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Efeito do tratamento quiroprático na lombalgia crônica de idosos

Efecto del tratamiento quiropráctico en la lumbalgia crónica de personas mayoras

 

*Bacharel em Quiropraxia pelo Centro Universitário Feevale, RS

**Laboratório de Pesquisas em Biomecânica Aquática

Universidade do Estado de Santa Catarina, SC

(Brasil)

Gabriela Mello Gindri*

Gilmar Carvalho**

Heiliane de Brito Fontana**

lilly_bfontana@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito do tratamento quiroprático na dor lombar crônica de idosos com degeneração articular. Participaram desse estudo 13 idosos com média de idade de 66 anos e duração da queixa de dor por mais de três meses (média de oito anos). Estes pacientes receberam seis sessões de ajustamentos quiropráticos e a fim de avaliar a dor foi utilizada uma escala analógica visual (EVA). A dor foi avaliada de três formas distintas: dor máxima sentida na semana prévia à avaliação, dor mínima sentida na semana prévia à avaliação e dor sentida no momento da avaliação. Para a comparação da dor na região lombar antes e após o tratamento, utilizou-se do teste t pareado sendo considerado p<0,05 como diferença significativa. Os níveis de dor na região lombar mostraram uma redução significativa através do tratamento quiroprático para as três formas distintas de avaliação (61,5 % de redução da dor máxima, 75 % de redução da dor mínima e 83 % de redução da dor no momento da avaliação). O resultado deste estudo sugere que o tratamento quiroprático é efetivo no alívio da dor na lombalgia crônica.

          Unitermos: Tatamento quiroprático. Lombalgia crônica. Idosos

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    O aumento da expectativa de vida humana é a mais significante mudança demográfica neste século.1 A estimativa é de que em 2025 a população de idosos do Brasil seja a sexta maior do mundo, somando aproximadamente 32 milhões de idosos.

    Com o avançar dos anos, ocorrem alterações estruturais e funcionais que, embora variem de um indivíduo ao outro, são encontradas em todos os idosos e são próprias do processo de envelhecimento2 . Com o envelhecimento, ocorre um aumento da incidência de processos degenerativos nas articulações2, e a mais comum estratégia para tratamento de dor é o uso de drogas analgésicas3. Existe uma tendência de superestimação do tratamento medicamentoso por parte dos pacientes, sejam eles idosos ou não, os quais assim o fazem por acreditarem que os medicamentos são a única maneira de melhorar as condições físicas indesejáveis4. No entanto, abordagens não-farmacológicas utilizadas isoladamente ou em combinação com estratégias farmacológicas apropriadas podem ser parte do plano de tratamento para pacientes com dor crônica3.

    Nos últimos anos, observa-se que a utilização de medicina complementar alternativa está aumentando e a Quiropraxia é uma das profissões mais representativas nesse segmento1. Na Quiropraxia, dá-se ênfase a tratamentos manuais incluindo ajustamentos articulares e manipulação de tecidos moles5.

    Pacientes mais velhos que recebem tratamento quiroprático tendem a utilizar menos medicações prescritas, estão menos propensos a usar recursos de enfermagem, e mais propensos a relatar um bom estado de saúde6.

    Em virtude de sua localização central, os elementos da coluna vertebral representam o ponto focal para o equilíbrio da saúde corporal7. Portanto, a presença de processo degenerativo juntamente com a lombalgia crônica determina um fator de alto impacto negativo na saúde do idoso.

    Sendo assim, o objetivo desse estudo foi verificar o efeito de um tratamento composto por ajustes quiropráticos na dor em pacientes idosos com lombalgia crônica.

Método

    Participaram do estudo 13 sujeitos diagnosticados com lombalgia devido à degeneração articular da região lombar que procuraram por atendimento na Clínica de Quiropraxia do Centro Universitário Feevale. Não foram incluídos no estudo indivíduos que receberam tratamento quiroprático até seis meses antes deste estudo, ou que estivessem em tratamento fisioterapêutico ou médico para dor lombar. Também não foram incluídos indivíduos com outros processos patológicos que resultem em dor articular. Os indivíduos assumiram o dever de manter como única forma de tratamento a Quiropraxia durante o período em estudo.

    Para coleta de informações referentes à dor foi utilizada a escala visual analógica (EVA), a qual compreende uma linha horizontal de 10 cm com as extremidades indicando “ausência de dor” e “a pior dor possível”. No momento da avaliação foi pedido para que o paciente quantificasse sua dor em uma escala de “0” a “10”, considerando três abordagens distintas: 

  1. a maior dor sentida na última semana (dor máxima), que foi explicado ao indivíduo como sendo a dor sentida ao realizar uma tarefa que desencadeasse a dor – uma vez que a dor secundária a osteoartrose é desencadeada com o movimento da articulação8,9

  2. a menor dor sentida na última semana (dor mínima), caracterizada por se a dor no momento do repouso e 

  3. a dor no momento da consulta.

    O tratamento foi realizado através de seis sessões distribuídas em um período de um mês, sendo realizadas duas consultas semanais nas duas primeiras semanas, e uma consulta semanal nas últimas duas semanas. Na semana seguinte, os indivíduos foram reavaliados.

    Uma vez que a normalidade dos dados foi constatada através do teste de Shapiro-Wilk, utilizou-se do teste t pareado para a comparação entre os dados de dor relatados antes do tratamento e aqueles relatados após o tratamento.

    O estudo teve a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Feevale, de protocolo de avaliação número 4.00.03.06.348. E todos os sujeitos da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, concordando voluntariamente em participar do estudo.

Tratamento experimental

    Os indivíduos selecionados para o estudo passaram por uma avaliação inicial na qual foi confirmada a existência de degeneração articular da região lombar, feita através da história pregressa da queixa, excluindo outros processos patológicos e, também, pela análise de exame de imagem dos pacientes, confirmando mais precisamente a presença de degeneração.

    O tratamento consistiu em ajustes quiropráticos nos segmentos vertebrais subluxados. Os ajustes foram realizados com as técnicas quiropráticas Thompson, Gonstead, Diversificada e Sacro-Occiptal. O objetivo destes ajustes é remover o Complexo de Subluxação Vertebral e restaurar a relação entre o sistema nervoso e o músculo-esquelético. Estes procedimentos objetivam o alívio da dor, a recuperação da mobilidade e equilíbrio entre estruturas vertebrais, e o melhor funcionamento do sistema nervoso que se relaciona com a coluna vertebral.

Resultados e discussão

    A amostra foi composta por 13 sujeitos, sendo 12 do sexo feminino e 1 do sexo masculino. Apesar de o sexo feminino ter predominado no grupo de sujeitos, a osteoartrose e a discopatia lombar são mais comuns em homens, enquanto a osteoartrose cervical é mais freqüente em mulheres2.

    A idade dos sujeitos da amostra foi em média de 66 anos (mínima de 60 e máxima de 74). A prevalência de osteoartrose aumenta de forma significativa com a idade, afetando 50% das pessoas com 60 anos e mais de 85% daqueles com 75 anos, portanto, contanto que se viva o bastante, todo o indivíduo apresentará osteoartrose em algum grau.2 Através de uma revisão da literatura sobre a prevalência de dor lombar em idosos, foi concluído que a incidência de dor lombar na população idosa não é conhecida e que há uma tendência de subestimação dessa incidência10.

    O tempo médio do início do sintoma de dor lombar verificado junto aos pacientes da amostra foi de 8 anos e 5 meses. A dor crônica é definida como a dor que persiste por mais de três meses ou que ultrapassa o período usual de recuperação11. Nos idosos, a dor crônica é habitualmente o resultado de alterações estruturais ou funcionais causadas por doenças, sendo que os músculos e os ossos costumam ser a origem mais freqüente de dor crônica (HENRIQUES, 2001). As alterações cartilaginosas da osteoartrose podem ser assintomáticas por anos, no entanto, elas tendem a progredir com o tempo e, uma vez sintomáticas, a doença pode parecer progredir mais rapidamente, sendo raros os casos em que a doença se mantém estável ou obtém discreta melhora8.

    Em relação à dor relatada na região lombar antes e após o tratamento, verificou-se uma diminuição da dor máxima– aquela provocada pela realização de um esforço (p<0,001). A dor máxima antes do tratamento foi em média 6,5 e após o tratamento foi de 2,5, caracterizando uma redução de 61,5 %. Na Figura 1, podem ser observados os dados individuais de cada sujeito antes (Pré) e após (Pós) a realização do tratamento.

Figura 1. Dor máxima presente na última semana relatada (EVA) antes e após seis sessões de quiropraxia

    A dor mínima – aquela presente durante o repouso – também diminuiu (p=0,019). Antes do tratamento os pacientes relataram em média uma dor de 2 na escala EVA; no entanto, após o mesmo essa dor reduziu à 0,5 na escala. Esses valores indicam uma redução de, em média, 75 %.

    A dor no momento da consulta foi em média de 3 e após o tratamento de 0,5 (p<0,001), resultando, portanto, em uma redução de 83 %.

    Ao término das seis consultas, três indivíduos não apresentavam mais dor lombar, e dez indivíduos ainda apresentavam dor em algum grau. Em idosos, a ausência pura e simples da dor nem sempre é possível, portanto, torna-se mais adequado a busca por um controle parcial da dor. Controlar a dor, tornando-a mais fraca e/ou menos freqüente, pode vir a ser o bastante para uma melhoria da qualidade de vida e das atividades diárias no idoso. O apoio de profissionais especializados e as ajudas técnicas possibilitarão o desenvolvimento e a revitalização da qualidade de vida em idosos12.

Conclusão

    Através da avaliação da dor em pacientes com lombalgia crônica, pôde-se verificar a eficácia de um tratamento composto por seis sessões de quiropraxia. A quiropraxia, portanto, mostrou-se capaz de atenuar a dor lombar em pacientes idosos, reduzindo a dor máxima sentida na semana prévia à avaliação em, em média, 61,5 %. O tratamento foi também capaz de atenuar em 75 % a dor mínima sentida na semana prévia à avaliação e de reduzir a dor sentida no momento da avaliação em 83 %.

    Em um contexto no qual o número de idosos é crescente, assim como a incidência de lombalgia nessa população, esse estudo vem a contribuir para o reconhecimento da quiropraxia como um tratamento eficaz da lombalgia em idosos. No entanto, é necessária a observação de resultados de estudos controlados e randomizados para um melhor entendimento do efeito dessa terapia na lombalgia crônica de idosos.

Referências

  1. Gleberzon BJ. Chiropractic care of the older person: developing an evidence-based approach. Jour. Canadian Chiropractic Assoc. 2001 set; 45 (3): 156-71.

  2. Freitas E, Py L, Neri AL, Cançado FAX, Affiune A, Veiga AMV. Tratado de geriatria e gerontologia. 2002; Rio de Janeiro (RJ): Guanabara-Koogan.

  3. American Geriatric Society. Panel on persistent pain in older person: the management of chronic pain in older person. Jour. American Geriatrics Society. 2002; 50 (6): 205-24.

  4. Vieira EB. Manual de gerontologia: um guia teórico-prático para profissionais, cuidadores e familiares. 1996; Rio de Janeiro (RJ): RevinteR.

  5. World Federeration of Chiropractic. Definition of chiropractic [acesso em 2009 Mar 18]. Disponível em: http://www.wfc.org/website/WFC/website.nsf /WebPage/DefinitionOfChiropractic?OpenDocument

  6. Coulter I, Hurwitz E.; Aronow H.; Cassata, D.; Beck, J. Chiropratic patients in a comprehensive home-based geriatric assessment, follow-up and health promotion program. Topics Clin. Chiropractic. 1996 Jun; 3 (2): 46-55.

  7. Evans RC. Exame físico ortopédico ilustrado. 2003; 2a ed. Barueri (SP): Manole.

  8. West SG. Segredos em reumatolologia: respostas necessárias ao dia-a-dia em rounds, na clínica, em exames orais e escritos. 2000; Porto Alegre (RS): Artmed.

  9. Tortora GJ. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 2000; 4a ed. Porto Alegre (RS): Artes Médicas Sul.

  10. Cooperstein K, Gleberzon B. Chiropractic care of the older patient. 2001; Oxford(UK): Butterworth-heinemann.

  11. Kanner R. Segredos em clínica de dor: respostas necessárias ao dia-a-dia em rounds, na clínica, em exames orais e escritos. 1998; Porto Alegre (RS): Artmed.

  12. Henriques ADA. A dor crônica de origem não-maligna: recomendado aos prestadores de cuidados informais. 2001; Lisboa (PT): Ministério da Saúde/Direcção-Geral da Saúde.

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