A importância da dimensão do conhecimento didático – pedagógico na formação dos cursos de Educação Física do Estado da Bahia La importancia de la dimensión del conocimiento didáctico – pedagógico en la formación, en los cursos de Educación Física del Estado de Bahía |
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*Licenciado em Educação Física (UEFS) **Mestre em Educação Física (UNICAMP) Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Faculdade Social da Bahia (FSBA) (Brasil) |
Osni Oliveira Noberto da Silva* Cláudio Lucena de Souza** |
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Resumo Este trabalho teve como objetivo analisar e discutir a importancia da Dimensão do conhecimento Didático – Pedagógico dentro dos curriculos dos cursos de Educação Física. Para isso foi utilizado a pesquisa documental onde foi percebido uma pouca importância dada a esta dimensão do conhecimento dentro dos cursos de Bacharelado, não levando em consideração a docência como a base da atuação do profissional de Educação Física, independente da habilitação.Unitermos: Educação Física. Formação profissional. Currículo |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
Este trabalho teve como objetivo analisar e discutir a importancia da Dimensão do conhecimento Didático – Pedagógico dentro dos curriculos dos cursos de Educação Física. Este componente surgiu na Resolução CNE/CES nº 07/2004, inserido como um dos principais balizadores para a formação dos graduados em Educação Física e influênciando diretamente o curriculo dos cursos. Para o entendimento da discussão proposta, será necessário tecer algumas considerações acerca dos curriculos em Educação Física e das Dimensões do conhecimento preconizadas na Resolução CNE/CES nº 07/2004.
Considerações acerca da história dos curriculos em Educação Física
O termo currículo tem origem do latim curriculum, que significa uma caminhada ou um percurso, ou seja, seria todo caminho por onde o aluno passa no intuito de adquirir o conhecimento de forma sistematizado em suas mais diversas fases (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Sacristán (2000) explica que o currículo seria a forma de se obter o acesso ao conhecimento, o que o transforma em uma forma bem particular de entrar em contato com a cultura, não podendo esgotar o seu significado como algo estático.
Na história dos currículos em Educação Física brasileira temos como um dos marcos iniciais a criação do primeiro curso provisório de Educação Física do Exército em 1910, tendo uma duração de cinco meses (FIGUEIREDO, 2005).
Somente em 1969 o currículo de formação em Educação Física ganha o status de nível superior após a resolução CFE de nº 69/69, aumentando o tempo de integralização em três anos e 1800 horas e outorgando o título de Licenciatura Plena. Nesse período já se percebeu uma preocupação com a formação educacional com o aumento das disciplinas pedagógicas (Psicologia da educação, Didática, Prática de Ensino através de Estágios Supervisionados e Estrutura de Ensino de 1º e 2º graus) e à inserção de um elenco de disciplinas obrigatórias, nos cursos de todo país, sendo este modelo chamado de currículo mínimo (TOJAL, 2005).
Em 1987, a Resolução CFE nº 69/69 foi substituída pela Resolução CFE nº 03/87 que extinguia o currículo mínimo
em seus cursos de graduação, substituindo apenas por uma proposta que balizava mínimos de duração e conteúdo (RAMOS, 2002). Segundo Bássoli de Oliveira e Da Costa (1999) esta mudança fez com que a área de Educação Física fosse "a primeira no país a ter autonomia curricular em nível de graduação"Outro ponto importante a ser destacado foi à criação da titulação de Bacharelado onde visava uma formação para atender exclusivamente o mercado não escolar que se encontrava em crescente ampliação. (TOJAL, 2005)
Porém, em 2002 houve outra mudança nos currículos dos cursos de Educação Física com a Resolução CNE\CES nº 01 de 2002 que aumentava a carga horária de estágio dos cursos de Licenciatura para 400 horas, além de incluir mais 400 horas de Práticas Curriculares, com tempo de integralização mínimo de três anos e com carga horária mínima de 2800 (BRASIL, 2002).
Diante dessa nova organização curricular para a formação de professores, surgiu em 2004 a Resolução CNE/CES nº 07/2004 que versava sobre as diretrizes para a graduação em Educação Física (Licenciatura e Bacharelado). Esse documento veio a substituir a Resolução CFE nº 03/87, sendo atualmente a principal balizadora da formação profissional da graduação em Educação Física no Brasil (TAFFAREL e LACKS, 2005).
Entendimento acerca da dimensão do conhecimento didático – pedagógico
Resolução CNE/CES nº 07/2004 em seu Art. 7 determina que:
Caberá à Instituição de Ensino Superior, na organização curricular do curso de graduação em Educação Física, articular as unidades de conhecimento de formação específica e ampliada, definindo as respectivas denominações, ementas e cargas horárias em coerência com o marco conceitual e as competências e habilidades almejadas para o profissional que pretende formar. (p.3)
Ela ainda estabelece que na formação dos cursos, seus currículos devem obrigatoriamente agregar conhecimentos próprios da área, sendo estes divididos em “Formação ampliada” e “Formação Específica” e estas por sua vez, subdivididas em “Dimensões do conhecimento”.
Essas dimensões do conhecimento podem ser entendidas como a área onde cada disciplina ou componente curricular está inserido para formar toda a matriz curricular do curso.
A formação ampliada diz respeito às dimensões do conhecimento da “Relação do ser humano e sociedade”; “Relação Biológica do corpo humano” e de “Produção do conhecimento científico e tecnológico”.
Já a formação específica, abrange os conhecimentos identificadores próprios da Educação Física, sendo esta dividida nas dimensões “Culturais do movimento humano”, “Técnico-instrumental” e “Didático-pedagógico”.
O foco deste estudo está voltado para a Dimensão do conhecimento Didático – pedagógico que pode ser considerado como os “princípios gerais e específicos de organização e gerenciamento das inúmeras possibilidades de intervenção pedagógica” (SILVA, 2009). Segundo alguns autores (UNESP, 2005), (UFRJ, 2006), (URI, 2006), (UDESC, 2007) e (VIEIRA, 2009) esta dimensão do conhecimento pode ser representada pelas seguintes disciplinas ou componentes curriculares: Conhecimentos em Didática, Metodologias de Ensino, Práticas Curriculares, Estágios, entre outros.
Metodologia
O método da pesquisa usado foi a Documental (GIL, 2007), onde os cursos foram organizados nas seguintes categorias segundo Silva (2009):
Grupo I: Cursos de Licenciatura voltados para a atuação em todos os campos de intervenção da Educação Física, baseados na Resolução CFE 03/1987 e com currículos reformulados pelas Resoluções CNE/CES nº 01 e 02 de 2002 e CNE/CES nº 07/2004. Grupo II: Licenciatura voltados para a atuação escolar, baseados nas Resoluções CNE/CES nº 01 e 02 de 2002. Grupo III: Bacharelado com uma formação voltada para atuação em todos áreas de intervenção, com exceção da escola, baseados na Resolução CNE/CES nº 07/2004. Grupo IV: Cursos de Graduação de faculdades que oferecem tanto a Licenciatura quanto o Bacharelado, baseados nas Resoluções CNE/CES nº 01 e 02 de 2002 e CNE/CES nº 07/2004.
Em seguida foi escolhido, de forma aleatória, um curso representativo de cada grupo onde foram analisados seus componentes curriculares e descritos a porcentagem da dimensão do conhecimento Didático – pedagógico dentro do curso. Nenhuma referência que identifique as faculdades foi mantida com o intuito de preservar as instituições.
Para analisarmos os dados dos cursos apresentados, utilizamos os estudos de Unesp (2005), UFRJ (2006), URI (2006), Udesc (2007) e Vieira (2009), que indicam possibilidades de relações entre as dimensões do conhecimento apresentadas e as disciplinas dos currículos dos cursos.
Apresentação e discussão dos dados
Os dados obtidos apontam uma predominância desta dimensão do conhecimento nos cursos de Licenciatura, o que é explicado pelo fato de se exigir deste, de acordo com a resolução CNE/CES nº 01 de 2002, disciplinas que discutam a intervenção na área escolar, o que não é cobrado para o bacharelado. Porém, a Dimensão do conhecimento Didático – Pedagógico faz parte da Resolução 07/2004, ou seja, do documento que direciona a formação da graduação em Educação Física e por isto, baseada também em alguns autores já citados, os conteúdos pedagógicos na área de Educação Física são importantes para a formação do profissional, o que independe da habilitação, pois a docência é considerada a base da atuação do professor-profissional de Educação Física.
Percebe-se ainda a heterogeneidade das formações profissionais, pois o curso ligado ao grupo III, de Bacharelado apresenta um percentual muito diferente dos outros, enquanto que o curso de Bacharelado do grupo IV tem em sua formação uma porcentagem de componentes curriculares ligados à dimensão didático-pedagógica bem mais próxima dos cursos de Licenciatura. Isto acontece possivelmente por a base comum deste curso de Bacharelado ser o mesmo que o do curso de Licenciatura da mesma instituição.
O gráfico abaixo apresenta a porcentagem de componentes curriculares ligados a esta dimensão dentro dos diferentes cursos de Educação Física. A legenda é a seguinte: 1: Curso de Licenciatura com formação voltada para a intervenção plena; 2: Curso de Licenciatura com formação voltada para a intervenção escolar; 3: Curso de Bacharelado; 4: Curso de Bacharelado em Instituição de Ensino que oferece as duas habilitações e 5: Curso de Licenciatura em Instituição de Ensino que oferece as duas habilitações.
Considerações finais
Apesar de existirem na Bahia quatro possibilidades de formação profissional em Educação Física, devemos entender ela tem como base sólida a docência, independente do seu campo de atuação. Por isso ficaria sem sentido tanto uma formação em Bacharelado que não leve em consideração os conhecimentos pedagógicos que auxiliam em sua intervenção, quanto uma formação em Educação Física com um acentuado aumento de disciplinas pedagógicas da sua grade curricular em detrimento dos próprios conteúdos da área. (SILVA, 2009).
Finalmente, sugerimos outros estudos dentro da temática da formação profissional em Educação Física, para que seja possível avançar na discussão das demais variáveis do tema, buscando cada vez mais uma formação condizente com a identidade da área e que satisfaça as necessidades da sociedade.
Referências
BÁSSOLI DE OLIVEIRA. Amauri A, Da COSTA, Lamartine P. Educação física/esporte e formação profissional/campo de trabalho.
______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 7, de 18 de Março de 2004
______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 2, de 19 de Fevereiro de 2002
______, Conselho Nacional de Educação – Conselho Pleno, Resolução CNE/CP nº 1, de 18 de Fevereiro de 2002
______, CFE - Resolução 03/87, de 16 de junho de 1987, Brasília: Documenta 315/setembro, 1987.
______, CFE. Resolução nº 69/69, de 06 de novembro de 1969 – Fixa os mínimos de conteúdo e duração a serem observados na organização
______, CFE, Parecer CFE nº 672/69, que define as disciplinas da área pedagógica. São Paulo: SE/ CENP, 1985, v. 4.
COLETIVO DE AUTORES, Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo, SP: Cortez, 1992
FIGUEIREDO, Zenólia Cristina Campos (Organizadora), Formação Profissional em Educação Física e o mundo do trabalho. Vitória, ES: Gráfica da Faculdade Salesiana, 2005
GIL, Antonio Carlos, Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. 9 reimpressão. São Paulo: Atlas, 2007
RAMOS, Glauco Nunes Souto. Preparação profissional em Educação Física: A questão dos estágios. 10/06/2002. 126 págs. Tese (Doutorado em Educação Física). Faculdade Educação física, Unicamp, Campinas, SP, 2002.
SACRISTÁN, J. Gimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática, 3ª ed., Porto Alegre – RS: Ed. Artmed, 2000
SILVA, Osni Oliveira Noberto da. Implicações da fragmentação da formação profissional de Educação Física em Licenciatura e Bacharelado para as IES baianas. 2009, 88 pág. Monografia (Licenciatura em Educação Física): Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana - Ba.
TAFFAREL, C. N. Z; LACKS, S. Diretrizes curriculares: proposições superadoras para a formação humana. In: FIGUEIREDO, Z. C. C. (org). Formação profissional em educação física e mundo do trabalho. Vitória, ES: Gráfica da Faculdade Salesiana, 2005, p. 89-109.
TOJAL, João Batista. Formação de profissionais de educação física e esportes na América latina. Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.5, n.7, jul./dez. 2005.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Projeto Pedagógico: Bacharelado em Educação Física, Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Florianópolis, SC, 2007.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Reestruturação curricular, curso de Licenciatura em Educação Física, Integral e noturno, Conselho do curso de Educação Física, Bauru, SP, 2005.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. Projeto pedagógico do curso de Licenciatura em Educação Física, Comissão de Reformulação curricular, Rio de janeiro, RJ, 2006.
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES. Projeto Pedagógico do curso Educação Física – Licencatura, RS, 2006
VIEIRA, Ana Paula, Zimbres, Sidney Forghieri, Araújo, Silvana Martins. Formação profissional em Educação Física: Apresentando o novo projeto pedagógico da UFMA. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 13 - Nº 129 - Fevereiro de 2009. http://www.efdeportes.com/efd129/formacao-profissional-em-educacao-fisica-o-novo-projeto-pedagogico-da-ufma.htm
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