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Volume sanguíneo e exercício agudo aeróbio. Uma revisão

Volumen sanguíneo y ejercicio agudo aeróbico. Una revisión

 

*Bolsista CNPq

Curso de Educação Física

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

(Brasil)

Prof. Ms. Paulo Henrique Santos da Fonseca*

Prof. Fabrícia Daniela Martins Almeida

Prof. Andréia Weis

profpaulofonseca@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O volume de oxigênio máximo consumido (VO2máx) é considerado como um bom indicador da capacidade aeróbia, mas este é influenciado pelo volume sangüíneo e o balanço de seus componentes. Assim, esta revisão possui como objetivo analisar o comportamento e influência dos componentes do sangue e seu volume total no sistema cardiovascular durante exercício agudo e os riscos ao organismo causado pela hemoconcentração.Os resultados mostraram que o volume sanguíneo e o balanço de seus componentes refletem diretamente na ação fisiológica do mecanismo cardiovascular, além de contribuir para a melhora no desempenho durante atividades físicas de endurance, como também é incorreto assumir que o aumento do hematócrito pode melhorar a performance. Aumento no hematócrito acima de 55% é associado com um inaceitável risco de reações adversas, incluindo encefalopatias, distensão vascular, diminuição do fluxo sangüíneo como resultado hipóxia tecidual, embolismo pulmonar e infarto do miocárdio. Assim é essencial a manutenção do balanço de seus componentes figurados e do plasma evitando desta forma complicações a saúde.

          Unitermos: Volume sanguíneo. Endurance. Sistema cardiovascular

 

Abstract

          The volume of the maximum consumption of oxygen (VO2máx) is considered as a good indicator of the aerobic capacity, but it is influenced by the sanguine volume and the balance of its components. So, the objective of this review is analyze the behavior and the influence of the blood components and its total volume in the cardiovascular system during the acute exercise and the risks to the organism caused by the hemoconcentration. The results showed that the blood volume and the balance of its components reflects directly in the physiological action of the cardiovascular mechanism, besides contributes to turn better the performance during the physical activities of endurance, like also is incorrect assume that the increase of the hematocrit can improve the performance. Increases in the hematocrit above 55% are associated with an unacceptable risk of adverse reactions, including encephalopathy, vascular distension, decrease of the blood flood as a result of the hypoxia of the tissue, pulmonary embolism and myocardial infarction. Thus is essential the maintenance of the balance of its figured components and of the plasma, avoiding health complications.

          Keywords: Blood volume. Endurance. Cardiovascular system

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    O indivíduo, ao iniciar o exercício físico, coloca em ação simultaneamente uma rede de complexos sistemas responsáveis pelo correto funcionamento fisiológico de seu organismo. O desempenho desse indivíduo durante o exercício dependerá muito das interações realizadas em conjunto por estes sistemas.

    Para um maior conhecimento desta rede de sistemas, onde cada um possui suas funções definidas, e, na atividade aeróbia pode-se destacar o sistema respiratório e cardiovascular, que são responsáveis por grande parte do desempenho do individuo em atividades agudas de predominância aeróbica, o volume de oxigênio (VO2) representa a interação destes dois sistemas.

    O volume de oxigênio máximo consumido (VO2máx) é considerado como um bom indicador da capacidade aeróbia1 , mas este é influenciado pelo volume sangüíneo e o balanço de seus componentes2,3,4.

    Assim, esta revisão possui como objetivo analisar o comportamento e influência dos componentes do sangue e seu volume total no sistema cardiovascular durante exercício agudo e os riscos ao organismo causado pela hemoconcentração.

1.     Componentes do volume sanguíneo

    O desempenho aeróbio, normalmente caracterizado pelo VO2max, tem o volume sangüíneo total como seu maior influenciador, pois este limita o retorno venoso e assim o volume de ejeção e a concentração de hemoglobina, que determina a capacidade de transporte de O2, refletindo, portanto, na diferença artério-venosa de oxigênio (a-vO2)5.

    Determinar o volume sangüíneo possibilita conhecer e controlar a troca de fluido entre o plasma e fluido intersticial, entre o plasma e o ambiente externo além do controle de volume dos eritrócitos6.

    A composição total do sangue é de aproximadamente 55% de plasma e 45% por elementos figurados. Valores aproximados para os constituintes do volume plasmático são relatados na literatura, sendo estes de 90% de água, 7% por proteínas plasmáticas e os 3% restantes são de nutrientes celulares, eletrólitos, hormônios, enzimas, anticorpos e produtos da degradação metabólica. Os elementos figurados, em quase sua totalidade de volume, aproximadamente 99%, são compostos por eritrócitos, e o restante sendo por leucócitos e plaquetas, esta porcentagem é denominado como hematócrito6.

    Os métodos usados para medir os valores de volume sangüíneo são todos indiretos e baseados na diluição de um marcador na circulação sanguínea. Estes marcadores são células sangüíneas vermelhas marcadas com Cromo radioativo (51Cr) para a medida do volume de células vermelhas; albumina marcada com Iodo radioativo (131I ou 125I) para a medida do volume de plasma; e o Evans Blue Day, que demarca o volume plasmático pela marcação das proteínas plasmáticas ou a medida da hemoglobina que se dá pelo método de monóxido de carbono inalado (CO)7. O método 51Cr é considerado como o método critério pela International Comitte for Standartization in Haematology, baseado na fidedignidade, reprodutibilidade e fácil uso na rotina clínica8.

    O volume de sangue total sofre variações conforme o tamanho do indivíduo e seu estado de treinamento e a região onde se vive, sendo que seu total em pessoas de tamanho corporal médio e atividade física normal geralmente são de 5 a 6 litros nos homens e de 4 a 5 litros nas mulheres5.

Comportamento dos componentes do volume sanguíneo no exercício agudo até atingir VO2max

    O termo Efeito Agudo do exercício refere-se às respostas fisiológicas que ocorrem quando o exercício esta sendo desenvolvido9.

    Em repouso, o volume sangüíneo, em sua maior parte, localiza-se nos canais de retorno venoso (veia, vênulas, seios venosos). Por tanto, o sistema venoso representa um grande reservatório de sangue prontamente disposto a suprir o aumento da demanda. Quando isto ocorre, a estimulação simpática das vênulas e veias produz constrições desses vasos, o que provoca uma redistribuição rápida do sangue da circulação venosa periférica de volta ao coração, e, em seguida para as áreas cujas demandas são maiores. Não somente o sangue é desviado desses outros tecidos, mas mais sangue do sistema venoso é enviado para a circulação arterial, assegurando assim um aumento substancial do fluxo sangüíneo para área necessitada10.    

    Então, à medida que o metabolismo aumenta durante o exercício, as funções do sangue tornam-se mais vitais para o desempenho eficiente. Assim o sangue passa a ter duas funções: o adequado fornecimento de O2 e nutrientes para o músculo no exercício aeróbio11 e controle termoregulatório12. Existe uma maior associação entre a dissipação do calor durante o exercício com o volume de sangue do que com a potência aeróbia4, 13.

    Desta forma, para poder realizar suas funções, o sangue reajustará todo o funcionamento dos sistemas corporais. Salientando que o deslocamento do volume sangüíneo afetará as funções cardiovasculares, fazendo com que aumente o débito cardíaco por conseqüência do aumento da freqüência cardíaca, do volume de ejeção, do volume diastólico e esvaziamento sistólico em relação ao repouso; isso com o objetivo de fornecer O2 da ligação com a hemoglobina, resultando no aumento do VO2 14.

    O fluxo sanguíneo aumenta devido à vasodilatação cutânea, causada pelo aumento da temperatura corporal, na tentativa de evitar hipertermia, mas é necessário alcançar certa intensidade de trabalho (> 30%do VO2max ) para que ocorra esse fenômeno da vasodilatação cutânea12.

    Estes valores vão aumentando conforme o indivíduo aproxima-se de seu VO2max, até o momento que a freqüência cardíaca estabiliza e o volume de ejeção tem pequeno aumento, mostrando que o indivíduo esta próximo de seu VO2max 1.

    Porém, quando a atividade é realizada por um longo período ou em temperaturas mais elevadas, o comportamento de outro importante componente do volume sanguíneo reflete nas funções cardiovasculares. Em atividades que causam desidratação, caso não reposto o líquido perdido, haverá redução no volume plasmático, resultando na diminuição da quantidade de sangue no coração, bem como o volume de sangue que o coração consegue bombear a cada batimento. Esse fenômeno diminuirá o volume de ejeção e para manter a mesma taxa de trabalho a freqüência cardíaca aumentará, mantendo o débito cardíaco e a pressão sanguínea em condições de suportar o exercício15.

    A redução do volume de plasma fará com que ocorram também mudanças de fluídos do espaço intravascular para o intersticial e para o compartimento intracelular durante o exercício. O primeiro mecanismo é para aumentar a pressão hidrostática (aumento da pressão sanguínea), a qual é acompanhada pelo aumento de perfusão do número de capilares. O segundo mecanismo é para aumentar a pressão osmótica dentro do tecido muscular, o que é causado pela divisão da fosfocreatina e acumulo metabólico (ex: ácido lático)16.

    O volume plasmático também aparece associado com a capacidade de vasodilatação cutânea. Indivíduos com quantidade maior de volume de plasma (ml.kg-1) ativam a vasodilatação cutânea e baixam a temperatura corporal interna, aumentando a transferência de calor do centro do corpo para a pele durante a porção inicial do exercício, e também produzem um maior pico de fluxo sangüíneo na pele, o que promove uma capacidade de elevar a transferência de calor durante exercícios prolongados12.

    Assim, a relação entre volume de plasma e hematócrito é importante para o comportamento fisiológico do sistema cardiovascular no desempenho aeróbio e para a viscosidade sangüínea, a qual é definida como a resistência ao fluxo e é influenciada pelo aumento do hematócrito (elementos figurados), diâmetros dos vasos e a temperatura6.

    Se o aumento da contagem eritrocitária não for acompanhado por um aumento similar do volume plasmático, a viscosidade sangüínea aumentará, este fenômeno é chamado de hemoconcentração, e tem como conseqüência a restrição do fluxo sanguíneo, não permitindo que a hemoglobina carreie o O2 através dos capilares até os tecidos em atividade, já que os capilares são uma rede de vasos que estão em contato direto com estes tecidos e onde ocorre à troca gasosa. Inversamente, a combinação de um hematócrito baixo com um volume plasmático elevado, diminuindo a viscosidade sangüínea, produz benefícios à função de transporte do sangue e é denominado hemodiluição. Mas, um hematócrito baixo, freqüentemente é resultante de uma contagem eritrocitária baixa, o que tem como conseqüência menos transportadores de oxigênio17.

    Portanto, justifica-se a importância da pré-hidratação antes e da hidratação durante o exercício para a manutenção do volume plasmático, melhorando a distribuição do fluxo sangüíneo, controle termoregulatório15 e transporte de O2.

    Na recuperação, os elementos do sangue e as funções cardiovasculares continuam sofrendo reflexo do exercício. Até o terceiro minuto de recuperação o hematócrito e a hemoglobina permanecem com seus valores elevados, então, quando o volume plasmático começa a aumentar para ajustar a pressão hidrostática e a pressão osmótica, seus valores iniciam um processo de retorno a valores normais, levando aproximadamente uma hora16.

Risco do aumento da hemoconcentração

    Níveis elevados de hematócrito causam perigo à saúde do indivíduo (especialmente se adquiridos na forma de doping), pois o aumento da viscosidade sangüínea é fatal para o funcionamento do coração18.

    Essas alterações combinam com a diminuição da pressão de enchimento venoso central, a qual faz diminuir o retorno venoso para o lado direito do coração e reduzir o volume diastólico final. Com a redução do volume diastólico final, o volume de ejeção é reduzido e para compensar a diminuição do volume de ejeção, a freqüência cardíaca aumenta, em um esforço para conservar o débito cardíaco19, aumentando o risco de complicações cardiovasculares.

    É incorreto assumir que o aumento do hematócrito pode melhorar o desempenho. Quando o hematócrito aumenta acima de 50%, há um exponencial aumento na viscosidade sangüínea e na resistência periférica total o que pode compensar o aumento no transporte do oxigênio pela redução da freqüência do fluxo sangüíneo3.

    Aumento no hematócrito acima de 55% é associado com um inaceitável risco de reações adversas, incluindo encefalopatias, distensão vascular, diminuição do fluxo sangüíneo, e, como resultado, hipóxia tecidual, embolismo pulmonar e infarto do miocárdio.

    Este risco, nos exercícios de endurance, causado pelo aumento do hematócrito, deve-se à perda de fluído e mudança hemodinâmica, fazendo com que o hematócrito aumente em 10% durante a atividade física3.

Conclusão

    O volume sanguíneo e o balanço de seus componentes refletem diretamente na ação fisiológica do mecanismo cardiovascular, além de contribuir para a melhora no desempenho durante exercícios físicos de endurance, sendo essencial a manutenção do balanço de seus componentes figurados e do plasma evitando, desta forma, complicações a saúde.

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