Um olhar sobre o corpo, a auto -estima e seus paradigmas Uma mirada sobre el cuerpo, la autoestima y sus paradigmas |
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*Acadêmica do curso de Educação Física da Unoesc, campus Xanxerê, SC. **Mestre em Educação , Docente do curso de Educação Física da UNOESC campus Xanxerê, SC, orientadora (Brasil) |
Carine Fazolo* Lisiane Pertile* Patricia Carlesso Marcelino Siqueira** |
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Resumo O presente artigo aborda a temática focalizada dos paradigmas corporais e da forma pela qual sua educação influencia na auto-estima das pessoas. A auto-estima é a capacidade de sentirmos a vida, estando de bem com ela, possuindo confiança em nosso modo de pensar e enfrentar os problemas e o direito de ser feliz.Através de um estudo etnográfico delineado na disciplina de ritmo e expressão do movimento humano, os acadêmicos do curso de Educação Física da UNOESC relataram suas percepções e seus enfrentamentos sobre sua corporeidade. Unitermos: Corporeidade. Educação Física. Paradigmas |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
O objetivo deste artigo foi ampliar a reflexão que permeia a educação estética e a linguagem corporal como elementos fundamentais no processo educativo enfatizado na proposta pedagógica, que privilegiou uma nova cultura de movimento, juntamente com a possibilidade de (re)descoberta da corporeidade nos educandos que participaram da disciplina de ritmo e expressão do movimento humano , a partir das percepções, dos sentimentos, da afetividade e dos desejos provocados pelas vivências do corpo em movimento e da cultura permeada por ela.
A amostra do estudo
O presente estudo teve por objetivo se realizar uma pesquisa exploratória de caráter etnográfico a partir das falas expressas durante o grupo na disciplina de ritmo e expressão do movimento humano, do curso de Educação Física da UNOESC XANXERÊ- SC.
A amostra foi composta por 03 indivíduos do sexo feminino com idades entre 18 e 19anos. O estudo seguiu as premissas do comitê de ética e pesquisa da instituição e da CNS 196/96. Para manter o anonimato, cada participante do grupo escolheu um codinome do horóscopo zodiacal: GÊMEOS, LIBRA E ESCORPIÃO.
Caracterizando o estudo
O presente artigo caracterizou-se por ser uma pesquisa explanatória de caráter etnográfico , definidas seguindo- se as premissas de Andre (2004). As informações coletadas durante a disciplina de ritmo e expressão do movimento humano, foram compreendidas segundo o método fenomenológico proposto por Giorgi (1985):
1º O sentido do todo
Esta etapa se caracteriza pela leitura das entrevistas concedidas para a compreensão de sua linguagem até alcançar a compreensão do todo.
2º As unidades de significado
Consiste na redução fenomenológica. As unidades emergiram da análise e da percepção das releituras e são numeradas em ordem crescente conforme o número de cada entrevista.
3º Transformação das unidades significativas em linguagem psicoeducativa
Captar as mensagens, estas são interpretadas e se expressa o fenômeno explicitado pelos sujeitos por meio da linguagem psicoeducativa.
4º Sintese das estruturas de significado
Nesta etapa procuramos intuir as essências expressas nas falas, considerando-as como criação de algo novo, as quais fusionam as percepções dos entrevistados e do pesquisador, dando ao texto um conteúdo diferente, identificando os aspectos realmente significativos, segundo uma visão totalizadora.
5º Dimensões fenomenológicas propostas por Comiotto (1992):
Nesta etapa se buscou encontrar as dimensões mais significativas do fenômeno, que vão aflorando ao longo do trabalho, dando origem as essências do estudo:
A auto-estima e a imagem sobre si mesmo
A auto-estima evidenciou-se na falas dos entrevistados:
Hoje em dia minha auto estima é melhor através da faculdade, no trabalho aprendi muito a perder a vergonha e me relacionar com as pessoas. (ESCORPIÃO)
Segundo Freitas (2004, p.27), a imagem do corpo é, portanto, o conceito e a vivência que se constrói “sobre o esquema corporal”, e que trás consigo o mundo humano das significações. Na imagem estão presente os afetos, os valores, a historia pessoal marcada por gestos, no olhar, no corpo que se move que repousa que simboliza.
Meu maior problema é com meus amigos e conhecidos, alguns ficam fazendo piadinhas sobre meus quilinhos a mais, mas o importante é que eu me aceito do jeito que eu sou (LIBRA).
MEDINA (2005, p.32), Para compreender o corpo é preciso falar dele? Não basta senti-lo, estariam certo Descartes, quando define o homem como sendo fundamente espírito (penso, logo existo), ou estaria mais perto da verdade MERLEAU-PONTY , dizendo que “eu sou meu corpo” (existo logo penso).
GOELLNER (2003) além do corpo perfeito, para ver bela é necessário ter qualidades capazes de reduzir e chamar para si o olhar do outro. Ser bela é ser atraente e sensual e também feminina: graciosa, virtuosa e submissa a ponto de não ameaça os conceitos tradicionalmente demarcados para cada sexo.
Com o “passar dos anos foi mudando aos poucos, talvez hoje seja um pouco ‘feminina”, mas nunca perdi minha essência. (GÊMEOS)
Para FELDENKRAIS (1977, p.27), nossa auto-imagem consiste de quatro componentes que estão envolvidos em toda ação, movimento, sensação, sentimento e pensamento. A contribuição de cada um deles varia para qualquer ação particular, tanto quanto varia a pessoa que executa, mas cada componente está presente em alguma medida de qualquer ação.
Diferentes aspectos da beleza feminina são expressos em artigos de cunho cientifico, conselhos médicos, dicas de truques para melhor cuidar do corpo, propagandas de produtos que buscam melhorar a aparência física e notas sobre a moda esportiva, afirmando que as praticas corporais embelezam as mulheres ao mesmo tempo em que colaboram na aquisição e manutenção de um bom estado de saúde (GOELLNER, 2003).
Cada pessoa deve ser importante em si mesma. É preciso conhecer seu processo individual e ajudar seu desenvolvimento a partir dela mesma.
O ser humano deveria permitir-se explicitar o mundo atual e explicitar seu mundo interno; dar forma a novos símbolos por meio de imagens cientificas puras, subjetivas, de acordo com as necessidades do ser humano, de seu semelhantes e de sua época, com um vocabulário atualizado, auto-gerando a vida ao seu mundo interno. (MEDINA,2005).
Paradigmas corporais
Seguir padrões de beleza, moda, ou usar o corpo para agradar e conquistar o outro é para mim perca de tempo. (GÊMEOS)
Para BRIKMAN (1989, p.16), a expressão corporal funcionaliza a linguagem do corpo em suas estruturações, componente e desenvolvimentos. Por isso sua pratica leva a manifestação da personalidade, a um conhecimento e uma convivência mais completas, para fora e para dentro de si mesmo, e enfim, a uma comunicação fluida, capaz de promover uma profunda transformação de atitude básica da personalidade. Esses fatos justificam uma cuidadosa atenção no processo da expressão corporal, e sua aprendizagem.
Em um certo prisma fisiológico as noções do corpo são coisas que confundem. Num outro ( como também fisiológico, porem mais humanizado), o corpo é um sinal da alma, é um instrumento do espirilo,, e é a partir do dualismo corpo e alma que a nossa civilização se fez impressa de divisões.( FELDENKRAIS, 1977).
Acredito que deve pensar mais no meu bem estar, mas a sociedade acaba te excluindo de alguma forma. (LIBRA)
Assim é que podemos presenciar hoje, tentando fugir a uma ação ainda conservadora e administrativa, desde propostas alternativas tímidas incipientes, facilmente comportadas desde instituições opcionais.(LA TAILLE, 1992).
Através do movimento e do contexto do tempo e do espaço, a pessoa pode adquirir consciência do que acontece com seu próprio corpo. Na sua relação com o mundo, mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o distinguem e outros animais. (FREITAS, 2004).
Considerações finais
Neste artigo, procuramos observar os paradigmas culturais em sua dimensão antropológica enfocando o ser humano como um ser biologicamente cultural, o que implica o fato de que toda expressão e produção humana se dá a partir de um contexto cultural.
Ao longo da história, o tratamento dado à diversidade pela Educação Física (escolar) demonstra que muitos educandos foram discriminados e até mesmo impedidos de participar das aulas. De um lado, os "aptos", ágeis, fortes e/ou velozes, muito valorizados; do outro lado, os excluídos, desvalorizados por seus colegas de turma e por muitas vezes desvalorizados pelos seus próprios educadores e educadoras. (GRECO, 1998).
As práticas excludentes, não são reproduzidas apenas pela Educação Física, mas sim por toda a escola. Tal fato não pode ser desvinculado da criação e legitimação da formação ideológica caracterizada pelo paradigma da exclusão, a qual desencadeou severas implicações, sobretudo por criar a figura da anormalidade e estabelecer a dicotomia normal versus anormal, interferindo diretamente na auto-estima pois ela envolve tanto crenças auto-significantes e emoções associadas, também encontra expressão no comportamento e em acréscimo, a auto-estima pode ser construída como uma característica permanente de personalidade ou como uma condição psicológica temporária. (BRIKMAN, 1989).
Assim, ficam evidenciados os princípios que favorecem o desenvolvimento da autonomia, da participação, da cooperação, da afetividade e da afirmação de valores democráticos; esses princípios dependem dos educadores ( professores, família, grupos sociais) para a formação de indivíduos que vivenciem sua corporeidade de forma totalizadora, e não fragmentada.
Referencias
ANDRE, M. E. De. Etnografia da prática escolar. 11 ed. Campinas: Papirus, 2004.
BRIKMAN, Lola. A linguagem do movimento corporal. 2ªed. São Paulo: Summus, 1989.
COMIOTTO, M. Adultos médios: sentimentos e trajetória de vida. Tese (Doutorado em educação) – UFRGS, Porto Alegre, 1992.
GIORGI, A. Phenomenology and psychological research. Pittsburg: Duqueme University, Press, 1985.
GOELLNER, Silvana Vilore. Bela, Maternal e Feminina. Imagem da Mulher na Revista da Educação physica. Ijui,: UNIJUI, 2003.
GRECO, P. J.; BENDA, R. N. (Org.): Iniciação esportiva universal. v.1. Da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
FELDENKRAIS, Moshe. Consciência pelo movimento. São Paulo: Editora 22, 1977.
FREITAS, Giovana Gomes de. O esquema corporal, a imagem corporal, a consciência corporal e a corporeidade. Ijuí: UNIJUI, 2004.
LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas. São Paulo: Summus, 1992.
MEDINA, João Paulo S. O Brasileiro e seu corpo. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 2005.
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