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Estudo observacional do atendimento 

fisioterapêutico em atletas do troféu Brasil de triathlon

Estudio observacional de las consultas fisioterapéuticas en atletas del trofeo Brasil de triatlón

Observational study of the physical therapist attendance in athletes of the Brazil trophy of triathlon

 

*PhD, Docente do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo

**PhD, Docente do Curso de Fisioterapia da

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

***Fisioterapeuta Responsável pelo Ambulatório de Fisioterapia Esportiva do

Instituto Central do Hospital das Clínicas – USP

****Pós-graduada em Fisioterapia Clínica na

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Clarice Tanaka*

Maiza Ritomy Ide**

Cássio Siqueira***

Nayara Correa Farias****

nayaracf@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O Triathlon é um esporte individual que engloba três modalidades: natação, ciclismo e corrida. Os triatletas enfrentam uma variedade de condições ambientais e desgaste fisiológico, que podem levar a lesões musculoesqueléticas diversas. Este trabalho objetiva descrever as principais causas de atendimentos fisioterapêuticos em triatletas durante ou imediatamente após a prova de triathlon. O estudo foi realizado com base nos atendimentos fisioterapêuticos realizados durante a 2ª Etapa do Troféu Brasil de Triathlon. Participaram do evento 624 atletas. Foram realizados 71 atendimentos (seis em sujeitos do sexo feminino e 66 do sexo masculino), em sujeitos com idades entre 13 e 49. O nível técnico classificava os sujeitos em quatro categorias: amador, elite, militar e profissionais. Os atendimentos poderiam ser realizados por mais de uma causa, de modo que os 71 atendimentos geraram 99 queixas, por 12 diferentes motivos. Observa-se que a metade das queixas (50,5 %) estava relacionada ao membro inferior. A coluna vertebral e tronco foram responsáveis por 26,26 % dos atendimentos. A queixa mais comumente relatada pelos sujeitos foi a dor (72,73 %). A categoria amador foi a que gerou maior número de atendimentos (58,33 %). Entretanto, as demais categorias apresentaram grande quantidade de atendimentos proporcionalmente ao número de inscritos. As queixas relacionadas a quadros álgicos em coluna lombar e membros inferiores são as maiores causas de atendimentos fisioterapêuticos após e durante a prática de Triathlon. Tal fato sugere que maior atenção seja dirigida a essas áreas durante o preparo dos atletas e também durante um eventual processo de reabilitação.

          Unitermos: Triathlon. Fisioterapia. Traumatismo em atletas. Dor

 

Resumen

          El triatlón es un deporte individual que comprende modalidades: natación, ciclismo y carrera pedestre. El triatleta enfrenta una variedad de condiciones ambientales y de demandas fisiológicas, que puede llevar a diversas lesiones. Este trabajo intenta describir las causas principales de las consultas de fisioterapia en triatletas durante o después de la prueba del triatlón. El estudio analizó las consultas de fisioterapia de la segunda fase del trofeo Brasil de Triatlón. Participaran del evento 624 atletas. Fueran realizadas 71 consultas (seis en individuos del sexo femenino y 66 del sexo masculino), en individuos con edades entre 13 y 49 años. A nivel técnico los participantes se clasifican en cuatro categorías: no profesionales, élite, militar y profesionales. Las consultas podían ocurrir por más de una causa, de manera que las 71 consultas generaron 99 quejas, por 12 razones diferentes. Se observó que la mitad de las quejas (50.5 %) estuvo relacionada con el miembro inferior. La columna y el tronco vertebral fueron responsables por 26.26 % de las consultas. La queja más usualmente expresada por los atletas fue el dolor (72.73 %). La categoría no profesional fue la que generó el mayor número de consultas (58.33 %). Sin embargo, las otras categorías generaron gran cantidad de quejas, considerando el número de participantes. Las quejas relacionadas con el dolor de la columna lumbar y miembros inferiores son las causas de mayor cantidad de consultas de fisioterapia durante y después la práctica de triatlón. Tal hecho sugiere que la mayor cantidad de consultas está dirigida a estas áreas durante la preparación de los atletas y también durante un proceso eventual de la rehabilitación.

          Palabras clave: Triatlón. Fisioterapia. Trauma en atleta. Dolor

 

Abstract

          Triathlon is an individual sport that involves three modalities: swimming, cycling and race. Athletes find different ambient conditions and physiological consuming during competitions, which can take then to muscle skeleton injuries. This study aims to describe the main causes of physical therapists attendants in triathlon athletes during or immediately after a Triathlon competition. The study was performed based on the physical therapist attendants undergone in the 2ª Stage of the Brazil Trophy of Triathlon. Participated in the competition 624 athletes. The 71 attendants (six in female and 66 in male subjects) were undergone in subjects between 13 and 49 years. Athletes were classified into 4 categories: amateur, amateur elite, military and professionals. The attendants could be done for more than one reason. So, the 71 attendants resulted in 99 complaints, for 12 different reasons. It is observed that half of the complaints (50.5 %) were related to the lower limb. The vertebral column and trunk were responsible for 26.26 % of the attendants. The most common complaint was the pain (72.73 %). The amateur category generated the greater number of attendants (58.33 %). However, the others categories presented higher number of attendants when compared to the number of enrolled. The complaints related to back and lower limbs pain were the most common causes of physical therapist attendants. This fact suggests that bigger attention should be directed to these areas during the preparation of the athletes and also during a rehabilitation process.

          Keywords: Triathlon. Physical therapy. Athletic injuries. Pain

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 141 - Febrero de 2010

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Introdução

    O Triathlon é um esporte individual que engloba três modalidades: natação, ciclismo e corrida 1. Tornou-se um esporte olímpico nos últimos 15 anos, o que aumentou seu índice de popularidade 2.

    Os triatletas enfrentam uma variedade de condições ambientais e desgaste fisiológico. Uma prova olímpica leva em média duas a quatro horas 3, podendo durar de 30 minutos a 36 horas 4, dependendo da competição. A prova olímpica inicia-se com 1500 m de natação, seguida de 40 km de ciclismo e 10 km de corrida. Durante o percurso, pode ocorrer contratura muscular, hipotensão postural, insolação, ferimentos, traumas musculoesqueléticos, problemas gastrointestinais, infecção bacteriana pós-corrida, imunossupressão, disfunção do sistema nervoso simpático, exaustão psicológica e hemólise 3.

    Engerman et al (2003) 2 realizaram um estudo sobre as lesões de alemães que participaram de uma tradicional prova de Triathlon na Europa. Dos 656 sujeitos estudados, aproximadamente 74,8 % relataram ao menos uma lesão envolvendo o Triathlon. A maioria das lesões ocorreu durante a etapa de ciclismo (54,8 %) e durante as competições, quando comparada ao período de treino. Observou-se ainda que as fraturas relacionavam-se com a idade. Encontrou-se relação das lesões com idade, nível de habilidade e número de horas treinadas por semana. Entretanto, as lesões não se relacionam com sexo, presença de técnico ou cuidados médios. Atletas de alto nível de habilidade apresentavam mais contusões e abrasões e lesões músculo tendíneas. Os atletas que passavam grande parte de tempo treinando apresentavam mais lesões músculo tendíneas.

Os movimentos repetitivos da modalidade podem levar a lesões e desgaste 5. As lesões por excesso de uso são relatadas por diversos estudos 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e representam grande parte das lesões relacionadas ao esporte que necessitam de tratamento médico 11. Ocorrem em 75% dos atletas de elite 7.

    As lesões mais comuns no Triathlon ocorrem em joelho, coluna lombar e ombro 8, 10. Veck e Garbutt (1998) 7 encontraram em seu estudo que os locais de lesões mais comuns são as que ocorrem em tendão calcâneo, coluna lombar e joelho, além de serem as mais graves. A corrida foi responsável pelo maior número de lesões, quase o dobro das que ocorreram na natação em atletas de elite.

    As lesões que ocorrem durante a corrida tem relação com a distância percorrida em treino, distância percorrida de ciclismo e natação e número de etapas de corrida durante o treino. O número de lesões ocorridas no ciclismo está relacionada com o tempo de corrida e ciclismo 7. As lesões não parecem ter relação com idade, sexo, índice de massa corpórea e distância percorrida por semana 10. As lesões em triatletas estão associadas ainda com aumento da experiência em anos do triatleta, história de injúrias prévias e regimes de aquecimento e resfriamento inadequados 6.

    Este trabalho objetiva descrever as principais causas de atendimentos fisioterapêuticos em triatletas durante ou imediatamente após a prova de Triathlon.

Metodologia

    O estudo foi realizado com base nos atendimentos realizados durante a 2ª Etapa do Troféu Brasil de Triathlon, realizada na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo, no dia primeiro de maio de 2005. Participaram do evento 624 atletas (493 homens e 121 mulheres).

    Durante o evento, foram realizados 71 atendimentos (seis em sujeitos do sexo feminino e 66 do sexo masculino), com idades entre 13 e 49 (27,86 ± 7,45 anos). Os atletas competiam por categorias de sexo, faixa etária e nível técnico. O nível técnico classificava os sujeitos em quatro categorias: amador, elite amador, militar e profissionais (Tabela 1). Além destas, ainda existiam as categorias de para-atletas, sendo que as categorias amputado com e sem prótese foram as únicas com inscritos.

Tabela 1. Distribuição dos sujeitos por categoria

Categoria

Masculino

Feminino

Atendidos

Inscritos

Atendidos

Inscritos

Amador

12-14 anos

1

11

---

6

15-16 anos

1

18

1

10

17-19 anos

4

25

---

8

20-24 anos

15

36

---

14

25-29 anos

1

64

---

19

30-34 anos

11

87

3

16

40-44 anos

5

54

---

12

Elite amador

6

36

---

3

Militar

10

24

---

---

Profissional

9

28

2

16

Amputado com prótese

1

1

---

---

Amputado sem prótese

1

1

---

---

    Os atendimentos foram prestados por fisioterapeutas e acadêmicos de graduação e pós-graduação em fisioterapia do Curso de Fisioterapia da instituição envolvida. O trabalho era voluntário, supervisionado e desempenhado sob a modalidade de atividade extra-curricular.

    Para os atendimentos foram utilizados gelo, óleo para massagem e 10 macas. Os atendimentos consistiam basicamente em avaliação, cinesioterapia, crioterapia se necessário e orientações de exercícios e prevenção de lesões. Os pacientes com lesões que necessitassem de atendimento fisioterapêutico ambulatorial e residissem na cidade de São Paulo eram encaminhados ao Ambulatório de Fisioterapia Esportiva da instituição envolvida. Houve apenas dois casos desta natureza. Lesões como fraturas, hipotermia, convulsões, etc., eram atendidas pela equipe médica com ambulância no local, tendo o HU-USP como hospital de referência.

Resultados

    Os atendimentos poderiam ser realizados por mais de uma causa, de modo que os 71 atendimentos geraram 99 queixas, por 12 diferentes motivos.

    O número de sujeitos atendidos e sua relação com o número de inscritos em cada categoria encontram-se descrito na Tabela 1. As queixas referidas pelos atletas encontram-se descrita na Tabela 2. 

Tabela 2. Queixas referidas pelos atletas de Triathlon ao procurar atendimento fisioterapêutico

Queixa

Incidência

Dor

Ombro ou membros superiores

2

Coluna cervical

2

Coluna torácica

5

Coluna lombar

18

Abdômen

1

Quadril

4

Coxa

18

Perna

23

Calcâneo

1

Nódulo poplíteo

1

Câimbras em membros inferiores

3

Orientações gerais, alongamento pós-competição

16

Solicitações de massoterapia pós desistência

5

    Observa-se que a metade das queixas (50 de 99 – 50,5 %) estava relacionada ao membro inferior. A coluna vertebral e tronco foram responsáveis por 26,26 % dos atendimentos. A maior queixa relatada pelos sujeitos foi dor (72 das 99 queixas, 72,73 %)

    A categoria amador foi a que gerou maior número de atendimentos (58,33%), ou 12,88 % dos atletas inscritos no sexo masculino e 4,7 % no feminino. Entretanto, as demais categorias (elite, profissional e militares) apresentaram grande quantidade de atendimentos proporcionalmente ao número de inscritos.

Discussão

    Os membros inferiores e a coluna lombar foram responsáveis por 64,64 % das queixas. Grande parte dos atendimentos realizados foi em decorrência de dor lombar (18,18 %), concordando com os achados na literatura que reconhecem a região lombar um dos locais mais afetados 8, 10, 12. Manninen e Kallinem (1996) 8 citam que as lesões de coluna lombar tendem a ser potencialmente sérias e geralmente são causadas pelo ciclismo. Os autores estudaram 92 triatletas japonesas. A dor lombar foi referida por 32 % dos sujeitos. A maioria (54%) dos episódios de dor lombar teve início há no máximo sete dias, sugerindo lesão de tecidos moles. Dor nos últimos três meses foi referida por 19% dos sujeitos, o que sugere envolvimento de disco intervertebral. A fraqueza da musculatura lombar, média de treino de ciclismo semanal, tempo de treino em musculatura flexora lombar e intensidade de treino aeróbico estiveram relacionadas com dor lombar. Lesões lombares representaram 28% de todas as lesões. As mais comuns foram as lesões de joelho.

    Muitas das queixas estiveram relacionadas com quadros álgicos em membros inferiores, que podem ter sido decorrentes de alterações na articulação do joelho. Clements et al (1999) 13 realizaram um estudo com 58 triatletas entre 15 e 55 anos (46 homens e 12 mulheres) para verificar a incidência de lesões no joelho durante o Triathlon. Concluíram que a maioria das lesões no joelho ocorreram durante a corrida (72%) e afetaram a região lateral (38%).

Conclusões

    As queixas relacionadas a quadros álgicos em coluna lombar e membros inferiores são as maiores causas de atendimentos fisioterapêuticos após e durante a prática de Triathlon. Tal fato sugere que maior atenção seja dirigida a essas áreas durante o preparo dos atletas e também durante um eventual processo de reabilitação.

Agradecimentos

    Os autores agradecem aos organizadores do evento e aos alunos de pós-graduação e graduação que participaram da equipe de assistência fisioterapêutica no evento.

Referências bibliográficas

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  3. CLEMENTS, K.; YATES, B.; CURRAN, M. The prevalence of chronic knee injury in triathletes. Br J Sports Med, v.33, p.214-6, 1993.

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  7. GANZIT, G.P.; CHISOTTI, L.; ALBERTINI, G.; MARTORE, M.; GRIBAUDO, C.G. Isokinetic testing of flexor and extensor muscles in athletes suffering from low back pain. J Sports Med Phys Fitness, v.38, p.330-6, 1998.

  8. HILLER, W.D.; O'TOOLE, M.L.; FORTESS, E.E.; LAIRD, R.H.; IMBERT, P.C.; SISK, T.D. Medical and physiological considerations in triathlons. Am J Sports Med, v.15, p.164-7, 1987.

  9. MANNINEN, J.S.; KALLINEN, M. Low back pain and other overuse injuries in a group of Japanese triathletes. Br J Sports Med, v.30, p.134-9, 1996.

  10. O'TOOLE, M.L.; HILLER, W.D.; SMITH, R.A.; SISK, T.D. Overuse injuries in ultraendurance triathletes. Am J Sports Med, v.17, p.514-8, 1989.

  11. VLECK, V.E.; GARBUTT, G. Injury and training characteristics of male Elite, Development Squad, and Club triathletes. Int J Sports Med, v.19, p.38-42, 1998.

  12. WILK, B.R.; FISHER, K.L.; GUTIERREZ, W. Defective running shoes as a contributing factor in plantar fasciitis in a triathlete. J Orthop Sports Phys Ther, v.30, p.21-8, 2000.

  13. WILK, B.R.; FISHER, K.L.; RANGELLI, D. The incidence of musculoskeletal injuries in an amateur triathlete racing club. J Orthop Sports Phys Ther, v. 22, p.108-12, 1995.

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