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Efeito agudo de um treino de jiu-jitsu na variação do peso 

corporal e da composição corporal avaliada por bioimpedância

Efecto agudo de un entrenamiento de jiu-jitsu en la variación del peso corporal evaluada por bioimpedancia

 

Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Piauí - UFPI

Graduanda em Educação Física pela Universidade Federal do Piauí - UFPI

Especialista em Treinamento Desportivo pela Universidade Federal do Piauí – UFPI

Doutorando em Biotecnologia e Professor da Universidade Federal do Piauí – UFPI

Doutorando em Ciência Animal e Professor da Universidade Federal do Piauí – UFPI

(Brasil)

Igor Cabral Coutinho do Rêgo Monteiro*

Thatiana Araújo Maranhão**

Elza Carolina Costa Santos***

Alex Soares Marreiros Ferraz****

Francisco Teixeira Andrade*****

igorccdrm@hotmail.com

 

 

 

Resumo

          O jiu-jitsu é um esporte de combate corporal com um grande número de praticantes em todo o mundo, porém ainda é pouco estudado cientificamente. Desta forma, parte de seus técnicos e instrutores desconhecem as respostas fisiológicas manifestadas durante a luta. O efeito do exercício sobre a composição corporal é um dos parâmetros mais utilizados como investigação da atividade física e a análise por bioimpedância elétrica (BIA) um dos métodos mais práticos para isto. Este trabalho teve como objetivo analisar o efeito agudo de um treino de jiu-jitsu sobre a composição corporal de atletas, bem como relacionar os resultados do método de BIA com a variação do peso corporal. A amostra foi composta por 14 atletas do sexo masculino que foram submetidos a um treinamento podendo hidrata-se ad libitum. Suas medidas de altura, peso e composição corporal foram aferidas antes e após o treino e analisadas estatisticamente utilizando o programa Prisma 5.0. Como resultado, não foi constatado nenhuma diferença significante entre os valores iniciais e finais do treino de jiu-jitsu, demonstrando que um único treino não foi capaz de produzir alterações agudas sobre a composição corporal. Porém, as pequenas variações encontradas nestes resultados demonstraram que as mudanças no peso corporal apresentadas devido ao treinamento tem uma forte correlação (0,811) com o resultado do peso de massa magra. Já o peso de gordura apresentou uma correlação moderada e negativa (-0,427) com o mesmo. Desta forma, podemos concluir que este método sofre grande influência das mudanças no estado hídrico decorrente do exercício, correlacionadas as mudanças no peso corporal.

          Unitermos: Composição corporal. Peso corporal. Jiu-jitsu

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    O jiu-jitsu brasileiro vem conquistando cada vez mais destaque e interesse mundial (DEL VECCHIO et al., 2007), entretanto as características fisiológicas e biomotoras manifestadas durante a luta parecem ainda desconhecidas por muitos técnicos e preparadores físicos que tendem a ter formação apenas de ex-praticantes, o que os predispõe a treinarem seus atletas baseando-se em conhecimentos trazidos e perpetuados há décadas. Portanto, ainda se verificam lacunas sobre o conhecimento das alterações fisiológicas decorrentes de sua prática. Caracterizado como um combate corpo a corpo baseado em técnicas de projeção, imobilizações, chaves articulares e estrangulamentos (HERNANDES JUNIOR, 2000; FERNANDES, 2002) o jiu-jitsu é uma arte marcial de origem ocidental que chegou ao Brasil através da imigração japonesa, sendo aqui desenvolvido e transformado em um esporte nacional denominado jiu-jitsu brasileiro (CBJJ, 2009).

    A avaliação antropométrica tem como objetivo básico avaliar os componentes estruturais do corpo humano, a partir de seu fracionamento para a determinação da massa gorda e da massa magra do individuo (CARVALHO NETO, 1999). Esta avaliação é uma das formas mais usuais de investigar e analisar os efeitos do exercício, podendo indicar influência sobre a saúde, a estética e a performance (HERGENROEDER e KLISH, 1990), podendo ainda ser importante subsidio na prescrição e controle das cargas de treinamento físico (MOURA, LUNARDI e ZINN, 2004).

    A bioimpedância elétrica é um método barato, portátil e apropriado para estudos de campo (LOBO et al., 1996; NUNEZ et al., 1997). Este aparelho vem dia a dia despertando maior interesse de técnicos, preparadores físicos, fisiologistas e pesquisadores, em função de sua facilidade de operação, como ferramenta de avaliação da composição corporal. Apesar de sua aplicação usual nessa área ser a estimativa da composição corporal, a BIA deve ser cuidadosamente vista como instrumento para esse fim (BAUMGARTNER et al., 1988). Por se basear em um princípio elétrico Cornish (1999) indica que diversas situações que podem provocar variações no estado hídrico do indivíduo, entre elas: edema, menstruação, desidratação, ingestão de cafeína e álcool e atividade física, repercutem diretamente na determinação da composição corporal por esse método. Buscamos nesse trabalho analisar os efeitos agudos de um treino de jiu-jitsu sobre a composição corporal de atletas, a partir de sua repercussão na variação do peso corporal e da composição corporal avaliada por BIA.

Metodologia

    O presente estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (parecer nº 0042.0.045.000-09), e desenvolveu-se respeitando todos os aspectos éticos e legais que envolvem pesquisas com seres humanos de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Inicialmente o trabalho foi apresentado a todos os sujeitos, com explicações sobre seus objetivos e protocolos aos quais os voluntários seriam submetidos. O aceite se deu pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra constitui-se de 14 atletas de jiu-jitsu do sexo masculino. Esses apresentaram uma idade média de 20,92 ± 3,95 anos. Todos os sujeitos eram pertencentes à categoria adulto que, segundo a Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu (2009), vai de 18 a 29 anos.

    Como procedimentos iniciais os participantes responderam a uma ficha de anamnese e foram medidos sua estatura, peso corporal e composição corporal por BIA, sendo os dois últimos parâmetros reavaliados no final do protocolo de experimentação. Esse protocolo consistiu na realização, por cada individuo, de quatro lutas, com cinco minutos de duração ininterruptos, e intervalo de 15 minutos entre cada luta. Durante os intervalos a hidratação pôde ser realizada pela ingestão de líquidos ad libitum.

    O peso corporal foi aferido com a utilização de uma balança digital, da marca Plena, com precisão de 100g. A pesagem foi feita com o lutador vestindo apenas uma sunga, estando em posição ortostática (PO) sobre a balança que se encontrava em superfície plana e horizontal, o nivelamento do equipamento foi feito com a utilização de fio de prumo.

    Para mensuração da estatura utilizou-se um estadiômetro de madeira graduado em centímetro e décimo de centímetro com o avaliado em PO, estando com as seguintes partes do corpo em contato com o instrumento de medida: região posterior dos calcanhares, cintura pélvica, cintura escapular e região occipital de acordo com o proposto por Fernandes Filho (2003).

    A composição corporal foi avaliada pela divisão do peso corporal em dois componentes (peso de massa magra, peso de gordura) utilizando-se aparelho de bioimpedância elétrica tetra polar BIA-101Q-RJL Systems. Para essa medida o lutador repousou em decúbito dorsal sobre uma superfície plana não metálica, com os membros superiores afastados lateralmente do corpo formando um ângulo de aproximadamente 30º em relação ao plano mediano. Os membros inferiores ficaram ligeiramente afastados do plano mediano do corpo de modo a não se tocarem. Os eletrodos foram posicionados sobre a mão e o pé direito do avaliado de acordo com o proposto pelo guia de uso do aparelho. Através de uma corrente alternada de 800 mA e 50 KHz foram realizadas as medições e leituras da resistência e reatância corporal. Esses dados alimentaram o software que acompanha o analisador o qual gera os resultados da análise bicompartimental da composição corporal.

    Os dados são apresentados na forma de média e desvio padrão. Para a comparação entre as médias foi utilizado o teste-t para amostras pareadas e adotou-se como nível de significância estatística P<0,05. Para a estatística descritiva e inferencial utilizou-se o software Prisma 5.0. Posteriormente foi usado o software MIcrossoft Office Excel 2007 para a construção dos gráficos e tabelas.

Resultados e discussão

    A tabela 1 apresenta os valores máximos, mínimos, médios e desvios padrão da estatura, peso corporal (PC), peso de massa magra (PMM) e peso de gordura (PG) no início e no final do experimento.

    Os atletas por nós estudados apresentaram médias de peso e estatura inferiores aos estudos por Del Vecchio et al. (2007) (78,90 kg e 176,19 cm), e de Franchini, Takito e Pereira (2003) (76,7+11,2 kg e 175,2+6,4 cm). Tais diferenças podem ser decorrentes de diferenças regionais entre as populações estudadas ou relacionadas às variações amostrais dessas populações.

Tabela 1. Médias de peso antes e depois do treino de jiu-jitsu

 

Estatura

(cm)

PC

(Inicial)

PC

(Final)

PMM

(Inicial)

PMM

(Final)

PG

(Inicial)

PG

(Final)

Máximo

181

100,1

99,5

71,6

70,9

28,5

28,6

Mínimo

162

55,1

55,2

45,3

45,0

3,5

3,5

Média

171,1

67,40

67,31

55,50

55,24

11,90

12,14

D.padrão

2,92

12,75

12,47

7,51

7,26

6,68

6,69

    Sobre o efeito do treino de jiu-jitsu na variação aguda da composição corporal, os resultados demonstraram que apenas uma sessão de treinamento não foi capaz de produzir modificações significantes sobre o peso ou a composição corporal desses atletas. Avaliando o efeito de diferentes tipos de treinamento resistido com pesos, Moura, Lunardi e Zinn, (2004), também não detectaram diferenças agudas significantes entre pré e pós-treinamento em nenhuma das variáveis de composição corporal. Já em trabalho que avaliou a composição corporal através da BIA após um treino intenso de rugby, Perrella, Noriyuki e Rossi (2005) relataram que uma única sessão resultou em diferença aguda significativa apenas na água corporal, pois os atletas foram privados da ingestão de líquidos durante o treino. Mesmo com essa limitação da hidratação imposta no estudo citado, o percentual de gordura não foi afetado, não apresentando variação significativa.

    Apesar de não significantes, os resultados da BIA apontaram uma pequena mudança na composição corporal após a luta, pois foi observada uma ligeira diminuição na média do PMM e um aumento na média do PG acompanhando a diminuição no PC. Nadel, Fortney e Benger (1980) sugerem que tais alterações podem estar relacionadas à diferença existente entre as médias do PC inicial e final, provocadas pela perda hídrica por desidratação ou ganho por ingestão de líquidos. Este método é muito sensível a variações no estado hídrico do indivíduo, em virtude do mesmo se basear em um princípio elétrico e da água ser um excelente condutor de corrente (GLANER, 2005). Nesta perspectiva, a cafeína, o álcool e a atividade física, por suas ações diuréticas, podem elevar a bioresistência, superestimando a quantidade de gordura (MATTAR, 1998; CORNISH, 1999).

    Para verificar a possível influência das variações hídricas sobre os resultados da composição corporal da BIA, foram calculadas as taxas de correlação (r) entre as diferenças de PC (inicial menos final) e as diferenças dos componentes corporais avaliados da BIA (inicial menos final).

    As variações no PC apresentadas devido a sessão de treinamento (hidratação e sudorese) mostraram uma correlação forte e positiva (r=0,811) com as variações do PMM. Tal relação indica que quanto maior a perda de PC, maior será a taxa de perda do PMM e quanto maior for o ganho, maior também será o PMM no resultado da BIA (figura 1).

Figura 1. Gráfico de correlação (0,811) entre a diferença do PC e a diferença do PMM

    Já o PG apresentou uma correlação moderada e negativa de -0,427 com a variação do PC. Essa correlação mostra que a diminuição no valor do PC provoca um aumento na taxa do PG e o aumento causa uma diminuição (figura2). Contudo uma correlação moderada apresenta pouca significância estatística.

Figura 2. Gráfico de correlação (-0,427) entre a diferença do PC e a diferença do PG

    Os resultados das correlações indicam que a avaliação por BIA pós-exercício sofre grande influência da variação do PC e conseqüentemente das variações hídricas que são decorrentes da ingestão ou não de líquidos durante o treino, assim como da sudorese, principalmente na avaliação do PMM. As maiores alterações destes resultados ocorreram imediatamente após o exercício e podem ser decorrentes do aumento no fluxo sanguíneo para os tecidos musculares ativos, do fluxo sangüíneo cutâneo, bem como do aumento da temperatura durante o exercício (KUSHNER, GUDIVAKA e SCHOELLER, 1996).

Conclusão

    O efeito agudo de um treino de jiu-jitsu não foi capaz de produzir alterações significativas sobre a composição corporal de seus praticantes, avaliada através de bioimpedância elétrica. Verificou-se que este método sofre grande influência das mudanças no estado hídrico decorrente do exercício, em função da variação do PC. Estando as interferências sofridas pelos resultados da BIA após o treinamento, diretamente correlacionadas com a variação do peso corporal.

Referências

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