A influência da imagética motora na performance esportiva de atletas de futsal La influencia de la imaginería motriz en el rendimiento deportivo de jugadores de fútbol sala The influence of motor imagery in sport performance of futsal players |
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*Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora(LANPEM) - UCB/RJ **Treinador de Futsal Casa de España-RJ, Educador Físico-UERJ ***Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora(LANPEM)- UCB/RJ ****Laboratório de Morfologia - UNISUAM/RJ *****Laboratório de Análise do Movimento- UNISUAM/RJ, ******Laboratório de Aprendizagem Neural e Performance Motora (LANPEM)- UCB/RJ (Brasil) |
Paulo Alexandre Azevedo* Rodrigo de Abreu Nunes** Bianca Kalil de Macedo Jakubovic*** Januário Gomes Mourão D.Sc**** André Luís dos Santos Silva D.Sc***** Vernon Furtado da Silva D.Sc****** |
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Resumo A prática mental do movimento objetivando tanto a recuperação funcional do gesto motriz como também o incremento da performance motora em atletas é nomeada como imagética motora (IM). Esta técnica neurocognitiva foi aplicada durante quatro semanas em 14 atletas de futsal entre 11 e 13 anos, na tentativa de melhorar a performance motora de cobranças de pênaltis. Conclui-se que a IM é fator influenciador da performance motora. Os dados foram evidentes para rejeitar a hipótese nula. A um nível de significância de 5%, existem evidências de que o treinamento mental surtiu efeito positivo no número de pontos marcados (valor de p: 0.01329) Unitermos: Prática mental. Imagética motora. Futsal
Abstract The mental practice of movements aimed at both functional recovery of the gesture as well as driving the increase in motor performance of athletes are named as motor imagery (IM). This neurocognitive technique was applied for four weeks in 14 futsal players among 11 and 13 years in an attempt to improve motor performance of penalty kicks. We conclude that IM is a factor that influences the motor performance. The data were evident to reject a null hypothesis At a significant level of 5%, there is evidence that mental training had positive effects on the number of points scored (value of p: 0.01329). Keywords: Mental practice. Motor imagery. Futsal |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
A prática mental do movimento objetivando tanto a recuperação funcional do gesto motriz como também o incremento da performance motora em atletas é nomeada como imagética motora (IM) (Cunnington et al., 1997; Oishi et al , 2000 Jackson et al 2001; Coelho et al. 2007; Fourkas et al, 2008 ). A IM é a representação do resultado consciente para a intenção e preparação ao movimento (Jeannerod, 1994,1995). Em outras palavras, significa dizer que, diante de um perspectivo planejamento motor poderia, um praticante, adiantar o movimento, criando na mente uma imagem antecipada daquele plano real. O estudo realizado com a utilização da cronometria mental, mostrou que o tempo gasto para imaginar e executar o mesmo movimento foi similar (Rodrigues et al, 2003). Recentemente, Fourkas et al (2008) e Coelho et al (2007) mostram que a IM pode proporcionar ao atleta de tênis aumento da performance esportiva. Atletas novatos de futebol que utilizaram a IM para tarefas esportivas (i.e. cobrança de pênaltis) tiveram um melhor desempenho que o grupo controle (Blair et al, 1993). A eficiência da IM é resultado da ativação de trajetos neuromotores que potencializam a aprendizagem de habilidades e estabelecem o fortalecimento dos padrões de coordenação motriz (Delgado, Silva e Silva, 2008).
O objetivo desse estudo foi observar a resposta ao desempenho motor de cobranças de pênaltis após a utilização do referido treinamento mental realizados por atletas pré-adolescentes praticantes de futsal.
Material e métodos
A amostragem do estudo em questão foi composta por 14 pré-adolescentes do gênero masculino, entre 11 e 13 anos (média 11,867 anos), praticantes de futsal de forma competitiva há, no mínimo, um ano. Eles realizam treinamentos específicos da modalidade e todos são predominantemente destros em membros inferiores. A convocação dos atletas foi realizada pela comissão técnica de um clube esportivo, entre equipes de futsal das categorias sub 11 e 13, da cidade do Rio de Janeiro, participante do campeonato estadual das categorias, durante o primeiro semestre de 2009. Como critérios de exclusão foram observados: atletas com menos de 1 (um) ano de prática esportiva competitiva de futsal; histórico de lesões músculo-esqueléticas há menos de 6 (seis) meses e atleta com alterações cognitivas. Os responsáveis pelos menores atletas receberam informações sobre o objetivo e procedimento do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Castelo Branco (RJ), protocolo 0144/2008.
Para a realização das cobranças de pênaltis, os atletas foram conduzidos à quadra poliesportiva da Universidade Castelo Branco, unidade Recreio, onde cada atleta foi orientado a realizar oito cobranças de pênaltis, sendo que as três primeiras cobranças eram realizadas como adaptação ao ato motor, portanto não foram computadas para possível pontuação. Após as cinco cobranças restantes, cada atleta recebia uma pontuação oriunda de uma escala de acertos:
Tabela 1. Pontuação de cobranças de pênaltis
0 ponto |
1 ponto |
2 pontos |
3 pontos |
Chute para fora |
Defesa do goleiro e/ou bola na trave |
Gol rasteiro (abaixo da linha da cintura do goleiro) |
Gol no alto (acima da linha cintura do goleiro) |
Durante quatro semanas consecutivas, pelo menos duas vezes por semana, em sessões de 15 minutos, os atletas foram submetidos ao treinamento de imagética motora de cobranças de pênaltis. O processo consistia do seguinte: antes de serem submetidos à referida técnica neurocognitiva, eram convidados, em dupla, a entrarem em uma sala previamente preparada, e assistirem, durante cinco minutos, um vídeo que mostrava cobranças de pênaltis efetivas e convertidas em gol. Ao término da exibição do vídeo, os atletas eram instruídos a deitarem em maca confortável individual e, por 10 minutos, realizarem a imagética motora das cobranças de pênaltis visualizadas anteriormente Após as quatro semanas consecutivas de treinamento mental através da IM, os atletas voltaram à Universidade Castelo Branco e realizaram a nível comparativo, a cobrança de pênaltis entre o momento pré e pós-treinamento de imagética motora.
Para análise de dados coletados utilizou-se o “R”, software disponível em: http://www.r-project.org.
Resultados
O teste de postos com sinal de Wilcoxon foi utilizado. Essa escolha deve-se ao fato de que, para amostras pequenas, a sua eficiência é de, aproximadamente, 95%.
Como hipóteses, temos:
H0: o treinamento não surtiu efeito no número de pontos marcados.
H1: o treinamento surtiu efeito positivo no número de pontos marcados.
Onde o valor de p: 0.01329. Os dados nos dão evidências para rejeitar H0, ou seja, a um nível de significância de 5% existem evidências de que o treinamento surtiu efeito positivo no número de pontos marcados.
A coleta de dados durante as cobranças de pênaltis pré e pós imagética motora revelou:
Tabela II. Pontuação das cobranças de pênaltis
Atleta |
Pênalti (pré- IM) |
Pênalti (pós- IM) |
1 |
11 |
13 |
2 |
10 |
11 |
3 |
12 |
12 |
4 |
11 |
14 |
5 |
10 |
11 |
6 |
9 |
11 |
7 |
12 |
14 |
8 |
12 |
12 |
9 |
12 |
10 |
10 |
9 |
12 |
11 |
13 |
13 |
12 |
12 |
12 |
13 |
10 |
13 |
14 |
9 |
10 |
Figura 1. Efeito da IM na pontuação das cobranças de pênaltis
Discussão
O presente estudo verificou a influência da imagética motora na performance esportiva de pré-adolescentes praticantes de futsal.
Inúmeros estudos demonstraram que a IM é uma técnica neurocognitiva utilizada para a otimização da performance esportiva, através do acesso consciente a mente (Blair et al, 1993; Oshi et al, 2000; Jeffrey et al, 2003; Fourkas et al,2008; Guillot e Collet,2008; Louis et al,2008).O referido ensaio mental é a possibilidade de atalho para um novo aprendizado motor. Isto é, através da IM, inúmeras áreas do sistema nervoso central, responsáveis pela elaboração e execução do movimento - no caso o córtice frontal; o pré-central; o parietal posterior e motor primário; áreas cerebelares e núcleos da base - são ativadas, configurando a possibilidade de redução do tempo e aumento do desempenho motor (Naito et al. 2002; Lotze e Halsband,2006; Louis et al. 2008). Ademais, um gesto motor complexo só é aprendido efetivamente quando ocorre a repetição desse gesto inúmeras vezes. Havendo consolidação do aprendizado motor, a necessidade neurofisiológica do disparo de milhares de potenciais de ação de inúmeros neurônios é minimizada (Kandel, 2003). Daí acreditar-se que a IM é fator colaborador, em relação ao tempo, para formulação de um novo engrama motor para uma recente ou complexa atividade motriz.
Blair et al (1993) estudaram os efeitos da IM em vinte dois atletas novatos de futebol e observaram a diminuição do tempo de reação de uma atividade relacionada ao esporte em questão como também o aumento da performance motora para cobranças de pênaltis. Esses resultados observados corroboram com nosso estudo, onde foi constatado aumento da performance motora para as cobranças de pênaltis após o treinamento mental de IM por quatro semanas, realizados por atletas pré-adolescentes.
Conclusão
A partir dos resultados do presente estudo, conclui-se que a IM é um fator influenciador na performance motora de atletas pré-adolescentes praticantes de futsal e também importante ferramenta neurocognitiva para complexa atividade motriz.
É importante salientar que pesquisas futuras devem ser desenvolvidas com um maior número de sujeitos para confirmação dos resultados encontrados pelo presente estudo.
Referências
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