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Gravidez: um estado de saúde, de mudanças e adaptações

Embarazo: un estado de salud, de cambios y adaptaciones

Pregnancy: a health condition, of changes and adaptations

 

*Professor(a) de Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria/RS

Mestrando(a) em Educação Física - Centro de Desportos

Universidade Federal de Santa Catarina/SC

**Professora de Educação Física. Doutoranda em Engenharia da Produção – Ergonomia

pela Universidade Federal de Santa Catarina/SC.

***Professor de Educação Física. Doutor em Engenharia da Produção

Professor dos programas de pós-graduação em Engenharia da Produção

e Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina/SC

Luana Mann*

Julio Francisco Kleinpaul*

Clarissa Stefani Teixeira**

Antônio Renato Pereira Moro***

luanamann@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          A gestação é constituída por períodos de adaptações e modificações no corpo da mulher. Durante este período, são muitas as necessidades de se manter fisicamente ativa, o que conseqüentemente, proporcionará além de uma melhor gestação, benefícios para a saúde, como por exemplo, diminuição da dor lombar e, melhora da qualidade de vida. Resta esclarecer quais práticas corporais são as mais indicadas para o desenvolvimento da gestante, que alie uma gravidez segura e saudável.

          Unitermos: Gestação. Corpo. Mulher

 

Abstract

          The pregnancy is constituted by periods of adaptations and modifications in the woman's body. During this period, are many the needs to stay physically active, which consequently, it will provide besides a better pregnancy, benefits for the health, as for instance, decrease of the low back pain and, gets better of the life quality. Remains to clear which corporal practices are the most suitable for the pregnant woman development, which allies a safe and healthy pregnancy.

          Keywords: Pregnancy. Body. Woman

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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    A condição especial de saúde, durante o período gestacional, traz diversas modificações e adaptações no organismo materno, as quais são necessárias para o estabelecimento e progressão do ciclo gestacional. Mesmo que seja um período transitório esperado pela mulher, muitas vezes, as mudanças ocorridas no corpo podem resultar em desconforto ou dor, causando limitações durante a realização das atividades da vida diária e profissional, prejudicando tanto a saúde quanto a qualidade de vida da gestante.

    As alterações hormonais e biomecânicas no corpo da mulher, durante a gestação, estão entre as mais preocupantes para a manutenção da integridade física e, conseqüentemente para a qualidade de vida (Birch et al., 2003). Sob a ação dos hormônios, principalmente da relaxina, existe um relaxamento crescente dos ligamentos, além de um amolecimento cartilaginoso e aumento no volume de líquido sinovial e no espaço articular. O resultado é uma mobilidade articular aumentada e articulações mais instáveis, predispondo as gestantes às lesões (Birch et al., 2003).

    Biomecanicamente, uma das principais causas dessas mudanças na estática e na dinâmica do esqueleto da gestante, é o constante crescimento do útero. Sua posição anteriorizada dentro da cavidade abdominal, além do aumento do peso e do tamanho das mamas, são fatores que contribuem para o deslocamento do centro de gravidade da mulher para cima e para frente, podendo acentuar a lordose lombar, promover uma anteversão pélvica e, conseqüentemente causar dor (Martins e Silva 2005). Os sintomas relativos à gravidez estão associados e podem explicar a tentativa de compensação de curvaturas da coluna vertebral para a manutenção do equilíbrio corporal (Ferreira e Nakano 2001). Na pelve, essas alterações levam à marcha gingada, um aspecto peculiar da gravidez, e na coluna vertebral estas levam a uma queixa comum entre as gestantes, à dor lombar ou lombalgia. As lombalgias são muito comuns, atingindo mais de 1/3 das gestantes (Wu et al., 2004) e as dores aumentam principalmente se a mulher apresenta esta queixa antes de engravidar, além disso, esse sintoma pode perdurar no período pós-parto (Noren et al., 2002).

    Fatores como a fraqueza muscular, principalmente na região abdominal e a baixa flexibilidade articular no dorso e nos membros inferiores podem contribuir com a síndrome lombar. Idade mais avançada, baixa escolaridade, classe econômica desfavorecida, estar acima do peso indicado, número de gestações anteriores, idade gestacional (principalmente a partir do 3° trimestre do período gestacional), utilização de contraceptivos orais, maior peso fetal, e hábitos de fumar também são apontados como alguns dos fatores de risco relacionados com a ocorrência de lombalgia (Ferreira e Nakano, 2001). A quantidade de sono e distúrbios do sono, indicados como interveniente na qualidade de vida, também estão freqüentemente associados com a dor lombar, sendo relatados em 80% das gestantes com a queixa lombar (Ferreira e Nakano 2001; Wu et al., 2004).

    Outra problemática, passível de resolução e que merece grande atenção, é a inatividade física. O fato de não se realizar nenhum tipo de exercício físico regular está direta ou indiretamente relacionada com dores na coluna durante a gestação (Jesus e Marinho 2006). Pode-se dizer então que a falta de atividade física regular é um dos fatores associados a uma susceptibilidade maior a doenças durante e após a gestação.

    Diante destas considerações, a ciência busca avanço para proporcionar e indicar melhores condições à vida dos indivíduos. Mesmo que existam algumas considerações para a resolução das problemáticas que acometem as gestantes e que o chamado “tratamento”, muitas vezes seja conhecido e esteja a disposição, como por exemplo, a prática de algum exercício físico, ainda faltam esclarecimentos sobre a relação do risco/benefício dos exercícios durante a gravidez. Parece que apenas saber que é importante se manter fisicamente ativo, principalmente durante a condição especial de gestante, não é o suficiente para a escolha do estivo de vida. Na verdade, estudos que busquem consensos relativos às recomendações para as práticas corporais, são imprescindíveis (Wolfe e Davies, 2003). O fato de se ter que selecionar a melhor modalidade para a efetiva prática, está relacionado às condições física e de saúde de cada indivíduo e a prontidão para a prática de determinado movimento.

    O que deve ser feito para encontrar a melhor opção? Para selecionar a prática adequada, além da liberação médica, deve-se escolher formas de exercitação atrativas, que venham a contribuir para todos os aspectos relacionados à qualidade de vida. De maneira geral, as atividades mais indicadas para a gestante, com intensidades de leve a moderada, são: atividades aeróbicas como atividades aquáticas (hidroginástica e natação), caminhada, ciclismo estacionário, exercícios de resistência muscular, yoga e alongamentos.

    De maneira geral, exercícios que promovam a ativação dos grandes grupos musculares podem ser mais eficazes na utilização da glicose e no aumento da sensibilidade à insulina. Além disso, existem dados sugestivos de que a prática de exercício físico, durante a gravidez, exerce proteção contra a depressão puerperal (Brown et al., 2002). Exercícios resistidos com pesos (musculação e ginástica), de intensidade leve a moderada, podem promover melhora na resistência e flexibilidade muscular, sem aumento no risco de lesões, de complicações na gestação ou relacionados ao peso do feto ao nascer. Os benefícios desta prática estão associados à possibilidade de a mulher suportar melhor o aumento de peso e atenuar as alterações posturais decorrentes desse período (Brown et al., 2002). Especificamente a dor lombar pode ser atenuada com exercícios de alongamentos e ginástica aquática (Martins e Silva, 2005; Granath et al., 2006). A natação também pode ser utilizada, desde que, realizada com intuito não de condicionamento, mas sim como forma de relaxamento e movimentação, usufruindo dos benefícios do corpo em imersão (Teixeira, Pereira e Rossi, 2007). A atividade física aeróbia, que pode ou não ser aliada a prática de musculação, auxilia de forma significativa no controle do peso e na manutenção do condicionamento, além de reduzir riscos de diabetes gestacional, condição que afeta 5% das gestantes.

    No geral, o exercício na gestação deve ter freqüência mínima de três vezes por semana, ser praticado de forma regular, nos horários menos quentes do dia, com roupas confortáveis e ingerindo grande quantidade de líquidos, além de ser de conhecimento do médico, que deverá ter liberado para a prática. Devem ser evitadas as atividades intensas, respeitando o limite de 140 batimentos por minuto para a freqüência cardíaca materna e de 38ºC para a temperatura corpórea. Larsson e Lindqvist (2005) estabeleceram que entre 50 e 70% da capacidade cardíaca máxima durante a atividade física é uma faixa segura, tanto a nível fetal quanto no que diz respeito ao aumento da temperatura corporal materna em atividade física no solo.

    Alguns tipos de exercício são contra-indicados para as gestantes como, por exemplo, aqueles onde haja necessidade de equilíbrio preciso, qualquer atividade competitiva com movimentos repentinos e saltos, artes marciais, levantamento de grandes pesos, flexão ou extensão profunda das articulações (pois na gestação já existe frouxidão ligamentar), prática de mergulho (condições hiperbáricas predispõem a embolia fetal na descompressão), esportes de contato e de alto impacto (American College of Sports Medicine, American Dietetic Association, Dietitians of Canadian, 2000). Posições invertidas ou posturas pesadas na yoga, por exemplo, também devem ser evitadas (Almeida e Tumelero, 2003).

    Além das alternativas existentes já citadas na área da educação física, a detecção precoce das mulheres com maior risco de desenvolver dores, pode-se avaliar a efetividade de programas e métodos adequados para a prevenção, redução e/ou alívio definitivo. O acometimento e a não resolução de problemas relacionados a dor lombar, torna-se um problema de saúde pública, uma vez que atinge não só as gestantes, mas a população em geral, afetando sua saúde e qualidade de vida. Mesmo que os exercícios de atividades aeróbicas (hidroginástica e natação), caminhada, ciclismo estacionário, exercícios de resistência muscular, yoga e alongamentos, sejam passíveis de realização, é prudente a procura de um profissional de educação física, para o acompanhamento das práticas, assim como, a prescrição de uma dieta saudável, que beneficie a mãe e o bebê.

Referências

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