the first turn of the first part until the end of the first turn of the second part; after that, a fall in performance was observed. The other criteria remained constant during all the parts of the championship, which lasted for about nine months. The regularity of the presented results matches with the literature, which has indicated that during the competitive periods of the collective games the sportive form of a whole group can be conserved for a longer time than the individual one.

          Keywords: Futsal. Performance. Scouts

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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1.     Introdução

    A análise do jogo, a partir da observação das atividades dos jogadores tem se constituído num importante meio para o conhecimento do jogo, tanto no que diz respeito às solicitações físicas como às exigências técnicas e táticas.

    Na análise do jogo, ainda que do ponto de vista metodológico, seja conveniente falar de técnica e tática, na própria realidade do jogo o limite entre uma característica e outra é pouco constatada operacionalmente. Parece mais lógico que toda decisão tomada por um jogador deve ser referendada por uma execução técnica correta, pois a atividade do jogo é intermitente, com mudanças de intensidade regularmente que vai de uma corrida rápida num contra-ataque a uma recuperação andando e até mesmo parada. As atividades do jogo são extremamente imprevisíveis podendo ser resultantes da espontaneidade do jogador como de um padrão tático da equipe.

    O Futsal, como os demais esportes coletivos, se realiza em situações abertas de jogo, que se caracterizam por numerosas respostas possíveis para cada atividade do jogador. Por isso é necessário que o treinador conheça esta realidade de forma mais profunda para a tomada de decisão em relação ao treinamento e assim, criar situações de treino em que trabalhe de forma específica as situações concretas do jogo.

    O Futsal tornou-se um esporte com intensa movimentação, sendo, por isso, extremamente atraente e popular. No entanto, ainda se observa uma certa carência de informações a seu respeito, principalmente, no que diz respeito a análise do jogo.

    Sabe-se que o estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipes vem se firmando como um forte argumento para a organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos coletivos. Na literatura, esse tipo de estudo tem sido qualificado por meio de diferentes expressões, dentre as quais se destacam: observação do jogo, análise do jogo e análise notacional (GARGANTA, 1998).

    Procurando seguir essa linha de raciocínio, o presente estudo teve como objetivo acompanhar o desempenho em quadra de jogadores de uma equipe de futsal ao longo de nove meses, sendo analisado durante esse período dez critérios normalmente utilizados pelos técnicos deste esporte em suas planilhas de controle de qualidade dos jogos (scouts), a saber: aproveitamento de passes (passes certos e passes errados), desarme, interceptação de passes, chutes que prensou, finalizações (chute certo, chute errado, chute prensado), assistência, perda de bola e tempo médio de permanência em quadra.

2.     Metodologia

2.1.     População e amostra

    Considerou-se como população, neste estudo, jogadores profissionais de futsal que participaram do Campeonato Estadual de Futsal - Série Ouro, RS.

    A amostra foi selecionada de forma não-aleatória, sendo composta por dez atletas voluntários, com idade média de 27,9 ± 4,46 anos, que faziam parte de uma equipe de futsal profissional.

    O presente estudo atendeu as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional da Saúde de 10/10/96 para a realização de pesquisa em seres humanos e foi submetido e aprovado pelo Comitê Local de Ética em Pesquisa.

2.2.     Análise de jogo

    No presente estudo, para que se pudesse registrar com a maior precisão as ações ocorridas durante a realização das partidas, os jogos foram filmados, fazendo-se posteriormente, a análise dos seguintes parâmetros: aproveitamento de passes (passes certos e passes errados), desarme, interceptação de passes, chutes que prensou, finalizações (chute certo, chute errado, chute prensado), assistência, perda de bola e tempo médio de permanência em quadra.

2.3.     Critérios adotados para a análise do desempenho em quadra

2.3.1.     Passe errado (PE)

    Foi considerado passe errado a situação em que o jogador tentava transferir a bola para um companheiro de equipe, porém essa era interceptada por um adversário, ou tomava a direção diferente de seu objetivo, indo para fora da quadra.

2.3.2.     Passe certo (PC)

    Foi considerado passe certo a situação em que o jogador transferia a bola corretamente para um companheiro de equipe.

2.3.3.     Desarme (DES)

    Foi considerada como desarme a situação em que o jogador da equipe avaliada, durante a marcação de um adversário, conseguia desarmá-lo, tirando-lhe a bola e saindo com ela sob seu domínio.

2.3.4.     Interceptação de passe (IP)

    Foi considerada como interceptação de passe a situação em que o atleta avaliado conseguia interceptar a trajetória da bola da equipe adversária, e saía jogando com ela sob seu domínio.

2.3.5.     Chute que prensou (CQP)

    Foi considerado o parâmetro chute que prensou toda bola que, ao ser chutada por um jogador da equipe adversária, era totalmente interrompida por um atleta da equipe avaliada.

2.3.6.     Chute certo (CHC)

    Foi considerado chute certo toda situação em que a bola, ao ser chutada por um atleta da equipe avaliada, ia diretamente para a meta adversária.

2.3.7.     Chute errado (CHE)

    Foi considerado chute errado toda situação em que a bola, ao ser chutada por um atleta da equipe avaliada com o objetivo de atingir a meta adversária, ia diretamente para fora ou longe da goleira adversária.

2.3.8.     Chute prensado (CP)

    Considerou-se chute prensado toda situação em que o atleta ao chutar, ou já tendo chutado a bola, essa tinha a sua trajetória interrompida por um atleta da equipe adversária.

2.3.9.     Assistência (ASS)

    Foi interpretada como assistência toda situação em que um jogador da equipe avaliada passava ou ajeitava a bola de qualquer outra forma para um companheiro da equipe, permitindo-lhe realizar o arremate final ao gol adversário.

2.3.10.     Perda de bola (PB)

    Foi considerada perda de bola toda situação em que o jogador da equipe avaliada era desarmado por um atleta adversário, ou perdia o domínio da bola, deixando que ela saísse por uma das linhas limítrofes da quadra, ou passasse para o domínio da equipe adversária.

2.4.     Estrutura do campeonato

    Treze times participaram do campeonato, que foi dividido, basicamente, em duas fases. Na primeira fase, composta por turno e returno, os times foram divididos em duas chaves, contendo seis e sete equipes, respectivamente. Em cada chave, classificaram-se cinco equipes para participar da segunda fase da competição. Na primeira fase, foram disputados 12 jogos.

    Na segunda fase, as dez equipes enfrentaram-se em turno e returno no sistema “todos-contra-todos”, sendo classificados apenas os quatro primeiros colocados, totalizando, ao final dessa fase, dezoito jogos. Os quatro primeiros times classificados na segunda fase passaram a se enfrentar no sistema de cruzamento olímpico (primeiro contra o quarto e o segundo contra o terceiro) em um play off - melhor de três jogos. Desse play off saíram os finalistas do campeonato.

2.5.     Qualidade dos dados

    Com o objetivo de estimar a qualidade dos dados coletados para efeito do estudo foi sorteado um dos jogos do campeonato para uma segunda análise. Para a análise do controle de qualidade dos dados optou-se pela utilização tanto do índice de reprodutibilidade relativo como do absoluto.

    Estatisticamente o índice de reprodutibilidade relativo foi calculado pelo coeficiente de correlação intra-classe, enquanto que o índice de reprodutibilidade absoluto foi determinado pelo chamado erro técnico de medida (Tabela 1). Quanto à sua operacionalidade, o erro técnico de medida foi definido pelos seus idealizadores como a raiz quadrada da soma das diferenças entre as duas aplicações, ao quadrado, dividida por duas vezes o número de pares (GUEDES, 1994):

Tabela 1. Coeficiente de correlação intra-classe (r) e erro técnico de medida (ETM) intra-avaliador entre réplicas da análise do desempenho em quadra.

Critérios

R

ETM

Passe certo

0,995

1,56

Passe errado

0,981

1,38

Desarme

0,857

0,53

Chute prensado

0,968

0,33

Chute que prensou

0,896

0,94

Chute certo

0,963

0,58

Chute errado

0,995

0,33

Interceptação de passe

0,926

1,45

Assistência

0,989

0,24

Perda de bola

0,966

0,97

3.     Resultados

    Na Tabela 2, estão expressos os somatórios de tempo de permanência em quadra de cada jogador em quatro momentos distintos, que correspondem ao primeiro turno da primeira fase, segundo turno da primeira fase, primeiro turno da segunda fase e segundo turno da segunda fase. Pela observação desses dados, é possível verificar que o tempo de permanência em quadra entre os jogadores apresenta umas variações elevadas, que poderia comprometer a análise do desempenho em quadra proposto no presente estudo. Por esse motivo, optou-se por dividir os valores dessas variáveis pelo tempo de permanência em quadra, fato que permitiu a avaliação dos dez critérios utilizados para avaliar o desempenho dos jogadores durante as partidas do campeonato.

Tabela 2. Valores médios do tempo de permanência em quadra (min) dos jogadores de futsal

    Nas Tabelas 3, 4 e 5 encontram-se os valores de média e desvio-padrão dos critérios de desempenho em quadra corrigidos pelo tempo de permanência em quadra dos jogadores de futsal avaliados no presente estudo.

    Os resultados mostram diferenças estatisticamente significantes apenas para os critérios PC (p=0,037) e ASS (p=0,036). Essas diferenças e seus respectivos intervalos de confiança podem ser observadas nas Tabelas 6 e 7. Para os demais critérios de desempenho em quadra, o rendimento dos atletas permaneceu constante ao longo de toda o campeonato.

Tabela 3. Valores de média e desvio-padrão dos critérios de desempenho em quadra Passe Certo, 

Passe Errado, Desarme e Chute Prensado, corrigidos pelo tempo de permanência em quadra

Avaliações

n

Média

Desvio-padrão

Mínimo

Máximo

1a avaliação

(1° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Passe Certo

10

1,54

0,53

0,95

2,33

Passe Errado

10

0,35

0,17

0,10

0,58

Desarme

10

0,04

0,04

0,00

0,11

Chute Prensado

10

0,11

0,08

0,00

0,30

2a avaliação

(2° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Passe Certo

10

1,66

0,75

0,64

3,07

Passe Errado

10

0,35

0,22

0,14

0,80

Desarme

10

0,07

0,06

0,00

0,21

Chute Prensado

10

0,13

0,10

0,03

0,40

3a avaliação

(1° turno/2a fase)

 

 

 

 

 

Passe Certo

10

1,62

0,58

0,82

2,21

Passe Errado

10

0,31

0,17

0,06

0,58

Desarme

10

0,08

0,05

0,00

0,16

Chute Prensado

10

0,12

0,09

0,00

0,30

4a avaliação

(2° turno/2a fase)

 

 

 

 

 

Passe Certo

10

1,38

0,46

0,68

1,98

Passe Errado

10

O,33

0,15

0,10

0,53

Desarme

10

0,07

0,04

0,00

0,11

Chute Prensado

10

0,09

0,05

0,03

0,21

 

Tabela 4. Valores de média e desvio-padrão dos critérios de desempenho em quadra Chute que Prensou, 

Chute Certo, Chute Errado e Interceptação de Passe, corrigidos pelo tempo de permanência em quadra

Avaliações

N

Média

Desvio-padrão

Mínimo

Máximo

1a avaliação

(1° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Chute que Prensou

10

0,09

0,07

0,00

0,25

Chute Certo

10

0,11

0,05

0,04

0,19

Chute Errado

10

0,12

0,07

0,00

0,25

Interceptação de Passe

10

0,20

0,12

0,03

0,36

2a avaliação

(2° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Chute que Prensou

10

0,09

0,06

0,00

0,17

Chute Certo

10

0,12

0,07

0,02

0,21

Chute Errado

10

0,10

0,04

0,05

0,19

Interceptação de Passe

10

0,23

0,12

0,07

0,46

3a avaliação

(1° turno/2a fase)

 

 

 

 

 

Chute que Prensou

10

0,11

0,08

0,00

0,24

Chute Certo

10

0,09

0,05

0,03

0,19

Chute Errado

10

0,11

0,03

0,05

0,16

Interceptação de Passe

10

0,22

0,12

0,02

0,35

4a avaliação

(2° turno/2a fase)

 

 

 

 

 

Chute que Prensou

10

0,12

0,08

0,00

0,20

Chute Certo

10

0,09

0,05

0,02

0,15

Chute Errado

10

0,10

0,05

0,05

0,20

Interceptação de Passe

10

0,25

0,14

0,02

0,41

 

Tabela 5. Valores de média e desvio-padrão dos critérios de desempenho em quadra 

Assistência e Perda de Bola, corrigidos pelo tempo de permanência em quadra

Avaliações

N

Média

Desvio-padrão

Mínimo

Máximo

1a avaliação

(1° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Assistência

10

0,11

0,11

0,00

0,37

Perda de Bola

10

0,26

0,17

0,00

0,57

2a avaliação

(2° turno/1a fase)

 

 

 

 

 

Assistência

10

0,12

0,07

0,04

0,28

Perda de Bola

10

0,29

0,16

0,03

0,47

3a avaliação

(1° turno/2a fase)

 

 

 

 

 

Assistência

10

0,11

0,07

0,03

0,24

Perda de Bola

10

0,31

0,18

0,01

0,59

4a avaliação

(2° turno/2a fase)

 

 

 

 

  

Assistência

10

0,08

0,07

0,01

0,22

Perda de Bola

10

0,29

0,17

0,01

0,48

    Para o critério PC, as diferenças médias observadas encontram-se entre o segundo e o quarto instante de tempo (dados que representam o rendimento dos atletas em quadra durante o segundo turno da primeira fase e segundo turno da segunda fase, respectivamente) em que se realizou o agrupamento desses critérios. Entre os demais instantes não foram detectadas diferenças estatísticas significantes.

    Ao se comparar a média obtida no quarto instante (dados que representam o rendimento dos atletas em quadra durante o segundo turno da segunda fase) com a média nos demais instantes, observou-se um intervalo de confiança de [-0,4; -0,2], mostrando evidências de que a média no quarto instante de tempo apresentou-se menor do que a média dos demais instantes (Tabela 6).

    Assim como foi observado no critério PC, também para o critério de desempenho em quadra ASS, foi possível observar diferenças estatisticamente significantes entre os instantes 1 e 4. Entre os demais instantes de tempo não foram verificadas diferenças significantes. Comparando-se, então, a média no quarto instante de tempo com a média nos demais, encontrou-se o intervalo de confiança de [-0,05; -0,02], mostrando evidências de que a média no quarto instante de tempo é menor do que a média das demais (Tabela 7).

Tabela 6. Comparações entre os valores médios obtidos para o critério de desempenho em quadra Passe Certo

Tratamentos

Diferença das médias

Erro-padrão

Intervalo de confiança (90%)a

L.I. L.S.

2 – 4

0,343

0,117

0,001

0,685

3 – 4

0,302

0,093

0,028

0,576

a: comparações múltiplas de Bonferroni (p=0,037)

 

Tabela 7. Comparações entre os valores médios obtidos para o critério de desempenho em quadra Assistência

Tratamentos

Diferença das médias

Erro-padrão

Intervalo de confiança (90%)a

L.I. L.S.

1 – 4

-0,046

0,13

-0,085

-0,008

a: comparações múltiplas de Bonferroni (p=0,036)

    Pela análise dos dados, encontraram-se evidências de que, em média, o número de passes certos (PC) e o número de assistências (ASS), ambos corrigidos pelo tempo de permanência em quadra, permaneceram constantes durante o primeiro turno da primeira fase até o final do primeiro turno da segunda fase do campeonato; a partir daí, verificou-se uma queda no rendimento.

4.     Discussão

    Por intermédio da análise dos jogos foi possível verificar que, com exceção dos critérios PC e ASS, os demais critérios (PE, DES, CP, CQP, CHC, CHE, IP e PB), mantiveram-se constantes ao longo de toda a disputa do campeonato.

    No caso específico dos critérios PC e ASS a queda de qualidade observada, possivelmente, possa ser explicada em virtude das características dos jogos disputados no segundo turno da segunda fase. Esses jogos se caracterizaram por intensa disputa, já que cada jogo desta fase era decisivo na luta pela classificação a uma das quatro vagas para as semifinais do campeonato. Provavelmente, essa situação tenha levado à determinação de estratégias de marcação mais intensas, dificultando, dessa forma, a possibilidade da realização de passes certos e, por conseqüência, a queda no número de assistências. O aumento da preocupação com a marcação durante a disputa dos jogos realizados no segundo turno da segunda fase pode ser verificado nos próprios dados do presente estudo, em que, apesar de não ter sido possível detectar diferenças estatisticamente significantes para o comportamento do critério de desempenho em quadra IP (p< 0,086), observa-se uma tendência de melhora no número de passes interceptados pela equipe estudada, exatamente durante esta fase (Figura 1).

    Um outro fator que pode ter influenciado o comportamento dos critérios de desempenho em quadra que determinou o número de passes certos e assistências (PC e ASS) durante os jogos realizados no segundo turno da segunda fase esteja, provavelmente, ligado aos aspectos emocionais que envolvem a disputa de uma partida de futsal, já que, durante esta fase, os atletas passaram por uma maior pressão devido à possibilidade de classificação ou eliminação do campeonato.

Figura 1. Comportamento do critério de desempenho em quadra Interceptação de Passe, corrigido pelo tempo de permanência em quadra

    Apesar da diminuição do rendimento dos atletas nos dois critérios de desempenho em quadra PC e ASS, ficam bastante evidente a regularidade da equipe nos diferentes momentos em que se analisou seu desempenho.

    Na prática, esses resultados traduzem a regularidade apresentada pela equipe estudada durante toda a sua participação no campeonato, tendo em vista que, tanto no primeiro turno como no segundo turno da primeira fase, a equipe manteve-se na primeira colocação de sua chave, com um aproveitamento de 66,6 e 77,7%, respectivamente (índice calculado a partir do número de vitórias, derrotas e empates da equipe). Com esses resultados, a equipe terminou a primeira fase do campeonato com a primeira colocação geral. Para a segunda fase, a equipe esteve em terceiro lugar tanto no primeiro turno como no segundo, com um aproveitamento de 66,6 e 59,2%, respectivamente, entre as dez equipes que disputavam uma das quatro vagas para as semifinais. Classificada para os jogos das semifinais, obteve uma das vagas para disputar a final do campeonato, sagrando-se Vice-Campeã Estadual de futsal após a disputa de 34 jogos, durante nove meses (março a novembro).

    A preocupação com a manutenção do rendimento esportivo durante o período competitivo é salientada por Schneider et alii (1998), os quais relatam que as reduções ocorridas no desempenho de um jogador durante uma temporada de competição podem ter sérias conseqüências no desempenho de uma equipe como um todo. Esse fato, de acordo com os autores, torna-se mais crítico nos esportes coletivos, nos quais o sucesso de cada jogo depende do desempenho coletivo de todos os jogadores.

    A regularidade observada nos resultados apresentados pela equipe de futsal analisada no presente estudo vai ao encontro dos relatos de Matvéiev (1986), que acredita que, no período competitivo dos jogos coletivos, a forma esportiva de todo o grupo pode ser conservada por mais tempo que a forma individual, pelo fato de se poder realizar substituições daqueles atletas que não se encontram bem em determinada partida ou período da competição por outros que possam estar em melhor fase, permitindo, dessa maneira, manter um rendimento adequado da equipe durante os jogos.

    No presente estudo, não foi possível verificar pela análise dos critérios de desempenho em quadra, a obtenção de picos de performance estatisticamente significantes durante o campeonato. Nesse sentido, parece razoável sugerir que os aumentos de cargas estabelecidos no decorrer do campeonato serviram mais para a manutenção do que para a elevação do rendimento propriamente dito. No entanto, parece que o simples fato de se manter o rendimento dos atletas durante toda a competição foi suficiente para permitir que a equipe alcançasse um resultado satisfatório, somado a um índice zero de lesão em virtude do excesso de carga que pudesse ser provocado tanto pelos treinamentos físicos como pelos trabalhos técnico/táticos, em um campeonato tão longo. Neste particular, Matvéiev (1977) alerta para o fato de que não se pode colocar o organismo do atleta, indefinidamente, sob exigências de cargas elevadas, uma vez que é necessário considerar não só os efeitos isolados de cada carga de treino e de competição, mas, também, os efeitos acumulados dessas cargas, os quais, ao se prolongarem por muito tempo, podem se tornar nocivos ao organismo.

    Tentando ilustrar essa situação, Ciuti et alii (1996) relataram que, num estudo com basquetebolistas, o programa de treinamento de força mais intenso que caracterizou uma boa parte da preparação dos atletas pode ter induzido a uma alta fadiga nos jogadores, que os levou a uma diminuição da aptidão, com redução do rendimento quando foram realizados os testes durante o campeonato. Com os jogadores completamente fatigados durante a realização dos jogos, verificou-se uma redução na sua coordenação motora, o que provocou um aumento no número de colisões entre os atletas e de passes errados, causando, com freqüência, a saída da bola da quadra; conseqüentemente, os jogos tornaram-se fragmentados em razão das freqüentes interrupções provocadas também pelo excesso de faltas. Em adição, todos esses acontecimentos obrigaram o treinador a realizar freqüentes substituições dos jogadores em quadra, o que, igualmente, contribuiu para aumentar as interrupções do jogo. Os autores chamam a atenção para o fato de que tais respostas provocadas pela estrutura de treinamento utilizada em seu estudo é exatamente o oposto do que um técnico desejaria para um time que pretende ter uma participação satisfatória durante uma competição.

5.     Conclusões

    De forma geral, a regularidade observada nos resultados apresentados pela equipe de futsal estudada vai ao encontro da literatura que tem indicado que, no período de campeonato dos jogos coletivos, a forma esportiva de todo o grupo pode ser conservada por mais tempo que a forma individual, pelo fato de se poder realizar substituições daqueles atletas que não se encontram bem em determinada partida ou período da competição por outros que possam estar em melhor fase, permitindo, dessa maneira, manter um rendimento adequado da equipe durante os jogos, desde que haja um bom planejamento tanto técnico-tático como físico e psicológico dos jogadores.

    Diante dos resultados encontrados no presente estudo, espera-se ter reunido informações que venham a contribuir na tentativa de ampliar os atuais níveis de conhecimento na área do treinamento esportivo, especificamente na análise notacional dos esportes coletivos. Além disso, em razão da pouca quantidade de dados sobre o assunto abordado no futsal, espera-se que os resultados aqui apresentados possam servir como referencial, tornando-se opção no auxílio de futuros estudos.

Referências bibliograficas

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revista digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires, Febrero de 2010  
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