Dança e diversidade: uma análise sobre os aspectos de corporeidade e ritmicidade com o público portador de Síndrome de Down através do ritmo latino Danza y diversidad: un análisis sobre los aspectos de corporeidad y ritmicidad en persona portadora de Síndrome de Down a través del ritmo latino |
|||
*Graduada em Licenciatura em Educação Física Especializanda em Educação Física Escolar pela Universidade de Santa Maria (UFSM)
**Graduada Licenciatura Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria |
Ana Paula
Fernandes Bragança* (Brasil) |
|
|
Resumo Para reverter alguns preconceitos, conceitos e paradigmas em relação aos portadores de SD, a Dança se encaixa perfeitamente como espaço de criatividade, de expressão, de liberdade, de diálogo; como algo que pode e deve ser experimentado por todos, sem limitações nem exclusões. Para tanto, buscou-se através desta pesquisa realizar um trabalho no qual desperte, no público-alvo, alguns conteúdos da Dança e, ao final do processo, culminar com uma coreografia como ponto final da pesquisa. Unitermos: Dança. Corporeidade. Síndrome de Down |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010 |
1 / 1
Introdução
Acredita-se na Dança como possibilidade de movimentos para além de corpos, de formas e de técnicas perfeitas, como meio de comunicação e transmissão de idéias, de fala e de expressão dos diferentes e sobre as diferenças. Corpos que se expressam com prazer, valorizando sua essencialidade, quebrando idéias ultrapassadas, despadronizando o que já é criação e recriando novas realidades corpóreas. (BARRETO, 2004). De forma geral, a Dança é para muitos o instrumento, um meio canalizador de emoções, seja qual estilo for, a Dança é a arte que envolve e desmistifica qualquer preconceito existente.
Por acreditar no potencial de pessoas “especiais” e ter um grande envolvimento com os ritmos latinos, decidi unir estes dois conhecimentos adquiridos e experienciar a Dança latina em um grupo de jovens e adultos com Síndrome de Down, como um caminho para melhorar suas percepções de corporeidade e contribuir com a aquisição de mais um ritmo pouco trabalhado seja nas escolas ou na própria graduação.
Objetivos
Verificar e contribuir na melhoria dos aspectos de corporeidade e ritmicidade para jovens e adultos com Síndrome de Down através do ritmo latino.
Metodologia e caracterização da pesquisa
A presente pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico de livros, periódicos nas bases de dados dos últimos 5 anos. Foi um trabalho teórico e prático, no sentido de que foram aplicadas 18 aulas que compreendiam os processos de construção da percepção corporal, movimentações no espaço-tempo, noções de ritmo e som, musicalidade até chegar no processo de dança de salão, no caso o ritmo latino. O grupo foi composto por 10 pessoas, de ambos os sexos, todos portadores de SD sendo que ao final do trabalho, foi construída uma coreografia, um pout-pourri, que comportava alguns ritmos latinos.
Considerações finais
Por meio deste trabalho, verificou-se que cada aluno através dessa nova experiência com os ritmos latinos, se tornou mais confiante, participativo e capaz de criar gestos e movimentos dentro da proposta do tema.
Tais experiências, frutos desse convívio com o grupo, levaram a reflexão sobre a questão da corporeidade, ou seja, do modo com que o homem afirma sua existência, suas interações e ações no mundo. Segundo Verderi (1998), se entendermos a corporalidade, entenderemos a Dança, mas não a Dança que padroniza movimentos, enquadrando-se na visão fragmentária de corpo presente nos valores culturais que permeiam nossa sociedade, mas sim, a Dança que abre caminho para a exploração da diversidade, e aí passamos a entender a corporeidade, como a construção de um corpo sujeito, interativo consigo mesmo e com os outros corpos, sujeito criativo e que se humaniza a partir de sua existência e aceitação na sociedade.
Desenvolver este tema não foi uma tarefa fácil, pois cada aluno tem sua corporalidade que é criada e influenciada pelo seu modo particular de viver e de sua inserção no contexto social. No caso da análise das aulas ministradas, pode-se constatar que os alunos com SD possuem muitas restrições com relação a sua própria corporalidade, limitações ao interagir em grupo e, principalmente, a questão da comunicação, fator característico da própria SD, uma vez que na maioria dos alunos envolvidos no trabalho ficou clara a dificuldade que eles tinham para expressar o que sentiam e pensavam através da fala.
Um dos vários aspectos explorados nas aulas foi a interação total entre professor-aluno e vice-versa, a participação na construção coreográfica, a inclusão de movimentos particulares de cada componente na coreografia, a exploração e a consciência corporal de cada um. A dificuldade para construir a coreografia não se deu pelo fato do grupo não conseguir executar os passos ou conseguir acompanhar os ritmos latinos, se tornou mais prolongada a aprendizagem, pois estes indivíduos com SD possuem limitações para gravar as seqüências coreográficas, o que acaba por tornar todo o processo mais lento e demorado.
Durante todo o processo da construção da coreografia, o grupo sempre esteve presenciando as diversas corporeidades existentes no coletivo e refletindo sobre as particularidades e potencialidades de cada um, como forma de um crescimento individual. Nem tudo aquilo que é programado para ser aplicado dá certo, mas é dessa forma que se percebe o trabalho ganhando consistência e um maior repertório e criatividade sendo incorporado nas tarefas. A partir deste momento, conquistamos um entendimento sobre a importância de adaptar tudo aquilo que for necessário para que se tenha êxito em um grupo, no qual cada um manifesta suas características próprias e, assim, saber respeitar e aproveitar da melhor forma possível essas particularidades.
Um fato muito interessante é a questão de o Professor deixar de ser apenas um analisador ou um profissional que deve chegar e aplicar sua proposta de trabalho com o público. Essa experiência não ficou apenas vinculada a estes propósitos, uma vez que é preciso ser um profissional além de sua profissão, ou seja, foi preciso não somente estar ali como uma professora que iria ensinar passos de uma Dança nova para os alunos, mas também estar apta a se tornar mais uma componente do grupo, pois o tempo todo é preciso lidar com a questão da afetividade, compreensão e maturidade. Com esta postura, conseguiremos mostrar aos alunos que um profissional sabe como agir com os mesmos, cobrando constantemente questões como a ética, dedicação, respeito, cooperação e interesse por aquilo que todos se propuseram a realizar.
Julgo ser este trabalho de suma importância para futuras atuações de professores no ramo da Dança ou, simplesmente, para aqueles profissionais que sempre estão na busca por melhorar sua prática pedagógica, já que frente a este grande desafio, grandes resultados foram alcançados nas questões que pretendi verificar nos objetivos do trabalho.
Referências
BARNABÉ, R. Dança e deficiência: proposta de ensino. 2001. 115f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001.
BARRETO, D. Corporeidade e Deficiência: Um introdutório. In: REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, V21, n.01. Florianópolis: CBCE, 1999.
COOLEY, W. C; GRAHAM, J.M. Down syndrome: an update and review for the primary pediatriacian.
FERREIRA, Eliana Lucia; ROCHA, Maria Beatriz; FORTI, Vera Aparecida Madruga. Interfaces da Dança. . Campinas, SP: Editoração: Gráfica R. Vieira, 2002.
GARAUDY, R. (1980). Dançar a vida. Rio de Janeiro, Nova Fronteira.
HASS, Aline Nogueira; GARCIA, Ângela. Ritmo e Dança. Canoas: Ed. ULBRA, 2003.
NAUJORKS, M., I. A Deficiência e o Espaço na TV: Quando a mensagem faz a diferença. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo-SP, 1997.
SCHWARTZAMAN, J. S. et al.
TOLOCKA, RUTE ESTANISLAVA; VERLENGIA, Rozangela. Dança e Diversidade Humana. Campinas, SP: Papirus, 2006.
VERDERI, É. B. Dança na Escola. Rio de Janeiro: Sprint, 1998.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires,
Febrero de 2010 |