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Educação psicomotora de uma portadora de síndrome 

de Down em curto período de admissão ao programa

Educación psicomotora de una portadora de síndrome de Down en el breve período de admisión al programa

Psychomotor education of a Down syndrome in a short term admission program

 

*Mestranda em Ciência da Motricidade Humana

pela Universidade Castelo Branco

** Pesquisador e Professor do Programa Stricto

Sensu em Motricidade Humana. LABNEU da

Universidade Castelo Branco – RJ

(Brasil)

Sheila Antonelli*

Elaine Guiomar Baêta*

Gustavo Paixão Mota*

Soraia da Rocha Belchior*

Andre Luiz Menezes da Silva*

Vernon Furtado da Silva**

artigomestardo@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O presente artigo na forma de estudo de caso teve como objetivo investigar os ganhos psicomotores de um individuo portador de Síndrome Down submetido a um programa de educação psicomotora. A psicomotricidade quando devidamente utilizada em termos de intervenção habilitativa, pode efetivamente enriquecer interconexões neurofuncionais (entre o motor e o psíquico) na criança portadora de trissomia 21 (Fonseca, 2004). A pesquisa teve duração de 1 ano, com atividades psicomotoras envolvendo os aspectos afetivos, cognitivos e psicomotores, uma vez que a participante oferecia muita dificuldade de relacionamento e aceitação de si mesma devido a uma não aceitação familiar. Apesar do tempo limitado de tratamento, foi possível observar um ganho significativo no aspecto social.

          Unitermos: Síndrome de Down. Psicomotricidade

 

Abstract:

          The current article presented as of a study case has been made in order to the objective of investigate the gain in psychomotor of a person with down syndrome in a shot term admission program. The psychomotricity if used in terms of rehabilitative intervention, can effectively enrich the interconexions neurofunctionals between the motor and the psychic) in a child with trissomia 21 (FONSECA, 2004). The research has beeen developed through an year period, with psychomotricity activity involving affection aspects, cognitive and psychomotricity, because the child in study had great difficulties in relationship, not accepting the problem cause the family denyed it as well. In spite of a limited duration of the treatment, it was possible to observe a significative gain in the social aspect

          Keywords: Down syndrome. Psychomotricity

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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1.     Introdução

    O primeiro registro do reconhecimento da Síndrome de Down foi feito em 1866 pelo médico Langdon Down, durante seu trabalho com doentes em um hospício, onde ele descreveu a doença desse grupo de indivíduos com particularidades próprias e apontou a deficiência mental como sendo uma característica de raças inferiores (SILVA e DESSEN, 2002). A terminologia síndrome de Down só foi proposta após várias outras denominações terem sido usadas, como por exemplo, o termo mongolismo que foi amplamente utilizado até 1961. A partir de 1965 a Organização Mundial de Saúde reconheceu oficialmente a denominação síndrome de Down (SCHWARTZMAN, 1999).

    Posteriormente FRASER e MICHELL (1876), IRELAND (1877), WILMARTH (1890) TELFORD SMITH (1896) contribuíram com algumas descobertas sobre a síndrome. Em 1932, WAARDENBURG sugeriu que a Síndrome de Down era causada por uma aberração cromossômica; e em 1934, Adrian Bleyer supôs que essa aberração poderia ser uma trissomia, atualmente chamada de trissomia do 21. Esse nome começou a ser utilizado, depois que em 1959, Jerome Lejèune, médico francês, identificou um pequeno cromossomo extra nas células destas pessoas. Os cromossomos são estruturas que se encontram no núcleo de cada célula e que contém as características hereditárias ou genes de cada pessoa. Em cada célula existe um total de 46 cromossomos, dos quais 23 são de origem paterna e 23 de origem materna. As pessoas com Síndrome de Down apresentam 47 cromossomos em cada célula, ao invés de 46 como as demais. Este cromossomo extra localiza-se no par 21. Por isso, o equilíbrio genético se desfaz, produzindo alterações no desenvolvimento normal do organismo (LEFÈVRE, 1988).

    A Síndrome de Down é uma patologia causada por um acidente genético que provoca um atraso no desenvolvimento global da criança (JUNIOR, 2007). As alterações genéticas que podem ocorrer na enfermidade são a trissomia do 21, a translocação, o mosaicismo. A Trissomia do 21 acontece em 95% dos casos. A translocação ocorre quando os indivíduos afetados possuem 46 cromossomos, mas o material genético é de 47, porque o cromossomo adicional 21 foi conectado a outro cromossomo, em geral o 14 e o 22. O mosaicismo é resultado de um erro na separação cromossômica durante a divisão celular no embrião (CASTRO, 2005).

    A incidência é de aproximadamente 1 em 800 ou 1.000 nascimentos, sendo que a taxa parece estar relacionada à idade materna e aumenta de maneira drástica à medida que as mulheres tenham filhos mais velhas. Uma mulher grávida aos 35 anos tem 1 chance em 400 de ter um filho com síndrome de Down (GALLAHUE e OZMUN, 2005).

    Durante anos, teorias sobre as causas da síndrome de Down foram propostas, mas até o presente, não se sabe o que faz com que as células se dividam incorretamente e porque os cromossomos não se separam devidamente (PUESCHEL, 1995).

1.1.     Características

    As pessoas com síndrome de Down possuem características físicas específicas, mas nem sempre apresenta todas as peculiares do distúrbio, algumas podem conter um número reduzido de sinais, enquanto outras podem expor a maioria. As características clínicas são congênitas e incluem principalmente atraso mental, hipotonia muscular, baixa estatura, anomalia cardíaca, perfil achatado, orelhas pequenas com implantação baixa, olhos com fendas palpebrais oblíquas, língua grande, protusa e sulcada, encurtamento do 5° digito e prega palmar.

    A linguagem das crianças portadoras da síndrome apresenta um grande grau de acometimento. O atraso mental é a característica mais comum, o desenvolvimento cerebral é deficiente, assim ao nascerem os pacientes tem microcefalia. Exames neuropatológicos demonstram que o cérebro é menor que o normal, além disso, são documentadas deficiências especificas em áreas que envolvem habilidades auditivas, visuais, de memória e de linguagem.

    Sujeitos com o distúrbio podem apresentar alterações nos diferentes órgãos ou sistemas do organismo. Cerca de 40% desses indivíduos desenvolvem doenças cardíacas congênitas e corre maior risco de desenvolver leucemia. Os problemas nos intestinos e as infecções respiratórias são comuns. O processo de envelhecimento processa-se mais rapidamente, e quase todos os que vivem mais de 40 anos desenvolvem a doença de Alzheimer. A hipotonia e a hipermobilidade das articulações freqüentemente causa problemas ortopédicos e posturais (WINNICK, 2004).

1.2.     Desenvolvimento neuropsicomotor

    A criança com síndrome de Down possui o desenvolvimento psicomotor mais lento devido às próprias peculiares da enfermidade e pelos problemas associados, como alterações visuais, cardíacos congênitos e outros (LEFÈVRE, 1988).

    A intervenção precoce nos infantes com a síndrome indica que as limitações físicas e intelectuais destas podem ser modificadas por meio de manejo competente e do treinamento precoce, pois a exposição direta aos estímulos e às experiências de vida, freqüentemente, não basta para modificar significativamente os padrões de aprendizagem. Podendo também melhorar o desenvolvimento sensório-motor e social da criança com a Trissomia do 21 e influenciar nos processos mais complexos de aprendizagem (PUESCHEL, 1995).

    Apesar de o estereótipo popular afirmar que normalmente os portadores são tipos calmos, afetivos, bem-humorados e com prejuízos intelectuais moderados; WISHART e JOHNSTON (1990) afirmaram que não há um padrão estereotipado e previsível em todos os indivíduos afetados; uma vez que tanto o comportamento quanto o desenvolvimento da inteligência não dependem exclusivamente da alteração cromossômica, mas inclui o restante do potencial genético e das influências derivadas do meio. Estas crianças podem trazer diferentes personalidades, apresentando distúrbios de comportamento, do mesmo modo que os indivíduos sem alterações cromossômicas.

    O atraso da maturação neurológica pode ter influência sobre o desenvolvimento e o aparecimento de características temperamentais em crianças com Síndrome de Down. O desenvolvimento psicológico destas pode ser observado na afetividade, considerando a fase do desenvolvimento. A própria deficiência mental pode refletir sobre a expressão de afeto, pois pode estar vinculada ao grau que uma pessoa valoriza ou não um acontecimento (CANDEL, 1996).

    O desenvolvimento dos indivíduos com a síndrome em questão resulta das influências sociais, culturais e genéticas, como acontece com qualquer outra pessoa não portadora da deficiência. Incluindo, também, as suas potencialidades, capacidades e aspectos afetivos da aprendizagem (BISSOTO, 2005). VYGOTSKY (1994), citado por SILVA e DESSEN (2002), afirma que o ambiente influencia o desenvolvimento psicológico da criança, podendo experiências emocionais vividas por estas, influenciarem no seu desenvolvimento. O mesmo acontece com crianças com Síndrome de Down, que mesmo apresentando limitações em suas capacidades, estão também suscetíveis às influências do ambiente.

    Para BRONFENBRENNER (1977, 1979/1996, 1986, 1992), citado por SILVA e DESSEN (2002), o ser humano é um todo funcional, onde o cognitivo, afetivo, emocional, motivacional e o social interagem um com o outro. Isto ratifica a idéia de que a criança com Síndrome de Down pode ser influenciada pelos diversos ambientes que está inserida, o que lhe permite construir seus significados e suas formas de organização.

    Técnicas educacionais de aprendizagem devem ser investigadas, reconhecidas e trabalhadas apropriadamente às necessidades dos portadores de Síndrome de Down, sendo inclusive de suma importância o uso de diversos recursos instrucionais; não deixando de se considerar que cada pessoa com a síndrome é um ser diferente, fruto das influências genéticas e sócio-culturais próprias (BISSOTO, 2005),

    A reeducação psicomotora tem por objetivo não só a descoberta do seu próprio corpo e capacidade de execução do movimento, mas ainda a descoberta do outro e do meio ambiente, utilizando melhor suas capacidades psíquicas, facilitando a aquisição de aprendizagens posteriores (LAPIERRE, 1986). A reeducação psicomotora destaca as vivências corporais, valorizando a criatividade, liberdade e a humanização. Leva a criança a um processo de adaptação social através de suas vivências e interação com o mundo, sendo por isso importante no trabalho com crianças com Síndrome de Down, pois através do movimento e a formação das capacidades intelectuais, contribui-se para o processo de ensino aprendizagem da criança (SCWHARTZMAN, 2003)

2.     Métodos

2.1.     Delineamento do estudo

    O presente trabalho é descrito na forma de estudo de caso. É baseado em uma proposta de educação psicomotora a um paciente com síndrome de Down.

2.2.     Amostra

    A amostra é constituída por um indivíduo do gênero feminino portador de Síndrome de Down com 14 (quatorze) anos de idade encaminhado a educação psicomotora, acompanhado durante o período de um ano.

2.3.     Materiais e métodos

    A educação psicomotora tem como objetivos: aquisição de domínio corporal, controle da inibição voluntária e desenvolvimento sócio-afetivo. Para que as metas fossem alcançadas através da educação psicomotora foram utilizados os seguintes instrumentos cordas, tintas, lápis de cera, bolas coloridas, bola de tênis, folha lisa para desenho, bambolê, jogos de montar e colchões para saltar. As sessões foram realizadas durante 1 ano, 2 vezes por semana, com duração de cada sessão de 50 minutos.

    O Perfil Psicomotor do individuo foi avaliado mediante a Bateria Psicomotora (BPM) de Vítor da Fonseca (1995), sendo a mesma aplicada como pré e pós-teste. O teste foi utilizado para esclarecer e identificar a existência de dificuldades na área cognitiva e motora. A BPM, não tem como objetivo classificar um déficit neurológico ou uma disfunção ou lesão cerebral, e sim servir de recurso para o entendimento individual dando condições de chegar a uma disfunção psiconeurologica de aprendizagem ou a uma disfunção psicomotora. Consiste na mensuração de 7 fatores psicomotores: tonicidade, equilibração, lateralização, noção do corpo, estruturação espaço-temporal, praxia fina e praxia global. Cada tarefa realizada para avaliação dos fatores psicomotores foi pontuada de 1 a 4, sendo que cada ponto classifica o desempenho da criança.

3.     Resultados

    Durante avaliação psicomotora, observou-se que a paciente apresentava acentuado retardo no seu desenvolvimento mental e sérios comprometimentos nas funções psicomotoras de base, assemelhando-se a uma criança com idade cronológica de quatro anos. O comportamento mostrava-se intempestivo, alterando durante pequenos intervalos de tempo, momentos de profunda afeição, com outros de extrema agressividade.

    Verificaram-se indícios de que as funções psicomotoras não foram estimuladas precocemente no âmbito familiar, tampouco no âmbito extra familiar, não desenvolvendo, portanto, seus aspectos motores, emocionais e cognitivos. As estruturas psicomotoras, como imagem corporal, esquema corporal, coordenação e equilíbrio indicaram estar bastante desorganizadas. Em relação linguagem, apresentou problemas na fala, gagueja e dificuldades para articular uma frase com mais de três palavras. Sua coordenação motora final era expressa apenas através de rabiscos. Há, igualmente, indícios de problemas comportamentais, onde a criança revelou dificuldade em relacionar-se com outras crianças, fugindo das situações que a desagradavam.

    Com o início do programa observou-se que o foco estava em uma não aceitação de si mesmo, com isso o trabalho teve um enfoque maior na estruturação de sua imagem corporal.

    O resultado da bateria psicomotora teve resultado insatisfatório, de acordo com a idade deveria ter um perfil psicomotor mais avançado. O individuo da amostra apresentou no pré-teste perfil psicomotor deficitário classificado como apráxico, indicando  dificuldade significativa de aprendizagem, tipo  moderado a severa.

    O pós- teste não apresentou modificação significativa do perfil psicomotor. O fator noção do corpo sofreu alteração.

4.     Conclusão

    A paciente com Síndrome de Down do estudo em questão apresentava acentuado atraso no desenvolvimento motor. De modo geral, estudos demonstram que o bebê com Síndrome de Down sofre um pequeno atraso no desenvolvimento psicomotor e cognitivo nos primeiros meses de vida, mas esse atraso acentua-se em todas as áreas no decorrer da infância, até a velhice (LEFÈVRE, 1985).

    A intervenção psicomotora destaca-se por apresentar resultado significativamente positivo em relação ao aspecto motor e social. O aspecto social do indivíduo em questão mostra modificações relevantes quando em referência as características comportamentais.

    Os aspectos motores não são sofreram modificações ressaltantes, provavelmente pelo período de inclusão ter sido reduzido.

    Outro aspecto que merece destaque é o fato do individuo da pesquisa não ter tido vivencia social e a família não ter estimulado-o no âmbito social nem motor durante toda a sua vida, fato determinante para o pouco desenvolvimento durante a intervenção psicomotora. Visto que estudos indicam que estratégias de estimulação poderiam ser desenvolvidas pelos pais, desde o nascimento da criança. Pesquisas recentes comprovam que crianças com síndrome de Down podem alcançar estágios avançados do desenvolvimento psicomotor, de linguagem, e cognitivo. Para tanto, a presença dos pais é essencial para o desenvolvimento efetivo das potencialidades da criança, construindo assim vínculo afetivo com o infante. Se os pais interagem melhor com seus filhos, passam a conhecê-los melhor e desenvolver suas habilidades.

    Conclui-se que pela falta de estimulação adequada ocorreu um retardo no desenvolvimento. Acredita-se que o principal agravante de toda dificuldade é a falta de aceitação da mesma pela família. A estimulação é fundamental no desenvolvimento infantil. É graças às explorações motoras que a criança desenvolve consciência de si mesma e do mundo exterior, sendo que as habilidades motoras ajudam na conquista de sua independência e em sua adaptação social (ROSA NETO, 2004). Assim, em termos de evolução, as experiências motoras são uma condição de adaptação vital. Sua essência reside no fato de nela o pensamento poder manifestar-se. A pobreza de seu campo de exploração irá retardar e limitar a capacidade perceptiva do indivíduo (THOMPSON apud FERREIRA, 2000).

Referências bibliográficas

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