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Percepção da imagem corporal em mulheres

de uma academia do município de São Paulo

Percepción de la imagen corporal en mujeres de un gimnasio del municipio de San Pablo

 

*Alunos do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

** Doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

Mestre em Nutrição Humana Aplicada pelo

Programa Interunidades Faculdade de Saúde Pública,

Faculdade de Economia e Administração

Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

Professora do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Cristiane Oliveira*

Guilherme Fabríccio Costa*

Lisandra Mari Watanabe*

Priscila Kelly de Queirós Moura Alves*

Samanta Morelli Rodrigues*

Marcia Nacif**

cristumtum@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          Introdução: A imagem corporal é uma ilustração que se tem na mente sobre o tamanho, forma e imagem do corpo, envolvendo também diversos fatores que se inter-relacionam, como os perceptuais, de atitude e emocionais. Esse distúrbio apresenta uma prevalência na população adolescente e juvenil e atualmente tem se apresentado em indivíduos que praticam atividade física. Objetivo: O objetivo desse trabalho foi avaliar a satisfação da imagem corporal entre mulheres praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo. Metodologia: Trata-se de um estudo de corte transversal, com coleta de dados primários, no qual foram avaliadas 59 mulheres com idade entre 19 e 60 anos, de uma academia do Município de São Paulo. Foi elaborado um questionário para a coleta de dados composto por itens como identificação do indivíduo, dados antropométricos e sobre a imagem corporal. A imagem corporal foi investigada pelo Body Shape Questionnaire (BSQ) e pela Escala de Desenhos e Silhuetas. Resultados: Pode-se observar neste estudo que 23,7% (n=14) das mulheres estavam eutróficas em relação ao IMC, porém tinham alterações leves da imagem corporal. Conclusão: Conclui-se que as mulheres avaliadas neste estudo possuem uma distorção da imagem corporal, tanto pelo método do BSQ quanto pela escala das silhuetas, apesar de estarem com IMC adequado. Tal fato sugere a influência de um padrão de beleza imposto pela sociedade, que induz as mulheres a desejarem corpos cada vez mais magros.

          Unitermos: Atividade física. Mulheres. Imagem corporal

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    As relações entre imagem corporal e desordens alimentares estão bem documentadas na literatura, porém é recente a observação desse tipo de distorção entre pessoas eutróficas isentas de transtornos alimentares específicos (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006).

    A imagem corporal é uma ilustração que se tem na mente sobre o tamanho, forma e imagem do corpo, como também aos sentimentos que estão relacionados a essas características bem como às partes que o constituem. Assim, a imagem corporal envolve diversos fatores que se inter-relacionam, como os perceptuais, de atitude e emocionais (ALMEIDA et al. apud SLADE, 2005). O componente da imagem corporal subjetivo refere-se à satisfação pessoal com o tamanho corporal ou partes específicas de seu corpo (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006).

    Calcula-se que a maior prevalência de distúrbios da imagem corporal encontra-se na população adolescente e juvenil, porém casos consideráveis são apresentados também em adultos jovens e indivíduos que praticam atividade física (RUSSO, 2005)

    Na cultura ocidental, a obsessão pela magreza está associada às distorções da imagem corporal, relacionadas às desordens do comportamento alimentar (STIPP; OLIVEIRA, 2003). Assim o ambiente sociocultural apresenta-se como condição importante para o desenvolvimento de distorções e distúrbios subjetivos da imagem corporal (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006).

    É preocupante o fato de mulheres mesmo com peso adequado para a estatura desejarem pesos ainda menores. Certamente essa distorção de imagem corporal baseia-se nos meios de comunicação que privilegiam modelos de beleza que possuem peso para estatura semelhantes ou próximos a pacientes portadores de distúrbios alimentares como bulimia e anorexia nervosa. Esses modelos de beleza divulgados pela mídia exercem efeito sobre o comportamento e estabelecimento de hábitos alimentares entre meninas adolescentes (KAKESHITA; ALMEIDA, 2006). Ser magro é associado ao sucesso, poder e outros atributos superiores, e não apresentado apenas como um atrativo físico (CASOTTI et al., 1998). Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a satisfação da imagem corporal entre mulheres praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo.

Metodologia

    Trata-se de um estudo de corte transversal, com coleta de dados primários, realizado com 59 mulheres, com idade entre 19 e 60 anos em uma academia do Município de São Paulo.

    Foi elaborado um questionário para a coleta de dados, composto por itens como identificação do indivíduo, dados antropométricos e questões sobre a imagem corporal.

    Para a avaliação antropométrica foram coletadas as variáveis de peso e estatura. A medida do peso foi feita em balança Welmy®, com capacidade máxima de 150 Kg e graduação de 100 g. As participantes foram avaliadas descalças, com roupas leves e os valores foram expressos em quilogramas (Kg) (NORTON; OLDS, 2005).

    A estatura foi avaliada utilizando-se um estadiômetro acoplado em uma balança da marca Welmy®, com escala de 0,1 cm. As mulheres descalças foram colocadas em pé, eretas sobre uma superfície plana, com os pés paralelos e com os calcanhares, nádegas, ombros e a parte mais proeminente do osso occipital encostados na barra de escala de medidas. A cabeça foi mantida confortavelmente ereta, com a linha entre os olhos e as orelhas em posição paralela ao chão. Deslizou-se o bloco móvel até encostar-se à parte superior da cabeça e, com pressão suficiente sobre o cabelo, realizou-se a leitura (BRASIL, 2007). A partir dos dados de peso e estatura calculou-se o IMC que foi classificado segundo a OMS (1997).

    A imagem corporal foi investigada pelo Body Shape Questionnaire (BSQ) desenvolvido por Cooper et al. (1987) e pela Escala de Desenhos e Silhuetas, desenvolvida por Stunkard et al. (1983).

    O BSQ mede as preocupações com a forma do corpo, auto depreciação, em razão da aparência física e da sensação de estar acima do peso. É um questionário autoaplicativo com 34 questões e seis respostas alternativas: 1) nunca, 2) raramente, 3) às vezes, 4) freqüentemente, 5) muito freqüentemente, 6) sempre. De acordo com a resposta marcada, o valor considerado para aquela questão é o número da resposta (por exemplo, o valor de nunca é 1). O resultado poderá ser: nenhuma alteração de imagem corporal (somatória £ 80), alteração leve de imagem corporal (somatória entre 81 a 110), alteração moderada de imagem corporal (somatória entre 111 a 140) e alteração grave de imagem corporal (somatória ≥ 141).

    A Escala de Desenhos e Silhuetas consiste de um conjunto de cartões, contendo nove desenhos de silhuetas femininas, representando as variações, em ordem crescente, de tamanho e forma corporal. Cada cartão dispõe de uma numeração a qual corresponde a uma classe de IMC, assim definida: 1 e 2 = eutrofia; 3 = sobrepeso; 4 e 5 = obesidade grau I; 6 e 7 = obesidade grau II; 8 e 9 = obesidade grau III.

    O conjunto de silhuetas foi mostrado as mulheres e realizada a seguinte pergunta: Como você se vê em relação a sua imagem corporal?

Resultados e discussão

    Foram avaliadas neste estudo 59 mulheres com idade média de 35,5 anos (+19), praticantes de atividade física de uma academia de São Paulo.

    As alterações na autopercepção da imagem corporal e o estado nutricional das mulheres podem ser observadas na tabela 1.

Tabela 1. Distribuição das mulheres da academia segundo a autopercepção da imagem corporal verificado 

pelo Body Shape Questionnaire (BSQ) e o Índice de Massa Corpórea (IMC). São Paulo, 2009

BSQ/IMC

Desnutrição

Eutrofia

Sobrepeso

N

%

N

%

N

%

Nenhuma Alteração

2

3,4

30

50,8

2

3,4

Alteração Leve

-

-

14

23,7

4

6,8

Alteração Moderada

-

-

6

10,7

1

1,7

    Pôde-se observar na Tabela 1 que 23,7% (n=14) das mulheres estavam eutróficas em relação ao IMC, porém tinham alteração leve da imagem corporal. Os resultados deste estudo vão ao encontro dos achados de BOSI et al. (2003) sobre autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição no Rio de Janeiro, que apresentaram níveis elevados de preocupação com a imagem corporal e estado nutricional adequado.

Tabela 2. Distribuição das mulheres da academia segundo a Escala de Desenhos de Silhuetas e o Índice de Massa Corpórea (IMC). São Paulo, 2009

Silhueta/IMC

Desnutrição

Eutrofia

Sobrepeso

N

%

N

%

N

%

Eutrofia

1

1,7

5

8,5

-

-

Sobrepeso

1

1,7

16

27,1

-

-

Obesidade grau I

-

-

25

42,4

1

1,7

Obesidade grau II

-

-

4

6,8

5

8,5

Obesidade grau III

-

-

-

-

1

1,7

    Em relação aTabela 2, verificou-se que 27,1% (n=16) das mulheres estavam eutróficas quanto ao IMC, porém, ao escolher o desenho das silhuetas se auto categorizaram como acima do peso.

    Ameida et al (2005), em seu estudo, observou que grupos de mulheres eutróficas e com sobrepeso escolheram as silhuetas sugestivas de algum grau de adiposidade, o que apontam para a presença de indicadores de distorção na avaliação do tamanho corporal por parte destas mulheres. Tal fato pode ser explicado as normas e padrões socioculturais de valorização da magreza comuns em nosso meio.

    Na tabela 3, observa-se que muitas mulheres que não apresentaram alterações da imagem corporal em relação ao BSQ, categorizaram-se como acima do peso quanto a escala de silhuetas.

Tabela 3. Distribuição das mulheres da academia segundo o Body Shape Questionnaire (BSQ) e a Escala de Desenhos de Silhuetas. São Paulo, 2009

BSQ/ Silhueta

Eutrofia

Sobrepeso

Obesidade grau I

Obesidade grau II

Obesidade grau III

N

%

N

%

N

%

N

%

N

%

Nenhuma alteração

6

10,7

11

18,6

16

27,1

1

1,7

-

-

Alteração leve

-

-

6

10,7

6

10,7

5

8,5

-

-

Alteração moderada

-

-

-

-

3

5,1

3

5,1

1

1,7

Alteração Grave

-

-

-

-

1

1,7

-

-

-

-

    Sabe-se que a insatisfação com a imagem corporal pode levar as pessoas a iniciarem um programa de atividade física. Um programa bem elaborado pode reduzir o peso corporal, como é o desejo das mulheres. Na verdade, a prática de atividade física pode levar os indivíduos a alcançarem os corpos que idealizam (DAMASCENO, 2005)

    Há estudos que relatam associação entre atividade física e altos níveis de satisfação corporal. Entretanto, a prática de atividade física, em alguns casos, pode resultar em conseqüências negativas, aumentando, nas mulheres, a preocupação com a magreza (DAMASCENO, 2005). Em nosso estudo, a maioria (85,2%) das mulheres era eutrófica e 3,4% desnutrida em relação ao IMC, no entanto, muitas demonstraram insatisfação com o seu corpo.

Conclusão

    Pode-se concluir com esse estudo, que as mulheres estudadas possuem uma distorção da imagem corporal, tanto pelo método do BSQ quanto pela escala das silhuetas, apesar de estarem com IMC adequado. Tal fato sugere a influência de um padrão de beleza imposto pela sociedade, que induz as mulheres a desejarem corpos cada vez mais magros. Dessa forma, sugere-se que trabalhos de conscientização sejam realizados pela equipe multiprofissional da academia, a fim de desfazer esse paradigma disseminado nessa população.

Referências

  • ALMEIDA, G. A. N. et al. Percepção de tamanho e forma corporal de mulheres: estudo exploratório. Psicologia em estudo, v.10, n.1, p.27-35, 2005.

  • BRASIL, A. L. D.; DEVINCENZI, M. U.; RIBEIRO, L. C.. Nutrição Infantil. In: SILVA, S. M. C. S.; MURA, J. D. P. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia, São Paulo: Roca, 2007. Cap 21, p. 349.

  • BOSE, M. L. M. Autopercepção da imagem corporal entre estudantes de nutrição: um estudo no município do Rio de Janeiro.J. Bras. Psiquiatr., v.55.n. 2.p.108-113, 2006.

  • CASOTTI, L. et al. Consumo de Alimentos e Nutrição: dificuldades práticas e teóricas. Cadernos de debate, v.6, p.26-39, 1998.

  • COOPER, P. J. et.al. The development and validation of the body shape questionnaire. Int. J. Eat. Dis., v.6, p.485-494, 1987.

  • DAMASCENO, V. O. Tipo físico ideal e satisfação com a imagem corporal de praticantes de caminhada. Rev. Bras. Med. Esp., v.11, n.3, p.181-186. maio / jun, 2005.

  • JUZWIAK, C. R.; PASCHOAL, V. C. P.; LOPEZ, F. A. Nutrição e atividade física. J. pediatr., v.76, supl.3, 2000.

  • KAKESHITA, I. S.; ALMEIDA, S. S. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da auto-imagem em universitários. Rev. Saúde Pública, v.40, n.3, p. 497-504, 2006.

  • NORTON, K.; OLDS, T. Antropométrica: Um livro sobre medidas corporais para o esporte e cursos da área da saúde, Porto Alegre: Artmed, 2005.

  • RUSSO, R. Imagem corporal: construção através da cultura do belo. Movimento & Percepção, v.5, n.6, p.80-90, 2005.

  • STIPP, L. M.; OLIVEIRA, M. R. M. Imagem corporal e atitudes alimentares: diferenças entre estudantes de nutrição e psicologia. Saúde Rev., v.5, n.9, p.47-51, 2003.

  • STUNKARD, A.; SORENSEN, T.; SCHULSINGER, F. Use of the Danish adoption register for the study of obesity and thinness. In: Kety, S. et al. The genetics of neurological and Psychiatric disorders, New York: Raven, 1983. p. 115-120.

  • VILARDI, T. C. C.; RIBEIRO, B. G.; SOARES, E. de A. Distúrbios nutricionais em atletas femininas e suas inter relações. Rev. Nutr., v.14, n.1, p.61-69, 2001.

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