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Influência do tipo de piso em lesões nos membros 

inferiores de praticantes de tae kwon do chute bandal tchagui

Influencia del tipo de piso en las lesiones en miembros inferiores de practicantes de taekwondo de la patada bandal tchagui

Influence of the floor on lower extremities injuries on tae kwon do practicioners of the bandal tchagui kick

 

*Centro Universitário La Salle, Canoas, RS

**Centro Universitário La Salle, Canoas, RS

Programa Internacional de Doutorado em Ensino de Ciências

Universidade de Burgos, Burgos, Espanha

Jenifer Escalier Nieves dos Santos Cavalheiro*

Adriana Marques Toigo**

adrytoigo@terra.com.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O estudo teve como objetivo verificar, através da análise das respostas de um questionário respondido por 87 atletas faixa preta, com média de idade de 28, 14 ± 10,54 anos, praticantes há um tempo médio de 13,56 ± 7,84 anos da modalidade de Tae Kwon Do, se há associação entre diferentes tipos de lesão e os tipos de piso utilizados no treinamento. Verificou-se que o piso de EVA é o mais utilizado atualmente nos treinamentos e nas competições, sendo também aquele relatado como sendo de maior dificuldade para a execução do chute Bandal Tchagui. A partir de uma análise loglinear das categorias oriundas dos questionários, foi possível verificar que o EVA é, também, o tipo de piso associado ao maior número de lesões, provavelmente em função de seu alto coeficiente de atrito. Os atletas que responderam os questionários relataram que o local de maior incidência de lesão nos membros inferiores devido ao chute Bandal Tchagui foi o joelho, seguido do tornozelo e do pé.

          Unitermos: Tae Kwon Do. Chute Bandal Tchagui. Lesões

 

Abstract

          The objective of this study was to investigate the correlations between the kind of floor where the Tae Kwon Do athletes found difficulties during training and the type of injury originated from the Bandal Tchagui kick and between the mechanism that caused the injury and the floor where the athlete reported higher difficulty and type of injury. Eighty seven Tae Kwon Do athletes with mean ages of 28,14 ± 10,54 years and average time of practice of 13,56 ± 7,84 years filled a questionnaire during a great competition held in Porto Alegre, Brasil. The results showed that the EVA floor was the kind of floor associated to the largest number of injuries, perhaps in function of it’s higher kinetic friction coefficient. The athletes that filled out the questionnaire reported that the place most affected by injuries on the lower extremities due to the Bandal Tchagui kick were the knee, followed by the ankle and the foot.

          Keywords: Tae Kwon Do. Bandal tchagui kick. Injuries

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    O Tae Kwon Do, arte marcial milenar coreana de defesa pessoal, foi introduzido no Comitê Olímpico em julho de 1980, sob o comando da General Association of International Sports Federation (GAISF). Em 1982, o Comitê Olímpico ordenou uma demonstração oficial nos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, a qual foi repetida posteriormente em Barcelona em 1992. Em 4 de setembro de 1994, o Tae Kwon Do foi admitido como modalidade olímpica oficial para o ano 2000, nas XXVII Olimpíadas de Sidney. O Tae Kwon Do, atualmente, além de uma arte de defesa pessoal, é um moderno esporte de luta praticado em mais de 170 países e seus praticantes somam mais de 50 milhões, tornando-o uma arte marcial bastante popular (Goulart, 2005).

    A partir da inclusão do Tae Kwon Do nos Jogos Olímpicos surgiram diversas alterações em termos de regras e organização visando à integridade do atleta, fato observado nos constantes seminários de arbitragem e nas reciclagens mundiais anuais que sempre ocorrem trazendo novas perspectivas. Entre estas mudanças, uma ocorrida em 1986, feita pelo Kukkiwon, Quartel General do Tae Kwon Do – órgão que rege todos os assuntos relativos a esta arte marcial no mundo e sede da Federação Mundial de Tae Kwon Do – em Seul, Corea, foi à adoção do piso (tatame) de EVA (material emborrachado) nas competições oficiais, igualando a atitude tomada anteriormente pelos judocas.

    Observa-se que nos fundamentos específicos do Tae Kwon Do é exigida uma grande mobilidade articular de membros inferiores em situações de luta e treinamento onde o atleta movimenta-se em diferentes direções ao mesmo tempo que chuta, sobrecarregando as articulações envolvidas. De acordo com Bedolla (2006), “as capacidades coordenativas são evidenciadas pelo equilíbrio que devem apresentar os competidores ao terem que manter a estabilidade do corpo em um só pé no momento do chute”.

    Fazendo-se uma análise mais profunda dos movimentos do Tae Kwon Do, pode-se ainda afirmar que os chutes praticados nessa modalidade ocorrem em padrão de contracorrente, isto é, a flexão do quadril e a extensão do joelho simultâneas encurtam o músculo reto da coxa em ambas as extremidades enquanto alongam os músculos semimenbranáceo, semitendíneo e a cabeça longa do bíceps da coxa. Além disso, durante este movimento, o corpo mantém-se apoiado em uma das pernas, havendo necessidade de uma grande mobilidade do pé de apoio. O aumento da resistência nesse pé aumenta a carga sobre as articulações do membro inferior, podendo resultar em torções, que são binários de força que agem em sentidos opostos, em planos paralelos no mesmo corpo. No caso do osso, o mesmo gira ao redor do seu eixo longitudinal, normalmente quando uma de suas extremidades está fixa (MIRANDA, 2003). Já em termos articulares, considera-se que há uma entorse quando ocorre uma torção forçada de uma articulação com a ruptura parcial ou outras lesões de suas estruturas de fixação sem deslocamento (TORTORA, 2006).

    No caso específico do chute Bandal Tchagui, três articulações do membro inferior são especialmente solicitadas e estão diretamente envolvidas: a coxo-femoral, a do joelho, e a do tornozelo. Nesse chute, o praticante executa um movimento semicircular com um dos membros inferiores, enquanto o outro serve de apoio junto ao solo. Esteves, Nascimento, Moreira e Reis (2007) esclarecem, ainda, que o Bandal Tchagui é um chute lateral com rotação do quadril e projeção do tronco em direção ao adversário, utilizando o peito do pé para realizar contato.

    Este estudo teve como objetivo verificar se há associação entre diferentes tipos de lesão e os tipos de piso utilizados no treinamento de atletas de Taekwondo. Além disso, também investigou-se a distribuição de freqüência relativa nas variáveis: 

  1. tempo de treino; 

  2. tipo de piso onde o atleta treina atualmente; 

  3. tipo de piso onde o atleta treinou anteriormente; 

  4. tipo de piso onde o atleta percebeu maior dificuldade ao treinar; 

  5. tipo de dificuldade encontrada pelo atleta atribuída ao piso; 

  6. ocorrência de lesão(ões) no membro inferior em decorrência do chute Bandal Tchagui

  7. local da lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui

  8. tempo passado desde a ocorrência da lesão sofrida em decorrência do chute Bandal Tchagui; 

  9. tipo de lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui

  10. mecanismo causador da lesão sofrida em decorrência do chute Bandal Tchagui

  11. perna onde o atleta sofreu a lesão em decorrência do chute Bandal Tchagui.

    De maneira mais específica, objetivou-se verificar a existência de correlação entre as variáveis tipo de piso onde o atleta percebeu maior dificuldade ao treinar e tipo de dificuldade encontrada pelo atleta atribuída ao piso, entre as variáveis tipo de lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui e mecanismo causador da lesão sofrida em decorrência do chute Bandal Tchagui e, finalmente, entre as variáveis tipo de piso onde o atleta percebeu maior dificuldade e tipo de lesão.

    A escolha de tal chute justificou-se por ser o mais utilizado em competições devido a sua grande capacidade de impacto no adversário.

Forças que atuam sobre o corpo

    São cinco as forças que atuam sobre o corpo: compressão, tração, torção, inclinação e cisalhamento.

    A força compressiva pode ser interpretada como uma força de esmagamento, logo, o corpo sujeito à compressão sofrerá uma diminuição em sua largura, mesmo que de maneira imperceptível a olho nu. Miranda (2003) explica que a compressão é formada por duas forças que atuam na mesma direção e em sentidos opostos. As forças compressivas são necessárias para o desenvolvimento e crescimento dos ossos (Toigo, Beatrici, Azevedo e Roubuste, 2002).

    Assim como na compressão, a tração (ou força de tensão) é composta por duas forças na mesma direção e sentidos opostos, entretanto, haverá um alongamento no sentido longitudinal e um encurtamento no sentido transversal (MIRANDA, 2003).

    Enquanto as forças compressivas e tensivas atuam ao longo do eixo longitudinal do corpo sobre o qual são aplicadas, a força de cisalhamento (deslizamento) atua paralela ou tangencialmente a uma superfície. Esse tipo de força tende a causar deslizamento, deslocamento ou cisalhamento de parte do objeto em relação à outra parte do mesmo (HALL, 2000).

    As torções são binários de força que agem em sentidos opostos e em planos paralelos de um mesmo corpo (MIRANDA, 2003) e ocorrem quando uma estrutura se enrosca ao redor de seu eixo longitudinal, tipicamente quando uma de suas extremidades está fixa (HALL, 2000).

    A inclinação é um tipo ligeiramente mais complicado de carga a qual ocorre no eixo longitudinal quando há uma compressão de um lado e uma tração do lado oposto (MIRANDA, 2003).

Lesões

    No Tae Kwon Do, devido à exigência de contato total e potência na aplicação dos golpes pertinentes ao sistema competitivo, as lesões são bem freqüentes, porém, além dos rotineiros choques entre os atletas, casos em que ocorrem torções também são evidenciados. Como característica de luta em extrema velocidade e apoio de apenas um dos pés no solo, o membro inferior que serve de apoio sofre diferentes cargas em distintos sentidos, o que pode gerar sérias complicações.

    A causa e a gravidade das lesões traumáticas são geralmente óbvias. O atleta sentirá uma dor súbita, com surgimento de inchaço, que normalmente leva algumas horas para atingir o seu grau máximo. Por essa razão, o melhor momento para o exame de uma lesão traumática é imediatamente após o trauma, antes que o inchaço impeça que o atleta tolere a dor associada ao exame da área (Peterson e Renström, 2002). As lesões se tornaram mais comuns com o aumento da prática de esportes em geral, em razão da maior intensidade e a duração dos treinamentos. Lesões por uso excessivo são tipicamente causadas por excesso de cargas repetitivas, resultando em lesões microscópicas no sistema musculoesquelético. Os tecidos podem resistir a grandes cargas, mas há um limite máximo para essa capacidade, que varia entre os indivíduos e com a freqüência da carga. Os tecidos podem ser suscetíveis a lesões por fatores tanto intrínsecos como extrínsecos (op. cit.).

Aspectos metodológicos

    Este estudo caracterizou-se como descritivo de campo, do tipo exploratório (THOMAS e NELSON, 2002).

    O instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário com 11 questões abertas, com índices de confiabilidade de 0,91 para clareza e 0,81 para validade obtidos através do cálculo do Coeficiente Alfa de Cronbach. A investigação foi conduzida durante a competição de Tae Kwon Do OPEN, na cidade de Porto Alegre, em junho de 2007, onde estava acontecendo simultaneamente o Campeonato Brasileiro Infantil, Juvenil e Máster. 110 questionários foram distribuídos, dos quais retornaram 87, respondidos por atletas faixa preta de ambos os sexos, com média de idade de 28,14 ± 10,54 anos das Categorias Infantil, Juvenil, Adulto e Máster. Dos 87 participantes que devolveram o questionário preenchido, 21 foram do sexo feminino e 66 foram do sexo masculino.

    A coleta de dados teve a seguinte montagem: 

  1. abordagem pessoal dos atletas para explicar os objetivos do estudo;

  2. assinatura do termo de consentimento pelo atleta; 

  3. entrega do questionário para preenchimento no mesmo momento e 

  4. recolha do questionário imediatamente após o preenchimento.

    Foi realizada uma análise da freqüência para todas as variáveis obtidas do questionário. Ainda, foi feita uma análise loglinear para verificar ser houve correlação entre as variáveis tipo de piso onde o atleta percebeu maior dificuldade ao treinar e tipo de dificuldade encontrada pelo atleta atribuída ao piso, entre as variáveis tipo de lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui e mecanismo causador da lesão sofrida em decorrência do chute Bandal Tchagui e, finalmente, entre as variáveis tipo de piso onde o atleta percebeu maior dificuldade e tipo de lesão.

Resultados e discussão

    Os resultados foram divididos em categorias e são mostrados em tópicos na mesma ordem em que foram apresentados no questionário. Todo o tratamento estatístico foi realizado utilizando-se o software SPSS for Windows, versão 15.0.

Tempo de treino

    A primeira pergunta que apareceu no questionário foi em relação ao tempo de treino dos atletas (todos faixa preta) inscritos na competição. A média de tempo de treino ficou em 13,56 ± 7,84 anos. Um praticante de Tae Kwon Do que treina, pelo menos, duas vezes por semana, leva em torno de 2 a 3 anos para chegar à graduação de faixa preta. Dessa forma, é possível depreender que os integrantes dessa amostra têm bastante experiência no esporte.

Tipo de piso

    Foi perguntado em que tipo de piso os atletas participantes da amostra estão treinando atualmente. 63,2% dos atletas responderam que treinam em piso emborrachado de EVA. Atribui-se este alto percentual ao fato do EVA ser o material utilizado no piso onde ocorrem as competições oficiais de Tae Kwon Do, portanto, muitas academias já trocaram o piso para que os atletas que a representem estejam adaptados. O restante das respostas dividiu-se entre piso de madeira (16,1%); piso de lona (12,6%) e piso de lajota (tipo cerâmica, porcelanato) (5,7%). 2,3% dos respondentes disseram que praticam a atividade em mais de um tipo de piso pelo fato de variarem o local de treinamento.

    Foi de interesse verificar se os atletas já treinaram anteriormente em outros tipos de piso diferentes daquele(s) onde praticam a atividade atualmente. As respostas foram: a) 42,5% treinaram em mais de um tipo de piso; b) 18,4% treinaram em piso de madeira; c) 14,9% nunca variaram o tipo de piso; d)11,5% treinaram em piso de EVA; e) 5,7% treinaram em piso de lajota; f) 4,6% treinaram em carpete; g)1,1% treinaram em piso de cimento e h) 1,1% treinaram em piso de lona com raspas de pneu.

    Quando questionados a respeito dos tipos de piso onde perceberam maior dificuldade para realizar os movimentos pertinentes ao Tae Kwon Do, os atletas responderam: a) no piso de madeira (25%,3); b) não tiveram dificuldade (17,2 %); c) no piso de EVA (12,6%), d) no piso de lajota (10,3%); e) no carpete (8,0%); f) no piso de lona com raspas de pneu (8,0%); g) no piso de cimento (5,7%); h) na areia (2,3%); i) no tatame de palha (1,1%) e j) em mais de um tipo de piso (1,1%). 8,0% dos atletas não responderam a esta questão.

    As dificuldades relatadas pelos atletas em relação ao piso foram: a) deslizamento (32,2%); b) travamento (24,1%); c) outras dificuldades não especificadas (8,0%); d) instabilidade, que acaba dificultando o equilíbrio (4,6%); e) maciez excessiva (3,4%); f) emendas (2,3%) e g) não tiveram dificuldades (1,1%). 24,1% dos atletas não responderam a esta questão.

Lesão(ões) no(s) membro(s) inferior(es) em decorrência do chute Bandal Tchagui

    Quando questionados sobre a ocorrência de lesão(ões) no(s) membro(s) inferior(es) em decorrência do chute Bandal Tchagui, 35% dos atletas responderam que já sofreram lesão e 64,4% responderam que não.

    Os atletas foram, também, argüidos a respeito do local da lesão e as respostas foram as seguintes: a) joelho (48,4%); b) tornozelo (19,4%); c) pé (16,1%); d) mais de um local (9,7%); e) quadril (3,2%) e f) dedos do pé (3,2%).

    Em relação ao(s) membro(s) acometido(s) pela(s) lesão(ões), obteve-se como respostas: a) na perna executante (38,7%); b) na perna de apoio (29,0%) e c) em ambas as pernas (32,3%).

    O tempo transcorrido desde a ocorrência das lesões relatadas foi de a) até um mês (16,1%); b) entre 1 e 6 meses (12,9%); c) entre 1 e 5 anos (48,4%); d) entre 5 e 10 anos (19,4%) e e) há mais de 10 anos (3,2%).

    Outrossim, foi de interesse identificar o tipo de lesão decorrente do chute Bandal Tchagui que acometeu os atletas que responderam o questionário. Dentre as respostas encontradas, foi possível elencar: a) mais de uma lesão (36,7%); b) distensão muscular (16,7%); c) entorse (13,3%); d) contusão (10,0%); e) luxação (6,7%); f) inflamação (3,3%); g) fratura (3,3%); h) rompimento de tendão (3,3%); i) rompimento de ligamento (3,3%) e j) rompimento de menisco (3,3%). Martinez e cruz (2006) verificaram a incidência de lesões em 60 atletas de Tae Kwon Do de alto rendimento de ambos os sexos, da cidade de Tunas, Cuba, com 1 a 5 anos de experiência durante um período de 6 meses e identificaram, de modo geral, a ocorrência de distensões musculares, entorses, contusões, luxações e fraturas. Entretanto, os autores não apresentaram a distribuição percentual de incidência dessas lesões.

    Interrogou-se sobre o provável mecanismo causador das lesões citadas e as respostas foram: a) força de compressão (33,3%); b) falta de aquecimento (14,8%); c) piso inadequado (11,1%); d) sobrecarga de treino (11,1%); e) mais de uma causa (11,1%); f) esforço repetitivo (7,4%); g) técnica inadequada (3,7%); h) perda de equilíbrio (3,7%) e i) carga de torção (3,7%). Quatro atletas não souberam informar o mecanismo da lesão sofrida.

    Como já foi mencionado, foi realizada uma análise loglinear a fim de verificar ser houve correlação entre as variáveis piso onde o atleta percebeu maior dificuldade ao treinar e dificuldade encontrada pelo atleta atribuída ao piso, entre as variáveis lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui e mecanismo causador da lesão sofrida em decorrência do chute bandal tchagui e, finalmente, entre as variáveis piso onde o atleta percebeu maior dificuldade e lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui (Tabela 1).

    Segundo Thomas e Nelson (2002), a análise loglinear é utilizada para analisar tabelas de contingência multivariada. As freqüências são transformadas em logaritmos que são aditivos e semelhantes à soma dos quadrados em análises de variância. Os autores explicam que os efeitos principais e interações podem ser testados para significância e que a probabilidade de pertencer a uma categoria particular pode ser predita como função de pertencer a outras categorias utilizando-se uma equação de regressão logística, chamada logit baseada nas chances de pertencer. Este teste oferece um potente meio para estudar inter-relações entre variáveis categóricas. Nas análises feitas neste estudo adotaram-se os seguintes critérios: intervalo de confiança de 95%; máximo de 20 interações; convergência de 0,001 e delta de 0,5.

Tabela 1. Associação entre as diferentes variáveis

Variáveis associadas

Medidas de Associação

Entropia

Concentração

Piso onde o atleta percebeu maior dificuldade ao treinar e dificuldade encontrada pelo atleta atribuída ao piso

0,222

0,232

Lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui e mecanismo causador da lesão sofrida em decorrência do chute Bandal Tchagui

0,064

0,049

Piso onde o atleta percebeu maior dificuldade e lesão sofrida decorrente do chute Bandal Tchagui

0,048

0,032

Correlação entre piso de maior dificuldade x tipo de dificuldade

    O piso de madeira está associado ao deslizamento (85,4%). Esta associação é corroborada pelo fato deste material apresentar um baixo coeficiente de atrito dinâmico (m = 0,2, aproximadamente) (OKUNO e FRATIN, 2003).

    O piso de EVA está associado ao travamento (46,4%), o que era esperado, visto que, este material possui um coeficiente de atrito dinâmico maior que o da madeira. O coeficiente de atrito dinâmico da borracha é, aproximadamente, 0,8 (MOSSMANN, CATELLI, LIBARDI e DAMO, 2002).

    O carpete está associado ao travamento (45,0%) devido ao fato de também ter um alto coeficiente de atrito dinâmico, entretanto, atualmente este piso já não é mais comumente usado. Na amostra deste estudo, nenhum sujeito respondeu treinar atualmente em piso forrado com carpete.

    O cimento é outro tipo de piso que está correlacionado ao travamento (com 43,8%), provavelmente pelo seu aspecto poroso, que tem a tendência em aumentar o atrito dinâmico entre o piso e a pele.

    A lajota está correlacionada ao deslizamento (54,2%), em razão de ser um piso muito liso. Além disso, muitos atletas relataram verbalmente que treinavam usando meias nos pés por ser um piso de temperatura muito fria, aumentando muito a chance de escorregar.

    O piso de lona com raspas de pneu está associado ao travamento (55,0%), por ser, também, um material emborrachado, mas está igualmente relacionado com a instabilidade (25%), que pode levar à falta de equilíbrio. Esta falta de estabilidade pode ser explicada pela utilização de retalhos de pneu prensados embaixo da lona, ou, muitas vezes, pela utilização de tatames de palha alinhados um ao lado do outro, forrados com a lona. A junção das placas de tatame pode provocar quedas uma vez que o atleta está sujeito a posicionar inadequadamente seu pé em uma emenda.

    A areia está correlacionada com o travamento (30%), o que pode ser explicado no caso do treinamento em areia dura. Por outro lado, também foi encontrada correlação desse piso ao fator maciez (25,0%), quando se trata da prática do Tae Kwon Do em areia fofa de praia.

    Finalmente, o tatame de palha está associado ao travamento (37,5%).

Correlação entre tipo de lesão x mecanismos de lesão

    A entorse está relacionada ao piso inadequado (38,5%). A entorse é o ato ou processo de torcer, girar ou rotar em torno de um eixo no qual são lesados os ligamentos e a membrana interóssea (Vieira apud Simões, 2005). Este tipo de lesão pode comprometer a capacidade estabilizadora do ligamento, afetando o controle dos movimentos (WHITING e ZERNICKE, 2001). Uma entorse é considerada grave (ou de grau III) quando há uma ruptura ligamentar completa ou quase completa com subseqüente frouxidão (BRODY, 2001). No caso dessa investigação, o piso inadequado poderia ser entendido como aquele que favorece a incidência de cargas de torção nas articulações.

    A luxação está associada à força de compressão (38,5%), que nada mais é do que uma pancada. Luxações são traumas graves em virtude da perda de contato entre a extremidade óssea e a superfície articular (Taber apud Simões, 2005). Canto, Bueno e Pereira (1993) e Whiting e Zernicke (2001) atribuem esse tipo de lesão a cargas de origem traumática, dentre as quais destaca-se a força de compressão, em consonância com o resultado obtido nessa investigação.

    A distensão muscular está relacionada à falta de aquecimento (29,4%), seguida de esforços repetitivos (17,6%) e sobrecarga de treinamento (17,6%). Embora essas duas últimas categorias não tenham apresentado alta correlação com a distensão, recomenda-se que não sejam ignoradas, uma vez que são fatores que podem vir a provocar o tipo de lesão em questão. Vieira apud Simões (2005) define distensão como alongamento tecidual excessivo, com deformidade plástica do local. Nesse caso, entende-se alongamento como a incidência de carga de tração. Hall e Brody (2001) alertam que algumas distensões musculares não podem ser prevenidas, porém recomendam a tomada de precauções no sentido de evitar esse tipo de lesão, como por exemplo, o aquecimento antes de uma atividade vigorosa; alongamento dos músculos retraídos após o aquecimento geral; balanceamento do esforço relativo ao treinamento e prevenção no sentido de evitar a fadiga durante a atividade.

    A inflamação tem associação com esforços repetitivos (27,3%). Whiting e Zernicke (2001) e Brody (2001) concordam que as inflamações (ou tendinites), são originadas por sobrecargas repetitivas impostas aos tendões, ocorrendo tanto em nível macroscópico quanto microscópico, com dano às proteínas estruturais e ao suprimento sangüíneo.

    Encontrou-se associação entre fratura e força de compressão (27,3%). O conceito de fratura está relacionado à ruptura na continuidade do osso, resultando de um evento agudo, como por exemplo, uma colisão violenta (macrotrauma) ou de estresses (microtraumas) (Brody, 2001).

    O rompimento de tendão está associado a mais de uma carga (27,3%), isto é, não houve um mecanismo específico que pudesse ser diretamente relacionado a ele. Para Hamill e Knutzen (1999), a contração de um músculo enquanto o mesmo está sendo alongado é uma das prováveis causas para a ruptura de um tendão. Os mesmos autores esclarecem, ainda, que quando uma tensão é gerada no tendão em baixa velocidade, há mais probabilidade de haver uma ruptura na junção tendão-osso, ao passo que, se a incidência ocorre em alta velocidade, é mais provável que a ruptura ocorra no próprio tendão.

    O rompimento de ligamento está correlacionado à força de compressão (27,3%). BRODY (2001) associa o rompimento de ligamento às entorses, as quais ocorrem quando uma articulação é estendida além do seu limite de elasticidade e os tecidos dos ligamentos ou da cápsula são lacerados. A autora refere que as entorses mais comuns no membro inferior ocorrem no tornozelo (ligamento talofibular anterior e calcaneofibular) e no joelho (ligamentos colaterais medial e lateral, ligamentos cruzado anterior e posterior). Fatarelli, Almeida e Nascimento (2004) apontam as cargas de torção como responsáveis por 70% das rupturas do ligamento cruzado anterior, embora haja um grupo de pessoas que apresentem lesão nesse ligamento específico que não referem sintomas clínicos.

    O rompimento de menisco está associado à sobrecarga de treino (27,3%). O menisco pode sofrer uma lesão traumática aguda ou crônica, como ocorre nas lesões degenerativas, as quais são mais freqüentes em sujeitos entre 13 e 40 anos que participam de atividades esportivas ou naqueles que sofrem uma queda ou acidente automobilístico, além de poderem ser desencadeadas por um estresse específico, como por exemplo, uma mudança brusca de direção (BRODY e TREMAIN, 2001).

    A contusão está fortemente relacionada à força de compressão (46,7%), o que é corroborado por BRODY (2001). Esta autora sustenta que não se observa nenhuma solução de continuidade na pele, porém os vasos sangüíneos sob a pele podem ser lesados, produzindo equimose ou hematoma, dependendo da magnitude da carga incidente. Pondera-se que a aparente baixa gravidade desse tipo de lesão pode ser enganosa, uma vez que, se não for tratada, pode evoluir para miosite ossificante (formação de osso heterotópico dentro do músculo) (op. cit.).

    Finalmente, os atletas que responderam que tiveram mais de uma lesão, associaram as mesmas à falta de aquecimento (17,2%), a força de compressão (17,2%) e também a mais de um mecanismo (17,2%).

Correlação entre piso de maior dificuldade x tipo de lesão

    O piso de madeira está associado a mais de uma lesão (34,4%), devido ao fato de ser o piso de maior deslizamento. Já o EVA, que é o tipo de piso utilizado atualmente nas academias em função de ser obrigatório nas competições, está correlacionado à entorse (13,6%), luxação (13,6%), distensão muscular (13,6%), inflamação (13,6%), rompimento de menisco (13,6%), bem como a múltiplas lesões (13,6%). Analisando os resultados que descrevem o tempo decorrido desde a ocorrência destas lesões percebe-se que as mesmas são bastante recentes, situando-se entre 1 mês até 5 anos (representando 76,6% dos sujeitos que responderam o questionário).

    O piso forrado com carpete está associado à distensão muscular (25,0%), o de cimento está associado às entorses (25,0%), a lajota está relacionada à contusão (18,8%) e a mais de uma lesão (31,3%), e o piso de lona com raspas de pneu está associado à entorse (21,4%) e à distensão muscular (21,4%). Não foram encontradas associações entre os pisos de areia e o tatame de palha às lesões apontadas pelos atletas, provavelmente em função haverem sido poucas as pessoas que responderam que treinam nesses tipos de piso.

    No momento de recolher os questionários, alguns atletas verbalizaram:

    “[...] que interessante vai ser este trabalho, porque este piso para mim é um veneno.” (atleta n° 13, referindo-se ao piso de EVA).

    “Tomara que tu consigas que eles criem um tatame melhor pra gente, porque nesse, vivo com dor nos joelhos.” (atleta n° 22, referindo-se aos pesquisadores da área da Biomecânica).

    Alguns atletas afirmaram que não conseguem treinar em outro tipo de piso diferente do EVA. Entretanto, o número de comentários dessa natureza foi bem menor comparado àqueles que não se adaptaram ao piso atual.

    Outro atleta de Tae Kwon Do argumentou, ainda, que a “culpa” das lesões não é em função do piso, mas da técnica mal-ensinada, pois, na visão do mesmo, o gesto motor que é transmitido de maneira errada para os alunos seria o maior causador das lesões. Entretanto, esta variável não encontrou associação forte com nenhum tipo de lesão apontada pelos atletas.

    Santos e Melo (2003) investigaram o tipo de piso preferido por 86 judocas ao praticarem ukemis, Katame-Waza e Nague-Waza, em um campeonato realizado no estado de Santa Catarina no ano de 2001. Os autores relataram que, mesmo havendo controvérsias nas justificativas para as preferências do tipo de piso para as práticas questionadas, o piso sintético foi o que obteve maior preferência para a execução dos ukemis, para os treinamentos em pé e em competições, entretanto, os atletas disseram preferir o piso de palha para treinamento de solo. A sugestão apontada foi, então, buscar uma forma de juntar o material sintético à cobertura feita de lona de algodão do tatame de palha a fim de satisfazer as necessidades dos atletas de judô.

Considerações finais

    Baseando-se nos resultados obtidos nesse estudo, foi possível verificar que, o piso de EVA é o mais utilizado atualmente nas academias, embora seja, também, o tipo de piso onde os praticantes do Tae Kwon Do relataram perceber maior dificuldade ao executar o chute Bandal Tchagui.

    Evidenciou-se, além disso, que o piso de EVA está associado ao maior número de lesões. Uma explicação razoável para isso é que as lesões que ocorrem com mais freqüência neste tipo de piso têm mecanismos causadores compatíveis com o alto coeficiente de atrito a ele associado (por exemplo, cargas de torção por travamento do pé). Ainda, há relatos de outros mecanismos de lesão associados ao EVA, tais como forças de compressão (originadas pelas quedas dos atletas no solo, por exemplo), a falta de aquecimento e a associação a mais de uma causa. Os atletas e professores que responderam o questionário relataram que o local de maior incidência de lesão nos membros inferiores devido ao chute Bandal Tchagui foi joelho (17,24%), seguido do tornozelo (6,90%) e do pé (5,75%).

    Esses achados podem contribuir com futuros estudos que levem em conta a biomecânica do chute Bandal Tchagui, assim como os demais fundamentos do Tae Kwon Do, no sentido de verificar se há necessidade de investigar outras alternativas de material para a construção do tatame, ou ainda, se há possibilidade de estabelecer padrões que mantenham a eficiência dos movimentos diminuindo o risco de lesões em membros inferiores dos praticantes deste desporto no piso atualmente utilizado em competições e treinamento.

Agradecimento

    As autoras agradecem as valiosas sugestões feitas pelo Prof. Dr. Marco Antonio Moreira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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INFLUÊNCIA DO TIPO DE PISO EM LESÕES NOS MEMBROS INFERIORES DE PRATICANTES DE TAE KWON DO NO CHUTE BANDAL TCHAGUI

(Lesões em praticantes de Tae Kwon Do)

Jenifer Escalier Nieves dos Santos Cavalheiro

Graduada no Curso de Licenciatura em Educação Física

Centro Universitário La Salle, Canoas, RS, Brasil

Adriana Marques Toigo*

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora dos Cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física

Centro Universitário La Salle, Canoas, RS, Brasil

Doutoranda do Programa Internacional de Doutorado em Ensino de Ciências

Universidade de Burgos, Burgos, Espanha

 

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*Autora responsável pela correspondência.

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