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Comparação da condição aeróbica de 

jogadores de futsal e de voleibol

Comparación de la condición aeróbica de jugadores de fútbol sala y voleibol

 

*Esp. Atividade Física, Desemp. Motor e Saúde CEFD/UFSM

**Profª. Adj. CEFD/UFSM

(Brasil)

Vanderson Luis Moro* | Leandro do Santos*

Lewis Maté Heineck* | Eliane Celina Guadagnin*

Silvana Corrêa Matheus**

vandersonmoro@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O objetivo do presente estudo foi comparar a condição aeróbica de jogadores de futsal e de voleibol através do Multistage Fitness Test. O grupo de estudo foi composto por 31 universitários do sexo masculino, sendo 15 jogadores de voleibol e 16 jogadores de futsal, ambos praticantes das respectivas modalidades há, no mínimo dois anos, com uma freqüência semanal de dois dias e na duração de duas horas por sessão. As variáveis analisadas foram a freqüência cardíaca de repouso e máxima (Frequencímetro), a velocidade máxima, a distância percorrida e o consumo máximo de oxigênio (Multistage Fitness Test proposto por Ramsbottom et al., 1988). Os dados foram submetidos à estatística descritiva e ao teste t de Student para amostras independentes. Conclui-se que a condição aeróbica foi mais elevada nos jogadores de futsal do que nos voleibolistas sendo encontrado diferença estatisticamente significativa para o VO2máx., a velocidade máxima e a distância percorrida.

          Unitermos: Futsal. Voleibol. Consumo Máximo de Oxigênio

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Considerações iniciais

    Na busca por um condicionamento físico ideal visando o desempenho esportivo, ou mesmo, uma melhor qualidade de vida torna-se necessária a avaliação das capacidades físicas dos indivíduos. Dentre as quais, a condição aeróbica é tida como a mais importante, sendo possível avaliá-la através da medida do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), que se refere a maior quantidade de oxigênio que pode ser absorvida, transportada e utilizada pelo corpo durante o esforço físico (ACSM, 2000).

    Para algumas modalidades esportivas, tal como o futsal e o voleibol, caracterizadas por esforços intermitentes, de extensão variada e periodicidade aleatória (REILLY & THOMAS, 1979; GUERRA & SOARES, 2001; ESPER, 2001), o treinamento da condição aeróbica melhora a capacidade do coração, pulmões e sangue em transportar o oxigênio para os músculos (HEYWARD, 2004) e principalmente, acelera a recuperação dos sistemas e das reservas energéticas (glicogênio, fosfato de creatina e ATP), além de reciclar o ácido lático no fígado, para que ocorra a glicogênese, utilizada na produção de ATP (POWERS & HOWLEY, 2000).

    A avaliação do VO2máx através das técnicas indiretas é muito utilizada para a prescrição e preparação física. Essas técnicas facilitam a administração dos testes, não há a necessidade de equipamentos dispendiosos, permitem a avaliação de grandes grupos de indivíduos ao mesmo tempo e em alguns casos, são mais próximas das situações práticas e da especificidade do esporte (BASSET & HOWLEY, 2000; ACSM, 2003).

    Para tais modalidades esportivas, a estimativa do VO2máx através do Multistage Fitness Test (MFT) (RAMSBOTTOM et al., 1988) pode simular melhor as situações de jogo, com deslocamentos curtos e em direções contrárias. Além disso, apresenta uma ótima correlação com os testes desenvolvidos em laboratório (r = 0,96) sendo, portanto um importante instrumento para a avaliação da condição aeróbica.

    Entretanto, são escassos os estudos utilizando a metodologia do MFT para avaliar o VO2máx estimado em jogadores de futsal e de voleibol. Tendo em vista a especificidade, os diferentes sistemas metabólicos e as demandas energéticas requeridas em tais modalidades, o presente estudo teve como objetivo comparar a condição aeróbica de jogadores de futsal e de voleibol através do Multistage Fitness Test.

Metodologia

    O grupo estudado foi composto por 31 universitários do sexo masculino, sendo 15 jogadores de voleibol, com a média de idade de 23,67 ± 4,69 anos, estatura média de 175 ± 6,61 cm e massa corporal média de 71,11 ± 9,19 kg e 16 jogadores de futsal, com a idade média de 21,81 ± 2,99 anos, estatura média de 174,48 ± 6,36 cm e massa corporal média de 70,88 ± 7,5 kg. Ambos os grupos foram compostos por jogadores voluntários, sem nenhum histórico de lesões musculares, ósseas ou articulares, praticantes das respectivas modalidades há, no mínimo dois anos, com freqüência semanal de dois dias e duração de duas horas por sessão.

    Após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os indivíduos foram submetidos à avaliação da condição aeróbica através do MFT. Em seguida foi colocado, na altura do processo xifóide, um frequencímetro da marca Polar modelo Accurex Plus para analisar a freqüência cardíaca de repouso (FCrep) e a freqüência cardíaca máxima (FCmáx). Os resultados estimados do VO2máx foram obtidos através do MFT proposto por Ramsbottom et al. (1988). Os sujeitos ouviam os sinais sonoros emitidos por um CD-Player e corriam até a linha oposta (demarcada a uma distância de 20 m da linha inicial). Ao novo sinal sonoro retornavam a linha de partida e assim sucessivamente até não conseguirem mais realizar o percurso dentro do tempo pré-determinado (estágios), ou abandonarem a prova voluntariamente. Os resultados foram registrados através do número de estágios e voltas completadas.

    Os dados foram submetidos à estatística descritiva, utilizando-se média, desvio-padrão e o teste t de Student para amostras independentes. Adotou-se o nível de confiança de 95 % e o erro máximo aceitável foi de 5 %. Para tal foi utilizado o pacote estatístico SPSS for Windows versão 15.0 (SPSS Inc., Chicago IL, EUA).

Resultados e discussões

Tabela 1. Resultado mínimo (Mín), máximo (Máx), média e o desvio-padrão da freqüência cardíaca de repouso (FCrep) e máxima (FCmáx),

 do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), velocidade máxima e distância percorrida de jogadores de voleibol e de futsal do sexo masculino

Variáveis

Voleibol

Futsal

Mín

Máx

Média

DP

Mín

Máx

Média

DP

FCrep (bpm)

60

97

75,7

10,8

51

98

71

12,4

FCmáx (bpm)

179

206

190,1

7,41

179

215

194,9

8,9

VO2máx (mL/kg-1.min-1)

37,3

53,5

42,8

4,85

39,9

54,1

48,2*

4,7

Vel. Máxima (km/h)

11

13,5

11,8

0,7

11,5

13,5

12,6*

0,7

Dist. Percorrida (m)

1080

2120

1422,7

311

1240

2180

1772,5*

303,9

*p<0,01

    Ao analisar os resultados de VO2máx expostos na Tabela 1 constatou-se que houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. Os valores médios de VO2máx do grupo de praticantes de futsal, apresentados no presente estudo, foram maiores do que o grupo de voleibolistas. No entanto, ambos os grupos enquadram-se no nível muito fraco quando comparados aos valores normativos elaborados pelo Cemafe-UNIFESP/EPM apresentados por Guedes & Guedes (2006), os quais levam em consideração a faixa etária e se o avaliado é ou não fisicamente ativo.    

    Tubino & Moreira (2003) afirmam que o VO2máx é um referencial obrigatório para o planejamento de um treinamento, pois as demandas de oxigênio usadas por um indivíduo são proporcionais à quantidade de energia que este poderá produzir. Esses mesmos autores salientam que o treinamento desta capacidade fisiológica permite aproximar-se dos limites genéticos de cada indivíduo.

    Para o voleibol, Esper (2001) sugere treinar a potência aeróbica através de exercícios não específicos (corridas) ou exclusivos da modalidade esportiva, pois é uma variável importante para uma boa recuperação entre os pontos, sets e partidas.

    Métodos similares podem ser utilizados para o treinamento da potência aeróbica no futsal. Conforme Gormely et al. (2008) é possível utilizar métodos intervalados de corrida, com intensidade de esforço de 10 segundos a um minuto, uma vez que nos jogos os esforços são de caráter intermitente.

    Quanto aos resultados da velocidade máxima e da distância percorrida verifica-se na Tabela 1 que estas também apresentaram diferenças estatisticamente significativas. No grupo dos jogadores de futsal, tanto a velocidade máxima, quanto a distância percorrida apresentaram médias superiores quando comparadas ao grupo de voleibolistas. Isso pode ser explicado pela especificidade das modalidades esportivas que, mesmo sendo de caráter intermitente, possuem um campo de jogo diferente, ou seja, os praticantes de futsal percorrem distâncias maiores durante o jogo do que os voleibolistas. Tais variáveis são importantes para controlar o treinamento físico, uma vez que se torna inviável realizar várias avaliações da condição aeróbica durante uma pré-temporada.

    Com referência a resposta cardiovascular, observada a partir dos dados de freqüência cardíaca, tanto na situação de repouso (FCrep) quanto na de exaustão (FCmáx), ao final do teste progressivo, constatou-se que ambos os grupos apresentaram valores similares. Nesse sentido, Tritschler (2003) complementa afirmando que a FCrep de pessoas adultas normais é 72 bpm, entretanto, a amplitude pode variar entre 60 e 100 bpm, enquanto que em pessoas bem treinadas podem ser muito inferiores (ex.: a FCrep de atletas de esportes de endurance varia entre 30 e 40 bpm). Já os valores de FCmáx variam em torno dos 200 bpm, tanto para pessoas treinadas quanto para as destreinadas.

Conclusão

    Em conclusão, os dados sugerem que a condição aeróbica deste grupo específico de jogadores de futsal foi mais elevada do que a condição aeróbica dos voleibolistas, sendo encontrado diferenças estatisticamente significativas para o VO2máx, velocidade máxima e distância percorrida.

Referências bibliográficas

  • ACSM. Manual da ACSM para teste de esforço e prescrição do exercício. 5ª ed. Rio de Janeiro, Ressentir Ltda: 2000.

  • ACSM. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

  • BASSET JR, D. R., HOWLEY, E. T. Limiting factors for maximum oxygen uptake and determinants of endurance performance. Med Sci Sports Exerc, 32:70-84, 2000.

  • ESPER, A. El entrenamiento de la potencia aeróbica en el voleibol. EFDeportes.com, Revista digital. Buenos Aires, año 7, nº 43, Diciembre de 2001. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd43/volei.htm

  • GORMELY, S. E.; SWAIN, D. P.; HIGH, R.; SPINA, R. J.; DOWLING, E. A.; KOTIPALLI, U. S.; GANDRAKOTA, R. Effect of intensity of aerobic training on VO2max. Med Sci Sports Exerc, 40, 7, 1336-1343, 2008.

  • GUEDES, D. P. & GUEDES, J. Manual prático para avaliação em educação física. Barueri, SP: Manole, 2006.

  • GUERRA, I.; SOARES, E. A.; BURINI, R. C. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Rev Bras Med Esporte, 7:200-6, 2001.

  • HEYWARD, V. H. Avaliação física e prescrição de exercício – Técnicas avançadas. 4ª ed., Porto Alegre, Artmed: 2004.

  • POWERS, S. K. & HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3 ed. Barueri. Manole LTDA, 2000.

  • RAMSBOTTOM, R.; BREWER, J. & WILLIAMS, C. A progressive shuttle run test to estimate maximal oxygen uptake. Br J Sports Med, 22 (4): 141-144, 1988.

  • REILLY, T. & THOMAS, V. Estimated energy expenditure of professional association footballers. Ergonomics, 22:541-8, 1979.

  • TUBINO, M. J.G.; MOREIRA, S. B. Metodologia científica do treinamento desportivo. 13. ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003, p. 312-316.

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