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O conhecimento corporal e auto-estima: uma essência evidenciada nas aulas do curso de Educação Física da UNOESC – Xanxerê, SC

El conocimiento corporal y la autoestima: una esencia evidenciada 

en las clases del curso de Educación Física de la UNOESC – Xanxeré, SC

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc, campus Xanxerê, SC

**Mestre em Educação

Docente do curso de Educação Física da UNOESC campus Xanxerê, SC

Orientadora

(Brasil)

Alessandra Dallago da Silva*

Diana Damo*

Fabiane da Silva*

Marcelo da Silva*

Patricia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciasiqueira@wavetec.com.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar os conceitos de conhecimento e de cultura corporal num grupo de acadêmicos do curso de Educação Física da UNOESC – Xanxerê/SC. Caracterizou-se por ser do tipo etnográfico evidenciando-se nas falas dos educandos durante as aulas de ritmo e expressão do movimento humano. Com base em suas falas perceberam-se três essências que se destacaram: o corpo e auto-estima; educação corporal e a Educação Física. Percebe-se que ainda existem muitos preconceitos e paradigmas que devem ser rompidos , tendo por base a questão da valorização do ser humano em sua totalidade e não em partes fragmentadas ou dissociadas, no entanto com a finalização desse estudo percebe-se que muito ainda pode ser feito com relação ás questões que norteiam a educação do corpo.

          Unitermos: Educação Física. Corporeidade. Auto-estima

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    Nossa pesquisa teve como finalidade conhecer e identificar o nível de conhecimento corporal que acadêmicos de Educação Física possuem sobre si mesmos. Evidenciar os conceitos por eles adotados e relacioná-los com teorias já fundamentadas e relacionadas com a realidade social. Compreender qual é a relação estabelecida entre ele e a auto-estima, levando em consideração a quebra ou não de paradigmas corporais abordados nas aulas de Educação Física durante o processo educativo e seu elo com a formação profissional escolhida pelos mesmos atualmente.

A amostra do estudo

    O presente estudo teve por objetivo se realizar uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico a partir das falas expressas durante o grupo na disciplina de ritmo e expressão corporal, do curso de Educação Física da UNOESC XANXERÊ - SC.

    A amostra foi composta por 04 acadêmicas do curso de Educação Física, de ambos os sexos, com idades entre 18 e 27 anos. O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96.

    Para manter o anonimato, cada participante do grupo escolheu um codinome, caracterizados por elementos da natureza: Terra, Fogo, Ar e Água.

Caracterizando o estudo

    O presente artigo caracterizou-se por ser uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico definidas seguindo - se as premissas de André (2004). As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):

1º O Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

2º As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergirão da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

3º Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

4º Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

5º Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992)

    Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem às essências do estudo:

O corpo e a auto-estima

    É através do corpo que o ser humano vive, se expressa se comunica com o mundo. Vivemos um momento único em nossa sociedade, onde o corpo passou a ter valores talvez nunca antes imagináveis. Mas com toda essa cobrança, os conceitos corporais sofrem oscilações permanentes que buscam sempre suprir as exigências “oferecidas” por uma sociedade caracterizada pelo consumismo abismável e em sua decorrência o corpo se torna um objeto de consumo, de sonhos, de desejos, de status, e por que não de valores econômicos.

    A primeira vista o corpo é o que há de mais concreto e natural ao homem. Toda via, basta refletir com um certo vagar a seu respeito para que ele se revele surpreendente e desconhecido, resistente ao discurso, silenciosa diante da infinita vontade de saber sobre o seu funcionamento. Sempre tivemos ou fomos um corpo; por conseguinte, ele nos parece familiar. O registro mais fiel daquilo que consideramos “a nossa identidade”.(SANT’ANNA, 2000, p. 50)

    A questão do conhecimento corporal, auto-estima e suas relações com a Educação Física constituem em uma essência muito enfatizada nas falas dos entrevistados. Nós todos somos possuidores de um conceito sobre conhecimento corporal muito particular a cada um de nós. Sendo que este terá diferentes significados no decorrer de nossa vida, sempre valorizando nossas concepções, pensamentos, e buscando alcançar os objetivos individuais. Nas falas abaixo entenderemos melhor como cada um vê seu corpo e seu convívio com o mesmo.

    O auto-conhecimento sobre o corpo fica evidenciado na fala da Terra: “Acredito que conheço meu corpo muito bem, conheço meus limites, e sei onde posso chegar”.

    De acordo com Brikman (1989), “a educação do corpo tem um papel preponderante na educação corporal, porque da lugar a inovação e crio incentivos vindos da sua própria iniciativa, que desperta nossa dinâmica de identidade”.

Educação Corporal: uma essência significativa

    A educação corporal é incorporada quando ainda somos bebes, em nossos primeiros gestos juntos ao mundo exterior ao do ventre de nossas mães. Após nosso primeiro contato com a educação corporal em nas escolas, onde começamos a nos educar corporalmente como manda “a lei” de bons costumes.

    “Na escola era tudo muito rígido: menino com menino, menina com menina. Não se podia ir de saia para mostrar as calcinhas”. (Ar)

    Essa divisão evidenciada pelo Ar é totalmente realista e dispensável para a formação social de nossos alunos. Além de provocar e ajudar a propagar futuros paradigmas corporais que dificilmente ou que demorarão um longo tempo para serem quebrados.

    Freire (1997) deixa claro quando fala:

    “Quaisquer que sejam os argumentos em favor da separação por sexo na escola, eles nunca serão mais fortes que a inovação do prejuízo que já tem acarretado em nossa sociedade essa divisão hierárquica de papeis”.

    Talvez seja esse o “ponta-pé” inicial para começarmos a nos privar e limitar nossos pensamentos corporais. Sabemos que nossa cultura, ou seja, nossa formação cultura é a maior responsável pela formação de nossos conceitos e nossos atos junto à sociedade, inclusive de nossos inúmeros preconceitos corporais difundidos em nossa “vida regrada”.

    O que fica claro em Gonçalves (1994, p. 13-14): “Cada corpo expressa a historia acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis, suas crenças e seus sentimentos, que estão na base da vida social”.

    Além do que vida social, esta relacionada a auto-estima:

    “Durante muito tempo em minha vida eu não me aceitava, não gostava de mim mesma, minha auto-estima era baixíssima, mas ao meu redor minha mãe e meus amigos sempre diziam ao contrario... mesmo assim não queria ver ninguém, tinha vergonha de mim mesma” (Água).

    Como sabemos a auto-estima e a auto-aceitação são fundamentais para o desenvolvimento do ser humano. Um desenvolvimento físico, cognitivo, social e afetivo, são os elementos essenciais e vitais para que se possa viver junto à sociedade. É justamente por isso que se busca e se valoriza tanto o “corpo”.

    Porém talvez este seja o maior erro em que a sociedade teima em difundir. O homem precisa ser compreendido como um ser total. Um ser que não se baseia somente em um físico definido, mas sim, um ser dotado de sentimentos, emoções, objetivos, inteligência, um ser social, afetivo, cognitivo e físico.

    A busca do desenvolvimento de capacidades físicas e habilidades motoras de forma unilateral, utilizando unicamente critérios de desempenho e produtividades ignorando a globalidade do homem, geram uma educação física alienada, que ajuda acentuar a visão de dicotomia de corpo e espírito do homem contemporâneo. (GONÇALVES,1994, p. 37).

Educação Física: em busca da valorização do ser humano

    Quando falamos em educação corporal, educação do físico logo vem em nossa mente os profissionais de educação física. Por isso destacamos o tão quanto é importante sua ajuda na formação dos alunos, e na sua formação para nos acadêmicos de Educação Física.

    “A Educação Física pode me ajudar a melhorar o condicionamento físico e psicológico, através de atividades físicas e do bem estar.” (FOGO).

    Esta tarefa é tão fascinante quanto arriscada; especialmente em nossos dias, quando o corpo se tornou o lugar preferido da descoberta de si mesmo, uma espécie de relíquia de cada um dispõem e é coagido a cuidar e a proteger incessantemente. SANT’ ANNA (2000, p. 57)

    O que fica evidenciado também na fala de Ar:

    “Hoje me sinto melhor, através do que estou aprendendo na faculdade, no trabalho. Aprendi muito a perder a vergonha e me relacionar melhor com as pessoas, estou aprendendo a me aceitar.”

    O corpo se tornou objeto de consumo, valorizado em uma sociedade cada vez mais capitalista e consumista:

    Na mídia e nas universidades, milhares de imagens e de discursos sobre a beleza corporal, o cotidiano sexual e alimentar dos jovens e idosos apostavam na liberação do corpo face à antigos pudores morais. Valoriza-se o corpo cada vez mais amplamente, como se ele tivesse sido descoberto pela primeira vez e se tornasse tão importante como outrora havia sido a alma. Em expansão da sociedade em consumo, o corpo tornou-se um tema cada vez mais presente: era preciso assumi-lo e redimi-lo, reconquistá-lo, conhecê-lo e liberá-lo. Descobriu-se que o corpo expressava a marca de seus fantasmas inconscientes, recolhia traumas e obrigava repressões que deveriam ser tratados cotidianamente. (SANT’ANNA, 2000, p. 51)

    Por isso a importância da Educação Física e de seus profissionais. Destacar e valorizar o ser humano como um todo, magnificamente lembrado por Gonçalves (1994, p. 158):

    O desenvolvimento pessoal e a questão social – a educação física como praxes educativas têm como objetivo formar a personalidade do aluno mediante a atividade física, de modo a torná-lo capaz de enriquecer e organizar sua vida pessoal. Lidando com o corpo e o movimento integrado na totalidade do ser humano do ser humano. A Educação Física atua nas camadas mais profundas da personalidade, onde se formam os interesses, as inclinações pessoais, as aspirações e os pensamentos.

    Também conforme Gonçalves (1994, p. 176):

    A práxis humana se efetiva porque homem é um ser corpóreo, que possui necessidades materiais e espirituais. Sua relação com o mundo não é simplesmente a relação de uma consciência que pensa o mundo sem deixar-se tocar, mas é a relação de um ser engajado no mundo - que tem emoções, que ama, que odeia, que tem fome, que tem dor, que vive a solidão, a amizade, o desprezo, etc. [...]

    Talvez já se conseguiu mudar alguns pensamentos conforme o depoimento do Fogo:

    “ Hoje tudo mudou...luto arduamente pela independência, me amo acima de tudo, pois as pessoas que me rodeiam me amam e só serei feliz se eu me valorizar e me superar.”

    Mas sabemos que há um longo caminho e muitos obstáculos a serem ultrapassados.

    Nada mais, enfim, do que a surrada ambição de atelar a valorização do corpo individual aquela do corpo do mundo; ambição ou vontade de nunca esquecer o quanto a descoberta do corpo é uma história sem fim, principalmente porque cada corpo por menos que seja, por mais insignificante que ele pareça – pode ser um elo fundamental entre o corpo; e ainda porque corpo, na finitudade de sua existência, expressa o infinito processo vital. Por isso o corpo talvez seja o mais belo traço da memória da vida. (SANT’ ANNA, 2000, p. 57).

Considerações finais

    È através do corpo que nos expressamos e nos comunicamos. Vivemos em uma sociedade onde o corpo assumiu valores que até então eram desconhecidos. Com isto os conceitos corporais vivem em constantes mudanças, com o intuito de atender as exigências demandadas pela sociedade, tornando-o assim um objeto de consumo, de sonhos, de desejos, de status. Auto-estima baixa, vagos conceitos corporais e inumeros paradigmas que ditam a “moda” a ser seguida, buscando-se sempre a perfeição ou o mais perto disso possível.

    Em paralelo a estes conceitos cresce a importância do profissional de Educação Física, em desenvolver principalmente nos alunos o pensamento de que o corpo é totalitário, possuidor de aspectos emocionais, cognitivos, afetivos, sociais e físicos. E que todos eles devem ser levados em conta quando buscamos desenvolver uma vida, um ser humano.

Referencias

  • ANDRE, M. E. D. de. Etnografia da prática escolar. Ed. Campinas: Papirus, 2004.

  • BRIKMAN, Lola. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus, 1989.

  • COMIOTTO, M. Adultos médios: sentimentos e trajetória de vida. Tese (Doutorado em Educação) - UFRGS, Porto Alegre, 1992.

  • FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997.

  • GIORGI, A. Phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duqueme University, Press, 1985.

  • GONÇALVES, Maria A. S. Sentir, pensar, agir – Corporiedade e educação. Campinas, SP: Papirus, 1994. Coleção corpo e motricidade.

  • SANT’ANNA, Denise Bernuzzi. Descobrir o corpo: uma história sem fim. IN: Educação e realidade. V. 25 nº 2 . Produção do corpo. Julho/dezembro. Porto Alegre: FACED/UFRGS, 2000.

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