Dançaterapia com cadeira de rodas. Estudo de caso Danzaterapia con silla de ruedas. Estudio de caso Dance therapy wheel chair: case study |
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*Fisioterapeuta formada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná Pós-graduada em Fisioterapia clínica na UNIOESTE **Profª. Drª. do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE (Brasil) |
Silvia Maria Tessaro* Maiza Ritomy Ide** |
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Resumo A dançaterapia é um tratamento diferenciado que oferece múltiplas oportunidades de criação, expressão e independência ao paciente lesado medular. Objetivo: Melhorar a qualidade de vida, promover a inclusão social e melhorar a imagem corporal de um indivíduo que faz uso de cadeira de rodas através da terapia com dança. Método: Participou do trabalho uma paciente do sexo feminino, 23 anos, paraplégica. Foi submetida a um questionário de avaliação da qualidade de vida (SF-36) e terapia com dança por 16 semanas, uma vez por semana, com duração de uma hora cada sessão. Após, a paciente foi reavaliada. Resultados: A paciente apresentou melhora em quatro de oito parâmetros da qualidade de vida (Estado Geral de Saúde, Dor, Vitalidade e Saúde Mental). Conclusão: Observou-se que o programa facilitou a inclusão social da paciente através do estímulo de dança. Observou-se ainda melhora em parâmetros subjetivos como imagem corporal, aumento nos cuidados com o corpo, melhora na relação sócio-cultural, melhora da expressão corporal e redução dos movimentos estereotipados, segundo relatos da paciente. Unitermos: Dançaterapia. Lesão medular. Qualidade de vida
Abstract Dancing therapy is a different treatment that offers multiple opportunities for creativity, expression and independence to spinal cord injured patients. Purpose: To improve the quality of life, to promote social inclusion and to improve body image of a person who uses wheelchair through dancing therapy]. Methods: It was included a female, 23 years old, paraplegic patient. She answered a questionnaire to assess quality of life (SF-36) and performed a dancing therapy program, for 16 weeks once a week, one hour each session. Patient answered the same questionnaire after treatment. Results: Patient improved in 4 of 8 parameters of quality of life (general health, pain, vitality and mental health). Conclusion: The program facilitated the inclusion of the patient through the encouragement of dance. There was also improvement in subjective parameters such as body image, increase the care with the body, improvement in socio-cultural relationship, improvement of expression and reduction of body movements stereotyped (according to the patient). Keywords: Dancing therapy. Spinal cord injuries. Quality of life |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
A dança em cadeira de rodas no Brasil iniciou a partir de 1990 e desde então vem agregando seguidores de diferentes faixas etárias e sexo e espalhando-se pelos diferentes estados nacionais (1).
Englobando movimentos ritmos e coordenados de musculatura corporal, a dança em cadeira de rodas estimula a potencialidade que todos têm contribuindo para o equilíbrio geral da saúde ao reencontrar o paciente com a realidade, e também como forma de comunicação ao expressar corporalmente aquilo que verbalmente não possa ser entendido (2, 3, 4, 5).
Paraplegia é o dano na medula espinhal que acarreta paralisia parcial ou completa de membros inferiores e tronco. Esta lesão da medula acarreta não somente em perda parcial ou total sensitiva, autônoma, sistema orgânico, mas principalmente alterações motoras (6, 7, 8).
A lesão medular é uma das formas mais graves de síndromes incapacitantes além de uma das piores fatalidades que possam ocorrer com o ser humano seja pelo acometimento físico ou pela perda de independência e auto-estima (9, 10, 11).
Seja para satisfazer uma necessidade ou atingir algo que lhe é valioso o homem busca vencer a inércia e promover movimento. Para o paciente lesado medular estes objetivos pode estar delimitado pela dificuldade em movimentação na qual modula ou restringe sua atividade (12, 13, 14).
A inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir pessoas com necessidades especiais que se preparam para assumir seus papéis na sociedade (15). Dentre seus princípios temos a aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa, convivência dentro da diversidade humana e aprendizagem através da cooperação (16).
As pessoas que adquiriram suas limitações estão transpondo barreiras pela coragem de participar de um grupo que se expõe. Existe uma dificuldade em trazê-las para o convívio da sociedade pela dificuldade em incentivar o paciente a se ajudar (17). Trabalhar para o fortalecimento da auto-estima, além dos tratamentos adequados é essencial para que o portador de deficiência física seja um sujeito ativo (18).
Este trabalho objetiva tratar e incluir socialmente indivíduos que utilizam cadeira de rodas, priorizando um enfoque diferenciado das terapias convencionais, sem desviar-se dos objetivos de melhora na qualidade de vida.
Métodos
Participante
Foi selecionado um indivíduo através de um questionário sobre interesses culturais, que fazia uso de cadeira de rodas por paraplegia disposto a participar das terapias. Foi convidado a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). A paciente L.C.M, 24 anos, sexo feminino, branca, solteira, escolaridade de ensino médio completo, portadora de paraplegia adquirida por trauma há 17 anos, autônoma, com renda entre dois e cinco salários, não usuária de medicamentos.
Avaliação
Para avaliação do tratamento foi utilizado questionário genérico de avaliação da qualidade de vida SF-36 (“Short-Form 36 Item – Health Surveys”), conforme no Anexo 2, no início e após as intervenções. Além de avaliação subjetiva sobre o acompanhamento da terapeuta durante os procedimentos.
Procedimentos
O indivíduo foi submetido a um plano de tratamento de dança com uso da cadeira de rodas na Clinica de Fisioterapia da Universidade em uma sala com dimensões de aproximadamente 10 x 8 m, com terapias semanais com freqüência de um dia por semana e duração de aproximadamente 60 minutos, no período de julho a outubro de 2006 (16 semanas). Previamente às terapias foram realizados exercícios de alongamento e fortalecimento para diferentes grupos musculares. A primeira terapia iniciou-se com alongamentos globais de membros superiores e inferiores com a paciente posicionada em colchonetes no chão depois em decúbito dorsal e olhos cerrados foi estimulado movimentos conforme o ritmo musical apresentado.
Na segunda terapia foi realizado trabalho de percepção corporal através da auto-mobilização das articulações do corpo seguida por deslocamentos em diferentes posições (cima, baixo, direita, esquerda). Na terceira terapia iniciaram-se ritmos e cadencias musicais alternadas para acompanhamento da paciente com movimentos conforme a intensidade apresentada. Para a quarta terapia foi utilizado fluxo livre e interrompido com deslocamento corporal. Na quinta terapia foram estimulados os movimentos de dança clássica e desenvolvimento de seqüências primeiramente pelo terapeuta e posteriormente criado pelo paciente. A partir da sexta terapia possibilitou-se a aplicação dos movimentos de braço e corpo na cadeira de rodas. E após a sétima terapia foi desenvolvido a coreografia com possibilidade de expressão pela paciente.
Resultados
Os escores do questionário SF-36 são descrito no Gráfico 1. Observou-se que melhora no Estado Geral de Saúde, Dor, Vitalidade e Saúde Mental após o programa. A Capacidade Funcional, Aspecto Físico, Aspecto Social e Aspecto Emocional não apresentaram alteração.
Gráfico 1. Escores de qualidade de vida pré e pós terapia com dança
SF-36 – Short Form 36-Item Health Survey
Nota: Neste questionário, quanto maior o escore, melhor é a qualidade de vida.
Adicionalmente aos efeitos detectados pelo questionário, observou-se, subjetivamente, melhora em parâmetros como imagem corporal e relação do sujeito com o mundo, bem como maior controle de movimentos e exteriorização de sentimentos, aumento nos cuidados pessoais e melhora no controle de tronco.
Discussão
Os resultados encontrados apontam para melhora no Estado Geral de Saúde Dor, Vitalidade e Saúde Mental, evidenciando uma melhora na Qualidade de Vida após a Dançaterapia. O resultado encontrado neste estudo coincide com o trabalho de Bernardi e Prado (4) que evidencia melhora na qualidade de vida de seus pacientes a partir de terapia com dança, aplicado pelo período de ano e cinco meses em dois sujeitos portadores de paraplegia.
Observou-se uma melhora no quadro de Dor, pela melhora dos aspectos gerais pós-terapia, percepção corporal, controle de tronco, aspecto emocional, etc., que juntos permitiram uma menor preocupação com este aspecto possivelmente pela melhora da satisfação com a vida e na Vitalidade, já que através da exteriorização dos sentimentos pode-se configurar a capacidade produtiva, maior consciência corporal e satisfeita consigo mesmo.
Observou-se melhora na Saúde Mental após o programa. Acredita-se que esta melhora ocorreu por um reflexo direto da melhor imagem corporal bem como melhor concentração na realização das atividades e auxílio nos campos intelectuais. Bernardi e Prado (4) concluíram que a fisioterapia e dança contribuem para engrandecer as experiências e vivências corporais, desenvolvendo uma linguagem gestual e facilitando relação do paciente com a sociedade.
Para os Aspectos Social e Emocional, obteve-se neste trabalho os valores máximos antes mesmo da realização das terapias, o que poderia nos indicar satisfação com estes campos, mas também exemplificar a necessidade de um novo questionário, pois este apresenta apenas duas perguntas globais, e que deveriam conter maior teor específico para estes parâmetros. Ciconelli et al (19) percebeu em seu estudo que o Aspecto Emocional no questionário SF-36, apesar de apresentar correlação estatisticamente significante foi um item com números menores na avaliação de reprodutibilidade intra-observador. Ou seja, tanto para a validação como para este estudo, este item não deveria apenas tomar o parâmetro quantitativo.
Os Aspectos Social e Emocional merecem uma avaliação qualitativa para este estudo e, assim como em outros trabalhos sobre dança, pôde ser evidenciado na melhora da imagem corporal. Segundo Alexander (20), esta melhora seria resultado do diferenciado trabalho corporal. O autor cita ainda o fato da inibição inconsciente e a tentativa de imitar modelos condicionados pelos hábitos, devido melhora na percepção de sua imagem corporal.
Bernardi e Prado (4) comprovaram que a dança produz efeitos psicológicos, físicos e emocionais. Através deste trabalho, pode-se tomar como parâmetro a satisfação relatada pela paciente quanto a melhora da auto-estima com valorização de si, de um bom relacionamento social através nas atividades intra-classe além da preocupação com a estética que segundo Boswel (21) este fator pode ser tomado como parâmetro para a melhora da imagem corporal.
Em seu trabalho Ferreira e Ferreira (1) configuram que imagem e sua determinação no espaço são fatores imprescindíveis para a dança e propõe que a estética e o desempenho são elementos culturais participantes da historicidade da dança. A cadeira de rodas, por sua interpretação, trás um significado de deficiência frente à sociedade. Sabendo disso, ela deverá passar por um processo na qual a torne um elemento da arte, podendo, portanto ser reinventada pela dança.
Estes autores (1) ainda afirmam a capacidade de transformação das pessoas em relação à cadeira de rodas e com elas mesmas, intervindo no processo de relação de constituição do sujeito e sua relação com o mundo. Costa et al (5) também afirmam a necessidade de relação do indivíduo com o seu meio e enfoca a consciência corporal, através da idéia de postura corporal. A voluntária deste trabalho relatou maior facilidade na relação terapeuta-paciente com o decorrer das atividades, além de uma perspectiva para expressão do corpo no quesito sócio-cultural.
A diferenciação de ritmos e movimentos possibilitou uma redução dos movimentos estereotipados, antes muito evidentes. Tal fato ficou mais claro durante a introdução musical e ritmo, que favoreceram a integração da corporeidade deixando os movimentos mais controlados e específicos. A partir da integração de movimentos com a cadeira os de membros superiores visualizou-se uma maior suavidade na realização das seqüências que anteriormente estavam mecanizadas.
No processo de criação da coreografia, a paciente demonstrou-se favorável a expressar sua opinião em todos os movimentos. Isto permitiu esquecer-se das limitações enfatizando sua individualidade e capacidade de exteriorizar seus sentimentos, há muito reprimidos ou não estimulados.
Percebeu-se com a mobilização articular uma maior vivência e cuidados com membros inferiores antes carregados como peso. Através das atividades propostas durante as terapias foram passados estímulos que possibilitaram a aceitação e incorporação dos membros inferiores como parte integrante do corpo. Esta mudança pode ser visualizada durante a realização das habilidades diárias e nos cuidados pessoais.
A percepção corporal foi melhorada, pois segundo Bernardi e Prado (4) ela pode ser percebida pela desinibição em apresentar seu corpo para um grande número de pessoas. A paciente deste estudo apresentou anseio para a realização da apresentação, revelando-se ansiosa quando questionada sobre a atividade.
Foi possível verificar também melhora no controle de tronco, visto que com o desenvolver das terapias a paciente conseguiu controlar melhor os movimentos de flexão lateral do corpo utilizando-se apenas um membro superior com redução dos movimentos espasmódicos.
Os itens Aspecto Físico e Capacidade Funcional não apresentaram alterações visto que as terapias não focalizaram objetivamente a melhora nas funções físicas, mas sim de um novo prospecto de terapia, na qual se pode através de suas capacidades, promover uma exploração no campo cultural. Vale ressaltar também que a paciente participa de tratamento fisioterapêutico desde a época de seu acidente, ou seja, apresentava um ótimo desempenho e condicionamento cardiorespiratório. Porém, Bernardi e Prado (4) constataram que a realização de terapias com dança em pacientes paraplégicos favoreceu não somente um aumento das atividades de vida diária, mas também no desempenho das atividades já realizadas.
Conclusão
A terapia com dança melhorou a qualidade de vida da paciente paraplégica atendida. Dos oito domínios apresentados, quatro deles apresentaram melhora após o programa.
Verificou-se a viabilidade de se aplicar a dança, como abordagem terapêutica, pois amplia o universo de movimentos com melhora da exploração corporal, levando a efeitos psicossociais positivos ao paciente paraplégico.
Observou-se melhora em parâmetros subjetivos como imagem corporal, através do aumento de cuidados com o corpo, melhora na relação sócio-cultural e melhora na expressão corporal e redução dos movimentos estereotipados.
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