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Diagnóstico de um poder inovador: estimular x reprimir, em Foucault

Diagnóstico de un poder innovador: estimular x reprimir en Foucault

Diagnosis of an innovative power: repress x stimulating in Foucault

 

*Curso de Graduação em Licenciatura em educação Física

Ex-bolsista Faperj

**Prof. Adjunto, DLCS, ICHS, UFRRJ

(Brasil)

Gláucio Oliveira da Gama*

glaucio_gama@hotmail.com

Cláudio Oliveira da Gama*

claudiodagama@hotmail.com

Luiz Celso Pinho**

 

 

 

Resumo

          Michel Foucault, ao desvendar os mecanismos de controle social na modernidade, evidencia um poder intitulado disciplinar, que possui como meta a modelagem de condutas de todo os indivíduos que fazem parte do corpo social. Ao pensarmos em poder, nos remetemos, em primeira instância, a uma imposição de caráter repressor que impiedosamente exclui e comandam de forma avassaladora as condutas sociais. Ao pensar um diagnóstico da modernidade, vai além desta simples significação do poder que, para ele, já deixou de ser unívoca, e parte para uma idéia de um tipo de controle político através da estimulação onde a busca pela submissão se faz de uma forma produtiva e prazerosa.

          Unitermos: Poder. Disciplina. Controle

 

Abstract

          Michel Foucault, to unravel the mechanisms of social control in modern, shows a power called discipline, which has the goal of modeling the behavior of all individuals who are part of the social body. When we look at power, referred to in the first instance, the imposition of a repressive character and command that ruthlessly excludes so overwhelming social conduct. When thinking a diagnosis of modernity, this goes beyond simple meaning of power which, for him, now no longer unique, and part of an idea for a type of political control through stimulation where the search for submission is a productive way and enjoyable

          Keywords: Power. Discipline. Control

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    As análises genealógicas de Foucault descrevem o funcionamento de uma série de mecanismos disciplinares nas sociedades modernas. Esses mecanismos se caracterizam por tornar os gestos dos indivíduos cada vez mais eficientes através de um controle permanente e calculado. Através de análise e interpretação do conteúdo de textos que abordem o instrumental conceitual de Foucault, o ensaio teve seu desenrolo intelectual.

    Aqui, o corpo é situado, assim, como objeto (e instrumento) de manipulação do poder, que precisa ser controlado para ser e permanecer produtivo. Daí afirmar que “um corpo disciplinado é a base de um gesto eficiente” (FOUCAULT, 2004, p 130). Assim, chega-se a um impasse, onde o indivíduo que, ao mesmo tempo em que é alvo do poder, é também seu produto: “o indivíduo é sem dúvida o átomo fictício de uma representação ideológica da sociedade; mas é também uma realidade fabricada por essa tecnologia específica de poder que se chama disciplina” (Idem, 2004b, p. 172).

Resultados e discussão

    Foucault, ao longo de sua jornada filosófica, vislumbrou a idéia de um certo tipo de poder, nomeado disciplinar, que possui como meta a modelagem de condutas de todo os indivíduos que fazem parte do corpo social. Corpo social este, que vai sofrer uma ação calculada que esquadrinha os corpos nos seus mínimos detalhes. Ao pensarmos em poder, nos remetemos, em primeira instância, a uma imposição de caráter repressor que impiedosamente exclui e comandam de forma avassaladora as condutas sociais. Ao pensar um diagnóstico da modernidade, Michel Foucault vai além desta simples significação do poder que, para ele, já deixou de ser unívoca, e parte para uma idéia de um tipo de controle político através da estimulação.

    Em busca de conquistas, o poder disciplinar descrito por Foucault, caracteriza uma mudança nas formas do poder correspondente a um: “momento em que o controle-repressão é substituído pelo controle-estimulação” (SOARES, 2006, p. 83).

    Antigamente, o poder se exercia utilizando até mesmo certos tipos de violências, mantendo sua soberania, impondo suas regras; atualmente, o inverso se faz, prosseguem os mesmos interesses (domesticação e manipulação de corpos), todavia, com a necessidade de rapidez e eficácia para uma maior produção. O poder disciplinar passa a estimular comportamentos e condutas, nas formas de prazer e excitação.

    Para o filosofo: “se o poder só tivesse a função de reprimir, se agisse apenas por meio da censura, da exclusão, do impedimento, do recalcamento, à maneira de um grande super-ego, se apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil” (FOUCAULT, 1982, p.149).

    O poder, para ele, seria frágil se ficasse preso a imposições sobre os corpos, se ele é forte é porque estimula e cerca a todos, de uma forma positiva e prazerosa. Com isso, propõe uma definição de poder inovadora, no que tange suas ações, “abandonando” sua forma primitiva de ação (repressora), e partindo também para um formato invisível e permanente, que deixa de lado a idéia de que sua representação se faz unicamente nos aparelhos do Estado. A idéia de investimento no corpo – pelo poder – tem a premissa de promover uma idéia do “dever cumprido”, incutindo nos corpos que estes devem servir, para serem úteis e produtivos. Este poder produz informações através do detalhe, talhando toda e qualquer função corpórea, dando a falsa necessidade de dependência, impregnando suas ideologias, agindo, primeiramente, no controle individual, para, em seguida, controlar as populações.

    Ao evidenciar que existem formas acionadas do poder no corpo, que tem como “pano de fundo” a dominação e sujeição; dando a eles o máximo de estímulos, é possível fazer uma comparação do controle exercido antes do século XVIII, do qual se imaginava, e ainda se imagina, que, se o poder se exercesse na forma apenas punitiva, seria fraco. Contudo, ao inaugurar esta nova forma de ação, Foucault revela que o poder nos incute uma idéia falsa, dando a impressão de que os corpos estão livres, autônomos, causando certo consentimento social, frente a esta influência “mascarada”, mas que na verdade os prendem e os tornam cada vez mais ligados e dependentes ao modo da vida contemporânea. Por meio do estimulo de mostrar e fazer-se desejar, torna-se possível, ao menos que ilusoriamente, uma configuração corporal exigida pelas demandas do poder.

    Esta modificação de ação do poder se dá como resposta à revolta do corpo, contra uma possível manifestação de rebeldia fazendo o poder criar um novo investimento que não tem mais a forma de controle-repressão, mas de controle-estimulação: “fique nu... mas seja magro, bonito, bronzeado!” (Ibid, p.147).

    Promovendo a articulação de um poder que ao notar que seria tênue, se fizesse uso de sua forma primitiva, parte para um controle que faz do estímulo o crescimento da sujeição dos corpos para a alienação dos indivíduos, sendo esta a forma encontrada para uma eficaz modelagem de condutas. A passagem de um controle rígido sobre o corpo para um controle atenuado marca o início de uma nova forma de agir sobre o corpo.

    Todavia, o poder ao passar este estereótipo, faz com que, do mesmo modo que pareça estar fraco, age instantaneamente, e de forma microscópica, no detalhe dos corpos, tornando-os cada vez mais submissos e dando idéias de independência (quando mais parece fraco mais forte está), mas que na verdade submete os corpos, cada vez mais, ao sistema disciplinar.

Conclusão

    Diante disso, com seu método genealógico, Michel Foucault percebe um controle que vai, de certo modo, agir de forma contínua e generalizada, tornando os sujeitos inconscientes e a mercê de suas ações, fazendo-os agir sob sua égide, de forma sempre sofisticada e articulada, migrando do formato tradicional de coação para novos modelos excitatórios que causam uma conformação consentida, no sentido de promover uma notável e surpreendente felicidade, exigidas pelas demandas de consumo.

    Foucault desconstrói a idéia de que o corpo é compreendido em aspectos unicamente biológicos – anatômico e fisiológico –, descobrindo uma nova dimensão: a histórico-política. Este formato cria nos corpos a necessidade de torná-los cada vez mais “obrigados” a agirem conforme as exigências do poder. O poder quer manipular, modelar, controlar, normalizar, tornar dócil, enfim, criar uma série de sujeições; porém, agindo de uma forma positiva no sentido de criar uma necessidade de dependência dos corpos aos mecanismos de controle disciplinar. Emprega a ideologia de que devemos sempre buscar a superação, onde nunca devemos estar satisfeitos com o corpo que temos, e sim sonhar, cada vez mais, com o que queremos. É este o poder que diz sim, dando ainda estímulos que o engrandece ainda mais, pois “emancipa” os indivíduos.

    A partir de um controle que rege e esculpe os homens surge à idéia de um corpo dócil, pró-ativo, que se sujeita aos formatos disciplinares sem que sequer tome ciência, instruído a um novo molde de vida, relacionado à alta produtividade, aos altos resultados e performances, oriundos de uma sociedade dos cânones capitalistas, que relaciona o corpo perfeito ao de maior utilidade, produtividade e força de trabalho: esta é a sociedade disciplinar, regida por um poder que lhe empresta seu nome por ser instituído pelos estatutos políticos.

Referências bibliográficas

  • FOUCAULT, Michel. “Poder – corpo”. In: Machado, R. (Org.). Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982, p. 145-152.

  • FOUCAULT, M. “Os corpos dóceis”. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 29ª ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004a, p. 125-52.

  • FOUCAULT, M. “Os recursos para o bom adestramento”. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 29ª ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004b, p. 153-72.

  • MACHADO, R. “Duas filosofias das ciências do homem”. In: Calomeni, T. C. B. (Org.). Michel Foucault: entre o murmúrio e a palavra. Campos, RJ: Editora Faculdade de Direito de Campos, 2004, p. 15-37.

  • REVISTA EDUCAÇÃO – Especial Biblioteca do Professor 3: Foucault pensa a Educação, São Paulo, 1º mar. 2007.

  • SOARES, C. L. “Pedagogias do corpo: higiene, ginásticas, esporte”. In: Rago, M.;Veiga-Neto, A. (Orgs.). Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica, 2006, p. 75-83.

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