Nível de atividade física e qualidade de vida dos usuários assistidos pela Estratégia de Saúde da Família do Município de Cruz Alta/RS Nivel de actividad física y
calidad de vida de los usuarios asistidos |
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Grupo Multidisciplinar de Saúde da Universidade de Cruz Alta – GMS/UNICRUZ (Brasil) |
Ethel Bastos da Silva Marília de Rosso Krug Mateus Caíno Giordani |
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Resumo Este estudo objetivou analisar a qualidade de vida e as condições de saúde dos usuários assistidos pela Estratégia de Saúde da Família da cidade de Cruz Alta RS ativos e sedentários. Caracterizaou-se como um estudo transversal, retrospectivo, descritivo. Participaram 412 usuários das ESF Santa Terezinha II, Abegai, Alvorada, DNER, Turíbio Veríssimo e Santo Antônio, que correspondeu a 10% das famílias, que foram selecionados por conveniência. Para obtenção das informações utilizou-se: um questionário para descrever a estrutura familiar e escolaridade, a classe social foi avaliada pelo critério Abipeme (Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado), as principais doenças através de pergunta direta, o nível de atividade física através do IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física),e para a percepção de qualidade de vida, utilizou-se o WHOQOL – Bref. Os dados foram tratados através da estatística descritiva e o teste “t” de Student (p≤0,05). A maioria dos usuários eram do sexo feminino, adultas e casadas, possuíam um salário mínimo como renda, mas mesmo assim avaliaram sua saúde como boa. A principal doença encontrada foi a hipertensão arterial seguido da depressão. Notou-se um alto percentual de usuários sedentários, mas tanto os ativos como os sedentários perceberam sua qualidade de vida como boa. Portanto conclui-se que há uma necessidade de intervenções de equipes multidisciplinares nas ESF, pois encontrou-se uma grande evidencia de usuários sedentários. Isto se destaca, pois a idéia principal das ESF, não é o tratamento das doenças e sim a prevenção de doenças futuras. Unitermos: Atividade física. Qualidade de vida. Estratégia de Saúde da Família |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010 |
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Introdução
A atividade física tem sido mencionada como instrumento de recuperação, manutenção e promoção da saúde. No entanto, só recentemente estudos epidemiológicos com melhor delineamento conseguiram demonstrar com maior clareza essa associação.
Por outro lado, o sedentarismo não representa apenas um risco pessoal de enfermidades, tem um custo econômico para o indivíduo, para a família e para a sociedade. Dados recentes do Centers for Disease Control and Prevention de Atlanta (CDC) apontam que mais de 2 milhões de mortes por ano podem ser atribuídas à inatividade física, em função da sua repercussão no incremento de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) como os problemas cardiovasculares, de câncer e diabetes, que corresponderam em 1998 por quase 60% das mortes (71,7 milhões) no mundo; índice que alcançaria 73% em 2020 mantidas as tendências atuais. O pior é que 77% dessas mortes acontecem em países em desenvolvimento(CDC 2000).
Dados epidemiológicos da população brasileira revelaram uma prevalência de sedentarismo de 71%, ultrapassando as taxas de outros bem conhecidos fatores de risco como o fumo com 35%, a hipercolesterolemia 26%, a hipertensão arterial 15% e o excesso de peso corporal 37% ( REGO, BERARDO E RODRIGUES ,1990).
Muito pouco é conhecido sobre os hábitos de atividade física de pessoas que vivem em países em desenvolvimento, embora se pudesse argumentar que o lazer representa pequena proporção da atividade total. Na verdade, o século XX marcou nitidamente um sedentarismo progressivo, que levou a prevalências extremamente elevadas em todo o mundo, mesmo em países mais avançados, onde alcançaria 40-60% da população, como também em nosso meio, em que estimativas de Rego, Bererdo e Rodrigues (1990) apontam para índices de aproximadamente 70%, sendo maior entre mulheres que em homens.
O sedentarismo tem sido considerado o fator de risco para muitas doenças, mas, quando evitado atenuam a prevalência de morbidade e mortalidade nas populações. Nesta direção resultados apresentados por Blair, Cheng e Holder (2001) mostram claramente como os indivíduos que deixam de ser sedentários e passam a ser moderadamente ativos no tempo de lazer diminuem o risco de morte em 28% no sexo masculino e em 35% no feminino. Considerando a associação da atividade física recreacional com o câncer de pulmão, o autor relatou diminuição de 25% no risco relativo de morte por esta causa, quando comparou sedentários a indivíduos que caminhavam; e uma diminuição de 46% na incidência de acidente vascular cerebral em indivíduos com um gasto energético de 2000 a 2999 kcal/sem, quando eram comparados àqueles que gastaram menos de 1.000 kcal/sem.
Considerando que a atividade física é uma condição para se obter saúde, deve ser incorporada como hábito de vida das populações de forma a evitar doenças e promover a saúde sob orientação de profissionais que atuam nas Unidades de Saúde. Nessa perspectiva a Estratégia de Saúde da Família (ESF) emerge de movimentos reformistas na década de 70 e 80 com o objetivo de modificar o sistema tradicional de saúde substituindo o modelo biomédico por um modelo novo, que prioriza a prevenção e a promoção á saúde junto com a população (BRASIL, 2002).
A ESF propõe intervenções que incluem além do diagnóstico de saúde das famílias, incentivá-las a participar do planejamento de ações de saúde local, que visem enfrentar os determinantes do processo saúde-doença (COSTA, 2004). Para isso, convidam as famílias usuárias para participarem de grupos de educação em saúde, os quais são constituídos das equipes multidisciplinares, e tem como objetivo principal refletir sobre os hábitos de vida e a influência destes sobre a qualidade de vida e o processo saúde-doença (PEREIRA, 2005).
Os grupos são organizados por áreas demográficas específicas contemplando o ciclo vital do homem. Cabe aos profissionais de saúde incorporar conceitos de saúde coletiva e educação que possibilitem a elaboração de ações de promoção que gerem impacto na saúde da comunidade “com” e não “para” a comunidade a que se assiste. (HORTO ET AL, 2009).
Dentre as atribuições da Vigilância Epidemiológica em Saúde nas unidades locais está a promoção de medidas educativas multiprofissionais direcionadas as programas específicos tais como Hipertensos, Diabéticos, Planejamento Familiar, DST/AIDS e outros (SOUZA, 2007).Nas atividades de promoção, prevenção e tratamento na saúde podem ser incluídas como atividade coletiva a prática de exercícios físicos recomendada por instituições oficiais de saúde como a V Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial e Projeto Diretrizes- Prevenção da Aterosclerose- Dislipidemias (V DBHA, 2006; PDPAD,2001).
Para fortalecer a inserção da atividade física como promotora de saúde o Ministério da Saúde publicou a portaria 154 de 24 de janeiro de 2008 criando os Núcleos de Apoio a Saúde da Família que propõe a participação de outros profissionais para complementar o trabalho das equipes multidisciplinares, sendo o educador físico o responsável pela orientação das atividades físicas aos diversos grupos populacionais assistidos pela ESF (BRASIL, 2008)
Algumas ESFs já estão aderindo a programas de atividades física com resultados benéficos para os usuários. Embora as mudanças sejam lentas, há tendência na ampliação das equipes com a inserção desse profissional e conseqüentemente da atividade física como prática de saúde a ser ofertada.
Os municípios vêm reorganizando a Atenção Básica orientada pela ESF, as quais referenciam um novo fazer em saúde. No município de Cruz Alta, no ano de 2008 existiam seis UBS com ESF e Equipe de Saúde Bucal (ESB). Todas constituídas da Equipe mínima de um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um auxiliar de enfermagem. Além destes, um dentista e um auxiliar de Consultório Odontológico. Estes profissionais atendem a população adscrita, com no máximo 1000 famílias e 4000 mil habitantes, tendo cada Agente Comunitário de Saúde (ACS) uma população de 750 habitantes (BRASIL, 2006).
A Universidade de Cruz Alta está inserida no Sistema de Saúde do município através de projetos de Extensão e Pesquisa com o objetivo de pensar junto as Equipes de Saúde e as Populações Adscritas táticas de enfrentamento aos determinantes do processo saúde –doença seguindo a concepção de saúde da promoção da saúde que de acordo com Santos(2007) foca a questão do desenvolvimento social, familiar e individual, valorizando a qualidade de vida.
A qualidade de vida baseia-se em três fundamentos principais: capacidade funcional, nível sócio-econômico e satisfação. Além disso, pode estar ligada a componentes como capacidade física, estado emocional, interação social, atividade intelectual, situação econômica e auto-proteção da saúde (GALISTEU et al., 2006).
Considerando a atividade física como fator protetor da saúde e a qualidade de vida como requisito para a manutenção das condições de saúde das populações, esse artigo tem como objetivo analisar o nível de atividade e a qualidade de vida dos usuários assistidos pela Estratégia de Saúde da Família da cidade de Cruz Alta/RS.
Metodologia
Este estudo caracterizou-se por ser um estudo transversal, retrospectivo, descritivo. Para Silva (1998), no estudo transversal, a freqüência de uma ou várias (doenças), são medidas através de levantamentos em uma população. São adequados para descrever as variáveis e seu padrão de distribuição, e para levantar hipóteses de associações causais.
A população se constituiu das famílias usuárias das ESF Santa Terezinha II, Abegai, Alvorada, DNER, Turíbio Veríssimo e Santo Antônio, totalizando 4120 famílias assistidas pelas ESF da cidade de Cruz Alta/RS. Os sujeitos do estudo foram selecionados por amostra probabilística. Para Mattar (1996, p.132) a “amostra probabilística é aquela em que cada elemento da população tem uma chance conhecida e diferente de zero de ser selecionado para compor a amostra. A amostra correspondeu a 10% das famílias 412 usuários das ESF da cidade de Cruz Alta.
Todas as informações foram obtidas através do banco de dados do Projeto: “Educação em Saúde: Uma proposta de intervenção nas Unidades Avançadas de saúde (UBS) de Cruz Alta/RS” que teve como objetivo instrumentalizar os usuários das UBS da cidade de Cruz Alta, com vistas ao fortalecimento do coletivo da comunidade, na busca por melhores condições de saúde. Este projeto foi financiado pelo Programa Institucional de Bolsa de Extensão PIBEX 2007/2008 (KRUG et al., 2007). Os dados retirados do formulário do referido projeto foram: dados sócio demográficos como: sexo, idade, situação civil e classe social.
A classe social foi avaliada pelo critério da Abipeme (Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado), reconhecida no contexto brasileiro, que divide a população nas classes sociais A, B, C, D e E. Foram considerados da classe alta os usuários que apresentaram pontuação acima de 89 (Classe A), média os que tiveram pontuação entre 35 e 88 (classes B e C) e baixa os que apresentaram pontuação entre 0 (zero) e 34 (classes D e E).
As principais doenças foram investigadas através de pergunta direta se em alguma época da vida do entrevistado já teve o diagnostico para devida patologia. As patologias investigadas foram: Diabetes Mellitus (DM), insuficiência cardíaca, dislipidemia, angina, infarto agudo do miocárdio (IAM), derrame, enfisema pulmonar, asma/bronquite, anorexia, compulsão alimentar, depressão, úlcera ou gastrite, constipação, neoplasia, trombose ou varizes, artrite/doenças reumáticas, osteoporose.
Os níveis de atividade física foram determinados através do IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física - IPAQ). O IPAQ é um instrumento que permite estimar o tempo semanal gasto na realização de atividades físicas de intensidade moderada, a vigorosa, e em diferentes contextos da vida (trabalho, tarefas domésticas, transporte e lazer). Foram classificados como sedentários os usuários sedentários e insuficientemente ativos da classificação do IPAQ e os classificados como ativos ou muito ativos, foram considerados ativos.
Para obtenção das informações quanto à percepção de qualidade de vida, foi utilizado o questionário WHOQOL – Bref que é uma versão abreviada do instrumento original WHOQOL 100. Assim, diferente do WHOQOL – 100 em que cada uma das 24 facetas é avaliada a partir de quatro questões, no WHOQOL – Bref é avaliada por apenas uma questão. Dessa forma, cada uma das 24 facetas que compõem o instrumento original é representada por uma questão. O mesmo foi desenvolvido pelo grupo de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde. O WHOQOL-bref é um instrumento de auto-avaliação sendo auto-explicativo e representa quatro domínios da qualidade de vida: o físico, o psicológico, as relações sociais e o meio ambiente (FLECK et al, 2000).
Para a análise dos dados foi utilizada a estatística descritiva. Foi utilizada a correlação linear de PEARSON para identificar a associação entre as variáveis numéricas (idade e qualidade de vida), a correlação de postos de SPEARMAN para obtenção de associação entre a qualidade de vida com a variável: classe social e o Chi-quadrado para as variáveis ordinais (classe social e níveis de atividade física). Foi utilizado, também, o teste “t” de Student na comparação da qualidade de vida entre os usuários ativos e sedentários. Sendo o nível de significância adotado de p ≤ 0,05.
Não foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e esclarecido como propõe a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, mas segue seus preceitos. Pois os dados foram retirados do Bando de Dados do projeto “Educação em Saúde: Uma proposta de intervenção nas Unidades Avançadas de saúde (UBS) de Cruz Alta/RS” da UNICRUZ. Foi solicitado autorização para realização do estudo nas ESF em questão.
Resultados e discussões
Os usuários foram caracterizados quanto aos aspectos sócio demográficos, sexo, idade, situação civil, classe social e escolaridade (Tabela 1).
Tabela 1. Aspectos sócio-demográficos
Variável |
Indicadores |
n |
F% |
Sexo |
Masculino Feminino |
84 328 |
20,4 79,6 |
Faixa etária |
Adolescentes (12 a 24 anos) Adultos (25 á 59) Idosos (+ de 60 anos) |
44 278 90 |
10,7 67,5 21,8 |
Situação civil |
Casado Solteiro Viúvo |
251 94 67 |
60,9 22,8 16,3 |
Classe social |
Alta Média Baixa |
6 374 32 |
1,5 90,8 7,8 |
Nível de instrução |
Analfabeto Fundamental Completo Médio Completo Superior Completo |
68 240 87 17 |
16,5 58,3 21,1 4,1 |
Ao analisar os resultados expostos na tabela 1, pode-se notar que: a maioria dos sujeitos entrevistados das ESF de Cruz Alta são do sexo feminino, adultos e casados.
A maioria das informações foi obtida por mulheres, pois eram as que se encontravam em casa no período da manhã e durante a semana já que os questionários foram aplicados nesse período, e também em populações de classe social e escolaridade mais baixa as atividades do lar ainda são realizadas, predominantemente, pelas mulheres, e as atividades de trabalhar fora de casa com o homem.
Esta baixa escolaridade se reflete na renda e no salário das famílias em estudo, pois 69,4% das famílias entrevistadas tinham apenas um salário mínimo como renda mensal e para a maioria esta renda procede da aposentadoria.
A situação sócio-econômica desempenha um papel fundamental na determinação das condições de saúde das pessoas e se reflete na qualidade de vida da população.
Para Brassil (2006), as condições em que vivem os usuários das ESF são determinantes das condições de vida e de saúde. Sabe-se que populações com maior poder aquisitivo e nível de escolaridade tendem a desenvolver um comportamento mais saudável do que as populações mais carentes nestes aspectos.
O sexo e a idade são considerados fatores que influenciam na saúde das populações. Lebrão, Carandina e Magaldi (1991) revelaram que a mulher relata mais queixa que o homem, e com relação a idade, prevalecem mais queixas nas faixas etárias menor que 20 anos e maior que 50 anos.
Outro fator a ser considerado no estudo foi a baixa escolaridade e no que diz respeito a isso, Gomes, Siqueria e Schieri (2001) destacam que quanto maior o grau de escolaridade, maior é a freqüência de atividade física de lazer nos dois sexos e menos horas são gastas assistindo televisão entre as mulheres.
O instrumento utilizado também continha questões para avaliar as condições de saúde, onde os sujeitos do estudo em sua maioria avaliaram a sua saúde como sendo boa (56,6%), seguido de uma saúde regular (28,9%).
Um dos fatores determinantes da condição de saúde das comunidades é o acesso facilitado ao Serviço de Saúde e este resultado pode estar relacionado a este aspecto, por ter no bairro uma ESF que oferece serviços de saúde. Segundo Costa (2004) o conceito de saúde elaborado na 8ª Conferência de Saúde destaca a oportunidade de acesso ao serviço de saúde como um dos fatores determinantes e condicionantes de saúde.
Através da análise dos dados foi possível observar que estas comunidades têm como referência o atendimento na ESF conforme orienta o Ministério da Saúde, pois, dos sujeitos entrevistados 87,6% não tiveram nenhuma internação no último ano, este dado infere que as ações da ESF estão sendo resolutivas. Conforme Costa (2004) a ESF quando oferece serviços de qualidade, evita internações e melhora a qualidade vida das comunidades e tem capacidade resolutiva em 85% dos problemas de saúde.
O perfil social, sanitário econômico, cultural, epidemiológico servem como base para a elaboração da organização do sistema local de saúde. A organização do trabalho das equipes de saúde da família se alicerça no reconhecimento das realidades das famílias, na identificação de seus problemas, doenças e riscos aos quais estão expostos, para que se possa planejar ações que solucionem 100% dos problemas prevalentes no território (SAITO, 2008).
Na tabela 2 estão as principais patologias em que os usuários já tiveram o diagnostico em alguma fase de sua vida.
Tabela 2. Distribuição das principais doenças prevalentes nos sujeitos do estudo
Variável |
N |
F% |
Hipertensão Arterial (HA) Depressão Asma Diabetes (DM) Dislipidemias Osteoporose Alergias Insuficiência cardíaca Neoplasia Enfisema Pulmonar Outras |
112 74 44 38 36 28 24 12 8 5 25 |
27,2 18,0 10,7 9,2 8,7 6.8 5.8 2,9 1,9 1,2 6,0 |
Constatou-se que a hipertensão arterial é a doença que acomete um maior percentual de usuários das ESF o que pode ser um risco, já que de acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (V DBH, 2006) a hipertensão arterial tem sido reconhecida como principal fator de risco para as doenças cardiovasculares.
Leite (2000) salienta que mesmo com todo o avanço da tecnologia na área da saúde, muitos são os casos de morte por cardiopatias, sendo, num contexto geral, a maior causa de mortalidade no mundo inteiro.
É importante salientar o valor das atividades físicas para minimizar a degeneração provocada pelo envelhecimento, em estimular funções essenciais do organismo e as funções do aparelho locomotor. Sua pratica regular retém níveis mais altos de capacidade funcional, essencialmente na função cardiovascular (MOLINA, 2008).
Para Athanaiel e Saito (2008, p. 283):
O controle, tratamento e reabilitação dos agravos da HA e do DM estão entre as prioridades de atenção no Sistema de saúde, sendo atribuída a atenção primária a responsabilidade do diagnóstico precoce, monitoramento da adesão, disponibilização de medicamentos, educação para a redução dos riscos de lesões e para a promoção da saúde.
Outra doença que apareceu com um percentual significativo foi a depressão, transtorno psíquico, que vem aumentando progressivamente nas comunidades. Tem causa multifatorial e assim como as demais doenças merecem atendimento na rede básica e na rede de referência.
O estudo realizado por Brêda e Augusto (2001), na comunidade Pontal da Barra na cidade de Maceió também, apontou a depressão como uma das doenças prevalentes. No que se refere ao cuidado destas doenças em estudo realizado na ESF da referida comunidade, Brêda e Augusto (2001, p.1) observaram que especialmente ao portador de doença psíquica o cuidado tem sido “medicalizado, hospitalar e fragmentado”. Ainda neste cenário existe uma lógica centrada no modelo biomédico, os profissionais desenvolvem um trabalho individual repetindo o internamento psiquiátrico, método contrário a reforma Sanitária. Nesse sentido é necessário fazer uma reflexão sobre as posturas profissionais das Equipes de Saúde da Família no que diz respeito as ações de saúde e a abordagem com as famílias nas comunidades.
O nível de atividade física dos ossuários assistidos pelas ESF da cidade de Cruz Alta - RS, também foi investigado. Após a análise dos dados notou-se um alto percentual de usuários sedentários, ou seja, 360 (87,4%) dos 412 entrevistados eram sedentários.
A vida sedentária provoca literalmente o desuso dos sistemas funcionais. O aparelho locomotor e os demais órgãos e sistemas solicitados durante as diferentes formas de atividade física entram em um processo de regressão funcional, hà perda da flexibilidade articular, além do comprometimento funcional de vários órgãos. A atividade física determina a saúde do indivíduo. O sedentarismo, pelo contrário, deriva facilmente em doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade (PROJIS, 2005).
Apesar de o sedentarismo ser reconhecido com um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças e das evidências científicas e informações disponíveis em relação aos benefícios da prática regular de atividade física para a saúde e para a qualidade de vida, a maioria da população adulta, ainda, continua sedentária.
A atividade física além de facilitar a realização das atividades da vida diária (capacidade funcional), também, segundo Neri (2000) influencia no tratamento e prevenção de doenças, proporcionando assim uma melhoria do bem estar geral de todos.
Através deste bem estar geral que a atividade física nos proporciona após sua realização, quando esta atividade qualquer que seja se torna rotina no nosso dia-a-dia ela nos proporcionará uma melhora também na nossa qualidade de vida.
A qualidade de vida, quando avaliada, é entendida como uma construção multidimensional, que inclui vários dogmas e domínios. Dentre eles o estado funcional (performance de atividades de auto-cuidado, mobilidade, atividade física, trabalho e responsabilidade doméstica); estado psicológico (ansiedade ou depressão); estado social, preocupações existenciais ou espirituais, funcionamento sexual, imagem corporal e satisfação com o atendimento na área da saúde (DEITOS; GASPARY, 1999).
Aos participantes do estudo também foi aplicado o questionário Whoqol-Bref para se ter os resultado sobre a percepção de qualidade de vida de cada individuo, o questionário é composto por quatro domínios da qualidade de vida, sendo que cada domínio objetiva analisar, respectivamente: a capacidade física, o bem-estar psicológico, as relações sociais e o ambiente onde o indivíduo está inserido, além disso, avalia a qualidade de vida global que utiliza o escore dos quarto domínios. Na comparação da qualidade de vida entre os usuários ativos e sedentários foi utilizado o teste ‘t” de Student (Tabela 3).
Tabela 3. Qualidade de vida dos usuários das ESF ativos e sedentários (média ± desvio padrão)
Qualidade de vida |
Sedentários |
Ativos |
Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Social Domínio Ambiental Qualidade de Vida Geral |
69,24 ± 15,38 69,10 ± 14,32 72,45 ± 15,60 63,42 ± 12,20 67,55 ± 11,87 |
77,40 ± 17,79* 76,12 ± 14,05 76.60 ± 18,08 69,17 ± 11,25* 74,22 ± 12,80* |
* p ≤ 0,05
Analisando os dados da tabela 3, constatou-se que os usuários, tanto ativos quanto sedentários, das ESF percebem sua qualidade de vida como boa em todos os domínios, ou seja apresentaram escores acima de 50% em uma escala onde 0% indica péssima qualidade de vida e 100% uma excelente qualidade de vida, a tabela ainda nos mostra que o domínio social, para os sedentários e o físico para os ativos são os domínios onde os usuários mostraram melhores resultados.
Ao comparar os resultados entre os usuários ativos e sedentários notou-se diferenças estatisticamente significativas entre os mesmos somente nos domínios físico, ambiental e na qualidade de vida geral, sendo estes valores superiores para os usuários ativos em relação aos sedentários.
Segundo Carvalho (1999) a saúde e a qualidade de vida do homem podem ser preservadas e aprimoradas através da prática regular de atividade física.
Dantas (1999), buscando responder em que medida a atividade física proporcionaria uma desejável qualidade de vida, sugere que programas de atividade física bem organizados podem suprir as diversas necessidades individuais, multiplicando as oportunidades de se obter prazer e, consequentemente , otimizar a qualidade de vida.
Pode-se dizer que as atividades físicas é um fenômeno social de grande relevância nos tempos modernos, com certeza não estará expressando uma novidade, mas sim, revelando um mundo que necessita sempre ser estudado (CARVALHO et al, 2007).
Os resultados deste estudo vem comprovar o valor da atividade física para obtenção de uma melhora na qualidade de vida. Esta contribuição ocorre, pois a mesma minimiza a degeneração que é provocada pelo envelhecimento e estimula as funções essenciais do organismo. Segundo Nahas (2003), Matsudo et al. (2000) e Pickles et al. (2002) sua prática regular retém níveis mais altos de capacidade funcional, fundamentalmente, na função cardiovascular.
Conclusão
O Programa de Saúde da Família propõe uma pratica assistencial com novas bases estruturais, as quais substituem o modelo tradicional de assistência, direcionando à cura de doenças. Deste modo, torna-se um programa que prioriza ações de promoção, proteção e recuperação da saúde familiar de forma integral. O programa está crescendo e cada vez mais esta melhorando a qualidade de saúde da população.
Após a realização deste trabalho, a partir da análise dos dados foi possível concluir que as famílias assistidas pelas UBS com ESF, vivem em regime de casamento, apresentam um grau de escolaridade baixo e se classificam na classe social média.
Salienta-se que, no momento da entrevista a maioria dos sujeitos era do sexo feminino e a idade variou de 25 a 49 anos e na avaliação do nível de atividade física os dados nos revelaram um alto percentual de usuários sedentários.
Dentre as principais doenças que acometem os usuários a com maior prevalência foi a hipertensão arterial seguido da depressão, mas mesmo tendo vários casos destas patologias as condições de saúde foram avaliadas como sendo boas, que pode estar associado ao acesso facilitado ao Serviço de Saúde, ESF.
Sobre a percepção de qualidade de vida de cada individuo tanto ativo quanto sedentário os mesmos perceberam sua qualidade de vida como boa em todos os domínios. Mas ao comparar os resultados entre os usuários ativos e sedentários notou-se diferenças estatisticamente significativas entre os mesmos nos domínios físico, ambiental e na qualidade de vida geral, sendo estes valores superiores para os usuários ativos em relação aos sedentários.
Pode-se então concluir que há necessidade de intervenções de equipes multidisciplinares nas ESF, pois encontrou-se uma grande evidencia de usuários sedentários. Isto se destaca pois a idéia principal das ESF, não é o tratamento das doenças e sim a prevenção de doenças futuras.
Observamos com este estudo que muitas outras investigações podem ser realizadas acerca dessa temática tais como a correlação do nível de atividade física e a qualidade de vida com as condições sócio-demográficas e as principais doenças dos usuários das ESF, procurando verificar se há significância entre eles, e posteriormente elaborar melhores propostas para que essas famílias assistidas tenham uma melhor condição de saúde e qualidade de vida.
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digital · Año 14 · N° 141 | Buenos Aires,
Febrero de 2010 |