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Esporte lazer e políticas públicas. Resenha da obra ‘Esporte e juventude pobre. Políticas públicas de lazer na Vila Olímpica da Maré’ de Marcelo Paula de Melo |
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*Dr. em Educação Física pela UNICAMP Professor Adjunto do Departamento de Educação Física e do Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR **Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR (UEPG) Discente do Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG) ***Dra. em Serviço Social pela PUC-SP Professora Associada do Departamento de Serviço Social e do Mestrado em Ciências Sociais Aplicada da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR |
Constantino Ribeiro de Oliveira Jr* Naja Kayanna Polichuk** Solange Aparecida Barbosa de Morais Barros*** (Brasil) |
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Essa resenha apresenta o livro Esporte e juventude pobre. Políticas públicas de lazer na Vila Olímpica da Maré, do autor Marcelo Paula de Melo, ano de publicação 2005. Dentre as diversas abordagens sobre o tema destacamos algumas sobre lazer e esporte, e alguns dos aspectos epistemológicos da obra |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Atualmente o autor da obra cursa o doutorado em Serviço Social na UFRJ e leciona no Instituto Superior de Educação- FAETEC. Marcelo Paula de Melo possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) e mestrado em Educação pela Universidade Federal Fluminense (2004). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação em Periferias Urbanas, atuando principalmente nos seguintes temas: políticas públicas de educação, lazer, esporte, esporte/lazer e educação física escolar.
O ponto central do livro está na tentativa de compreensão das novas configurações dos relacionamentos do Estado e Sociedade Civil ressaltando implementações de políticas públicas de esporte para crianças e jovens. Via análise especifica do caso da Vila Olímpica da Maré (VOM), no Rio de Janeiro, Brasil, esse trabalho:
[...] é amplamente fundamentado no referencial teórico marxista dialogando principalmente com as formulações e métodos de Antonio Gramsci. Com base em algumas categorias gramscianas, como sociedade civil, Estado ampliado, Estado educador, hegemonia, grande e pequena política, espera-se compreender o que significa/significou a VOM no contexto dessa redefinição entre Estado e sociedade civil, no âmbito da política pública de esporte no município do Rio de Janeiro (MELO, p. 4, 2005).
As análises sob a luz do referencial teórico marxista e as formulações de Gramsci possibilitam o autor construir uma explicação a respeito da dimensão educativa da nova configuração política da sociedade, pois, trazem elementos essenciais sobre esse contexto, como por exemplo, as discussões sobre Estado, sociedade civil, capitalismo, neoliberalismo e poder.
Algumas características encontradas no processo de análise do livro podem contribuir para a ampliação do “olhar” sobre a realidade, pois o autor realiza uma análise de conjuntura no primeiro capítulo buscando aspectos gerais e específicos do neoliberalismo e do novo capitalismo a partir da década de 70, e também ao longo das discussões sobre Estado e Sociedade civil, políticas públicas e esporte.
No primeiro capítulo Melo destaca aspectos gerais no cenário político, econômico, social, decorrentes do neoliberalismo e também aborda os processos dinâmicos das relações sociais, econômicas e políticas presentes na década de 70, onde se observa emergir a crise no sistema capitalista vigente, sofrendo influências do projeto neoliberal.
Estabelecido o contexto histórico-político no Brasil e no mundo nos últimos tempos, Melo contribui com um debate acerca da conformação política da sociedade civil a partir dos anos 1980, destacando ao longo desse processo o surgimento e atuação das Organizações Não-Governamentais (ONGs), aprimorando o conceito sobre Estado e sociedade civil no segundo capítulo do livro.
Melo nos mostra que a complexificação das relações sociais devido às mudanças nas realidades históricas culminou em novas discussões sobre O Estado e a sociedade civil. E em busca de tais conceitos para explicar essas mudanças o autor recorre a Gramsci.
As concepções gramscinianas sobre Estado e sociedade civil ampliam o conceito de Estado para além do aparelho estatal possibilitando a identificação do Estado também constituído por aparelhos privados hegemônicos, ou seja, composto pela sociedade política e também pela sociedade civil: “[...] na noção geral de Estado entram elementos que devem ser remetidos à noção de sociedade civil, seria possível dizer que Estado = sociedade política +sociedade civil [...] (GRAMSCI apud MELO, p. 37, 2005).
A partir das análises acima citadas o autor realiza uma breve discussão, no capítulo três, sobre concepções de práticas esportivas resgatando significados e sentidos relacionados à educação física, esporte enquanto competição, seu potencial “educativo” e até mesmo “disciplinar”, e também sobre a trajetória de políticas púbicas de esporte no Brasil. Com esse debate sobre e esporte e a sua relação com políticas públicas, o autor analisa especificamente a experiência da Vila Maré e o projeto VOM (Vila Olímpica da Maré) no quarto e último capítulo do livro.
Bairro, Complexo, Favela ou simplesmente Maré, localizada no Rio de Janeiro surgiu em meados da década de 1940, quando a cidade começou a se expandir das partes centrais às regiões mais distantes. A Maré possui mais de 132 mil habitantes, que se defronta com vários problemas sociais graves como alto índice de desemprego, violência, venda de drogas, conflitos armados entre os traficantes, alta taxa de trabalho infantil o que implica também na alta taxa de crianças fora da escola (MELO, 2005).
A interação entre os moradores do Complexo Maré proporcionou a articulação das esferas Municipal, Estadual e Federal, para a possível criação da Vila Olímpica, mas, no espaço conturbado em que o Complexo se desenvolveu, a imagem da violência tornou-se explicita. Contudo, a necessária mudança no sentido de promoção social e superação da violência proporcionaram o interesse pelo programa VOM, a partir daí surgem articulações definitivas para efetivá-lo (MELO, 2005).
No desenvolver das ações do projeto realizaram-se várias parcerias importantes, como a parceria com o projeto Viva Rio, com a prefeitura municipal do Rio de Janeiro, com o CENTEX (Projetos e redes de excelência) e a Petrobrás (MELO, 2005).
Apesar de a Maré apresentar problemas graves como violência e pobreza, vemos que as novas relações entre o Estado e a sociedade civil têm papel importante e fundamental para a construção de políticas públicas.
O autor apresenta uma crítica sobre as políticas públicas de lazer, em especial a política pública de lazer na Vila Maré a qual foi seu objeto de estudo, referente à descontinuidade do projeto no “período compreendido entre os esforços iniciais de sua criação, em 1995, seu desenvolvimento nesse período até a interrupção de seu funcionamento em dezembro de 2003, quando as suas atividades foram paradas por sete meses, retornando em julho de 2004” (MELO 2005).
No entanto, o projeto representa uma das poucas opções de lazer e esporte para os membros da comunidade, mas, não expressa à garantia da existência de programas permanentes que realmente venham a contribuir, pois como o autor observa a própria VOM é marcada pela descontinuidade de suas ações.
Contudo, percebemos que:
Grandes desafios apresentam-se na construção de um outro projeto de sociedade [...], enfrentamos o grande consenso em torno da apresentação do capitalismo como único projeto de sociedade capaz de organizar as relações sociais de produção da existência. Esses desafios demandam sua consideração, não apenas como um modo de produção de mercadorias, mas como um projeto de sociabilidade que busca fazer-se presente [...] valores e princípios éticos, políticos, estéticos e morais. Isso nos abre novas perspectivas para conhecermos suas diversas estratégias de legitimação e para traçarmos novas estratégias de resistência e de representação de nossas propostas, para que assim consigamos não apenas convencer o conjunto da população, mas tocar-lhes o coração da necessidade histórica de recriarmos a existência humana em cima de valores em que a exploração de homem pelo homem não seja considerada algo natural ou apenas recriminável, mas sim inadmissível (MELO, p.189, 2005).
A construção de uma sociedade civil mais justa e igualitária é um processo contínuo e intenso, e que as mudanças ocorridas no âmbito do Estado demonstram a importância da participação política, social, cultural de todos nós.
A obra Esporte e juventude pobre políticas públicas de lazer na Vila Olímpica da Maré, proporciona ao leitor a compreensão geral dos aspectos políticos e sociais no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990-2000, com ênfase em políticas públicas de esporte. A leitura flui agradável, prazerosa, esclarecedora e enriquecedora.
Referências bibliográficas
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MELO. M. P. Esporte e juventude pobre políticas públicas de lazer na Vila Olímpica da Maré. São Paulo: Autores Associados, 2005.
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Informações atuais sobre o Projeto VOM podem ser encontradas no endereço eletrônico: http://www.vilaolimpicadamare.org.br/.
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digital · Año 14 · N° 140 | Buenos Aires,
Enero de 2010 |
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