A dança como conteúdo nas aulas de Educação Física no período noturno La danza como contenido en las clases de Educación Física en el turno noche Dance as a subject in physical education classes at night. |
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*Graduando em Educação Física Licenciatura Plena Membro do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física (NEMAEF/CEFD/UFSM) Pesquisador do CNPQ. **Graduada em Educação Física Licenciatura Plena Membro do Laboratório de Cineantropometria (LABCINE/CEFD/UFSM) Membro do Laboratório de Biomecânica (LABIOMEC/CEFD/UFSM) Participante do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física (NEMAEF/CEFD/UFSM). ***Doutorado e Mestrado em Ciências do Movimento Humano (CEFD/UFSM) Especialização em Aprendizagem Motora (CEFD/UFSM) Graduação em Educação Física Licenciatura Plena (CEFD/UFSM) Líder do Núcleo de Estudos em Medidas e Avaliação da Educação Física (NEMAEF/CEFD/UFSM) |
Patrick Ydner Martelli* Tiane Lorenzen dos Santos** Luciane Sanchotene Etchepare Daronco*** (Brasil) |
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Resumo Objetivou-se verificar se os alunos do Ensino Médio do Noturno têm um bom relacionamento entre eles e com o professor nas aulas de dança. Buscou-se também, verificar se as aulas de dança que eram oferecidas na disciplina de Educação Física faziam com que o relacionamento entre os mesmos melhorasse. O estudo foi realizado em uma Escola Estadual de Ensino Médio da cidade de Santa Maria, utilizando-se de questionários. Encontrou-se que a dança contribui na formação dos alunos oportunizando maior comunicação entre eles e entre alunos e professores, disciplinando os alunos e oportunizando vivências corporais. Unitermos: Dança. Educação Física. Integração
Resumen
El objetivo era determinar si los estudiantes
de secundaria que concurren AL turno noche tiene una buena relación
entre ellos y com el profesor en las clases de baile. También se deseaba
saber si las clases de danza que se ofrecen en la Educación Física
significaban una mejor relación entre ellos. El estudio fue realizado en
una Escuela del Estado de Santa María, mediante un cuestionario. Se
encontró que la formación ayuda a los estudiantes y permite una mejor
comunicación entre ellos y entre los estudiantes y profesores,
disciplinando a los estudiantes, permitiendo que experimenten vivencias
corporales.
Abstract Aimed to ascertain whether the high school students of the Night have a good relationship between them and the teacher in dance classes. It also sought to ascertain whether the dance classes that were offered in Physical Education meant that the relationship between them improved. The study was conducted in a State School of Santa Maria, using questionnaires. It was found that dance training helps students allowing a better communication between them and between students and teachers, disciplining students, allowing a body experiences. Keywords: Dance. Physical Education. Integration |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
Dançar é estabelecer uma ligação do ser humano com a sua estabilidade. O homem só é homem quando através de qualquer linguagem, reinventa outras linguagens, conceitos de estética, de corpo e de mundo. Pensando na prática pedagógica, pode-se viabilizar ao Ser Humano que a dança desenvolve-se mais esteticamente do que instrumentalmente, portanto, mais pela sensibilidade do que pela lógica, ou seja, experienciar ou sentir no dançar (KUNZ 1998). Segundo Medina et al (2008), a dança pode ser entendida como uma forma de movimento elaborado, que fornece elementos ou representações da cultura dos povos, sendo considerada uma manifestação dos hábitos e costumes de uma determinada sociedade. No entanto, Gehres (1997) descreve a situação da dança nas escolas estatais das redes de ensino fundamental e médio do Brasil apresentando dados que apontam para a predominância da dança como uma atividade extra-curricular estabelecida de forma diversificada, com maior incidência dos centros de artes escolares da rede municipal ou estadual e dos grupos de dança com apoio estrutural e pedagógico. Do mesmo modo Brasileiro (2002-2003) afirma que a dança é minimamente tratada como componente folclórico no interior das escolas, seja pela Educação Física ou pela Educação Artística/Arte Educação; raramente é valorizada por ter um conhecimento próprio e uma linguagem expressiva específica.
Pode-se perceber também, que apesar de a dança estar presente no espaço escolar, ela é apenas um elemento decorativo, sendo trabalhada unicamente nos eventos e amplamente reconhecida como o papel das crianças nas festividades escolares, não se refletindo sobre a importância de seu conhecimento para a formação dos alunos. (BRASELEIRO, 2002-2003). Isto acontece, segundo Gariba e Franzoni (2007) principalmente devido ao despreparo na formação dos profissionais, e, além disso, por causa da ausência de espaço físico.
Feijó (1996) relata que a dança ainda é considerada uma atividade extra-curricular nas escolas, mesmo estando formalmente incluída nas disciplinas de Educação Física pela lei 5692/71, sendo de grande importância desenvolver didaticamente conteúdos que ampliem o campo de conhecimento tematizado na dança, contribuindo para a construção de uma proposta pedagógica que propicie o sentir na experiência do “movimentar-se”. Para Silva e Shawartz (2000) o valor educacional da dança está muito além da simples associação desta ao domínio técnico, tendo como elementos importantes a serem considerando a expressão, a sensibilidade e a criatividade, visando um desenvolvimento gradual e progressivo, na medida em que vão se desenvolvendo as potencialidades dos alunos.
Do ponto de vista curricular, há predominância da dança como conteúdo da disciplina Educação Física e sua introdução incipiente como conteúdo da disciplina Educação Artística. Contudo, a observação da história destas duas disciplinas nas escolas brasileiras revela a hegemonia da ginástica e do desporto como conteúdo da Educação Física e a do desenho geométrico como conteúdo privilegiado pela Educação Artística. (BARBOSA, 1978)
Como Barbosa (1991), entende-se que “assim como a matemática, a história e as ciências, há a arte de um domínio, uma linguagem, uma história, se constituindo, portanto, um campo de estudo específico e não apenas em mera atividade”, sendo a dança uma das formas da cultura corporal de diversos povos inseridos nesse universo da cultura/arte. Para Silva e Shawartz (2000), para um bom desenvolvimento da prática da dança é necessário a exploração dos diversos componentes, como a criatividade, a formulação de novos movimentos e a repetição de movimentos já aprendidos, facilitando assim, a apresentação de elementos interpretativos e expressivos na organização e composição das aulas, exigindo um grande esforço do profissional no sentido de estabelecer as prioridades do ensino e a relevância das temáticas a serem desenvolvidas.
Kunz (1998) explicita que a Educação Física tradicional encontra uma separação das práticas/vivências entre os sexos, que se estabelece baseada no preconceito da desigualdade, e mais do que tudo, no da inferioridade feminina. Isto quer dizer que, quando uma diferença entre sexos justifica a (não) participação de um ou outro sexo em vivências de movimento que lhes proporcionariam descobertas de potencial, estabelece-se a discriminação e não o atendimento à individualidade/singularidade, como sempre foi reivindicado pelos professores, ou por preconceito, ou por incapacidade de lidar com as diferenças de sexo e/ou de gênero.
A dança possibilita a compreensão/apresentação das práticas culturais de movimento dos povos, tendo em vista uma forma de auto-afirmação de quem fomos e de quem somos ela proporciona o encontro do homem com a sua história, seu presente, passado e futuro, e através dela o homem resgata e atribui novos sentidos a sua vida. (KUNZ,1998)
No Brasil segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 1996), artigo 26, a Educação Física integra á proposta pedagógica da escola, sendo componente curricular obrigatório da Educação Básica, sendo sua prática facultativa ao aluno que cumpre a jornada de trabalho igual ou superior a 6 horas, que seja maior de 30 anos de idade, que estiver prestando serviço militar inicial ou que em situação similar estiver obrigado a prática de Educação Física, que seja amparado pelo decreto número, 1044 de 21 de Outubro de 1969, facilitando assim a não participação dos alunos nas aulas de Educação Física, conseqüentemente a não participação das vivências corporais proporcionadas pela dança, que como afirmam Leitão e Souza (1995), são capazes de “suavizar”, “sensibilizar”, “dar leveza e sutileza” aos homens. Sobre isso, um estudo realizado por Oliveira em 2000, confirmou a certeza de que a disciplina de Educação Física é totalmente viável no Ensino Noturno e que pode ser desenvolvida com a utilização de ações participativas sem maiores dificuldade e/ou problemas.
Este estudo propõe então o seguinte problema: A dança de salão como conteúdo nas aulas de Educação Física auxilia no relacionamento entre os alunos do período noturno? Este estudo torna-se importante tendo em vista que poderá demonstrar os benefícios das aulas de dança, facilitando o aceite da mesma pela escola, para que ela passe a ser um conteúdo realmente trabalhado. A pesquisa tem como objetivo verificar a interação sócio-afetiva de alunos do ensino noturno a partir de aulas de Dança de Salão desenvolvidas em ambiente escolar.
Decisões metodológicas
Participaram desta pesquisa 2 turmas mistas, totalizando 30 alunos do Ensino Médio do turno da noite, da Escola Estadual Manoel Ribas da cidade de Santa Maria (RS), praticantes da Oficina de Dança de Salão oferecida pela Disciplina de Educação Física.
Para a realização da pesquisa foi utilizado um questionário qualitativo, com questões fechadas, envolvendo questões sobre o relacionamento entre aluno/aluno e aluno/professor. Um questionário foi aplicado no primeiro dia de aula, e outro no último dia de aula de Dança de Salão, sendo que os alunos não precisaram se identificar para responder o mesmo.
Resultados e discussões
No primeiro questionário seis alunos afirmaram não gostar de Dançar, mas com o desenvolvimento das aulas, eles mudaram de opinião, sendo que apenas um continuou afirmando não gostar de dançar. Esta questão pode estar associada ao aumento da participação da turma em aula, já que 97% demonstraram uma participação mais ativa no decorrer das aulas quando comparando os dois questionários, ou seja, com a prática das atividades e com as vivências proporcionadas, os alunos passaram a ter uma maior participação nas atividades desenvolvidas.
Com a integração que as aulas de dança possibilitam os alunos passam a se conhecer mais, e isso foi diagnosticado no segundo questionário, pois no primeiro questionário 24 alunos afirmavam não conhecer todos os colegas, e no segundo, esse numero caiu para apenas 4. A relação entre eles também teve um aumento positivo, pois, primeiramente, 12 alunos relataram não ter um bom relacionamento com os demais colegas, e no enceramento das aulas, apenas um desses alunos continuava com a mesma opinião. Esse resultado já era previsto, pois no primeiro questionário, 97% da turma esperava uma maior integração, e, os mesmos 97% afirmaram que esta melhora foi devido as aulas de dança realizadas nas aulas de Educação Física. Além disso, o relacionamento com o professor que no começo do semestre era relatado como bom por 64% dos alunos, teve um aumento positivo, alcançando 97%.
Além dos resultados encontrados, estudos mostram que a introdução de atividades corporais artísticas na escola, ou seja, a realização de trabalhos de Dança-educativa ou dança-expressiva busca o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras dos alunos, como de suas capacidades imaginativas e criativas. As atividades de dança permitem que o corpo expresse suas emoções e estas podem ser compartilhadas com outros colegas que participam da aula. (STRAZZACAPPA, 2001)
Com os resultados encontrados, constatou-se que as aulas de dança contribuem muito para a formação dos alunos, pois através dela e das vivências corporais que ela proporciona, os alunos conseguem interagir mais, aumentando o seu círculo social e tendo maior oportunidade de comunicação com os colegas. Do mesmo modo, as aulas de dança promovidas pela Educação Física conseguem também disciplinar os alunos, já que, com o tempo de prática, eles contribuem mais com o andamento das atividades propostas e participam mais ativamente, aumentando a sua gama de conhecimento e até mesmo a relação e o diálogo com o professor, que também pode trazer benefícios para sua formação. Além de todos estes resultados positivos, a dança é importante para a formação humana na medida em que possibilita experiências para os alunos e novos olhares para o mundo, envolvendo a sensibilização e conscientização de valores, atitudes e ações cotidianas na sociedade, ampliando o rol de conhecimentos de um indivíduo pela relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo, do desenvolvimento de suas potencialidades humanas. (GARIBA E FRANZONI, 2007)
Assim como afirma Brasileiro (2002-2003), faze-se necessário o acesso ao universo da dança desmistificando a sua imagem de espetáculo folclórico e contemplativo. É preciso entender a dança como conhecimento significativo para as ações corpóreas que podem ser exploradas pelo universo de repertórios populares, folclóricos, clássicos e contemporâneos, bem como pra improvisação e pela composição coreográfica.
Com esta pesquisa fica clara a importância das aulas de dança na Educação Física escolar, já que ela pode eliminar as divergências entre os alunos (que sempre estão presentes no âmbito escolar), tornando a escola um local não apenas de conhecimento científico, mas também cultural e corporal.
As aulas de dança, quando presentes na escola, podem ajudar os alunos a ter uma noção de bom comportamento na sociedade, respeitando as limitações dos colegas, e aprendendo a conviver com as diferenças existentes. Fica claro, que é necessário rever os projetos políticos pedagógicos das escolas, para que elas contemplem a dança como um conteúdo indispensável da Educação Física escolar, objetivando todos os benefícios que ela pode vir a proporcionar.
Bibliografia
BARBOSA, Ana Maria. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. Edicação. São Paulo: Perspectiva, 1991.
FEIJÓ, M.G. A dança como conteúdo integrante da Educação Física enquanto corporificação do mundo sensível. 1996. Paginação. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. Ano da defesa.
GUERRES, Adriana de F. Dançar nas Escolas apesar das Escolas: Projeto em andamento. In: CONBRANCE, 10, 1997, Goiânia. Anais... Goiânia, GO, 1997. Volume e página.
BRASIL. LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Artigo 26, decreto n° 1.044, de 21 de Outubro de 1969. Indicação da publicação oficial. Ex: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, v.126, n.66, p.6056, 13 abr. 1972. Seção 1, pt. 1.
LEITÃO, Fátima C. Do Vale; SOUZA, Iracema Soares de. O homem dança... Motrivivência, Local, v. 7, n. 8, p.257, mês, 1995
SARAIVA KUNZ, Maria do Carmo ET AL. Improvisação e Dança. Florianópolis: Ed. UFSC, 1998. Livros com mais de três autores: Entrada pelo primeiro autor, seguido da expressão et al. Título. Local: Editora, ano. Exemplo: TANI, Go et al.
SILVA, Maria Grabiela Mazziotti Soares da; SHAWARTZ, Gizele Maria. Por um ensino significativo da dança. Revista Movimento – ano VI- nº 12 – 2000/1
OLIVEIRA, Amauri Aparecido Bássoli de. A Educação Física no ensino médio – período noturno: um estudo participante. Revista Movimento – Ano VI, nº 12, 2000/1.
STRAZZACAPPA, Márcia. A educação e a fábrica de corpos: a dança na escola. Cadernos Cedes, ano XXI, nº 53, abril/2001.
BRASILEIRO, Lívia Tenório Brasileiro. O conteúdo “dança” em aulas de educação física: temos o que ensinar? Pensar a Prática. 6: 45-58, jul./jun. 2002-2003.
GARIBA, Charmes Maria Stalliviere; FRANZONI, Ana. Dança escolar: uma possibilidade na Educação Física. Revista Movimento. Porto Alegre. V. 13, p. 155-171, maio/agosto de 2007.
MEDINA, Josiane; RUIZ, Marcos; ALMEIDA, Danielle B. L. de; YAMAGUCHI, Andréia; MARCHI Jr, Wanderley. As representações da dança: uma análise sociológica. Revista Movimento, Porto Alegre, v. 14, nº. 02, p. 99-113, maio/agosto de 2008.
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