O sono do idoso e a atividade física El sueño de la persona mayor y la actividad física |
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*Graduanda/o de Educação Física - UFV **Graduada em Educação Física - UFV Universidade Federal de Viçosa, MG (Brasil) |
Juscélia Cristina Pereira* Felipe Alves Soares* Rutênia Jardim Lages** |
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Resumo O sono é uma associação entre fatores orgânicos e fisiológicos intrínsecos ao indivíduo que pode ser identificado como um agente altamente influenciador do cotidiano do ser humano. Estudos como o de Geib et al (2003) apontam que o processo de envelhecimento pode ocasionar modificações na quantidade e qualidade do sono. O objetivo desse trabalho é de analisar essas interferências em relação o sono do idoso no processo de envelhecimento, bem como verificar os benefícios da atividade física no que diz respeito à melhora na qualidade do sono dos indivíduos da terceira idade. Para tanto, realizou-se uma revisão literária através de leitura aliada em livros que servem como base do assunto, sendo que se deu ênfase na leitura crítica tendo como alicerce artigos científicos recentes sobre o tema. Dessa forma, foi observado que em estudos como o de Cochrane (2007) citado por Wannmacher (2007) evidenciou-se melhora significativa de escores em escala de avaliação global da qualidade do sono, diminuição da latência para início do sono e aumento da duração total de sono. Ainda sobre, existem fortes evidências experimentais de que um programa de exercício físico regular pode melhorar a quantidade e qualidade do sono em indivíduos idosos (Guimarães, Lima e Souza, 2007). A partir dos benefícios da atividade física que foram explicitados o idoso deve ser levado em conta e tratado de forma respeitosa, visto que o mesmo é o protagonista do processo. Todas as modificações oriundas do envelhecimento, especificamente voltada ao sono, devem ser transmitidas a ele, para que se possam compreender melhor as alterações inevitáveis do organismo com o passar da idade. Unitermos: Sono. Exercício físico. Qualidade de vida. Envelhecimento |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
O sono é uma associação entre fatores orgânicos e fisiológicos, intrínsecos ao indivíduo, um estado comportamental reversível e cíclico, com redução ou cessação do contato com o meio externo que é iniciado e mantido por mecanismos próprios; além disso, também podem estar associados ao sono fatores sociais, culturais e ambientais (Barbosa, Rebelatto e Santana, 2008).
Considerando todos os aspectos associados e relacionados ao sono, é possível identificá-lo como um agente altamente influenciador do cotidiano do ser humano, e, consequentemente, interferente na sua qualidade de vida (no presente estudo, considera-se a perspectiva de qualidade de vida como uma expressão ampla e subjetiva).
Estudos apontam que o processo de envelhecimento – normal ou usual – ocasiona modificações na quantidade e qualidade do sono, de forma que estas alterações afetam mais da metade dos adultos acima de 65 anos de idade (Geib et. al., 2003).
De acordo com Guimarães, Lima e Souza (2007), à medida que o indivíduo envelhece, o sono se constitui cada vez mais em motivo de queixas. Geib et. al. (2003) complementam ressaltando que, embora os idosos geralmente relatem as suas quixas relacionadas ao sono, muitos não o fazem por não concebê-las como disfunções, mas as entendem como eventos normais do processo de senescência, de forma que isso contribui para o aumento do consumo de drogas hipnótica, nem sempre prescritas e consumidas com a observância à sensibilidade farmacodinâmica da idade e às alterações no desempenho do idoso.
Pesquisas realizadas por Freitas (2006) citado por Machado et. al. (2008) apontam que o idoso dorme em torno de seis horas, o período de latência é maior, o sono é mais superficial, sem estágios profundos, e ocorrem mais despertares durante a noite. Complementando, Neto (2007) afirma que as dificuldades apontadas com maior consistência referem-se à dificuldade de conciliar e, principalmente, de manter o sono noturno, isto é, o indivíduo, uma vez deitado, demora a adormecer e acorda frequentemente à noite, sendo o sono percebido como mais ‘leve’ e menos satisfatório.
De acordo com Guimarães et. al. (2007), não existem evidências definitivas de que a quantidade necessária de sono diminua com o processo de envelhecimento, contudo, os idosos parecem ter, em geral, um sono de menos duração, aumento dos despertares noturnos e, consequentemente, mais cochilos diurnos. Afirmam ainda que a eficiência do sono, ou seja, a proporção entre o tempo que a pessoa consegue realmente dormir e o tempo despendido no leito com o objetivo de dormir parece estar reduzida nas pessoas de terceira idade, de forma que a dificuldade de manutenção do sono noturno contribui para a diminuição desse parâmetro, que em geral reflete na qualidade do sono.
Neto (2007) mostra que as perturbações do sono representam, para os idosos em particular, fatores de risco ligados à institucionalização e à mortalidade. O autor ainda diz que “são inúmeras as doenças e disfunções orgânicas que podem causar perturbações no sono do idoso, dentre elas:
Dores de diversas origens, como as causadas por doenças articulares (artrite, por exemplo), mialgias, angina pectoris, neuropatias, vasculopatias periféricas, úlceras pépticas, entre outras);
Refluxo gastro-esofageano de várias etiologias;
Dispnéia, muitas vezes exacerbada durante a noite, cujas causas podem ser a disfunção pulmonar obstrutiva crônica e a insuficiência cardíaca congestiva, por exemplo;
Doenças degenerativas do sistema nervoso central (como a doença de Parkinson, por exemplo);
Diabetes mellitus;
Hipo e hipertireoidismo;
Incontinência urinária e prostatismo;
De forma a minimizar essas perturbações do sono, médicos recomendam medidas de estímulos que devem ser incentivadas nos idosos, sendo elas: regularização do horário para deitar, com restrição de cochilos durante o dia; saída da cama se houver dificuldade para dormir, só retornando quando o sono se apresentar; limitação da ingestão de cafeína e álcool à noite; redução da ingestão de líquidos e alimentos durante a noite; quarto com temperatura adequada e suficiente silêncio (Wannmacher,2007).
Com os estudos apontados, é possível associar o processo de envelhecimento a uma provável diminuição ou modificação do sono no idoso, portanto, é necessário tomar medidas profiláticas de forma a amenizar este processo para que se tenha uma melhor qualidade do sono e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida.
A atividade física e o sono do idoso
A atividade física é definida como um conjunto de ações que um indivíduo ou grupo de pessoas pratica envolvendo gasto de energia e alterações do organismo (Filho, 2006). Esta atividade realizada de forma planejada, estruturada, repetitiva e intencional é uma maneira eficiente de garantir a sobrevivência dos indivíduos (MCARDLE et al,1992).
A literatura existente demonstra que atividade física está associada com uma saúde mental positiva e proporciona ao indivíduo uma vida com maior qualidade. Sobrinho (1998) complementa afirmando que o exercício físico é uma forma de sobrecarga para o organismo e quando bem dosada estimula adaptações de aprimoramento funcional de todos os órgãos envolvidos.
Ao se relacionar a atividade física com o sono, aspecto analisado neste estudo, Boscolo et al (2007) afirma que o exercício físico regular contribui para a qualidade de vida, proporcionando aos praticantes a melhoria das capacidades cardiorespiratória e muscular; o controle da massa corporal; a redução da depressão e da ansiedade; a melhoria das funções cognitivas (memória, atenção e raciocínio); e a melhoria da qualidade e da eficiência do sono. Portanto, conclui-se que, se os idosos praticarem alguma atividade física, possivelmente terão uma melhora na qualidade do seu sono.
Taveira e Ceolin (2003) buscaram avaliar a qualidade subjetiva do sono de idosos (idade média de 70,4 ±6,5 anos), com cardiopatia isquêmica (CI) e os fatores que influenciam o sono, segundo seu ponto de vista. De acordo com os sujeitos avaliados, os fatores que contribuem para sono de boa qualidade são: saúde, tranqüilidade, silêncio e pouca claridade.
Além das medidas citadas acima, existem fortes evidências experimentais de que um programa de exercício físico regular pode melhorar a quantidade e qualidade do sono em indivíduos idosos (Guimarães, Lima e Souza, 2007).
A concepção de que a atividade física regular e sistematizada costuma ser indicada como influência positiva sobre a qualidade do sono, ocorre devido à proposição de que o sono teria um papel de compensar as energias perdidas durante a vigília e, portanto, maiores níveis de atividade durante a vigília resultariam em aumento da profundidade e duração do sono (Barbosa, et al. , 2008).
No estudo de Guimarães et al. (2007) avaliou-se o tempo total de sono (TTS) e a qualidade do sono em idosas sedentárias com idade mínima de 60 anos, submetidas a um programa de caminhada em grupo. Foram instruídas a preencher o Diário do Sono e a Escala Visual Analógica (EVA) de qualidade do sono, antes e durante um programa de atividade física em grupo.
Diante da análise dos resultados apresentados, conclui-se que o TTS aumentou e a qualidade do sono melhorou após o programa de atividade física, realizada neste grupo. Os autores deste estudo afirmam que mesmo atividades simples como a caminhada, houve considerável melhora no comportamento do sono das idosas. Alguns autores afirmam que os exercícios aeróbicos influenciam de forma considerável a qualidade do sono.
Cochrane (2007) citado por Wannmacher (2007) avaliou eficácia de exercício físico para insônia em idosos acima de 60 anos e evidenciou melhora significativa de escores em escala de avaliação global da qualidade do sono, diminuição da latência para início do sono e aumento da duração total de sono.
O objetivo de Barbosa, Rebelatto e Santana (2008) foi identificar a influência de um programa regular de atividade física sobre a qualidade subjetiva do sono de idosas acima de 60 anos. Para verificar a qualidade subjetiva do sono utilizou dois questionários o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) e a Escala de Sonolência de Epworth (ESE).
Essas atividades foram realizadas três vezes por semana com duração aproximada de 60 minutos, sendo administrados exercícios de: alongamento, resistência aeróbia e de força; atividades de coordenação, agilidade e flexibilidade; exercícios respiratórios e de relaxamento. Neste estudo as atividades físicas propostas não tiveram influência direta sobre a qualidade do sono e sonolência diurna nas mulheres idosas estudadas.
O resultado encontrado pode ter tido influência da boa qualidade do sono que as idosas apresentaram na avaliação inicial. Sugere-se que mais estudos sejam feitos sobre a importância da atividade física na qualidade do sono de idosos.
É possível observar que “a investigação e o tratamento das perturbações do sono do idoso exigem uma abordagem ampla e completa, uma vez que a fronteira entre a normalidade e o distúrbio ainda se mostra tênue, a despeito dos avanços obtidos. O sono, assim como o envelhecimento, apresenta múltiplas facetas a serem estudadas” (Neto, 2007).
Além disso, o idoso deve ser levado em conta e tratado de forma respeitosa, visto que o mesmo é o protagonista do processo. Todas as modificações oriundas do envelhecimento, especificamente voltada ao sono, devem ser transmitidas a ele, para que se possa compreender melhor as alterações inevitáveis do organismo com o passar da idade.
Referências bibliográficas
BARBOSA, G.O.; REBELATTO, J.R.; SANTANA, M.G. Influência de um programa regular de atividade física sobre a qualidade do sono de mulheres idosas. Congresso de Iniciação Científica. Anais de Eventos da UFSCar, v. 4, p. 611, 2008.
BOSCOLO, R.A.; SACCO ,I.C.; ANTUNES, H.K.; MELLO, M.T.; Tufik,S. Avaliação do padrão de sono,e funções cognitivas em adolescentes. Rev Port Cien Desp 7(1) 18–25,2007.
CEOLIM, M. F. O sono do idoso. São Paulo: Editora Atheneu, 2007. Cap. 28, p. 351-368. In: Tratado de Gerontologia
FILHO,W.J. Atividade física e envelhecimento saudável. Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.20, p.73-77, set. 2006. Suplemento n.5.
GEIB, L.T.C. Sono e envelhecimento. Ver. Psiquiatr. Rio Gd. Sul. Vol.25, nº3.
GUIMARÃES, L.H.C.T.; LIMA,M.D.; SOUZA,J.A. Physical activity in group improves sleep in sedentary elder women.
MACHADO, C. S. M. ARAGÃO, Q. F.;VOLPE, C. R. G.;ALCANTARA, V.C. S. Qualidade de vida das pessoas que realizam atividade física em centro de saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem do UNIEURO-REEUNI, Brasília, v.1, n.1, p. 34-50, jan./abr. 2008.
MCARDLE, W. D.; KATCH, F. L. & KATCH, V. L. Fisiologia do exercício: energia,
NETO, P. Tratado de Gerontologia. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Atheneu, 2007.
SOBRINHO, J. M. S., Exercício Físico e Saúde, 1998. Disponível no site: http://www.saudetotal.com/artigos/atividadefisica/exfisico.asp. Acesso no dia 19/05/2009.
TAVEIRA, Y.D.A. CEOLIM, M.F. Qualidade do sono em idosos cardiopatas. XI Congresso Interno de Iniciação Cientifica da Unicamp,2003.
WANNMACHER, L. Como manejar a insônia em idosos: riscos e benefícios. Uso racional de medicamentos: temas selecionados. ISSN 1810-0791 Vol. 4, Nº 5Brasília, abril de 2007.
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