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A Educação Física no contexto da educação especial. 

Abordagens da cultura corporal numa instituição Sul-Capixaba

La Educación Física en el contexto de la educación especial. Abordajes de la cultura corporal en una institución Sul-Capixaba

 

Universidade Castelo Branco

(Brasil)

Prof. Carlos Magno Costa Rocha

carlosmagno709@msn.com

 

 

 

Resumo

          A Educação Física brasileira historicamente tem sido marcada por um forte caráter excludente em suas práticas, visto que, foi influenciada no seu processo de construção inicialmente e principalmente pelas instituições médica e militar. Nela encontramos atualmente um ambiente de busca por legitimação e identidade, caracterizado por intenso debate pelo surgimento de novas concepções e abordagens de ensino, das quais merece destaque a cultura corporal de movimento. Este trabalho se propõe a analisar as diferentes abordagens da cultura corporal de movimento desenvolvidas nas aulas de Educação Física numa instituição que atende a alunos portadores de necessidades especiais no sul do Espírito Santo. Neste recorte pretende-se enfocar o grau de aproximação teórica da tendência inovadora pelos professores da instituição, as variadas formas como são trabalhados os conteúdos, além do destaque por eles dado ao trato com o corpo.

          Unitermos: Educação Física Especial. Cultura Corporal de Movimento. Inclusão

 

Abstract

          To Physical Education Brazilian historically has been marked by a strong character excludente in his practices, since, it was influenced his process of construction initially and principally by the medical and military institutions. In her we find at present an environment of search for legitimation and identity, characterized by intense discussion for the appearance of new conceptions and approaches of teaching, of which it is worthy detach the physical culture of movement. This work is proposed to analyse the different approaches of the physical culture of movement developed in Ed's classrooms. Physics in an institution that attends to pupils bearers of special necessities in the south of the Holy Spirit. In this cutting out there intends to tackle the degree of theoretical approximation of the innovatory tendency for the teachers of the institution, the varied forms as the contents are worked, besides the distinction for them given to the treatment with the body.

          Keywords: Physical Special education. Physical Culture of Movement. Inclusion

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 140 - Enero de 2010

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Introdução

    A Educação Física moderna tem sua origem na Europa, berço das duas grandes revoluções: a Burguesa e a Industrial, período compreendido do fim do séc. XVII e início do séc. XIX, no qual surgiram algumas das práticas que durante muito tempo monopolizaram o cenário da Educação Física: os métodos ginásticos (Alemanha, França e Suécia) e o esporte (Inglaterra).

    O século XIX se configura num importante marco para a Educação Física,já que nele temos o início da elaboração e difusão dos conceitos básicos sobre o corpo e sua utilização como força de trabalho. Este período é caracterizado também, pelo surgimento e divulgação do conceito de eugenia, que segundo SOARES (2004):

    “Postulava uma identidade do social e do biológico, propondo-se uma intervenção científica na sociedade, explicando o primeiro pelo segundo.”

    O reflexo da divulgação e aceitação de tais conceitos no Brasil, se refletiam nos ideais eugênicos de regeneração e embranquecimento da raça, figurando em congressos médicos, propostas pedagógicas e eventos afins. A medicina se estruturou a partir de então, assim como a utilização do hospital como instrumento terapêutico.

    Nos anos 60, inicia-se a massificação do esporte, o que importava era o “podium”, o esporte era visto como única oportunidade de ascensão social.Com a volta do regime militar na década de 70, a Educação Física retorna às origens, formar pessoas fortes e saudáveis, e de novo as medicinas higiênicas e eugênicas entram em ação. Nas escolas brasileiras do período, as aulas assumiram o “status” de treinamento desportivo, favorecendo a exclusão, e eram priorizadas as habilidades motoras e capacidades físicas.

    Na década de 80, a Educação Física passa por uma profunda crise, um período marcado também, por intenso debate, que se configurou num marco histórico, já que a área passou a ser valorizada, surgiram os cursos de pós-graduação e foram lançados os primeiros artigos e livros sobre os ideais renovadores.

    Os anos 90 marcam o surgimento da cultura corporal de movimento, que em linhas gerais pode ser definida como uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais tais como: jogo, esporte, dança, ginástica, lutas, dentre outras. No mesmo período, um fenômeno assume força, a inclusão, que deve ser entendido como um processo recente, haja visto, sua difusão nos remeter ás décadas de 50 e 60, onde datam os primeiros relatos acerca do tema. Em linhas gerais, podemos entendê-lo como um processo amplo que consiste na modificação da sociedade como pré-requisito para que as pessoas com necessidades especiais possam buscar seu descobrimento e exercer a cidadania (SASSAKI,1997). A Educação Física brasileira assume uma postura inclusiva a partir do momento em que, a Educação Física Adaptada surge oficialmente nos cursos de graduação através da Resolução 3/87 do Conselho Federal de Educação, que prevê a atuação do professores de Educação Física com o portador de deficiência e outras necessidades especiais.

Objetivos

    Este trabalho se propõe a analisar as diferentes abordagens da cultura corporal de movimento desenvolvidas nas aulas de Educação Física numa instituição que atende a alunos portadores de necessidades especiais no sul do Espírito Santo. Neste recorte pretende-se: enfocar o grau de aproximação teórica da tendência inovadora pelos professores da instituição, as variadas formas como são trabalhados os conteúdos, além do destaque por eles dado ao trato com o corpo.

    Buscaremos também analisar como a Educação Física encontra-se contextualizada na instituição por seu corpo técnico/administrativo, haja visto, ser ela historicamente conhecida por seu forte caráter excludente.

Metodologia

    Optamos pela pesquisa com enfoque qualitativo e abordagem etnográfica, onde, realizamos entrevistas semi-estruturadas e observações nas quais participaram: Informante 1 - Função: diretor pedagógico, atuando há nove anos na instituição, Informante 2 - Função: pedagogo, atuando há 14 anos na instituição, Informante 3 - Função: pedagogo, atuando há 4 anos na instituição. Quanto aos professores de Educação Física, foram 4 os entrevistados, de um total de 16 professores na instituição,e priorizou-se aqueles que possuem maior tempo de atuação profissional e vínculo com a mesma,assim: o Professor A: leciona no turno matutino, graduado há 6 anos( 2 anos na instituição), Professor B: leciona no turno matutino, graduado há 2 anos( 3 anos na instituição), Professor C: leciona no turno vespertino, graduado há 5 anos( 4 anos na instituição) e Professor D: leciona no turno vespertino, graduado há 5 anos( 4 anos na instituição).

Resultados

    Para análise dos resultados, optamos pela análise qualitativa. Os entrevistados do corpo técnico forneceram informações acerca da implantação das atividades de Educação Física na instituição, sendo que, o Informante 2 afirmou que “a Educação Física era oferecida desde 1980 na piscina e no pátio”, porém o Informante 1 frisou que: “...até 1999 eram realizadas atividades recreativas e a Educação Física começou a ser oferecida em 2000 por profissionais habilitados.” Sobre os benefícios proporcionados pela Educação Física, são incisivos ao afirmar: Informante 1: “desenvolve a coordenação motora”, favorece a conscientização do próprio corpo..” Informante 2 ...”postura e lateralidade e Informante 3: “socialização”.

    Quanto aos professores de Educação Física, buscamos através das entrevistas e observações, analisar o grau de aproximação teórica e aplicação prática dos conteúdos da cultura corporal de movimento em suas aulas, atendimentos, treinamentos e etc., haja visto, a diversidade e variedade de atividades por eles desenvolvidas. Assim sendo, os professores quando questionados sobre a cultura corporal de movimento a definiram como Professor A: “... a forma de se trabalhar enfatizando o conhecimento e a percepção corporal..”; Professor B: “...uma forma de expressão corporal, que busca o desenvolvimento da autonomia, cooperação, participação social e afirmação de valores...”; Professor C: “...um conhecimento que o corpo é capaz de reproduzir o que lhe foi passado, ou seja, tudo que faz parte de um contexto em que se produzem e reproduzem conhecimentos...” e o Professor D: “...conhecimento do corpo, mais especificamente, o desenvolvimento do corpo conscientemente...”.

    O trato corporal e os demais conteúdos por eles trabalhados, são previamente incluídos nos planos de curso e aula, e devidamente acompanhados pelos pedagogos responsáveis, merecendo destaque os da cultura corporal:jogo, esporte, dança, capoeira, coordenação motora, equilíbrio e ritmo, dentre outros, priorizando-se a ludicidade, criatividade, e o fazer coletivo e individual, além do tempo pedagogicamente necessário para a aprendizagem, sem desvincular a autonomia do aluno frente a situações novas e desafiadoras.

Conclusão

    A Educação Física historicamente tem sido marcada por um forte caráter excludente em suas práticas, visto que, foi influenciada no seu processo de construção pelas instituições médica e militar. Nela encontramos atualmente um ambiente de busca por legitimação e identidade, caracterizado por intensos debates,e pelo surgimento de novas concepções e abordagens de ensino, das quais merece destaque a cultura corporal de movimento.

    Na pesquisa em foco, encontramos relatos e observamos práticas bem orientadas, o grupo de professores da instituição, demonstrou conseguir aliar teoria e prática, oportunizando aos alunos através de aulas e atividades diversas, maior autonomia, ampliando as suas potencialidades, além de melhora na auto-estima e confiança, tudo reiterado pela fala dos pedagogos e diretor , que também participaram como entrevistados na pesquisa ora realizada.

Referências bibliográficas

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  • LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico:procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científicos. São Paulo, 2006.

  • Metodologia do ensino de Educação Física - Coletivo de Autores. São Paulo: Cortez, 1992.

  • RAGO, Margareth, NETO, Alfredo Veiga(org). Figuras de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica ,2006.

  • SASSAKI, Romeu k. Inclusão - Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: Ed. WVA, 1997.

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  • __________ Educação Física inclusiva: em busca de uma escola plural. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

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