Nível de conhecimento dos acadêmicos do curso de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sobre a doença diabetes mellitus Nivel de conocimiento de los estudiantes del curso de Educación Física de la Universidad de Mato Grosso do Sul sobre la diabetes mellitus |
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*Acadêmicas do curso de Educação Física *Professor do curso de Educação Física Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Brasil) |
Ana Priscila Cayres de Oliveira* Gisele Brandielli Leone* Heloyse Elaine Gimenes Nunes* Maiara Fernanda Borges Fernandes* Brunno Elias Ferreira** |
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Resumo O diabetes mellitus é uma doença crônica com efeito degenerativo nos sistemas orgânicos. O tratamento se baseia em dieta, uso de insulina exógena e exercício físico. Com base nisso esta pesquisa procurou identificar o nível do conhecimento sobre a doença dos acadêmicos de Educação Física de uma universidade. A pesquisa usou questionário próprio e identificou que a evolução das séries do curso (quatro anos) teve significativa associação com o nível de conhecimento sobre a doença. Também foi verificado que dentro de uma mesma série existe grande variação na pontuação do instrumento, sugerindo a discussão com foco na doença para efetiva educação do graduando sobre o diabetes mellitus. Unitermos: Atividade física. Saúde. Qualidade de vida |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009 |
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Introdução
É necessário compreender as necessidades, a história e as condições clínicas e fisiológicas atuais de cada indivíduo para prescrever as atividades físicas de forma adequada e segura, devido às condições de saúde, condicionamento físico, idade, estrutura, entre outras variáveis (POLLOCK; WILMORE, 1993).
As atividades físicas prescritas indevidamente por falta de instrução em relação às variáveis em questão podem provocar consequências ou incidentes que coloquem em risco a vida de um indivíduo orientado por um professor de Educação Física. Diante disso, este deve dispor de informações, conhecimentos e aprimoramento na área para melhor atender sem prejudicar a saúde das pessoas.
Pelo fato de que a maioria da população tem uma rotina de vida estressante e um estilo de vida pouco saudável, como alimentação inadequada e sedentarismo, o professor deve ter um bom nível de informação sobre as possíveis consequências desse cotidiano, pois essas mudanças de hábitos acarretaram doenças como a hipertensão arterial, diabetes, obesidade, depressão, entre outras que afetam diretamente a população. Este trabalho trata da doença, Diabetes Mellitus.
Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica-degenerativa que se caracteriza pela deficiência absoluta ou relativa de insulina (BERNARDO, 1970)., Pode ser causada pela baixa produção deste hormônio, pela autodestruição das células betas do pâncreas, que produzem insulina, entre outros fatores. A função da insulina é controlar a quantidade de glicose no sangue promovendo a absorção do nutriente pelas células.
Pode ser classificada como Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) ou Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), além de outros tipos (gestacional, inespecífica...). O DM1 pode ser denominado também como diabetes juvenil, pois é encontrado em sua maioria em crianças e adolescentes. De acordo com Pollock e Wilmore (1993), no DM1 o pâncreas não tem capacidade de produzir insulina em quantidades suficientes, por isso depende de insulina exógena. Já o DM2 afeta adultos e idosos, pois estão relacionados com a longevidade, hábitos alimentares inadequados e sedentarismo. Este representa a maior parte da população portadora de DM.
O tratamento é realizado por meio de insulina exógena, dieta específica e prática de exercícios físicos. Se não tratada e/ou controlada o DM causa complicações, disfunções e insuficiência de alguns órgãos, como olhos, rins, cérebro, coração, vasos sanguíneos, e também pode ser responsável pela amputação de membros inferiores (BRASIL, 2006).
A doença exige maior atenção pela alta incidência e mortalidade no mundo. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o DM junto a hipertensão arterial representa as doenças que mais causam mortes e internações no Brasil, além de representar alto custo para o Governo, pelo fato de ser um tratamento árduo, contínuo e por afetar tanto a qualidade de vida dos portadores (BRASIL, 2006).
Para a busca da manutenção da saúde a atividade física é um dos caminhos essenciais, pelo fato de que os principais benefícios a ela advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos (Matsudo; Matsudo, 2000). Sendo assim, torna-se um dos pilares no tratamento de doenças como o DM, junto à utilização de fármacos, porém esses trazem efeitos colaterais (FERREIRA, 2007).
Diante disso, para um tratamento eficaz é necessário um acompanhamento multiprofissional treinado e com nível de instrução adequado para a manutenção da saúde e promoção da qualidade de vida.
O entendimento do DM como um todo, sabendo de suas implicações, consequências, tratamento, e entre outros, é fundamental para o educador físico como também para qualquer outra profissão, ter esse conhecimento, de maneira que a pessoa portadora dessa doença tem algumas limitações e tem que ser atendida de um modo diferenciado, não a excluindo, mas entendendo como o organismo reage a certas mudanças fisiológicas, tendo então ter que ser tratado com atenção.
O portador de DM tem que se exercitar, ter uma dieta balanceada e manter um hábito de vida saudável. Muitas vezes eles caem em situações que o professor de educação física não sabe conduzir uma série de exercícios específicos e acabam por não fazer atividade física, deixando-o frustrado e fazendo com que ele não cuide de sua saúde, podendo resultar em situações lamentáveis ou até mesmo o óbito (PACE et al, 2003).
“[...] o tratamento inicial consiste exclusivamente em uma mudança no estilo de vida, incluindo basicamente, a adaptação a um plano alimentar específico e a prática de atividade física. Concomitantemente, deve-se iniciar um programa de educação em diabetes, abordando temas de importância e dando ênfase ao plano alimentar e aos benefícios da atividade física.” (GUIMARÂES; TAKAYANAGUI, 2002, p. 40).
Mediante esses fatos citados a cima, ressalta-se a importância do professor de educação física ter uma boa instrução sobre diversas doenças, em evidência o DM, para poder conduzir aulas para essa população.
Deste modo, o trabalho em questão se interessou em pesquisar qual o nível de instrução dos acadêmicos de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, para então alertá-los sobre a importância de ter o conhecimento básico sobre essa doença, já que em qualquer momento da vida eles poderão se deparar com uma pessoa que tenha essa doença, e tratá-la de modo adequado, proporcionando-a uma melhor qualidade de vida. Despertar nos alunos a curiosidade dessa doença, fazendo com que os acadêmicos procurem se especializar ou então estudar mais sobre essa doença e como atender as pessoas em questão.
Metodologia
Este é um estudo quantitativo transversal e teve como público alvo os acadêmicos do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Participaram do estudo os acadêmicos regularmente matriculados no curso e que expressaram vontade de colaborar com a pesquisa totalizando um n de 65.
Um questionário foi aplicado para verificar o nível de conhecimento sobre a doença, no Departamento de Educação Física (DEF).O instrumento foi elaborado pelos autores, composto por identificação e 3 blocos sendo o primeiro de conhecimentos básicos sobre a doença, seguido respectivamente de sintomas e tratamento. Cada bloco tem 5 afirmações que podem ser confirmadas ou negadas. A pontuação de cada afirmativa equivale a 1 ponto totalizando em 15 pontos a nota máxima. Antes de responder ao questionário, era explicado e esclarecido duvidas dos entrevistados.
O primeiro procedimento em relação aos dados foi à tabulação e verificar a média. Em seguida procedeu-se o teste TUKEY (no programa BIOSESTAT 5.0), para analisar as variáveis. Trata-se de um teste para analisar e verificar as possíveis diferenças entre as 4 variáveis.
Questionário referente ao nível de conhecimento sobre o Diabetes Mellitus
1. Identificação:
1.1 Sexo:
1.2 Idade:
1.3 Série:
2. Conhecimentos básicos sobre a doença:
SIM
NÃO
É uma doença causada por fungos ou vírus
O Diabetes Mellitus pode afetar qualquer público
O Diabetes Mellitus tipo I é encontrado normalmente em crianças e adolescentes.
O tipo II em indivíduos com idade elevada, excesso de peso, hábitos alimentares inadequados.
Uma das causas do Diabetes é o déficit de insulina
3. Sintomas do Diabetes Mellitus
SIM
NÃO
É possível a identificação dos sintomas da doença na fase inicial.
Retenção urinária e sensibilidade a água.
Difícil cicatrização e disfunção da visão.
Obesidade e/ou perda de peso sem motivo aparente.
Indivíduo considerado ativo ou hiperativo.
4. Tratamento do Diabetes Mellitus:
SIM
NÃO
Dietoterapia, com ingestão de carboidratos em maior proporção.
Prática regular de exercícios físicos com acompanhamento de um profissional da área.
O tratamento para diabéticos tipo I é diferente do diabético tipo II.
O portador de Diabetes tipo II depende exclusivamente da insulina exógena.
Para um tratamento considerado adequado deve ter o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar.
Resultados e discussão
O gráfico 1 apresenta as médias dos acadêmicos do curso de Educação Física de acordo com o ano. Percebe-se que as médias variaram pouco, visto que a mais baixa foi 10,8 e a mais alta 12,6 sendo que a diferença entre 2º, 3º e 4º ano foi no máximo de 0,3. Apesar do 1º ano obter a menor média, conseguiu atingir uma nota acima da média do questionário (9 pontos). Entretanto, mesmo que não houve grande variância nas médias, a menor pontuação foi de 6 e a maior de 15 (atingidas pelo 1º e 4º ano respectivamente).
Gráfico 1. Pontuação média do questionário de acordo com as séries dos acadêmicos de Educação Física (n=65)
De acordo com a média, houve um crescente nível de conhecimento sobre a doença nos diferentes anos de formação, que era esperado. Deste modo pode-se afirmar que neste caso a variável de anos na formação foi significante quanto ao maior conhecimento sobre a doença. Na tabela 1 esta o valor de n de cada série, e sua menor e maior nota seguida do valor do desvio padrão.
Variável |
|
Pontos |
Desvio Padrão |
|
1ª série |
n 20 |
MIN 6 |
MAX 13 |
1,95 |
2ª série |
9 |
10 |
14 |
1,45 |
3ª série |
16 |
9 |
14 |
1,29 |
4ª série |
20 |
11 |
15 |
1,50 |
Tabela 1. Desvio padrão
O valor de (p) só foi significativo entre a 1ª e a 4ª série, onde o (p) corresponde a <0,01. E o restante das séries o valor de (p) não é significativo. O número de alunos que responderam o questionário foi maior no 1º e 4º ano (20 alunos em cada) podendo interferir no resultado visto que é maior a probabilidade de erro do que no 2º e 3º ano (9 e 14 respectivamente).
Médias |
Diferença |
(p) |
|
Médias (1 a 2) |
12,6 |
27,6 |
ns |
Médias (1 a 3) |
14,0 |
36,7 |
ns |
Médias (1 a 4) |
17,5 |
48,7 |
<0,01 |
Médias (2 a 3) |
0,13 |
0,29 |
ns |
Médias (2 a 4) |
0,48 |
10,7 |
ns |
Médias (3 a 4) |
0,35 |
0,91 |
ns |
Tabela 2. Diferença entre as médias. Valor de (p)
Conclusão
No presente estudo foi confirmado a hipótese de que a variável série era significante quanto ao nível de conhecimento visto que a grade curricular é organizada por nível de complexidade e especificidade dos conteúdos.
Entretanto, os alunos em geral possuem uma base sobre a doença diabetes. Apesar da baixa variância das médias, há um desvio significativo dentro de uma série, ou seja, indivíduos da mesma série com maior nível de instrução. Logo, é necessário que o professor certifique-se de que a metodologia utilizada para abordar o conteúdo esta sendo a melhor forma para instruir a maioria de seus alunos. Acredita-se também que talvez o maior nível de conhecimento de alguns alunos sejam adquiridos fora de sala de aula, visto que não há disciplinas que abordem de maneira específica tal conteúdo.
Referências bibliográficas
AGUIAR, C. C. T; VIEIRA, A. P. G. F; CARVALHO, A. F; MONTENEGRO- JUNIOR, R.M. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida relacionada à saúde no diabetes melito. Arq Bras Endocrinol Metab. São Paulo v.52 n.6. 2008.
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FERREIRA, Brunno Elias. Alterações glicêmicas agudas em diabéticos tipo 1 submetidos a uma sessão de exercícios resistidos. Campo Grande, 2007. Monografia – Trabalho de Graduação (Licenciatura em Educação Física) – Departamento de Educação Física, CCHS/UFMS, 2007.
GUIMARÃES, Fernanda Pontin de Mattos; TAKAYANAGUI, Angela Maria Magosso. Orientações recebidas do serviço de saúde por pacientes para o tratamento do portador de diabetes mellitus tipo 2. Revista de Nutrição, 15(1):37-44. Campinas, janeiro/abril, 2002.
MATSUDO & MATSUDO apud ASSUMPÇÃO, L.O.T; MORAIS, P.P; FONTOURA, H. Relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida: Notas introdutórias. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 8 (52), 2002. http://www.efdeportes.com/efd52/saude.htm
PACE, Ana Emilia; NUNES, Polyana Duckur; OCHOA-VIGIO, Katia. O conhecimento dos familiares acerca da problemática do portador de diabetes mellitus. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 11, n. 3. Ribeirão Preto, maio/junho, 2003.
POLLOCK, ML; WILMORE, JH. Exercícios na saúde e na doença. 2ª edição. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.
WAJCHENBERG, Bernardo Léo. Diabetes Mellitus. São Paulo: Sarvier, 1970. 157 p. (Monografias médicas. Clinica médica; v. 3).
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