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Introdução

    O futebol de Campo é um esporte que exige do atleta uma capacidade física, motora e psíquica muito grande. A performance do jogador de futebol é formada por várias habilidades, capacidades e qualidades que se completam de forma interdependentes¹.

    Alguns estudos mostram que o deslocamento dos jogadores durante a partida é determinado principalmente pela posição que este jogador exerce em campo^2,3 e que o nível de dificuldade da partida influencia na distância que o atleta percorre durante o jogo^2,4.

    Observa-se nas partidas de futebol que atletas de diferentes posições sofrem estímulos distintos, verificando-se respostas físicas variadas, e de capacidades físicas desenvolvidas para determinadas exigências, Porém grande parte dos treinamentos para atletas da modalidade ainda são realizados de maneira não individualizada e específica para sua real função na pratica do futebol.

    Apesar de existir vários estudos falando sobre características fisiológicas de desportistas de várias modalidades, pouco se fala sobre as diferentes funções táticas e a influência sobre as características fisiológicas dos atletas de futebol de campo.

    Por estes fatores o presente estudo tem o objetivo de comparar o consumo máximo de oxigênio e o limiar anaeróbio de jogadores de futebol que atuam em diferentes posições.

Métodos

Voluntários

    Foram voluntários deste estudo 18 jogadores de futebol de campo que atuam na 1ª divisão do campeonato brasileiro de futebol. Os voluntários foram divididos em 4 grupos: meio campistas (MC), atacantes (AT), laterais (LT) e zagueiros (ZG). As características dos atletas são apresentadas na tabela 1 já separadas por posição. Após serem divididos em grupos os atletas foram submetidos à avaliação separados um do outro.

    Os jogadores foram informados sobre a natureza e metodologia do experimento, e assinaram um termo de consentimento esclarecido. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Tabela 1. Características físicas de jogadores de futebol

Protocolo experimental

    Para determinação do Consumo Máximo de Oxigênio (VO₂ máx) e limiar anaeróbio (VO₂ LA), foi usado um teste de esteira ergométrica modelo (ATL 10200, Inbrasports) com o protocolo de rampa até a exaustão. A velocidade inicial foi de 5 km/h durante 3 minutos, após o terceiro minuto havia um incremento de velocidade de 1 km/h, e a partir do quarto minuto o incremento era de 0,5 km/h a cada 30s até a exaustão, com a inclinação fixa de 1%.

    O VO₂ foi mensurado continuamente durante toda a avaliação e calculado através da troca de gases respiratórios que permite a dosagem de O₂ e CO₂ expirados, utilizando um ergoespirômetro CPX-D (MGC). Os sinais destes equipamentos foram devidamente processados pelo software do programa, que forneciam então os valores do consumo de Oxigênio (VO₂), produção de dióxido de carbono (VCO₂), ventilação pulmonares (VE) e o coeficiente respiratório (RQ).

    O limiar anaeróbio foi determinado pelas medidas dos gases expirados. Os limiares ventilatórios (LV1 e LV2) serão definidos pelos seguintes critérios: LV1 menor valor do equivalente respiratório de oxigênio (VE VO₂^-1) e menor valor da fração expirada de oxigênio (FE O₂), ambos seguidos de inflexão e crescimento ao longo do teste. LV2 menor valor do equivalente ventilatório de dióxido de carbono (VE.VCO₂^-1) seguido de inflexão e incremento posterior e maior da fração expirada de dióxido de carbono (FECO₂) seguido de diminuição até o final do teste

    Para determinação da freqüência cardíaca máxima (FC max) e da freqüência cardíaca do limiar anaeróbio (FC limiar) foi usado um monitor de freqüência cardíaca da marca Polar, modelo S610. A freqüência era anotada em um intervalo de 30 segundos e relacionada com o consumo de oxigênio (VO₂).

Analise estatística

    A média aritmética e o desvio padrão foram calculadas pelo programa Microsoft Excel 2007 para todas as variáveis. E depois estabelecido comparações entre todos os grupos através do teste ANOVA fatorial pelo software SPSS 15.0. Foi adotado p<0,05 como coeficiente de significância estatística para todas as análises.

Resultados

    Para os resultados de VO₂ máximo, VO₂ LA, FC máxima e FC LA, não existiram resultados significativos p<0,05 entre os grupos relacionados: meio campistas (MC), atacantes (AT), laterais (LT) e zagueiros (ZG).

    A Tabela 2 mostra os resultados de VO₂ máx., VO₂ LA, FC máx e FC LA dos jogadores avaliados

Tabela 2. Variáveis cardiorrespiratórias de jogadores de futebol

V_O2LA = consumo de oxigênio no limiar anaeróbio; FCmáx = frequência cardíaca máxima; FCLA = frequência cardíaca no limiar anaeróbio

 

Figura 1. Consumo máximo de oxigênio em teste de rampa em esteira de jogadores de futebol divididos por posição.

Discussão

    O futebol de campo é uma modalidade muito complexa quanto ao movimento e a diferença de sobrecarga física em diferentes posições. O futebol é uma modalidade esportiva intermitente, com constantes mudanças de atividades, além das mudanças entre repouso e períodos de baixa e alta intensidade, que variam com a forma individual de jogar; esta se encontra intimamente ligada com a posição do jogador em campo. A imprevisibilidade dos acontecimentos e ações durante uma partida exige que os atletas estejam preparados para reagir aos mais diferentes estímulos, da maneira mais eficiente possível⁶.

    Isso faz com que o treinamento dos atletas de linha não entre em uma especificidade por posição, fazendo com que todos os atletas realizem o mesmo treinamento.

    A caracterização funcional de atletas de diferentes modalidades esportivas é alvo de grande número de estudos na fisiologia do exercício. Normalmente atletas especialistas em exercícios de longa duração apresentam altos níveis de capacidade aeróbia, apresentando assim um alto desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória⁷. Já os atletas que praticam atividades cuja predominância é de força e potência, há um desenvolvimento grande das vias anaeróbias (lática e/ou alática) para produção e energia¹⁵.

    Nossos dados não apontam nenhuma diferença no VO₂ máx (figura 1), e VO₂ limiar (tabela 2), entre os jogadores de linha de diferentes posições, concordando com os dados presentes na literatura que mostram diferença somente para os goleiros¹⁷.

    Em relação a FC máx e FC limiar (tabela 2) nossos dados também não apresentam diferenças significativas entre os grupos pesquisados. Discordando de um estudo onde foram comparados meio-campistas e atacantes e mostrou diferença na FC máx dos mesmos⁸. No que diz respeito ao VO₂ máx, considerando os diferentes grupos, nossos valores estão de acordo e bem próximos aos encontrados na literatura sendo levemente inferiores para zagueiros, laterais e meio-campistas, e levemente superiores para atacantes respectivamente.

    Existem evidências de que o treinamento em futebol não apresenta a especificidade necessária para as diferentes funções táticas do jogo. No clube a qual pertenciam os atletas, o treinamento específico por posição não era adotado exceto para os goleiros, concordando com outros estudos presentes na literatura que mostram que na grande maioria dos clubes o treinamento específico para cada posição não é adotado¹⁷.

    Por esses fatores torna-se difícil encontrar diferenças de condicionamento aeróbio nos jogadores de futebol de diferentes posições, sendo que, os jogadores realizam as mesmas atividades durante o treinamento, fazendo assim com que eles adquiram uma forma física muito próxima, já que nos jogos o tempo de corrida não é o suficiente para gerar grandes adaptações fisiológicas em atletas de futebol. Os jogadores de futebol passam a maior parte do tempo, cerca de 83 a 88%, em trotes e caminhadas, 7 a 10% em corridas velozes e o restante, na posição estática¹⁰.

Conclusão

    Com base nos dados obtidos concluímos com este estudo que não existe diferença no condicionamento cardiorrespiratório e na freqüência cardíaca de jogadores de futebol que atuam em diferentes posições, possivelmente devido ao treinamento que não possui uma especificidade para cada posição, fazendo que os atletas acabem treinando da mesma forma adquirindo assim um condicionamento muito próximo entre os mesmos.

Referências

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