O tempo de movimento em função do índice de dificuldade na tarefa de Fitts em universitários El tiempo de movimiento en función del índice de dificultad en la tarea de Fitts en universitarios |
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*Professora Mestre em Ciências do Movimento Humano Faculdade Jangada/SC **Professor Especialista em Educação Física Escolar SENAI/SC (Brasil) |
Simone Adriana Oelke* Gerson Raiter** |
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Resumo Este estudo procurou observar se há uma relação entre tempo de execução do movimento, distância e tamanho dos alvos, ou seja, se o tempo de movimento aumenta quando a distância aumenta e se o tempo aumenta quando o tamanho do alvo diminui em universitários. Participaram desta pesquisa descritiva 08 universitários destros, com média de idade de 22 anos, de ambos os sexos. A tarefa consistiu em tocar o mais rápida e precisamente possível dois alvos espaciais eqüidistantes do centro, em forma de barras verticais paralelas (alvos), utilizando o software Fitts Reciprocal Aiming Task v. 1.0. Foi empregado um delineamento de grupo único, onde os participantes realizaram o teste em três IDs (Índice de Dificuldade), sendo que o ID intermediário foi empregado em duas tarefas, envolvendo diferentes combinações de largura e distância dos alvos. Foi utilizada análise descritiva das médias dos tempos de movimento em cada tarefa nas três tentativas, calculando-se a média e o desvio padrão de grupo para cada tarefa. Os resultados demonstram que com o aumento dos índices de dificuldade os tempos dos movimentos para a produção da ação também aumentaram. Os resultados apontaram que ao se aumentar o índice de dificuldade da tarefa o tempo de execução do movimento também aumenta. Diferenças no tamanho do alvo e também no aumento da distância influenciaram no desempenho do movimento, pois o aumento na dificuldade de execução do movimento ocorreu quando a distância foi aumentada e o tamanho do alvo diminuído. Desta forma, os valores obtidos neste estudo estão de acordo com a lei de Fitts. Unitermos: Tarefa de Fitts. Tempo de movimento. Velocidade. Precisão |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
A relação entre velocidade e precisão de movimentos é inversamente proporcional, caracterizada pelo aumento de precisão quando a velocidade de movimento é reduzida assim como por uma redução da precisão quando o movimento é realizado em velocidades mais altas (TEIXEIRA, 1997). Esta relação foi explanada por Fitts em 1954 (apud TEIXEIRA, 2006) a qual demonstrou que o tempo médio que uma pessoa leva para bater em dois alvos aumenta à medida que a razão da distância do movimento pela largura do alvo aumenta.
A avaliação desta relação, velocidade e precisão, sugere várias combinações de distância do alvo de movimentos e largura efetiva do alvo, permitindo aos executantes poderem trocar velocidade a fim de manter a precisão espacial (SCHIMIDT; WRISBERG, 2001). Os autores comentam que é razoável suspeitar que movimentos mais lentos são mais precisos, pelo menos em parte, porque existe mais tempo para o executante detectar erros e fazer correções. A troca de velocidade precisão é a tendência dos indivíduos de substituir precisão por velocidade, ou vice-versa, em seus movimentos, dependendo das exigências da tarefa.
De acordo com Magill (2000), à medida que o tamanho do alvo vai sendo reduzido ou à medida que a distância se torna maior, a velocidade do movimento diminui para que o movimento seja preciso. A influencia da velocidade sobre o desempenho do movimento é diretamente proporcional à variabilidade do movimento, ou seja, movimentos mais rápidos possuem uma maior variabilidade (MILLER; BARTLETT; TEIXEIRA et al apud MICULIS et al, 2009). Desta forma, a diminuição da distância e o aumento do tempo de movimento (movimentando-se mais lentamente) podem ser utilizados como estratégia para manter a precisão espacial (MAGILL, 2000).
Diversos estudos foram realizados investigando a relação velocidade-precisão em diferentes faixas etárias, contudo, poucas empregaram a tarefa de Fitts em universitários. Desta forma, o presente estudo procurou observar se há uma relação entre tempo de execução do movimento, distância e tamanho dos alvos, ou seja, se o tempo de movimento aumenta quando a distância aumenta e se o tempo aumenta quando o tamanho do alvo diminui em universitários.
Objetivo
Verificar o tempo de movimento em função do índice de dificuldade na tarefa de Fitts em universitários.
Métodos
Amostra
Participaram desta pesquisa descritiva 08 universitários destros, com média de idade de 22 anos, de ambos os sexos. Nenhum dos participantes informou sobre qualquer problema ou limitação para a participação na pesquisa. Antes dos testes os sujeitos foram informados sobre os procedimentos de avaliação necessários para o estudo e concordando com sua participação.
Instrumento para coleta dos dados
A tarefa consistiu em tocar o mais rápida e precisamente possível dois alvos espaciais eqüidistantes do centro, em forma de barras verticais paralelas (alvos). A tarefa foi mover o cursor do mouse horizontalmente de uma área alvo em direção à outra.
Para a coleta dos dados, foi utilizado o software Fitts Reciprocal Aiming Task v. 1.0, elaborado por Okazaki, um laptop da marca Sony Vaio e um mouse óptico da marca satellite na velocidade normal.. O software é um arquivo auto-executável com aproximadamente 90Kb, bastando selecionar os índices de dificuldade e tempo de coleta de dados. As dimensões de distância e largura dos alvos do software são similares às do estudo original de Fitts (1954), com um total de 12 combinações de distância e largura de alvo, perfazendo 6 níveis de dificuldade. A função de ponteira foi realizada pelo mouse do computador. Cada tentativa teve a duração de 1O segundos seguidos de um intervalo de descanso de 60 segundos. Um clique na área alvo inicial e outro na final delimitava o início e final do movimento, respectivamente.
Foi empregado um delineamento de grupo único, onde os participantes realizaram o teste em três IDs (Índice de Dificuldade), sendo que o ID intermediário foi empregado em duas tarefas, envolvendo diferentes combinações de largura e distância dos alvos. As tarefas realizadas foram as seguintes:
TAREFA 1, ID = 2
Distância = 6; largura = 3 {cálculo de ID: Log2[(2x6)/3] = Log24 = 2}
TAREFA 2, ID = 4
Distância = 12; largura = 1,5 {cálculo de ID: Log2[(2x12)/1,5] = Log16 = 4}
TAREFA 3, ID = 4
Distância = 24; largura = 3 {cálculo de ID: Log2[(2x24)/3] = Log16 = 4}
TAREFA 4, ID = 6
Distância = 48; largura = 1,5 {cálculo de ID: Log2[(2x48)/1,5] = Log64 = 6}
Procedimento para coleta dos dados
Os sujeitos foram colocados em uma posição confortável sentado à frente do computador, tendo o ponto intermediário entre os dois alvos alinhados com seu ombro do braço ativo. Foi fornecida a instrução para que os sujeitos realizassem movimentos com maior velocidade possível sem errar o alvo. Cada sujeito realizou um total de doze tentativas.
Foi registrado o número de toques alternados em cada condição durante 10s de execução, sendo realizadas três tentativas válidas para registro. Em caso de dois erros de contato com os alvos em uma tentativa, esta foi anulada e repetida. Foi dada uma tentativa de familiarização em cada tarefa.
Análise estatística
O tempo de movimento médio para cada deslocamento do braço em direção a um alvo foi calculado da seguinte maneira: tempo de movimento total (10s) / número de toques. Para análise estatística, foi utilizada análise descritiva das médias dos tempos de movimento em cada tarefa nas três tentativas, calculando-se a média e o desvio padrão de grupo para cada tarefa. Os dados foram analisados com a utilização do programa Excel 2003.
Discussão dos resultados
Figura 1. Média de tempo de movimento entre as tarefas
Os resultados demonstram que com o aumento dos índices de dificuldade os tempos dos movimentos para a produção da ação também aumentaram (figura 1). Estes resultados vão de encontro com a afirmação de Mackenzie et al. e Thomas, Yan e Stelmach (apud CLAUDIO; TEIXEIRA, 2007) que apontam que com o aumento da dificuldade imposta pela tarefa aumenta-se o tempo gasto entre os toques. Esses mesmos resultados foram encontrados por Okazaki et al (2006), que estudaram a relação entre velocidade e precisão na execução do arremesso Jump no basquetebol, com doze atletas do sexo masculino com idade média de 23 anos. Os resultados apontaram que a relação oposta entre a velocidade e precisão ocorreu na realização do arremesso jump no basquetebol, à medida que a distância do arremesso aumentava, a precisão na execução do movimento diminuía. Outro estudo que permite confirmar os resultados aqui apresentados é o de Teixeira (2000), que verificou a questão do antagonismo entre velocidade de movimento e a demanda de precisão da resposta na execução da habilidade de chute com potência. Os resultados apontaram que habilidades motoras complexas, que realizam o contato com um determinado alvo, também estão submetidas à lei de Fitts, ou seja, ao princípio de troca entre velocidade e precisão.
Observa pouca diferença entre as médias dos tempos de movimento nas tarefas 2 (0,89 s) e 3 (0,91s), mas o desvio padrão indica uma variabilidade grande na tarefa 2 (0,25s), provavelmente devido a redução da largura do alvo. Essa mesma tendência de variação ocorreu na tarefa 4 (0,20s). Embora as médias dos tempos de movimento em todas as tarefas tenham mostrado um aumento linear conforme o ID, observa-se que, nas tarefas onde o tamanho do alvo se equivale (tarefa 1 e 3; tarefa 2 e 4) os desvios padrão indicam valores próximos, mostrando uma relação de desempenho similar para tamanhos de alvos iguais.
Os resultados apontam que entre a tarefa 1 e 2, 3 e 4 ocorreu um aumento das médias dos tempos de movimento e desvio padrão, devido a medida que a distância dos alvos foi aumentada, onde uma maior restrição foi colocada sobre o movimento pela diminuição que ocorreu no tamanho do alvo.
Desta forma, diferenças no tamanho do alvo e também no aumento da distância, influenciaram no desempenho do movimento, pois o aumento na dificuldade de execução do movimento ocorreu quando a distância foi aumentada. Estes achados possuem a mesma racionalidade do trabalho de Fitts (apud TEIXEIRA, 2006) que verificou uma relação inversa entre o índice de dificuldade (manipulado através da restrição do tamanho do alvo e da amplitude de movimento) e a precisão. Observou-se que com o aumento da distância entre os alvos e a diminuição do tamanho do alvo, a dificuldade da tarefa foi maior e diminuiu a precisão do movimento. O aumento da distância entre os alvos exigiu um aumento na velocidade do movimento, intensificando a dificuldade da tarefa e restringindo ainda mais a precisão do movimento. Quando maior atenção é dada a velocidade do movimento a precisão é reduzida, da mesma forma, quando se enfatiza a precisão, a velocidade passa a ser comprometida (MAGILL, 2000).
Essa ação da velocidade na execução do movimento é explicada por Teixeira (2006), quando afirma que a demanda de precisão é baixa, devido ao maior tamanho do alvo, e assim a velocidade de execução do movimento é maior; ao contrário quando o tamanho do alvo é reduzido, a velocidade também é reduzida passando a exigir a produção de movimentos mais precisos.
A maior variabilidade de movimentos, apresentada pelos desvios padrão (tarefas 2 e 4), pode ser justificar devido a redução na precisão dos movimentos, pode estar relacionada ao ruído neural, que é produzido pelo aumento do nível de ativação do sistema nervoso central, sendo responsável por instabilidades no sistema de controle humano (TEIXEIRA, 1997; 2000). Além de despender um tempo maior durante os contatos com os alvos (MAGILL, 2000).
Outra explicação é dada por Teixeira (2000), onde o aumento do índice de dificuldade, por meio da diminuição do tamanho do alvo, aumenta-se a demanda de processamento de feedback, devido a restrição espacial imposta pela tarefa, conseqüentemente o número de toques diminui em virtude do maior número de ajustes necessários para se chegar ao sucesso na realização da tarefa.
Considerações finais
Os resultados apontaram que ao se aumentar o índice de dificuldade da tarefa o tempo de execução do movimento também aumenta. Diferenças no tamanho do alvo e também no aumento da distância influenciaram no desempenho do movimento, pois o aumento na dificuldade de execução do movimento ocorreu quando a distância foi aumentada e o tamanho do alvo diminuído. Desta forma, os valores obtidos neste estudo estão de acordo com a lei de Fitts.
Referências
CLAUDIO, A. P. K.; TEIXEIRA, L. A. Assimetria intermanual em ações de velocidade-precisão: Uma perspectiva desenvolvimentista. 2007. Monografia (Especialização em Aprendizagem Motora) - Universidade de São Paulo, 2007.
MAGILL, R. A. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo: Edgar Blücher, 2000.
MICULIS, C. P. et al. Efeito da aprendizagem na relação velocidade-precisão da tarefa de batidas alternadas leves de Fitts. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 13, n. 128, jan. 2009. http://www.efdeportes.com/efd128/relacao-velocidade-precisao-da-tarefa-de-batidas-alternadas-leves-de-fitts.htm
OKAZAKI, V. H. A. et al. O efeito do aumento da distância na coordenação do arremesso de jump no basquetebol e a relação velocidade-precisão. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 11, n. 97, jun. 2006. http://www.efdeportes.com/efd97/jump.htm
SCHMIDT, R. A.; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
TEIXEIRA, L. A. Controle motor. São Paulo: Manole, 2006.
TEIXEIRA, L. A. Coordenação Intersegmentar em Arremessos com Diferentes Demandas de Precisão. Revista Paulista de Educação Física, v. 11, n. 01, p. 5-14, 1997.
TEIXEIRA, L. A. Sobre a generalidade de estratégias de controle sensório-motor. Revista Paulista de Educação Física, supl.3, p.89-96, 2000.
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