Bullying na escola: a atividade física pode ajudar Bullying en la escuela: la actividad física puede ayudar Bullying at school: physical activities can help |
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*Graduada em Educacão Física pelo Unasp – campus 3 **Doutora em Educacão Física pela Unicamp Professora no Unasp – campus 3 (Brasil) |
Janete Galdino Bertelli* Helena Brandão Viana** |
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Resumo Neste artigo foi analisado ocorrências de bullying ocorridas com criancas moradoras de uma área de assentamento, e que frequentavam um núcleo de assistência social, onde realizavam atividades escolares, trabalhos manuais, aulas de inglês e atividades físicas. Através da informacão às criancas do que é o bullying, foi possível detectar que ele ocorria entre elas e através de rodas de conversas e atividades físicas foi possível visualizar o aprendizado e conscientizacão destas criancas dos prejuízos trazidos pelo bullying. Para avaliar a ocorrência do comportamento de bullying, foi utilizado uma escala, adaptada para uso no Brasil. Foi feita uma análise estatística dos resultados que apresentamos no final deste ensaio. Concluímos com este trabalho que o bullying aparece em muitas escolas, independente do nível sócio-econômico das criancas que a frequentam, porém nesta comunidade aonde esses dados foram coletados, o resultado mostrou-se um pouco diferente da literatura existente, onde meninos costumam praticar mais o bullying físico e as meninas costumam praticar mais o bullying verbal. Os resultados deste trabalho mostrou que as meninas praticavam bullying físico tanto quanto os meninos. Unitermos: Bullying, Atividades Físicas, Transtorno de conduta
Abstract: In this article was analyzed bullying occurrences in children living in slam area and that had been participating a social assistance house, where they did homework, manual arts, English classes and physical activities. Giving information to children about what is Bullying, it was possible to detect that bullying used to occur among them and talking to them and doing some specifics physical activities it was possible to see that children learned and were aware about damage of bullying. In order to evaluate frequency of bullying behavior, was used a Scale adapted to use in Brazil. It was done a statistical analyze of results that we present in the end of this essay. Our conclusions were that bullying is occurring in several schools, and not depends of children’s socioeconomic status, but in this community where we collected these data, the result was a little different of specialized literature, where boys used to practice more physical bullying and girls used to practice oral bullying. Our results show us that these boys and girls practice physical bullying equally. Key-words: Bullying, Physical activities, Conduct disorder |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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O bullying é um problema mundial, sendo encontrado em todas as escolas, privadas ou públicas, rural ou urbana, primária ou secundária, e nas escolas que negam a presença do bullying entre seus alunos ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-lo (FANTE, 2003).
A palavra bullying tem sua raiz inglesa (bully, valentão), englobando um conjunto de atitudes negativas realizadas por um indivíduo sozinho ou por um grupo de indivíduos “bullies”. Na língua portuguesa não conseguimos encontrar uma definição, porém, é algo como assediar, intimidar, sacanear, zoar, encarnar, implicar, perseguir. Bullying, termo utilizado na literatura psicológica anglo-saxônica, conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais em estudos sobre o problema da violência entre escolares (FANTE, 2003, p. 58).
O fenômeno do bullying, ou como muitos pesquisadores denominam de violência moral, tem sido constante. Na língua inglesa o termo usado é bullying, na França chamam de harcèlement quotidien 1, na Itália de prepotenza 2 ou mesmo de bullismo, no Japão de ijime 3, e em Portugal de maus-tratos entre os pares. No Brasil, ainda não há uma palavra consensual para designar o problema, e em livros e pesquisas tem sido utilizado o termo original em inglês, bullying. O termo violência moral é adaptação do francês assédio moral, mas há quem defenda outro. Para Monteiro (2003), presidente da Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência), não há ainda no Brasil uma palavra que defina o bullying. Em geral, são situações de maus-tratos, de opressão e humilhação que acontecem entre jovens e crianças (NOGUEIRA, 2005).
O bullying escolar se apresenta como um mal-estar que se observa desde a perspectiva oculta, desde o desconhecimento, desde a indiferença, ou, inclusive, desde a ausência de valorização de si mesmo, de sua própria existência, e das conseqüências que o mesmo pode ter e tem no desenvolvimento social, emocional e intelectual dos menores que sofrem ou padecem este novo e velho fenômeno (ORTE, 1996 apud NOGUEIRA, 2005).
O bullying começou a ser estudado na década de 70 na Suécia, com grande interesse de toda a sociedade pelos problemas desencadeados pelo fenômeno. A partir de 1990, na Noruega, o professor Dan Olweus pesquisador da Universidade de Bergen começou a pesquisar o assunto a partir de vários casos de suicídios ocorridos com adolescentes e estes eram praticados por alunos que sofriam agressões na escola. Criou os primeiros critérios para detectar de forma específica e diferenciar de interpretações errôneas como gozações, incidentes, brincadeiras de maus tratos próprias do processo de amadurecimento do indivíduo. Segundo Olweus pesquisas em outros países mostram a existência do bullying de forma similar ou superior da Noruega como é o caso da Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos e também nos países baixos Japão, Irlanda, Espanha e Austrália (OLWEUS, apud FANTE, 2003).
Segundo Martinez (2002). Existe uma série de aspectos que caracterizam o bullying tema que vem sendo evidenciados no transcorrer das pesquisas realizadas sobre o assunto.
Deve existir uma vítima esta pode ser atacada por um valentão ou por um grupo.
Deve haver uma desigualdade de poder entre a vítima e o agressor esta pode ser não só física como também social, psicológica ou de possibilidade de defesa.
A ação de violência não pode ocorrer uma única vez, ela deve se repetir, se suceder por um período ao longo do tempo. Esta provocará uma dor não só momento do ataque, mas criará na vítima uma expectativa de próximos ataques.
A vitimação pode ocorrer com uma única pessoa ou em grupo, sendo que com o grupo a intimidação é menos freqüente.
Segundo Nogueira (2005), no Brasil a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) no ano de 2002 desenvolveu no Rio de Janeiro, com o patrocínio da Petrobras um projeto em 11 escolas públicas e particulares, com o objetivo de ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de combater o bullying. A pesquisa foi realizada com 5875 estudantes da quinta a oitava série e revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying. Constatou-se freqüência maior entre meninos tanto como autores quanto como alvos. A freqüência entre as meninas é menor e relaciona-se a atos de exclusão ou difamação.
Os alunos são protagonistas de bullying de diversas formas; como alvos de bullying, quando sofrem bullying, alvos/autores de bullying, quando ora sofrem ora praticam o bullying, autores de bullying são os alunos que só praticam o bullying e as testemunhas de bullying são os alunos que não sofrem nem praticam bullying convivem em um ambiente onde isso ocorre. Os jovens podem ser alvos de bullying quando expostos por ações negativas repetidamente de forma intencional ou repetida que causa dano ou que incomoda outra pessoa e pode ser provocada por um ou mais alunos. Geralmente o alvo não reage, é pouco sociável, inseguro, possui baixa auto-estima, tem poucos amigos, é passivo, sofre com vergonha, medo, depressão e ansiedade, às vezes pode até se achar merecedor dos maus-tratos sofridos. Apesar de não ter estudos sobre métodos educativos familiares que incitem ao desenvolvimento de alvos de bullying identificam-se alguns como facilitadores: proteção excessiva, gerando dificuldades para enfrentar os desafios e para se defender, tratamento infantilizado, e papel de bode expiatório na família, sofrendo críticas e sendo responsabilizados pelas frustrações dos pais.
Condições familiares adversas podem favorecer o desenvolvimento da agressividade nas crianças, levando-as a agirem como autores de bullying. Além disso, existem alguns fatores individuais que também influenciam no comportamento agressivo: hiperatividade, impulsividade, distúrbios comportamentais, baixa inteligência, dificuldades de atenção, geralmente é popular, envolve-se em atitudes anti-sociais, podendo ser agressivo também com adultos, vê sua agressividade como qualidade, é geralmente mais forte, sente prazer e satisfação em dominar, vê sua agressividade como qualidade, são menos satisfeitos com a escola e família, possuem tendência maior para comportamentos de risco como; consumo de álcool ou outras drogas. As possibilidades são maiores em crianças ou adolescentes que adotam atitudes anti-sociais antes da puberdade e por longo tempo.
Classificação do bullying
Segundo Martinez (2002) o bullying pode ser classificado em 4 tipos:
Físico: Como empurrões, tapas, agressões com objetos. Este tipo é mais comum e ocorre com mais freqüência na escola primária do que na secundária.
Verbal: Ocorre com mais freqüência na investigação de muitos autores. Os insultos, xingos as críticas a defeitos físicos os menosprezos e ultimamente a utilização dos meios de comunicação como o celular e internet.
Psicológico: Ações que diminuem a auto-estima fazendo com que as vítimas sintam insegurança e medo. Este componente psicológico faz parte de todas as formas de maltrato.
Social: Isolar o indivíduo, fazendo com que outros se tornem participantes destas ações. Estas ações se consideram opressão.
Conseqüências do bullying
As conseqüências são diversas tanto para alvos, autores e testemunhas sendo que estas podem ser físicas e emocionas de curto e longo prazo, podendo acarretar dificuldades acadêmicas, emocionais, sociais e legais. O impacto sobre as crianças e adolescentes se dá de forma uniforme existindo uma relação direta com a freqüência com a qual ela é submetida, com o tempo de duração e severidade dos atos de bullying.
A criança que sofre o bullying está mais vulnerável a sofrer de depressão e baixo auto-estima quando adulta. E quanto mais jovem for a criança freqüentemente agressiva, incorrerá num maior risco de apresentar problemas associados a comportamentos anti-sociais quando for adulto, podendo assim perder oportunidades no trabalho ser instável e ter relacionamentos afetivos pouco duradouros (LOPES NETO, 2005).
Segundo Lopes Neto, 2005 o bullying pode trazer alguns prejuízos como; prejuízos financeiros e sociais também são causados pelo bullying uma vez que as crianças e adolescentes que sofrem ou praticam bullying podem precisar de diversos serviços como saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação especial e programas sociais. Outro tipo de prejuízo surge na família dos alunos alvo, pois os sintomas emocionais vivenciados pelos envolvidos no bullying afetam diretamente a estrutura da dinâmica familiar, podendo surgir nos pais sintomas depressivos e influenciando seu desempenho no trabalho por não saberem como reagir com os sentimentos próprios e de seus filhos, podem sentir indiferença, ira, inconformismo, seja contra si mesmos ou contra a escola, podem sentir frustração e sentirem-se impotentes quando não conseguem fazer nada para proteger seus filhos ou mudar a situação.
Existe comprometimento familiar quando o adolescente ou a criança sente-se traído, achando que seus pais não acreditam no que dizem ou não manifestam ações afetivas (LOPES NETO, 2005).
A prática de bullying pode acarretar sérias conseqüências para a vida de algumas crianças, muitas precisam de terapia para superar seus traumas sofridos por causa do bullying. Esta é a história de Cleriston Apolinário, que começou a sofrer agressões aos 15 anos, virou alvo de bullying, jogavam suas provas no lixo, colocavam faixa em suas costas como “me chute”, hoje aos 21 anos diz que os professores tentavam interferir, mas em algumas situações chegavam a rir das piadas. Teve que fazer dois anos de terapia era um menino extrovertido e tornou-se tímido (RUBIN & PAGEL, 2006).
Papel da escola e do educador no combate ao bullying
Existe um despreparo para lidar com maus tratos ou violência que ocorre dentro da sala de aula porque os professores são preparados nos cursos de preparação acadêmica e nos cursos de capacitação, apenas para ensinar suas disciplinas, não estão preparados para ensinar os alunos a lidar com as dificuldades e seus sentimentos (FANTE, 2003).
Alguns professores se convertem em agressores devido à postura de autoritarismo que utilizam, na tentativa de obter o controle e o poder ante o grupo-classe. Um exemplo clássico centra-se na maneira de chamar a atenção e corrigir o comportamento dos alunos, depreciando-os frente aos colegas, discriminando, mostrando preferências, ameaçando, perseguindo e intimidando (FANTE, 2003 p.71).
O adulto no papel de educador tem grande responsabilidade na ação de combate ao fenômeno bullying. Sua função seria, de um lado, chamar a atenção do agressor com firmeza em relação ao respeito ao outro, à convivência social e às regras ligadas a esta; de outro, desenvolver todas as praticas e estratégias pedagógicas que favoreçam a educação voltada para as relações e para os enfretamentos entre os membros do mesmo grupo-classe (CONSTANTINI, 2004).
Pesquisa realizada pela UNESCO (2006) demonstra problemas de relações interpessoais e conflitos entre alunos, professores, direção, corpo pedagógico como: a falta de diálogo para com os jovens, desinteresse pela cultura, condições e vida dos jovens, falta de interesse por sua identidade como aluno. Geralmente são rotulados como sujeitos-problema. A escola deveria preocupar-se com sua responsabilidade na formação desses indivíduos e não apenas julga-los como um grupo homogêneo, desprotegido, socialmente vulnerável, sem oportunidades e apático.
A escola deveria desenvolver práticas do sentimento de igualdade, justiça e reciprocidade, generosidade, amabilidade e solidariedade. Desenvolver o sucesso educativo do aluno atendendo a diversidade individual. Fortalecer os valores cooperativos em detrimentos dos competitivos tão enraizados na nossa sociedade. Deveria privilegiar metodologias pedagógicas que promovam a autoconfiança, auto-estima, capacidade de antecipação e resolução dos problemas. Atividades lúdicas e artísticas deveriam ser oferecidas para promover o convívio, as fantasias e a experiência de pulsões agressivas em atividades corporais e de movimento (SANTOS, 2004 apud SOUSA, 2007).
Segundo Felizardo (2007) algumas ações de comprometimento no combate ao bullying podem ser feitas pelos professores e direção escolar;
Explicação sobre o termo bullying – professor de Inglês
Envio de carta aos pais explicando o conceito, convidando-os para palestras e pedindo sugestões - direção
Elaboração e afixação de cartazes pelos alunos – professor de artes
Passar filmes que valorize o respeito e o valor pelas diferenças – professor de história
Solicitar trabalho para alunos de oitava série sobre o bullying e o que é e como é enfrentá-lo – professor de geografia
Dramatização pedindo que os alunos escrevam cartas – professor de português
Trabalhar o conceito bullying nas escolinhas esportivas – professor de educação física.
Nas aulas de educação física escolar, por seus conteúdos e estratégias pedagógicas os alunos têm a possibilidade de maior interação onde o toque corporal é mais presente e pode também surgir uma incidência de atos agressivos de exclusão uma vez que a falta de opções de estímulos positivos, de conscientização e de desconhecimento sobre o universo lúdico, podem ser elementos capazes de influenciar atitudes e condutas de rebeldia. O professor de Educação Física pode utilizar recursos e atitudes inclusivas, a fim de promover uma interação social entre os alunos, estimulando que as mudanças aconteçam dentro e fora da escola (LUCON & SCHWARTZ, 2004).
Pesquisa de campo
Nesta pesquisa foi realizada uma revisão bibliográfica sobre bullying, violência e agressividade. Na pesquisa de campo do tipo pesquisa-ação analisamos a incidência do bullying em um grupo de escolares do bairro Jardim Estrela/Hortolândia-SP. Realizamos uma intervenção durante 14 semanas. A pesquisa foi realizada com o consentimento dos pais que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Nosso principal objetivo foi detectar a incidência do bullying em um grupo de escolares da periferia. Houve uma porposta de atividades lúdicas que trabalhou valores morais a fim de diminuir a incidência do bullying e trazer benefícios ao desenvolvimento motor e cognitivo e afetivo do aluno. Foi utilizado neste trabalho como instrumento de avaliação a escala de incidência de bullying, criada pelos autores Ando, Asakura e Simons-Morton, validada em 2005 e adaptada no Brasil por Viana em 2006.
Pesquisa-ação
Foi realizada atividades de intervenção por 14 encontros, sendo uma vez por semana, totalizando 14 semanas. Esta intervenção foi feita com 37 crianças e adolescentes.
Primeiro encontro: a tarefa foi perguntar se alguém sabia o significado da palavra bullying. Duas crianças levantaram a mão e uma delas respondeu que era o objeto onde se colocava o café, como vimos que nenhuma criança e nem as monitoras sabiam o que significava pedimos para que elas lessem no dicionário de Inglês o significado da palavra bully e explicamos o significado das palavras e do que definiam o bullying; (valentão, tiranizar, maltratar e ameaçar) para que elas compreendessem melhor o que significa bullying. A partir de então formamos grupos e pedimos para elas colocarem na ordem as letras das palavras que eram opostas a estas (como bondoso, cuidar, assegurar já escritas em folha de papel. Pedimos para escreverem ou desenharem o que achavam que era o bullying. Uma das respostas que mais me chamou a atenção foi de um menino que disse : bullying é o ato de uma criança ou jovem agressivo com crianças ou jovens menores, isso acontece a partir do ato agressivo isso faz a pessoa agredida se sentir mal por ser excluída do grupo de jovens e isso é uma covardia. Fizemos a atividade do patinho feio onde as crianças recebiam pedaço de papel escrito, cumprimente-me, abrace-me ou me ignore, apenas 3 receberam o papel escrito ignore-me. Perguntamos como se sentiram as crianças que foram o patinho feio e elas responderam; triste, abandonada e esmagada. As crianças são bastante solicitas.
Segundo encontro: fizemos um trabalho de construção de trabalhos a favor da paz, contra a violência. Dissemos que escolheríamos o melhor trabalho para que eles se empenhassem e para isto era necessário que todos do grupo participassem. Alguns pediram um prazo maior para a conclusão do trabalho e disseram que em grupo era mais fácil a realização do trabalho e para isso era necessária a união, já em outros grupos observei a dificuldade de relacionamento entre algumas crianças. Falamos com eles a respeito do significado da palavra solidariedade e respeito das diferenças entre eles e do valor e importância que cada um tinha. Algumas frases significativas que eles construíram; “Paz se a gente não cuidar acaba! Violência se a gente cuidar acaba”, “a paz é o significado de respeito, educação e sobre tudo o amor”, “a paz é importante para acabar com os preconceitos”, “fora violência mas sim paz” e “a paz é importante para que não haja violência”.
Terceiro encontro: as crianças estavam ansiosas para saber quais tinham sido os melhores trabalhos, então dissemos que a proposta tinha sido alcançada e como a elaboração e construção dos mesmos tinha sido de forma satisfatória e que todos estavam muito bons, todos seriam premiados. Atividade: construção dos sonhos.Tinham que encher uma bexiga, escrever seus sonhos colocar dentro da bexiga e ao comando do professor fazer um circulo, jogar para cima sem deixar cair e depois proteger os seus sonhos. A seguir todos ficaram segurando as bexigas até que a monitora disse às crianças que elas tinham que estourar as bexigas, então enquanto umas tentavam proteger outros iam estourando. Então perguntei por que vocês estouraram porque não ajudaram e apoiaram os colegas protegendo os sonhos. Falamos que eles não podiam mudar o mundo, mas que podiam ter algumas atitudes diferentes e poderiam ajudar melhorar o local onde estavam e pedimos que escrevessem algumas coisas que achavam que poderiam fazer para colaborar para que o mundo fosse melhor. Algumas respostas dadas; “Ser amigo”, “ajudar o próximo”, “cooperar com as pessoas e respeitar não importa quem seja”, “respeitar as pessoas”, “ajudar o idoso”, “não bater em ninguém”, “não mexer com coisas que não presta”, “respeitar os colegas”, “não xingar”, “fazer amigos para não ter inimigos”, “a boa vontade de ajudar e ser ajudado”, “fazer a união de nosso bairro”, “ajudar a quem precisa de fazer mutirão de estudo social e escolar”, “fazer mutirão de limpeza e plantar plantas, árvores e flores”. Como última atividade do dia formamos 5 grupos cada um recebia um papel com os temas; tolerância, inclusão, bondade, honestidade e respeito a partir dos temas tinham que criar uma peça. A princípio pensamos que não ia dar certo pela demora e falta de união de alguns grupos, no final todos realizaram suas peças os grupos recebiam aplausos e perguntávamos para os que estavam assistindo qual era o assunto que o grupo queria nos passar e eles tinham que adivinhar, não acertaram apenas os temas como bondade e tolerância.
Quarto encontro: Fizemos um circulo e sugerimos as crianças e monitoras a possibilidade de montarmos um estatuto, eles concordaram e fizeram sugestões como; respeitar os professores, não brigar, xingar ou falar palavrão, respeitar os colegas, não fazer acepção de pessoas, não mexer nas coisas dos outros, ficar quietos quando alguém está falando, não zombar ou ridicularizar ninguém, reverência na hora do culto. Foi um clima agradável e praticamente todas as crianças participaram. Falamos da necessidade de se criar as sanções para as propostas estabelecidas como estatuto, mas as mesmas não eram por reciprocidade, uma que mais me chamou a atenção foi a sugestão de ficar em pé de castigo, e uma criança que estava próxima a mim disse que já tinha ficado em pé, não tinha gostado mas que funcionava, quando sugeri a mudança para outra sansão pediram para que eu escrevesse esta. Outro fato quando fizeram sugestão quanto a não zombar uma adolescente disse não chamar ninguém de piolhenta, fato que acontece com freqüência, pois algumas crianças as vezes vão para o núcleo com piolho.
Quinto encontro: Resolvemos fazer uma festa surpresa para as monitoras, pelo trabalho e dedicação das mesmas para com as crianças. As crianças e adolescentes confeccionaram um cartão desenhando, pintando e escrevendo a mensagem, ensaiaram uma música, algumas prepararam o lanche e ajudaram a servir. As monitoras se emocionaram, e agradeceram o carinho recebido.
Sexto encontro: Apresentação dos colegas novos. Fizemos um círculo e as crianças tinham que conversar com os colegas ao lado, saber do que mais gostavam, esporte, tipo de comida e o que gostariam de ser quando crescessem então deveriam apresentar para o grupo o colega ao lado. Algumas crianças a princípio não quiseram brincar, mas no transcorrer da mesma pediram para entrar. Alguns estavam tímidos, mas mesmo assim participaram. Na outra proposta cada criança deveria escrever num pedaço de papel algumas qualidades que via em seu colega, apesar de solicitar que houvesse respeito, que escrevessem qualidades e não defeito, um dos meninos escreveu um palavrão porque estava aborrecido com outro que o havia magoado mudamos de atividade. Fizemos a atividade salada mista, pedimos para que fizessem 2 colunas e para cada coluna passávamos informações com nome de frutas diferentes ao nosso comando eles tinha que formar grupos com os nomes das frutas dadas.
Sétimo encontro: Algumas crianças solicitaram e resolvemos dar algumas atividades de jogos com bola e escolhemos o futebol. A primeira atividade não deu certo, porque sugerimos um futebol de mãos dadas meninos e meninas e a maioria das meninas se recusou a ficar de mãos dadas com os meninos no jogo. Então partimos para a outra proposta, formamos 2 colunas e cada criança recebia um número assim que o número era falado pelo professor ela tinha que ir driblando a bola até fazer o gol. Algumas crianças ficaram tristes por não terem sido chamadas. Observação os xingamentos entre alguns é bastante comum, como: vai seu burro agora é sua vez.
Oitavo encontro: Atividades com bola nas mãos e bola nos pés. Impressionante como as crianças gostam de burlar as regras para levar vantagem. Eles gostam muito de jogar queimada, na hora de escolher os mais velhos querem sempre escolher time mais forte, são bastante competitivos.
Nono encontro: Oficina de cartões. Cada criança deveria desenhar, pintar e escrever uma mensagem para sua mãe. Cada uma recebeu também um sabonete no qual ela colocava adesivos e embalava. Neste dia ocorreu um fato curioso, uma pessoa levou algumas roupas e bolsas para doar e uma das meninas pegou várias, mas deu para uma outra que não tinha conseguido pegar nenhuma, fato não observado anteriormente. A maioria delas tem muita dificuldade em repartir.
Décimo encontro: Fizemos algumas atividades de cantiga de roda e siga o mestre, nas atividades de cantiga de roda as crianças menores participaram e gostaram já os adolescentes disseram que era brincadeira para criança e não participaram.
Décimo primeiro encontro: Na atividade proposta escravos de Jô, algumas das crianças tiveram dificuldade de coordenação motora. Fizemos uma variação usando o próprio corpo, ficou um pouco mais fácil para algumas. Na atividade coelhinho sai da toca nos deparamos com o mesmo problema anterior de que as meninas não querem dar as mãos para os meninos.
Décimo segundo encontro: Dividimos em 3 grupos e fizemos sorteio de uma peça, uma música e um cartaz – todos tinham que abordar o tema família. Foi muito produtivo, a dificuldade foi quanto à formação dos grupos, pois eles têm suas preferências e não gostam de trabalhar com os menores. Demoraram certo tempo para se organizarem mais depois se envolvem e gostaram do que estavam fazendo. Encenaram crianças carentes e uma das crianças fingiu que estava comendo comida do lixo, (este menino é criado pela avó e passa dificuldades), pareceu muito real. No final a estória criada por eles terminava bem todos queriam ser feliz e ter um lar e assim aconteceu.
Décimo terceiro encontro: Atividade de caça ao tesouro. As crianças foram separadas em 3 grupos e no final quando achavam o tesouro tinham que esperar que os demais grupos também encontrassem e todos dividiram com os demais outros grupos o prêmio, assim todos saíram ganhando. As crianças falaram que gostaram porque fizeram conta brincando, porque todos participaram. A outra atividade foi de circuito realizado na rua com pneus, cadeiras e garrafas de água. A maioria das crianças participou. Havia 2 grupos e a cena que se repetiu foi o tentar burlar regras para ganhar.
Décimo quarto encontro: Foi feita a brincadeira do zoológico para descontrair. Um fato observado é que alguns aproveitaram para mesmo na brincadeira agredir o colega. Falei do objetivo do nosso trabalho, do conhecimento que eles tinham adquirido sobre o bullying de que nós esperávamos que eles não permitissem este tipo de atitude entre eles, que desejávamos que fossem felizes e responsáveis por suas atitudes, desejávamos que tratassem aos outros como gostariam que fossem tratados. Levamos várias fitas de cetim branca escrito “paz” e pedimos para cada uma que tivesse o interesse de ajudar a disseminar a paz no local onde estivesse, fosse na escola, no lar ou com seus amigos. Pegasse a fita e o colega ao lado deveria amarrar em seu braço. Todos pegaram. Passei na TV as fotos e filmagem de algumas atividades que eles fizeram no transcorrer do nosso trabalho com eles. Perguntamos do que mais tinham gostado e disseram o nome de algumas atividades, alguns disseram que gostaram de tudo e outros que gostavam de brincar.
Em nossas atividades com as crianças trabalhamos com jogos, atividades corporais motoras e cognitivas, pudemos visualizar e testemunhar o prazer destes no envolvimento das atividades propostas. E desenvolvemos atividades onde se propunha construção de trabalhos que envolviam princípios como solidariedade, tolerância, inclusão, bondade, honestidade e respeito, não perceberam dificuldade na construção e execução dos mesmos, mas sim na compreensão e na necessidade de colocar em prática estes conceitos aprendidos. Acreditamos que o período de tempo trabalhado foi insuficiente para que ocorresse essa mudança de modo significativo. Além do que, vários são os fatores que exercem uma pressão sobre a vida destas crianças e jovens para que ajam com um determinado comportamento. Muitos têm lares desestruturados e violentos, não possuem afeto, alimentação adequada.
Análise dos resultados da pesquisa de bullying
As condutas que mais foram praticadas pelos meninos (bullies) foi o bullying direto (bullying físico – 66,66% e verbal - 33,33%). O resultado da pesquisa é semelhante ao apontado na literatura pela autora Fante (2004) que coloca como ordem de incidência do bullying; 1º verbal depois o físico e aponta o bullying direto como o comportamento mais adotado entre os bullies masculinos. As condutas de bullying que os meninos mais sofreram foi o bullying direto (bullying físico – 40% e verbal – 60%).
O comportamento mais adotado entre bullies do sexo feminino foi o bullying direto através dos maus tratos verbais e colocação de apelidos. Dados diferentes do encontrados na literatura que menciona o bullying indireto como o comportamento mais praticado entre as meninas, como as exclusões e segregações. O resultado trouxe que 31,81% sofreram bullying verbal – através de colocação de apelidos; 40,9% sofreram bullying físico e 22,72% bullying indireto – através da exclusão de alguém do grupo de amigos(as).
O comportamento mais sofrido entre as meninas (vítimas) foi o bullying físico ou direto com 50% das incidências com agressões físicas; 45,45% bullying físico ou direto – com alguém que pegou, escondeu o estragou um objeto seu; 45,45% bullying verbal ou direto – sofrendo colocação de apelidos e 36,36% bullying verbal ou direto – com alguém as destratando verbalmente através de xingamentos e insultos.
Verificou-se que algumas crianças, apesar de passarem a compreender o que significava e qual a gravidade do problema relacionado ao bullying, mesmo assim pareciam insensíveis com o sentimento dos outros, não queriam ou conseguiam modificar sua conduta agressiva. Enquanto outros cobravam seus colegas quanto a condutas que julgavam inapropriadas como apelidos, falta de respeito ou de solidariedade, proporcionando assim um ambiente mais agradável.
Foi observado que alguns alunos que se envolviam com comportamentos agressivos, eram punidos e essas punições não eram por reciprocidade, muitas vezes recebiam até suspensões. Lopes Neto (2005), diz que aos autores da agressividade devem ser dadas condições para que desenvolvam comportamentos mais amigáveis e sadios, evitando o uso de ações puramente punitivas, como castigos, que acabam por marginalizá-los. Havia também uma grande dificuldade nas atividades que envolviam o toque como; abraço, dar as mãos. Vimos que apesar da carência afetiva alguns não estavam preparados para este tipo de manifestação.
Considerações finais
Coincidindo com a literatura, os dados coletados em nossa pesquisa mostraram que o comportamento mais realizado entre os meninos foi o bullying direto, através de xingos, insultos, agressões físicas, apelidos e exclusões do grupo de amigos. Já entre as meninas a literatura aponta o bullying indireto como o mais praticado enquanto que em nossa pesquisa o resultado obtido foi a prática do bullying verbal/direto, através dos apelidos, seguindo-se de agressões físicas (bullying físico/direto) e exclusões do grupo de amigos (as) (bullying indireto).
É muito triste para qualquer sociedade ou grupo de pessoas admitirem que suas crianças e jovens não estejam seguros e, pior ainda, que a violência a que estão expostas ocorre não nas ruas, mas no ambiente que deveria ser a extensão da sua própria casa: a escola, que deveria ser um lugar que deveria estar cercado de todas as condições necessárias para o seu completo desenvolvimento intelectual, físico, social e afetivo, e bem debaixo dos olhos de professores, diretores, coordenadores e demais agentes educacionais.
Os fatores desencadeadores do bullying apresentados na literatura também puderam ser evidenciados nesta pesquisa. São eles: ambiente familiar desestruturado e violento, baixo rendimento escolar, exposição a uma mídia cujos programas de entretenimento discriminam, intimidam, satirizam ou ridicularizam grupos ou indivíduos diferentes do padrão estabelecido por ela, constituindo-se num modelo negativo, a não punição desse tipo de violência (bullying), deixando de praticar a justiça e por último a própria sociedade, que considera como legítimo modelo de ascensão social a seleção natural (a sobrevivência do mais forte ou mais apto).
As atividades planejadas e levadas a cabo junto a esse grupo de alunos através dos jogos e brincadeiras levou-os a vivenciar um ambiente com menor violência, mais seguro e acolhedor, desenvolvendo comportamentos que expressassem maior consideração pelas necessidades do outro através da prática da solidariedade e do benefício do trabalho em grupo, permitindo-lhes refletir e comparar sua conduta anterior com a atual e decidir sobre como passariam a se comportar uns com os outros.
Ao final, verificou-se que as crianças entenderam qual era o objetivo da proposta realizada porque com as próprias palavras diziam ser necessário colaborar para que no ambiente deles houvesse amizade, amor, paz e respeito de uns para com os outros. Porém, o resultado obtido poderia ter sido mais significativo se houvesse o envolvimento da escola e da família, e por um período de tempo maior empregado na pesquisa-ação para que pudessem ser consolidada essa consciência adquirida.
Constantini (2004) fala da importância de construir contextos educativos significativos para que através do aspecto relacional crie-se um clima educacional positivo,significativo ajudando no desenvolvimento do adolescente, criando contextos em que se promovam as habilidades cognitivas, emocionais e sociais, benéficas ao desenvolvimento da pessoa. Para a vítima de bullying um contexto significativo é aquele que consegue protegê-la das intimidações e humilhações e permita que ela desenvolva com menos tensões sua capacidade de autodefesa e para o agressor o contexto que mostre suas ações transgressivas e o induza a aprender regras básicas da vida em comum da sociabilidade e da solidariedade, aprenda a respeitar ao outro, mudança de atitudes, controle dos impulsos.
Como educadores, auxiliar nestes contextos significativos é nossa responsabilidade, contribuir para a formação de uma sociedade mais segura e sadia, cabendo a cada um fazer o melhor dentro da sua esfera de influência.
Notas
O termo significa: Abuso coletivo.
Maldade, violência.
Comportamento agressivo.
Referências bibliográficas
ABRAPIA, 2005. Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Disponível em www.abrapia.org.br/www.bullying.com.br, acessado em 11/11/2007. Acesso em 15/06/2007.
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digital · Año 14 · N° 140 | Buenos Aires,
Enero de 2010 |