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A questão da educação corporal: um olhar sobre si mesmo

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc, campus Xanxerê, SC.

**Mestre em Educação. Docente do curso de Educação Física

da UNOESC - Campus Xanxerê, SC. Orientadora

(Brasil)

Mayeli Dallagasperina*

Morgana Tonello*

Osmar Leite*

Patricia Carlesso Marcelino Siqueira**

patriciasiqueira@wavetec.com.br

 

 

 

Resumo

          O presente estudo etnográfico nos faz refletir sobre as questões que envolvem corporeidade e educação sexual, através das essências enfatizadas, através das falas expressas pelos acadêmicos do curso de Educação Física da Unoesc – Xanxerê, na disciplina de Ritmo e Expressão Corporal. Com base nas essências encontradas se percebeu que o conhecimento corporal e suas manifestações precisam ser trabalhadas pelo profissional de Educação física, em todas as idades e contextos, com vistas às quebras dos paradigmas que negam a vivencia total da corporeidade humana.

          Unitermos: Corpo. Educação Física. Paradigma

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    O trabalho teve por objetivo principal identificar as essências e os paradigmas dos acadêmicos do curso de Educação Física, fazendo-se refletir sobre as linguagens corporais que se fundamentam no processo de ensinar e aprender. Pois permite-se assim uma busca por uma nova expressão corporal, mudança de pensamento, que cada acadêmico tentou expressar em suas falas.

A amostra do estudo

    O presente estudo teve por objetivo se realizar uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico a partir das falas expressas durante o grupo na disciplina de ritmo e expressão corporal, do curso de Educação Física da UNOESC, campus XANXERÊ- SC.

    A amostra foi composta por seis acadêmicos do curso de Educação Física, de ambos os sexos, com idades entre 19 e 32 anos.

    O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS196/96. Para manter o anonimato, cada participante do grupo que foi entrevistado escolheu um codinome, utilizando-se nome de flores.

Caracterizando o estudo

    O presente artigo caracterizou-se por ser uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico definidas seguindo-se as premissas de André (2004). As informações coletadas durante a disciplina foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):

O Sentido do todo

    Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.

As unidades de significado

    Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergiram da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.

Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa

    Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.

Síntese das estruturas de significado

    Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas pelas falas, considerando-as como a criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.

Dimensões fenomenológicas proposta por Comiotto (1992):

    Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem às essências do estudo:

A questão da Educação Corporal: um olhar sobre si mesmo

    Esta essência derivou das falas dos entrevistados, as quais emergiram várias significações.

    Sem dúvidas as preocupações com o controle do corpo transcendem a modernidade e acompanham toda a história da humanidade. No entanto, ao debruçarmo-nos sobre o tema da educação do corpo, não podemos deixar de reconhecer que a escola, como uma instituição eminentemente moderna, traz consigo formas muito peculiares de tratar o corpo, modelando-o de acordo com os interesses civilizatórios. E uma das inúmeras faces desse processo formativo, ou deformativo, é o modo como a violência corporal é abordada ao longo da escolarização.

“A minha educação corporal pode-se dizer que foi um tanto “repressora”. (ROSA)

    Conforme Taborda (2006), A Cultura imprime suas marcas no indivíduo de um grupo cultural, revela assim, não somente o pessoal, mas tudo aquilo que caracteriza esse grupo como uma unidade. Cada corpo expressa a história acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis, suas crenças e seus sentimentos, que estão na base da vida social.

“Usar roupa curta, ou falar sobre meninos era um dilema.” (ROSA)

    Já Freire (1991) relata que, no entanto, precisamos observar que, mesmo depois de tanta tradição racionalista, espiritualista, empirista, continuamos sem conseguir superar nossa condição concreta de seres de carne e osso.

    Conforme Soares (2007), à medida que a mulher conquista o direito de cuidar do próprio corpo, sem autorização da figura masculina, as exigências em matéria de beleza complicam-se e ampliam-se: ganham novos produtos e contam com técnicas e profissionais outrora raros ou inexistentes.

    De acordo com Gonçalves (1999) A forma de o homem lidar com a sua corporeidade, os regulamentos e controle do comportamento corporal não são universais e constantes, mas sim, uma construção social, resultante de um processo histórico.

    “Sou magra, mas prefiro assim do que gorda, a Educação Física pode me ajudar a entender mais sobre o corpo humano, limites, o que é bom para a saúde.” (MARGARIDA)

    Freire (1991) cita que era freqüente eu me perguntar sobre o corpo. Eu não era meu braço, eu não era minha cabeça, não era minhas pernas ou meu coração. Então quem era eu, se no fim desse inventário nada sobrava, a não ser uma idéia muito difusa que me ensinava em casa, na escola, na igreja? A idéia de que esse eu não era esse corpo.

“Na adolescência continuei com o complexo das pernas finas e não usava saia ou calção nem por decreto.” (ROSA)

    Isso se evidenciou nas falas de Margarida e Cravo:

“Quando era criança não pensava que meu corpo era tão importante, não era apegada em me vestir bem, em me cuidar.” (MARGARIDA)

“Da pré-escola até hoje desenvolvi bastante meu corpo.” (CRAVO)

    O homem em geral, não quer ficar mais bonito, ele quer ficar mais competitivo, parecer mais ativo, enérgico. É outra motivação: a necessidade de se posicionar no mercado de trabalho. Merleau-Ponty, aborda que “Eu só posso compreender a função do corpo vivo realizando-a eu mesmo e na medida em que sou um corpo que se levanta em direção ao mundo”.

“Conforme fui crescendo fui querendo ver os limites do meu corpo, subia e descia, fazia caminhadas até ficar exausta” (MARGARIDA)

“Trabalhei com serviços pesados isso fez sentir meus limites.” (CRAVO)

    De acordo com Dantas (1994), nos anos 70, o Brasil e outros países do mundo passaram por revoluções nos costumes e mudanças sócio-políticas. No final dos anos 70 já havia uma, maior liberação em relação ao aspecto físico, já que a moda mostrava o corpo cada vez mais. Entramos nos anos 80 com uma nova concepção de estética corporal, diretamente ligada ao exercício físico e a ginástica aeróbica, que se torna um grande sucesso. Em todas as cidades houve um crescimento de clínicas, spas e academias de aeróbica e ginástica. Os cuidados com alimentação se tornaram importantes, houve uma maior conscientização.

    Conforme Freire (1991), O corpo não é apenas a sede do sensível; é também a do inteligível. O inteligível se embebeda de sangue, suor e lágrimas tanto quanto o sensível. O ser que pensa é o mesmo que sente. O ser que penas, sem o que sente, já não é o ser. Se um dos dois faltar, é o mesmo que faltar tudo. Na razão inversa das limitações motoras com que nasce o homem, estão suas possibilidades cognitivas. Dizer possibilidades cognitivas implica dizer possibilidades afetivas, sociais, e assim por diante, pois que o homem é um só, feito de um mesmo tecido.

    Já Medina (1990, p. 81), aborda que se pudéssemos psicanalisar toda a população brasileira, dentro do contexto do modelo da cultura ocidental contemporânea em que ela se estabelece, provavelmente encontraríamos diversos quadros clínicos que, numa analise, comprovariam o pluralismo ou a multiplicidade patológica que caracteriza os nossos corpos somos a todo tempo requisitados a ser filhos obedientes, pais trabalhadores e responsáveis, professores que ensinem o obvio, padrão, mães dedicadas, amantes fiéis, cidadãos pacíficos e cumpridores de nossas obrigações, mulheres sensuais, dóceis ou submissas, militares respeitadores da ordem estabelecida, alunos estudiosos pouco importando se o conteúdo do ensino nos interessa ou não, enfim um sem numero de comportamentos que, na luta pela superação dos nossos conflitos, são regulados homeostática e dialeticamente por licenciosidades ou transgressões; esta ultima variando desde a necessidade de uma inocente mentira, até a instituição de grupos organizados de crime sangrento ou “branco”.

    Segundo Freire (1991) a natureza não oferece muitas chances a cada ser vivo. É preciso aproveitar as poucas que aparecem. E, assim, os animais menos protegidos fisicamente se tornaram excelentes aprendizes; aprenderam a gerar complexidade. Quem não aproveitou as chances, pereceu.

    Isso se evidenciou nas falas de Cravo:

    “Hoje meu tempo é cronometrado, tenho hora para levantar, almoçar, estudar, principalmente para trabalhar, é muito corrido, mas também gratificante, poder realizar tudo isso.” (Cravo)

    O "corpo próprio" não se reduz ao nosso corpo físico (músculos, órgãos, tendões etc.), mas, sim, nele encontra suas possibilidades e seus limites. Como exemplo, podemos citar muitos acontecimentos cotidianos, em que, ao intencionar e realizar um movimento encontramos inúmeros limites que definimos como falta de força, flexibilidade, problemas posturais etc.

    “Meu professor de teatro fez um trabalho de flexibilidade, o qual foi muito importante para mim, até hoje me lembro daquelas aulas, foi às melhores que já tive.” (MARGARIDA)

    Para Gonçalves (1999), Educação Física em seu aspecto de educação do movimento - aspecto importante, mas que não esgota todo seu sentido - visa explorar as possibilidades naturais do corpo físico (obviamente, respeitando seus limites naturais), auxiliar na criação do gesto harmônico, no qual o "corpo próprio" "habita” um corpo, no qual o movimento pode fluir com um mínimo de resistência. Mesmo nos movimentos desportivos, que se constituem em uma apropriação do espaço e do tempo estabelecida por códigos de postura e gestos corporais, sua execução singular encontra seu fundamento em uma "sabedoria" corporal, que decorre da vivência concreta do gesto.

    A execução do movimento espontâneo, bem como do gesto desportivo, ligado as regras predeterminadas, inclui, assim um desenvolvimento progressivo, uma transformação dinâmica do "corpo próprio" e do corpo físico. No acompanhamento desse desenvolvimento e na sua orientação esta o papel do professor de Educação Física como educador do movimento, seja qual for o tipo de movimento a ser aprendido. A razão de ser da Educação Física reside no fato de que o homem como um ser corpóreo e motriz necessita de aprendizagem e experiência para, para lidar de forma adequada com a sua corporalidade e seus movimentos. Proporcionar ao aluno uma autêntica experiência corporal parece que deve ser um busca constante do professor de Ed. Física, seja qual for o conteúdo específico de sua aula.(SOARES,2007).

    “Na minha infância era muito afastado dos meus colegas, por ser gordinho, por não saber jogar nada, era sempre o ultimo a ser escolhido, com o tempo me aproximei.” (LIRIO)

    Segundo Soares (2007), a realização de uma história do corpo implica, atualmente, reconhecer sua presença midiática massiva (e, às vezes, massacrante), assim como os diferentes estilos de vida não limitados pelos extremos de magros e obesos, feia e bela, forte e fraca, rica ou pobre, amplamente valorizada pela moda ou dela excluídos. Esse reconhecimento inclui também a necessidade de perceber o quanto alguns discursos defensores dos direitos dos corpos compartilham da atual banalização das emoções ligadas a prazeres extremados e à busca por sensações vertiginosas.

    E ainda completa: [...] com o emprego de novas técnicas relacionadas ao lifting facial, à lipoaspiração e à inclusão de próteses em determinadas partes do corpo. [...] até mesmo os evangélicos defendem entusiasdamente essas intervenções cirúrgicas com fins estéticos (SOARES,2007).

Considerações finais

    Nesta pesquisa etnográfica evidenciaram-se três essências que acabaram se interligando entre si: Uma delas é a educação corporal, que se evidenciou através das falas uma educação repressora, onde não presenciava-se muito o diálogo, conversas sobre sexo e muito menos de namoricos da adolescência, não se tem tinha liberdade, tudo era imposto.

    A segunda essência caracteriza a imagem corporal, o complexo de ser magra ou gorda, feia ou bonita, em uma das falas evidenciou-se que por ter pernas finas não usava roupa curta “nem por decreto”, pois não pensava em si, mas o que os outros iriam dizer das pernas finas à mostra. É muito complicado quando encontra-se uma pessoa com complexos, pois até na forma de se expressar ou falar de determinado assunto é “travada”, pois tem dificuldades de expressar o que sente porque tem medo do que as pessoas vão pensar.

    Encontrou-se também falas relacionadas ao esforço, ao tempo, ao trabalho forçado, em seus limites.Após esta pesquisa percebe-se a importância da Educação Física na vida das pessoas, fazendo com que as pessoas vivenciam plenamente, seu corpo e sua corporeidade.

Referências

  • FREIRE, João Batista. De corpo e alma: O discurso da motricidade. São Paulo: Sumus,1991

  • FREITAS, Giovanina Gomes de. O esquema corporal, a imagem corporal e a corporeidade. Ijuí: 1999. Pg. 52 (coleção educação física).

  • Gonçalves, Maria Augusta Salin. Sentir, pensar, agir: corporeidade e educação. 3 ed. Campinas, SP: Papirus,1999.

  • MEDINA, João Paulo Subirá. Educação e política do corpo. 2 ed. Campinas, SP : Papirus, 1990.

  • OLIVEIRA, Marcus Aurélio Taborda de. (org). Educação do corpo na Escola Brasileira. Campinas SP (Autores Associados), 2006.

  • SOARES, Carmem. (org). Pesquisas sobre o corpo. Ciências humanas e educação. Ed. Autores Associados LTDA, 2007

  • Toledo, Luis Sérgio. Corpo, estética e cirurgia plástica. In: Dantas, H. M. Pensando o corpo e o movimento. Rio De Janeiro: Shape, 1994.

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