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Corporeidade, esporte e educação

Corporeidad, deporte y educación

 

Especialização em Corporeidade Esporte e Educação pela

Universidade Federal do Pará

(Brasil)

Evaldo Malato | Evaldo Jose Ferreira Ribeiro Jr

José Wildemar Paiva De Assis | Sara Falcão

Dr. Ricardo Pinto

evaldomalato@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Este texto tenta explicar através de analises comportamentais os vários tipos de comportamentos pessoais existentes numa sociedade e apartir dai definir o protótipo do perfil ideal que devemos educar nossos alunos na tentativa de contribuir para a formação de uma sociedade mais Justa e progressista.

          Unitermos: Corporeidade. Esporte. Educação

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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    Hoje no mundo em que vivemos, nem bem sabemos o certo se satisfazemos nossas necessidades ou a dos outros. Tantos padrões, modelos, tipos ideais, embora quase sempre impostos de fora para dentro e não de dentro para fora.

    Historicamente falando, desde o período clássico a mais de 400 anos AC até mais ou menos 5 séculos DC., já se traçava um modelo de corpo ideal, os corpos atléticos significavam grandes conquistadores em detrimento aos fracos e oprimidos. No decorrer destes séculos também surgem vários filósofos como Aristóteles que tentava já falar de corpos, ou melhor, valores corporais. Muito embora, apesar de muito longe de nossas ideologias, contribuíram significativamente para nossas conclusões atuais. Muitos padrões, contextos sociais, modelos contribuem também para esse delineamento como casamento, família, religião, sexo, etc. Isto tudo voltado ao modelo masculino em detrimento ao do feminino que não tinha nem o direito de expressar-se. Grandes movimentos marcaram também grandes transformações e colaboraram para tais delineamentos, como Iluminismo, Renascimento, Revolução Industrial. Enfim, comportamentos moldados sempre nos eram impostos. Hoje às portas do século XXI, com certeza, apesar de ainda sofrermos tais influências, mudanças radicais vêem se incorporando a esses valores, caracterizando constantemente a quebra de paradigmas e a constante renovação do homem em seu habitat, o Mundo.

    “Sensível agonia de uma história vivida em função do corpo pensado, da idéia de corpo perfeito, regido somente pelo pensar lógico racional, corpo amoldado por valores da moral vigente, de regras pré-visíveis, de comportamentos estereotipados e de reações controladas.” (Wagner Moreira, 1996)

    Um mundo imundo onde a falsa moral é abundante, onde a desigualdade, a miséria, o racismo, estão em relevância, seria o modelo de um mundo ideal? Seria estes comportamentos no qual deveríamos trabalhar para a formação de nosso educando? Estamos à porta de mais uma mudança secular. Estamos entrando no ano 2.000 e acreditamos que seja o momento ideal para bastante reflexão sobre o que fomos? O que somos? E o que queremos ser? E, é nesses momentos históricos que estamos podendo nos apoiar em estudos minuciosos, onde vários tipos de comportamentos são observados e estudados, a exemplo temos obras literárias de Edgar Morim, Marleau Ponly, Wagner W. Moreira, enfim uma série de grande sábios que dedicam seus conhecimentos na possível transformação de uma sociedade melhor e mais justa, onde o ideal seria a formação de um homem no qual a busca do prazer e sua auto superação estejam sempre presente em suas ações.

    Há pouco tempo atrás, estudava-se o homem separadamente, ou seja cabeça e corpo eram dois horizontes a percorrer. Hoje se sabe porém, que um precisa do outro, dependem-se e organizam-se paralelamente e a importância do desenvolvimento de ambos depende da maneira de se SER e AGIR dessa pessoa. E, é desses entendimentos que a real importância de estudos minuciosos sobre corporeidade esta em relevância e vem contribuindo significativamente para tais transformações do ser no mundo e do ser do mundo.

    “Corpo vivido que acaricia e é acariciado que dar e recebe energia vital, que brinca com outros corpos e permanece criança sem constrangimento e sem imaginar que ofende o mundo do adulto.” (Wagner Moreira, 1996)

    E, é em busca dessas compreensões que viajaremos agora em uma das obras do Wagner Wey Moreira “Corpo Presente Num Olhar Panorâmico” onde o autor analisa diversos tipos tentando buscar um modelo de um ser ideal, objetivando assim um melhor direcionamento à nossos educandos. Com certeza, estudo dessa natureza contribuirá bastante para o planejamento de nossas ações e delineamentos didáticos.

    Ao tentarmos decifrar conceitos de corporeidade buscamos logo de início o sentido etimológico da palavra. E com simples definições pensamos de imediato que dominamos tal assunto, pois tão simples parecem ser seus significados. Entretanto, estamos diante de um longo horizonte a percorrer, pois sua complexidade é tanta que seu entendimento está diretamente ligado a grandes e valiosas transformações no campo da Educação Física.

    O homem desde criança volta sua atenção ao desenvolvimento de sua intelectualidade esquecendo-se porém de seu corpo. E, por esse motivo se torna pouco cogitada a prática da Educação Física em seu contexto. Será que atividades recreativas estão inseridas no campo da Educação Física e será que elas beneficiam o desenvolvimento do homem? E a iniciação a prática esportiva também? Existem duas resposta sim e não. Não, olhando do ângulo de uma concepção arcaica, onde o indivíduo é esquartejado e estudado separadamente e sim analisando corporeidade em sua essência e sua real importância no desenvolvimento do homem, relacionando-se com seu meio.

    Neste século com características predominantes, nos deparamos com uma economia altamente capitalista onde o corpo é visto como objeto. Esquece-se porém, a necessidade de sermos corpos humanamente socializados com reais interações entre ele e sua sociedade. Nos dias de hoje, as necessidades e desejos elementares dos seres humanos são esmagados e pisoteados por interesses altamente voltados ao rendimento e ao consumo, visando quase sempre o lucro, esquecendo-se que a qualidade de vida voltada à saúde e a sua socialização, está também inteiramente interligada a corporeidade do indivíduo. O capitalismo na verdade, oprime, induz e direciona ações cotidianas de um ser, impossibilitando-o de vivenciar suas verdadeiras limitações inteiradas diretamente ao seu bem estar, relacionadas ao seu meio e a seus verdadeiros momentos de prazer.

    Hoje estamos diante de grandes transformações, onde a quebra desses paradigmas direciona estudos minuciosos e evidencia grandes avanços no domínio da ciência da motricidade, na qual está sendo depositada a possibilidade de verdadeiras reflexões e valorizações no campo educacional.

    “A luta para mudanças é como remar rio acima. É difícil mas, quando chegamos o prazer é grande.” Parafraseia o Dr. Wagner Moreira ao dedicar-me uma de suas edições de Educação Física e Esporte: Perspectivas para o século XXI.” Nesta edição, também estou encontrando grandes perspectivas de mudanças rumo a minha ideologia profissional, pois a obra reuniu idéias renovadores de grande autores que dedicam seus estudos a construção de uma sociedade mais justa e saudável. O esclarecimento e entendimento de corporeidade, representa um ponto chave. Esta é a verdadeira revolução histórica onde a valorização de corpos, quer seja ele, desprezado ou não, volta-se especificamente a busca da auto-afirmação do homem em seu meio ambiente.

    O corpo de tal modo sempre foi analisado de forma que literalmente independia de sua maneira de pensar, de ser e até mesmo de agir. Estudiosos sempre voltavam-se para estudos de partículas anatômicas e de seus princípios fisiológicos. Os aspectos mentais e sociais jamais eram considerados ao serem estudados separadamente. Nestes momentos pouco importavam-se com suas maneiras de agir e até mesmo sentir. O corpo era visto como mercadorias no mundo do negócios. É nessa visão paradisíaca a performance instala-se como moda destas sociedades, que visam tão somente fins lucrativos.

    “Desvendar os olhos para olhar atentamente o fenômeno corporeidade é adentrar o domínio do improviso, do complexo, das imperfeições e da desordem do mundo real.” (Wagner Moreira, 1995)

    Muito embora estas inquietações desperte-nos um olhar mas profundo e nos direciona a estudos minuciosos, onde a valorização do homem torna-se alvo principal e as buscas ao conhecimento mais profundo de sua corporeidade tornando-se imprescindíveis a quebra desses paradigmas.

    “Olhar a corporeidade do sujeito é buscar a expressão, é buscar o desejo pois o olhar conhece sentindo e sente conhecendo.” (Wagner Moreira, 1995)

    Sem dúvida quando olharmos, ou seja, encararmos o estudo da corporeidade como chave da verdade na mudança da Educação Física, estamos abrindo novos horizontes rumo a nossa valorização. Com certeza estudo dessa natureza respondem o que somos, o que e para o que .fazemos E para podermos compreender melhor o sentido de corporeidade, estudaremos várias maneiras de comportamentos e manifestações do homem no contexto social.

    Buscaremos agora segundo Moreira (1995), análises corporamentais enquadrando-as em metáforas e estudando-as separadamente com um enfoque educacional a que foi submetido. Começaremos analisando o corpo dócil, onde percebe-se claramente as marcas do poder impregnados em seus atos. Este corpo é visto, ou seja, manipulado como objeto, alvo do poder. O modelo do homem .cartesiano. enquadrado como uma máquina, onde suas ações são direcionadas a utilidade e ao progresso.

    Estes corpos submissos, dóceis e disciplinados no cumprimento de ordens são educados de forma super fragmentadas e permanecem sendo preparados para cumprir padrões exigidos para manutenção do poder. Até os dias de hoje vêem-se muitos profissionais voltados para esta doutrina educacional, pois visam o auto rendimento e mesmo em detrimento ao desprezo dos fracos e debilitados, direcionam suas linhas pedagógicas, voltadas harmoniosamente com o sistema atual ou melhor o poder.

    Outro tipo de corpo, ou melhor, comportamento é o Jardim Fechado. Esta metáfora caracteriza o homem que sacrifica seus anseios e suas vontades em detrimento ao cultivo de sua alma. Na tentativa de explicar melhor este comportamento Wagner Moreira (1995) define o corpo sagrado, deificado e não humano, que abre mão do viver o hoje em nome de uma vida melhor no além.

    Essas pessoas, ou melhor, esse corpo é um sinônimo de templo de morada, de casa da qual o espírito se torna, por um tempo, inquilino e no vencimento do contrato essa casa é desativada ou derrubada.

    “Essa é a mensagem do cristianismo tradicional. Herda-se do Judaísmo o sacrifício dos corpos para a manutenção da vida eterna.” (Wagner Moreira, 1995)

    Passamos agora ao corpo ajustável (ao que se precisa). Este corpo presta-se ao serviço e a força do trabalho e comporta-se de forma adequada ao cumprimento de funções sociais. Relacionados com o esporte, corpo atleta, muitas vezes em detrimentos a suas intimidades, degrada-se em sua essência para manter o auto rendimento ou a performance. Geralmente privam-se de muitas vontades na tentativa de um lugar ao pódio ou até mesmo de uma medalha.

    Segundo Assmann (1993) um corpo é dotado de plasticidade, moldeabilidade, elasticidade. Esse corpo já algum tempo, presta-se ao serviço e é força de trabalho, é um corpo útil que se destina a cumprir funções regulares no mercado de trabalho.

    Se for necessário vencer ajustemos o corpo para isto, mesmo impondo-lhe, sacrifícios visíveis hoje e irreversíveis amanhã. Define o autor tentando mostrar que o corpo ajustável vive do cumprimento de padrões impostos pelo capitalismo selvagem em detrimento de suas limitações, anseios e até mesmo vontade.

    Temos também aqueles com características adversas onde são denominados ascetas indiferentes, ou seja, manter-se fechados e não conseguem identificar os desejos do próprio corpo e dos que estão ao seu lado. Vivem alheios a tudo e preocupam-se apenas com o seu dia-a-dia. Essa metáfora de comportamento chega a ser preocupante, pois o indivíduo o substitui a ação de movimentar-se na direção de superações e corre o risco de substituir paixão pela vida por indiferença emocional, parafraseia o autor.

    “Hoje somos competentes em mandar nossas naves espaciais aos mais diferentes planetas, mas somos incapazes de descortinar nossos próprios mistérios.” (Freire, 1997)

    Olhamos muito para o mundo externo, esquecendo-nos, porém de olharmos para dentro de nós mesmos. E muitas vezes não conseguimos identificar nem nossos próprios desejos. O exemplo tem pessoas que substitui a conversa em casa pela adoração a tela mágica, que troca a leitura da vida pela lógica racional e se recusam. Em nomes de dogmas institucionalizados e da moral vigente viver suas paixões ou seus amores, mais uma vez o autor sabiamente analisa-os e os descreve perfeitamente.

    Agora sim passaremos a metáfora corporamental do ser presente - pressente que como características predominante revela uma personalidade e aos mesmo tempo uma cultura que se entrelaça no estabelecimento de uma sociedade. E tem consciência de que o corpo não pode continuar sendo encarado como uma simples habitação do espírito e, que suas atividades corporais, por meio do jogo e do esporte, devem exercitar a criatividade, a liberdade, a alegria e o bem-estar.

    “Respeitar o corpo presente - pressente é trabalhar o dia-a-dia da educação motora no interior da escola, dando oportunidade ao aluno sobre seu corpo, sobre a relação de seu corpo com outros corpos e com seu meio ambiente.” (Wagner Moreira, 1995)

    Esse tipo de comportamento favorece o surgimento de uma cultura corporal na qual se têm respeitadas e analisadas as questões das necessidades e dos desejos do corpo, fazendo-o assim assumir uma postura do lúdico, do prazer da participação, como atributos sempre presentes no nosso fazer pedagógicos.

    No livro de Wagner (1995) “Corpo Presente Num Olhar Panorâmico”, encontramos estas metáforas tão bem explicitas que difícil é nos policiarmos para não copiarmos suas próprias palavras ao tentarmos repassá-las.

    O estudo dessas metáforas presentes nos levam a considerar o fenômeno corporeidade e contribui positivamente para que nossas ações como professores, o valor do humano no homem seja respeitado.

    “Advogar uma educação corporal é lutar pelo princípio de uma aprendizagem humana e humanizante, em que sua complexidade estrutural, o homem pode ser fisiológico, biológico, psicológico e antropológico.” (Wagner Moreira, 1995)

    Esclarecimento dessa natureza nos induz ao traçarmos nossos planos didáticos voltados sempre a formação de corpos presente-presente onde a motricidade e a educação motora assumem seus reais valores contribuindo assim, positivamente para a formação de um grande ser.

Referencias

  • MOREIRA, W.W. Educação Física e Esportes. Perspectivas para o século XXI. Campinas, Papirus, 1992.

  • ------------ Corpo presente num olhar panorâmico. Campinas, Papirus, 1992.

  • MORIM, Edgar. Cultura de massas no século XX. Forense Universitária, Rio De Janeiro, 1986.

  • PARLEBAS, P. Perspectiva para uma Educação Física moderna. Unisport, Andalucia, 1987.

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