Qualidade de vida e os efeitos na força dos membros superiores em um praticante tetraplégico de tênis de mesa Calidad de vida y efectos en la fuerza de los miembros superiores en un practicante tetraplégico de tenis de mesa |
|||
*Bacharel em Esporte pela Universidade Estadual de Londrina **Docente da Universidade Estadual de Londrina Doutora em Ciências da Educação pela UNEX - ES ***Docente da Universidade Estadual de Londrina Doutor em Educação Física pela USP - BR (Brasil) |
Giovanna Pereira de Souza* Rosangela Marques Busto** Abdallah Achour Junior*** |
|
|
Resumo O presente estudo teve como objetivo verificar a influência do tênis de mesa na qualidade de vida e os efeitos na força de membros superiores em um indivíduo adulto tetraplégico. A coleta de dados foi realizada utilizando o teste de arremesso de medicineball e para a análise da percepção de qualidade de vida utilizou-se o questionário Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36). Após um ano de intervenção, o resultado obtido no teste de arremesso de medicineball, permaneceu relativamente estável, 1,43 cm no pré-teste para 1,44 cm no pós-teste. O score obtido no SF-36 no pré-teste foi 600 pontos e no pós teste, 496,5 pontos, com relação à qualidade de vida, os dados demonstraram que o indivíduo diminuiu a percepção de dor e manteve a capacidade funcional, e as limitações por aspecto físico mostraram estabilidade de saúde e vitalidade. Houve diminuição de pontos no aspecto social, e nas limitações emocionais. A partir destas informações, pode-se inferir que a pratica de tênis trouxe benefícios na força e na qualidade de vida. Unitermos: Tênis de mesa. Lesão medular. Qualidade de vida. Força de membros superiores |
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
1 / 1
Introdução
As atividades esportivas são cada vez mais praticadas tanto em níveis competitivos como no desenvolvimento da saúde. Ao longo das últimas décadas, o tênis de mesa tem ampliado o número de adeptos e passou a ser conhecido mundialmente. (PETRI, et al 2002; ROBLES, 2007).
O esporte pode ser apontado como um fator importante na reabilitação da pessoa com lesão medular nos aspectos físicos, psíquicos e sociais. Silva, Oliveira e Conceição, (2005) relatam efeitos benéficos do treinamento de atletas com lesão medular: melhora do consumo de oxigênio (VO2max.), redução do risco de doenças cardiovasculares e de infecções respiratórias, diminuição na incidência de complicações médicas (infecções urinárias, escaras e infecções renais), redução de hospitalizações, aumento da expectativa de vida.
Num estudo, Soler (2005) demonstrou que a qualidade de vida de pessoas com deficiência melhora e o esporte acarreta muitos benefícios, tornando possível reconhecer suas habilidades e integrá-los à sociedade, uma vez que isso proporciona elevação da auto-estima. Para Adams et al (1985) o convívio com outras pessoas que enfrentam dificuldades traz para os deficientes a superação de suas dificuldades (físicas e psicológicas). Com a prática desportiva tem-se observado uma melhora significativa da socialização do deficiente e motivação necessária para participarem da comunidade com mais ímpeto para produzir, trabalhar e assumir papéis de liderança.
Não se encontrou estudos verificando os efeitos do tênis de mesa na qualidade de vida e força de tetraplégico podendo este verificar uma lacuna na literatura pertinente.
O presente estudo teve como objetivo verificar a influência do tênis de mesa na qualidade de vida e os efeitos da força de membros superiores e de um indivíduo tetraplégico.
Materiais e métodos
Este trabalho se caracteriza como método descritivo de estudo de caso (Gómes, Flores e Jiménez, 1996). Foi participante deste estudo um indivíduo tetraplégico, com etiologia por atropelamento, nível motor C5, idade de 48 anos, com 22 anos de lesão, participante do projeto “Iniciação Esportiva para Tetraplégicos (Tênis de Mesa e Atetismo)” desenvolvido durante um ano no Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina na cidade de Londrina do Estado Paraná.
Para avaliar a qualidade de vida foi utilizado o questionário Medical Outcomes Study 35-item Short-Form Health Survey (SF-36). Este é um instrumento geral de Avaliação da qualidade de vida, validado no Brasil por Ciconelli em 1997 (Vall, Braga, Almeida, 2006). A pontuação do teste atende aos seguintes critérios: 0 indica o pior estado e 100 o melhor estado. O avaliado consentiu em participar do estudo, tendo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética, parecer 207/07.
Com propósito de avaliar a força de membros superiores foi utilizado o teste de arremesso de medicineball (Mathews, 1980).
Resultados e discussão
Nos itens, capacidade funcional, limitações por aspectos físicos, estado geral de saúde e vitalidade, não houve diferença entre o pré-teste e o pós-teste. No aspecto dor, houve melhora no resultado entre o pré-teste e o pós-teste. Nos aspecto social, limitações por aspecto emocional e saúde mental, houve um decréscimo na pontuação do pré-teste para o pós-teste, conforme demonstrado no gráfico 01.
Gráfico 0
1. Score nas varáveis avaliadas pelo SF-36Em estudos com indivíduos paraplégicos com tempo médio de lesão de 6 meses realizado por Loureiro, et al (1997), demonstrou que os conceitos considerados impróprios de deficiente proporcionam a esse grupo uma vida social diferente conforme os limites que o seu corpo estabelece. A condição de viver como pessoa normal envolve a sua capacidade física ser igual a dos demais indivíduos da sociedade, e para isso necessita de uma estrutura física semelhante.
As mudanças que acontecem no cotidiano de um indivíduo após o trauma-raquimedular modifica alguns aspectos sendo o social um dos mais afetados como afirmado no estudo realizado por Vall, Braga e Almeida (2006), nessa pesquisa os autores discutem que o indivíduo se depara com “novas incumbências” e problemas de ordem social, econômica e pessoal, muitas vezes de resolução complexa que conseqüentemente que afeta o aspecto social do individuo.
A capacidade funcional de indivíduos com alguns anos de lesão dificilmente apresentará alterações, como citado em um estudo realizado por Labronici (2000), com atletas de basquete e natação, os atletas não apresentaram melhora na função motora após o treinamento esportivo pelo fato de já estarem adaptados as suas limitações. Neste estudo embora aparentemente a força de membros apresentou melhoras percentuais de 0,69, é possível inferir que diante dos resultados do questionário que a prática do tênis de mesa tenha contribuído em alguns aspectos da qualidade de vida.
As pesquisas feitas para verificar a qualidade de vida de indivíduos com lesão medular têm demonstrado que após o acidente há uma queda em todos os aspectos investigados: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental, verifica-se após análise desses dados a importância de se utilizar o esporte como ferramenta para melhorar esses aspectos, fornecendo ao deficiente condições de utilizar o esporte na melhora de sua qualidade de vida tanto física, social e psicologicamente.
A capacidade funcional e as limitações por aspecto físico de pessoas com lesão medular traumática cuja lesão não é recente não modificaram, o participante deste estudo é classificado como C5, isto em razão de não movimentar os membros inferiores, não tem controle abdominal, possui controle de tronco limitado e o tríceps não é funcional o que limita o movimento de extensão do antebraço.
Quanto ao teste realizado para medir a força de membros superiores foi utilizado o arremesso de medcineball. A seguir no gráfico 2, os resultados obtidos com a aplicação deste teste.
Um mesatenista precisa obter ótima capacidade de resistência de força rápida, ao ser o tênis de mesa um esporte em que os movimentos são rápidos e com utilização de força de tronco e extremidades por um espaço de tempo curto quando se refere a duração de um rali e tempo médio quanto a duração de uma partida (melhor de três sets, sendo cada um de 11 pontos).
No teste o participante apresentou aumento de 1 cm, ou seja de 0,69% em relação ao pré-teste (Gráfico 2).
Gráfico
2. Diferença do pré-teste e pós-teste de arremesso de medcineballConclusão
A partir destes resultados, e nesse caso em específico, a pratica de tênis de mesa com tetraplégicos contribuiu para a diminuição da dor, manteve estável a capacidade funcional, as limitações por aspecto físico, saúde e vitalidade, com diminuição do aspecto social, limitações por aspecto emocional e saúde mental.
Os resultados obtidos em estado geral de saúde e vitalidade se mantiveram a mesma pontuação, significando que o atleta não teve nenhum problema de saúde que fosse relevante durante o período dos testes.
A força de membros superiores permaneceu ligeiramente estável com diminuição na dor.
Por isso devem ser realizados estudos mais detalhados que busquem analisar e descrever os fatores em geral que possam explicar as alterações em relação às vertentes apresentadas nesta pesquisa.
Bibliografia
Adams, Ronald C. et al.
Gómez, G.R; Flores, J; Jiménez, E. Metodologia de la investigación cualitativa. Malagada: Ediciones Aljibe, 1996.
Labronic, R.H.D.D. Esporte Como Fator de Integração do Deficiente Físico na Sociedade. Arq. Neuro-Psiquiatr. vol.58 n.4 São Paulo Dec. 2000.
Loureiro, S.C.C. Faro, A.C.M. Chaves, E.C. Qualidade de vida sob a ótica de pessoas que apresentam lesão medular. Rev.Esc.Enf.USP, v.31, n.3, dezembro. 1997, p. 347-67.
MATHEWS, D.K. Medidas e Avaliação em Educação Física, 5 ed., Interamericana, 1980.
Melo, A.C.R; López R.F.A. O esporte adaptado. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n. 51, agosto. 2002. http://www.efdeportes.com/efd51/esporte.htm
Moreira W. C.; et al. Fatores que Influenciam a Adesão de Deficientes Motores e Deficientes Visuais a Prática Desportiva. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n.104, janeiro. 2007. http://www.efdeportes.com/efd104/deficientes-motores-visuais.htm
PETRI, F.C; RODRIGUES, R.C; COHEN, M; ABDALLA, R.J. Lesões músculo-esqueléticas relacionadas com a prática do tênis de mesa. Rev Bras Ortop _ Vol. 37, Nº 8 – Agosto, 2002:358-362.
ROBLES, M.T.A. El tenis de mesa como deporte educativo. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 12 - N° 108 - Mayo de 2007. http://www.efdeportes.com/efd108/el-tenis-de-mesa-como-deporte-educativo.htm
Silva, M. C. R.; Oliveira, R. J; Conceição, M. I. G. Efeitos da natação sobre a independência funcional de pacientes com lesão medular. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 11, n. 4. 2005.
Soler, R. Educação física inclusiva na escola em busca de uma escola plural. 1ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.
Vall, J; Braga,V.A.B; Almeida, P.C. Estudo da qualidade de vida em pessoas com lesão medular traumática. Rev.Arq Neuropsiquiatr. 2006. 64(2-B):451-455.
Outros artigos em Portugués
revista
digital · Año 14 · N° 139 | Buenos Aires,
Diciembre de 2009 |