Atividade física escolar e gênero: efeitos sobre fatores de autopercepção e motivação em crianças Actividad física escolar y género: efectos sobre factores de autopercepción y motivación en niños School physical activity and gender: effects on factors of motivation and self-perception in children |
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*Mestranda/o em Ciência da Motricidade Humana, membro do Laboratório de Nueromotricidade e Perfomance Motora (LANPEM). Universidade Castelo Branco/RJ **Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Pesquisador do Laboratório de Neuromotricidade e Perfomance Motora (CNPq). Universidade Castelo Branco/RJ ***Doutor em Fisoterapia Membro conveniado do Laboratório de Neuromotricidade e Perfomance Motora (CNPq), Universidade Castelo Branco/RJ Pesquisador do Centro Universitário de Caratinga – MG ****Doutor (Ph.D) em Aprendizagem e Desenvolvimento Motor Coordenador do Grupo de Pesquisa do Laboratório de Neuromotricidade e Perfomance Motora (CNPq). Universidade Castelo Branco/RJ (Brasil) |
Carla da Silva Reis Alves* Gisele de Paula Vieira* Diogo Burgos Saar* Mauricio Rocha Calomeni** Marcus Vinicius de Mello Pinto*** André Luis dos Santos Silva*** Vernon Furtado da Silva**** |
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Resumo Este estudo examinou os efeitos da prática assídua de educação física sobre as variáveis, motivação e autopercepção, comparativamente entre gêneros. A amostra foi composta por dois grupos, cada um incluindo 20 escolares, entre 10 e 11 anos de idade, todos voluntários à participação. A inclusão nos grupos deu-se em relação ao gênero e à condição de assiduidade às aulas. O instrumento de avaliação foi um questionário validado, contendo 20 perguntas, 10 delas associadas ao fator motivação, e 10, ao fator autopercepção de competência de participação nas aulas de educação física. A valoração se dispersava em relação à Escala de Lickert, com uma pontuação de 1 a 5. Uma Análise de Variância efetivada sobre os dados revelou-se significativa em termos de condições com p<0.05, mas não em relação ao fator gênero. Também, não se observou interação entre gênero e condições. Uma outra análise, de correlação, evidenciou-se significativa, com p<0.05, mostrando causalidade entre motivação e autopercepção. Tanto, os meninos quanto as meninas, se beneficiaram do gostar de educação física para se mostrarem motivados e, consequentemente, com boa percepção sobre a condição de efetividade na prática de educação física. Unitermos: Autopercepção. Motivação. Aprendizagem motora. Educação Física.escolar.
Abstract This study examined the effects of the assiduous practice of physical education on the motivation and self perception variables, compared between genders. The sample comprised two groups, each including 20 schoolars, between 10 and 11 years of age, all volunteers to participate. The inclusion in the groups was in relation to gender and the condition of school attendance. The evaluation instrument was a questionnaire of 20 questions, 10 of them associated with the motivation factor, and 10, the self-perception regarding the effectiveness of participation in physical education classes. The valuation is dispersed on the Lickert scale, with a score from 1 to 5. An analysis of variance done on the data proved to be significant in terms of conditions with p <0.05, but not for the gender factor. Also, there was no interaction between gender and condition. Another correlation analysis showed to be significant, with p <0.05, revealing causality between motivation and self perception. Both the boys as girls, have benefited the likes of physical education to be highly motivated and, therefore, with good understanding of their effective condition in physical education classes participation. Keywords: Self-perception. Motivation. motor learning. Physical Education practice |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010 |
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Introdução
Os fatores físicos, biológicos, psicológicos e sócio-ambientais influenciam o comportamento participativo e a performance esportiva e hábil-motora. Esta declaração segundo Weiss (1997), corrobora com a afirmativa da interação de dois tópicos importantes no desenvolvimento do ser humano que são a autopercepção e a motivação. Ambos, fatores psicofisiológicos interativos no dia-a-dia de qualquer indivíduo e substratos que podem mediar o sucesso ou o fracasso nas atividades sociais do homem.
Estas expectativas sobre estes dois fatores componentes das atividades inerentes às relações humanas precisam formalmente constar no conteúdo do aprendizado escolar e devendo ser vivenciados em variedades práticas e mentais, como componentes moldadores da formação do caráter e de uma cognição ampla, sólida e equilibrada da criança.
Teorias e evidências da literatura desenvolvimentista têm dado substantividade à noção de que tal desenvolvimento está, em grande parte, relacionado a dois grandes condicionantes do equilíbrio do viver. Ou seja, aos objetivos pessoais determinados e às condicionantes do estilo de vida. Estes quando adequados, tendem a proporcionar experiências mais saudáveis e positivas, resultando em uma melhora da performance global.
Mais especificamente relacionadas com o ambiente da Educação Física, as variantes autopercepção positiva e motivação intrínseca tendem a influenciar outras que se apresentam no comportamento da criança sob forma de atitudes positivas, facilidade de lidar com situações estressantes, além de desenvoltura nas atividades físicas propriamente ditas (WIGGINS, 1987). No contexto dessa referida literatura, faz-se notória, em muitas das suas partes, uma sistematicidade em se relacionar autopercepção e motivação, ou vice-versa, com sucesso em atividades motoras desportivas.
Por exemplo, Weiss e Horn (1990) estudaram a precisão da autopercepção infantil, e sua relação com a aquisição de tal tipo de habilidades. Eles descobriram que as crianças que subestimavam suas competências motrizes, mostravam alto nível de ansiedade, e perda de autocontrole e baixo índice de resposta a desafios, quando comparadas a outras crianças que as superestimavam. Weiss, McAuley, Ebbeck e Wiese (1990) encontraram uma forte relação entre esta mesma variável, ou seja, autopercepção e descobertas acidentais, em momento de performance em esportes.
Especificamente, a criança que se vê positivamente em sua autopercepção, faz mais descobertas acidentais (criatividade) e obtém mais sucesso em suas ações. Este comportamento tende a ser mantido por uma definição mais interna, estável e controlável do que na criança que tem baixa autopercepção. Mais à frente, Weiss (1997) investigou, também, a relação entre autopercepção e competência em autocontrole, motivação intrínseca e aquisição de habilidades físicas quando participando de uma variedade de esportes. Resultados revelaram que crianças com melhor autopercepção tenderam a obter escores mais altos na aquisição de habilidades motoras e maior orientação motivacional intrínseca, do que as outras com baixo grau de percepção neste item.
Percepção de si mesmo, no contexto da psique humana é um dos componentes do seu autoconceito, e uma estrutura cognitiva dimensionada sobre experiências passadas, mesmo sendo elas um produto de pura imaginação. Essas experiências, ou representações mentais do autoconceito são utilizadas por um indivíduo na sua auto-regulação e controle das informações que utiliza na elaboração de definições sobre si e sobre o seu comportamento (NIEDENTHAL E BEIKE,1997).
Assim, a percepção por ser um componente cognitivo utilizado em todo tipo de comportamento do homem, a autopercepção significa, a cognição que um indivíduo possui, em gradações esquemáticas, sobre traços perceptivos que possui das características e habilidades possuídas ou que pretenda alcançar.
Caracterizando-se, conforme retrata a literatura em psicolologia das relações humanas, o fator autoconceito, como uma estruturação cognitiva e moldada por formações de esquemas de memória concernentes as variáveis das relações sociais do homem, os fatores autopercepção e motivação podem ser tidos como domínios orgânicos de gradação não sistemática, mas que podem ser mantidas em níveis regulares, altos ou baixos dependendo de condições orgânicas e ambientais (NEZLEK E PLESKO, 2001). Em assim sendo, uma estruturação ambiental de bom nível, incentivos, feedback sobre competência e oportunidades para desenvolvimento são elementos primordiais à manutenção da motivação da criança e, aportes significativos para benefícios sobre a sua autopercepção.
A ambiência da educação física escolar é, pressupostamente, uma das mais ricas em termos de oferecimento de recursos para experiências multivariadas, que abraçam todo o leque de variantes que se relacionam com o desenvolvimento da criança. E graças à natureza lúdica, desafiante e envolvente que as atividades das aulas tendem a oferecer é de se esperar que bons níveis emocionais possam decorrer a medida em que a mesma avança em interação com seus pares e, quando da percepção de melhora em performance.
O resultado de uma participação, entendida, como efetiva, agradável e que traduza uma ampliação em contatos sociais positivos serve, quase sempre, de referência para a manutenção da aderência e motivação para persistir. De uma certa forma, os desafios por melhor performance, à competição entre os pares, o próprio reconhecimento de superação, representam alguns dos motivos que mantêm a criança em efetiva participação.
Por exemplo, Weiss (1997) encontrou uma forte relação entre autopercepção e motivos para participação competitiva, em jovens ginastas. Especificamente, atletas que eram positivos ao analisarem a sua competência física, estes identificaram ser o desenvolvimento de habilidades, a principal razão da sua participação no esporte. Por outro lado, aqueles que registraram os mais altos índices de aceitação pelos colegas, definiram que o espírito de equipe era o fator que os mantinham participando. Como se pode perceber, a motivação para a participação em esporte está, de certa forma, atrelada a percepção de competências e esta, por sua vez, contribui para a manutenção da motivação para se manter participando.
Uma análise resumida sobre os fundamentos teóricos associados às variantes interativas no desenvolvimento da criança institui uma hipótese relacional entre as tarefas que compõem as aulas de educação física, autopercepção e motivação. A primeira, como objeto relacional e meio do processo educativo. A segunda, caracterizando-se como uma variante cognitiva e referencial às interpretações necessárias à integração de um indivíduo no contexto daquele processo e, a terceira, um “status” psico-fisiológico de gradação influenciável pela ambiência aonde o processo se desenvolve, bem como pelo nível de equilíbrio do organismo psíquico.
Considerando-se que estes três fatores interagem entre si, e de certa forma, um podendo explicar o outro, uma hipótese que se pode formular em termos desenvolvimentistas é a de que crianças que possuem uma autopercepção positiva sobre a sua capacidade em educação física deverão ter níveis de motivação mais positivos, quando comparadas à crianças, com esta autopercepção negativa. Além disso, o fator gênero deverá ser objeto de contraste em termos destas relações, quando da comparação da autopercepção de meninas à de meninos.
Amostra
A amostra foi composta por 40 (quarenta) indivíduos divididos igualmente por gênero, na faixa etária entre 10 a 11 anos, estudantes de escolas particulares localizadas no estado do Rio de Janeiro, sendo todos voluntários, e autorizados pelos responsáveis através de preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido. Além disso, conforme apreciado pelos seus professores, estes apresentavam histórico de boa saúde mental e física. Em outras palavras, capazes de executar os testes sem dificuldade orgânica que pudesse impedi-los de compreender e emitir respostas em razão dos itens constantes nos questionários de avaliação.
Todos os procedimentos éticos relativos a amostra seguiram a lei 196/96, tendo a presente pesquisa sido aprovada pelo comitê de ética as Universidade Castelo Branco UCB/RJ.
Instrumento
Para a coleta de dados utilizou-se um questionário denominado Teste de Motivação/Autopercepção, validado e adaptado por Singer (1987). O referido instrumento é constituído de: instruções iniciais para os avaliados, instruções finais para os instrutores e, ainda, dez questões fechadas. Cada questão tem valor variando de 1 a 5, de forma que, ao responder às questões o testado marque um valor numérico que melhor corresponda à sua condição de autopercepção e/ou motivação naquele momento.
Procedimentos
Preliminarmente foram selecionadas as escolas que apresentavam o mesmo nível social e, em seguida, solicitadas as permissões da direção dos colégios, assim como dos pais para a aplicação do questionário. Os sujeitos foram selecionados aleatoriamente todos na faixa etária de 10 a 11 anos. Em seguida, foi esclarecido aos alunos a natureza da pesquisa e os procedimentos a serem adotados. Após certificação de que houvera entendimento por parte de todos, iniciou-se a leitura em voz alta, item por item, para que fossem marcados os tópicos de acordo com a leitura do questionário.
As dúvidas interpretativas que apareceram foram esclarecidas no momento do preenchimento do instrumento. Os questionários foram recolhidos e os dados analisados e separados por gênero, e, ainda, por grupos, de acordo com o objetivo das perguntas realizadas.
Estatística
O tratamento estatístico do presente estudo foi realizado por meio do programa SPSS 10.0. Foi realizada uma ANOVA two-way para verificar se existia diferença entre os gêneros em termos de motivação e autopercepção, quanto à prática de educação física. Também, utilizou-se a Correlação de Pearson buscando-se, com ela, a verificação de existência ou não, de efeito causal entre as variantes, motivação e autopercepção. Uma estatística descritiva foi efetivada com o objetivo de se comparar, previamente, os níveis de respostas entre gêneros e, ainda, auxiliar a interpretação dos resultados. Foi instituído o índice de α ≤ 0,05 para o teste da hipótese principal. Dados considerados espúrios não foram considerados nos procedimentos estatísticos realizados.
Resultados e discussão
Após a coleta e análise dos dados, foram encontrados os resultados dispostos na tabela abaixo:
Tabela 1. Valores médios e desvios-padrão dos escores dos grupos masculino e feminino nas duas condições psicofisiológicas estudadas.
Condições psicofisiológicas
Gênero Masculino
Média/DP
Gênero Feminino
Média/DP
Motivação
4,54 ± 0,315
4,7 ± 0,5292
Autopercepção
3,78 ± 0,726
3,55 ± 0,6597
Verifica-se na Tabela 1, que os sujeitos do gênero feminino tiveram uma tendência a uma maior motivação e autopercepção com relação às aulas de educação física do que os indivíduos do gênero masculino. Para efeito de visualização simplificada, estes mesmos dados estão dispostos na figura abaixo.
Figura 1. Valores médios dos grupos masculino e feminino nas duas condições estudadas, motivação e autopercepção
A partir da Análise de Variância efetivada na modalidade two-way, verificou-se, que apesar das diferenças entre os grupos, observáveis na Tabela 1, estatisticamente no que se refere ao fator gênero, a diferença não foi significativa, sendo p>0.05. Todavia, vê-se também que esta diferença em muito se aproximou da referência para aceite da hipótese substantiva, a qual presumia a possibilidade dos indivíduos masculinos terem uma melhor autopercepção das suas competências nas atividades de educação física do que as suas colegas. Da mesma forma, a verificação da interação entre gêneros e condições não foi significativa (p>0,05), conforme também mostrado na Tabela 2.
TABELA 2. Resultados da Análise de Variância utilizada sobre os escores dos grupos medidos com o uso
dos questionários de Motivação e autopercepção em referência às aulas da disciplina educação física
Fonte
Soma dos quadrados
GL
Quadrado da média
F
Significância
Gênero
1,275
1
1,275
3,799
,055
Condições
11,026
1
11,026
32,847
,000
Gênero e condições
6,125E-03
1
6,125E-03
,018
,893
Erro
25,512
76
,336
No que concerne à relação entre motivação e autopercepção em referência a participação nas aulas de educação física, o resultado foi significativo, com p<0.05, com revelação de uma maior motivação ocorrendo para o gênero feminino. Este resultado direcionou o trabalho estatístico, para a efetivação de uma correlação, utilizando-se os escores obtidos, pelos dois grupos, nos testes de motivação e autopercepção.
A análise dos pares de escores dos 40 indivíduos indica a existência de uma correlação estatística positiva, determinada pelo teste de Pearson, entre esses pares. Os índices encontrados foram r = 0,8904, gl 38, p<0,05.
Esta significância correlacional dá suporte aos achados da literatura que indicam ser, a motivação, um forte mediador de autopercepção. No caso aqui, estudando-se o grau de causalidade da motivação sobre a variante autopercepção, por meio do coeficiente de determinação pode-se estabelecer que o efeito é, realmente, muito grande, com o R2 definindo um valor de quase 80%.
Isto é, o fato dos membros dos dois grupos revelarem um bom nível de autopercepção é garantido, em grande parte, pela condição de uma motivação alta, sendo esta última, resultante do gosto pela educação física. Analisada sob outro viés poder-se-ia aqui afirmar que a participação nas aulas de educação física faz gerar um bom estado de motivação, o qual por sua vez, se reflete em termos de um bom nível de autopercepção ou vice-versa, como um ciclo no qual um fator influencia o outro em reciprocidade contínua.
Conclusão
Com base nos resultados referentes à presente pesquisa, poder-se-ia dizer que ambos os grupos, meninos e meninas, se mostraram bastante motivados e denotaram uma boa autopercepção considerando-se que o resultado do teste motivacional apresentou uma média maior e dentro do percentil 90, enquanto que os valores do teste de autopercepção estiveram abaixo do percentil 80, mas sendo este também relativamente alto.
O fato da tendência verificada do gênero feminino ser superior ao masculino, não corresponde à expectativa prévia da pesquisa que de acordo com a literatura não aponta direcionalidade para tal, embora se possa, associativamente ao imaginário social contemporâneo, acreditar que o gênero masculino seja mais motivado para a atividade física escolar de uma maneira geral.
Assim sendo, a pesquisa promove subsídios para a concepção de que a atividade física possui valores significativos para o desenvolvimento de fatores afetivos que bem direcionam a vida humana.
Referências bibliográficas
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WIGGINS, G. The Origins of Morality in Early Childhood Relationships. Em J. Kagan & S. 1987.
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