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Órtese Elétrica: efeito na marcha de crianças com 

paralisia cerebral tipo hemiparesia espástica

Ortesis Eléctrica: efecto en la marcha de niños con parálisis cerebral tipo hemiparesia espástica

Orthosis Electric: effect on gait in children with cerebral palsy with spastic hemiplegia

 

Mestranda em Ciências do Movimento Humano - UDESC – Santa Catarina

Especialista em neurologia infantil e adulto, hospitalar e ambulatorial 

pela UNIFESP, Escola Paulista de Medicina (EPM)

Natalia Duarte Pereira

nat_duarte@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          Estimulação elétrica funcional (FES) envolve o uso de corrente elétrica para facilitar a contração do músculo esquelético privados do controle normal. Os efeitos da estimulação são quase imediatos, porém, são de curta duração, e para ter um papel efetivo na reabilitação, é necessária a repetição. Porém, pouco se sabe sobre os efeitos do uso prolongado desse aparelho. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da órtese elétrica sobre os ângulos do tornozelo em crianças com hemiparesia espástica. Quatro crianças foram submetidas à FES. A intensidade utilizada no dispositivo era capaz de contrair os músculos da parte anterior da tíbia e fíbula e até mesmo promover a dorsiflexão durante toda a sua amplitude.Os participantes realizaram análise da marcha, inicialmente com os pés descalços e com os sapatos e a órtese elétrica.A avaliação foi realizada em um laboratório de marcha com seis câmeras e aquisição de sistema Vicon 370. Os resultados obtidos demonstram uma boa efetividade da órtese elétrica em suprir a deficiência de dorsiflexão nas fases da marcha analisada em crianças com hemiparesia espástica como seqüela de paralisia cerebral.

          Unitermos: FES. Dorsiflexão. Hemiparéticos

 

Abstract

          Functional Electrical Stimulation (FES) involves the use of electrical current to facilitate contraction of skeletal muscle deprived of the normal control. The effects of stimulation are almost immediate, however, are of short duration, and to have an effective role in rehabilitation, it is necessary to repeat However, little is known about the effects of prolonged use of such apparatus. The purpose of this study was measure the effect of orthosis electric on the angles of the ankle in children with spastic hemiparesis. Four children underwent FES. The intensity used in the device was capable of contracting the muscles of the anterior tibial and fibular and even promote dorsiflexion throughout its range.Participants performed gait analysis initially barefoot and then with the shoes and orthosis electric.The evaluation was conducted in a gait laboratory with six cameras and acquisition system Vicon 370. The results show a good effectiveness of orthosis electric supplys deficiency dorsiflexion phases of gait analyzed in children with spastic hemiplegia as sequelae of cerebral palsy.

          Keywords: FES. Dorsiflection. Hemiparetics

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    A eletroestimulação neuromuscular (EENM) é uma técnica utilizada em Fisioterapia, que tem como objetivos principais a reeducação muscular, retardamento de atrofia, inibição temporária de espasticidade e a redução de contraturas e edemas. (ROBINSON, 2001)

    Esse aumento na excitabilidade do motoneurônio pode intensificar a eficiência do controle do movimento dado que os pacientes com lesão em SNC podem ter tanto déficits sensoriais quanto dificuldades no recrutamento. (CAMERON, 2003)

    Os efeitos da estimulação são quase que imediatos, porém, são de curta duração, e para que tenham um papel efetivo na reabilitação, faz-se necessária à repetição fundamental para o reaprendizado motor. (ROBINSON, 2001)

    Segundo SOBRINHO (1992), este tipo de estimulação permite a entrada seletiva e repetitiva aferente até o sistema nervoso central, ativando não só a musculatura local, mas também mecanismos reflexos necessários à reorganização da atividade motora. Além disso, o estímulo elétrico diminui o tônus do grupo muscular antagonista, pelo mecanismo de inibição recíproca.

    Essa técnica, chamada Eletro Estimulação Funcional, foi inicialmente realizada por Lieberson em 1961 que estimulou os dorsiflexores dos hemiplégicos adultos e posteriormente Vodovnik levou essa idéia para a medicina de reabilitação denominando-a FES (Functional Electrical Stimulation) e desde então surgiram estudos inconclusivos sobre o seu efeito a longo prazo.

    A estimulação elétrica funcional (FES) é a estimulação elétrica do músculo privado do controle normal, para a produção de uma contração funcionalmente útil. (CHAE et al., 2001).

    O uso da FES tem se mostrado na literatura mundial como um meio de ativação muscular e de recrutamento de um maior número de unidades motoras devido aos seus inputs sensoriais. (Nelson, R.M.; Hayes K.W.; Currier, D.P.; 2002)

    Outros estudos como os de Johnston, T.E, et al 2003; Kim, C.M. 2004 e Pierce, S.R. et al 2004, mostram as alterações causadas pelo uso da FES na marcha, como aumento do comprimento do passo, cadencia além da presença da dorsiflexão na fase de balanço.

    Porém apenas Johnston, T.E, et al 2004 verificou efeitos a longo prazo (um ano depois da FES) em crianças submetidas a cirurgias, e concluiu que o grupo que associou a cirurgia a FES, obteve maior resultado funcional como aumento da ADM, parâmetros espaço-temporais da marcha e função motora grossa.

    As fases da marcha foram muito bem descritas por Perry (1992). Essas fases são dividas entre dois grandes grupos: o apoio (contato inicial, resposta a carga, apoio médio, apoio terminal e pré balanço) e o balanço (balanço inicial, balanço médio e balanço final). O maior déficit de dorsiflexão ativa apresentados por hemiplégicos são nas fases do contato inicial e balanço terminal (Perry, 1992).

    Diante disso faz-se necessários estudos que demonstrem o efeito do uso de órteses elétrica na marcha, pois o uso prolongado desse aditamento pode potencializar o aprendizado motor do movimento auxiliado pela órtese.

Objetivo

    Avaliar o efeito da órtese elétrica, aplicada em dorsiflexores, nos ângulos de tornozelo de crianças com hemiparesia tipo espástica.

Métodos

    A amostra foi composta de 4 pacientes portadores de paralisia cerebral tipo hemiparesia espástica de idade variável entre 5 e 12 anos que não estavam realizando fisioterapia. Nenhum paciente apresentava diminuição da amplitude de movimento de tornozelo passiva, nem movimentação invonluntária.

    Os parâmetros elétricos produzidos pelo estimulador são: Ciclo de trabalho – Ton =5 segundos e Toff= 10 segundos; Freqüência dos estímulos elétricos = 25 Hz; Largura de pulso = 150 microsegundos; Forma de onda – bifásica simétrica. Um dos eletrodos era colocado próximo a cabeça da fíbula e o segundo no terço proximal do ventre muscular do tibial anterior.

    O funcionamento da órtese se dava na fase do balanço da marcha, quando o pé é suspenso, então o sensor da palmilha ativava o estimulador que gera corrente elétrica, provocando a dorsiflexão com eversão do pé. Esta contração permanecia até o próximo apoio do calcâneo no solo. O sensor da palmilha captava esta pressão gerada pelo apoio do calcanhar no solo e informava o estimulador. Então o estimulador interrompia a produção de corrente elétrica que faz com que os músculos relaxem durante toda a fase de apoio. No início da fase do balanço, quando o calcâneo se desprendia do solo, o sensor da palmilha ligava novamente o estimulador que produz a contração dos músculos iniciando um novo ciclo.

    A intensidade usada no aparelho era capaz de contrair a musculatura de tibial anterior e fibulares e inclusive promover a dorsiflexão em toda sua amplitude.

    Os participantes realizaram análise de marcha inicialmente descalços e em seguida calçados e com a órtese elétrica.

    O exame foi realizado em um laboratório de marcha com seis câmeras e sistema de aquisição Vicon 370.

Resultados

    Os resultados serão apresentados por cada caso clínico. Cada gráfico representa a média dos ângulos de tornozelo durante todo o ciclo da marcha, sendo o traçado maior descalço e o traçado menor com a órtese. No eixo horizontal está representado o ciclo da marcha em porcentagem e no eixo vertical o ângulo do tornozelo medido em graus. As duas linhas verticais localizadas no centro do gráfico representam a divisão entre as fases de apoio e balanço respectivamente.

Caso 1: 8 anos, hemiparesia à E

Caso 2: 7 anos, hemiparesia à E

Caso 3: 12 anos, hemiparesia à D

Caso 4: 5 anos, hemiparesia à D

    A tabela representa o ângulo do tornozelo durante o contato inicial e durante o balanço terminal. Os valores positivos representam a dorsiflexão e os negativos a plantiflexão

  

Contato inicial

Balanço terminal

Descalço

Órtese

Descalço

Órtese

1

-15.8

-4.3

-19.05

-2.68

2

-3.6

6.6

-2.48

6.02

3

-5.3

12.4

-7.11

12

4

-11.3

-11.3

-14.1

-8.42

Média

- 9.0 ± 4.9

0.9 ± 9,2

-10.7 ± 6.4

1.7 ± 7.8

Valor de p

0.07

0.03*

Discussão e conclusão

    Os resultados obtidos demonstram uma boa efetividade da órtese elétrica em suprir a deficiência de dorsiflexão nas fases da marcha analisada em crianças com hemiparesia espástica como seqüela de paralisia cerebral. Durante a fase de balanço terminal essa melhora foi estatisticamente significativa (p≤0,05), e apesar da diferença na média na fase do contato inicial, não houve diferença estatística. Este fato pode se justificar devido ao número reduzido da amostra e de que com o toque do calcanhar o aparelho desliga imediatamente, e assim diminui bruscamente o seu efeito sobre o ângulo de dorsiflexão do tornozelo.

    Liberson e colaboradores (1961) notaram que, quando foi corrigido o pé caído em pacientes hemiplégicos por meio da estimulação elétrica, alguns mantiveram a capacidade de dorsiflexão para diferentes períodos de tempo após o término da estimulação.

    Waters et al. (1975) observaram o mesmo fenômeno em alguns de seus pacientes.

    Na revisão de Burridge et al. (1998) também foi concluído que alguns estudos relataram um efeito de retenção, que consistia de movimento voluntário após o uso da eletro estimulação. Pórém muitos dos estudos incluídos tinham amostras pequenas e metodologia usada de forma pouco convincente. 

    Portanto apesar dos bons resultados apresentados com o uso da órtese elétrica, ainda são necessários maiores estudos para verificação do efeito a longo prazo do uso da mesma em dorsiflexores de hemiplégicos.

Bibliografia

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