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A contribuição da Educação Física Escolar para o 

desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde

Contribución de la Educación Física Escolar para el desarrollo de la aptitud física relacionada con la salud

 

* Professor Mestre em Ciência do Movimento Humano. Orientador do TCC

** Licenciados em Educação Física pela
Universidade do Planalto Catarinense
(Brasil)

Marcos Antonio de Souza* | José Mario Mescke**

Jayson Luis Oliveira Luckmann**

Kausli de Barros** | Julio Cesar Garcia**

marcosplac@uniplac.net

 

 

 

Resumo

          Aptidão física é um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada indivíduo não apenas realizar as tarefas diárias, ocupações ativas das horas de lazer, enfrentar emergências imprevisíveis sem fadiga excessiva, mas também ajuda a evitar doenças, tais como a Hipertensão, a Obesidade, a Osteoporose e a Atrofia Muscular. Além do mais, contribui também para um funcionamento melhor da capacidade intelectual, e uma melhor qualidade de vida. Estudos têm mostrado que o risco de doenças cardiovasculares é aumentado por falta de atividade física satisfatória. A atividade física, o alongamento, o exercício e o esporte, podem melhorar as componentes da aptidão física relacionada à saúde, como a flexibilidade, força e resistência dos membros superiores, força e resistência muscular localizada e a capacidade aeróbica. Esta pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de verificar os índices de aptidão física relacionada à saúde como também se as aulas de Educação Física estavam contribuindo ou não para o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde nas seguintes variáveis: Índice de Massa Corporal (IMC); Força e Resistência dos membros superiores; Força e Resistência muscular localizada; Resistência/Capacidade Aeróbica e Flexibilidade. Para a avaliação dos dados utilizou-se a estatística básica (percentual). A pesquisa de caráter exploratória foi realizada com 40 escolares sendo 24 meninas e 16 meninos na faixa etária de 11 a 17 anos de idade provenientes de uma escola da rede estadual do município de Lages-SC. Todos os avaliadores receberam um treinamento de um professor experiente em medidas e avaliações nos testes do PROESP-BRASIL. Previamente a coleta dos dados, foi solicitada pelo grupo de pesquisadores, uma autorização dos pais por escrito para que os escolares se locomovessem até o local de realização da pesquisa. Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram emprestados do laboratório de Fisiologia do Exercício da Universidade: 4 cronômetro, uma balança com estadiômetro, 8 coneis, banco de flexibilidade, 4 colchonetes, uma bola de medicinebol de 2Kg e uma trena de 20m. Os resultados referentes ao desenvolvimento da Aptidão Física Relacionada à Saúde (ApFRS) são preocupantes: - das cinco componentes da ApFRS somente no IMC, mais que 60% dos escolares da pesquisa ficou na Zona Saudável de Aptidão Física relacionada a Saúde. (ZSApFRS). Na flexibilidade 53,25% dos escolares ficaram abaixo da ZSApFRS, Na capacidade aeróbica 63% dos escolares ficaram abaixo da ZSApFRS, na Força Abdominal 85,5% dos escolares ficaram abaixo da ZSApFRS e na força resistência dos membros superiores 85,5% ficaram abaixo da ZSApFRS. Os dados são preocupantes, e mostram a necessidade de ações pontuais com esses escolares para que no futuro, não se tornem pessoas sedentárias e sofram das conseqüências do sedentarismo. E a Educação Física Escolar poderá ser, não a única, mas talvez a principal incentivadora de uma mudança de hábitos de atividades dos escolares. Conscientizando dos benefícios de se ter uma vida ativa, e incentivando para prática de exercícios e de atividades físicas na escola e fora dela.

          Unitermos: Educação Física Escolar. Aptidão Física relacionada à saúde. Adolescentes. Qualidade de vida.

 

Esse artigo faz parte do trabalho de conclusão curso (TCC) apresentado a Universidade do Planalto Catarinense – UNIPLAC, Lages, no curso de Educação Física, para a obtenção do título de Licenciado em Educação Física

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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1.     Introdução

    No Brasil, no início da década de 80, ainda não era comum encontrarmos estudos normativos preocupados em relacionar a Aptidão Física à saúde. Sem sombra de dúvidas, a literatura é rica em avaliações voltadas a Aptidão Física, mas para o desempenho esportivo, porém, sem incluir na maioria das vezes, os componentes da Aptidão Física Relacionada à Saúde, proposta pela AAHPERD (Associação Americana de Atividade Física, Recreação e Dança, 1984). O emprego de normas de aptidão física relacionada à saúde começou então, timidamente, a ser utilizado por alguns profissionais em suas instituições de ensino.

    Pela ótica da aptidão física, aqueles componentes que contribuem para um melhor rendimento esportivo, levando em consideração que cada especialidade esportiva apresenta exigências de aptidão bem específicas, devem ser tratados como componentes da aptidão física relacionada ao desempenho atlético. Ao passo que a Aptidão Física Relacionada à Saúde envolve componentes ligados à prevenção de doenças do tipo degenerativas, como as cardiopatias, a obesidade, a hipertensão e vários distúrbios músculos-esqueléticos, e que podem ser influenciadas pela atividade física regular. (GUEDES, 1997).

    Estudos têm mostrado que o risco de doenças cardiovasculares é aumentado por falta de atividade física satisfatória. A atividade física, principalmente o exercício, e o esporte, aumentam o rendimento físico em geral, e este aumento está associado a uma melhora na eficiência funcional de todas as células do corpo. Essa eficiência funcional, chamada de APTIDÃO FÍSICA, é geralmente vista como um atributo desejável e positivo para a saúde (NAHAS, 1989).

    Conhecer a condição física, e especificamente as componentes da Aptidão Física Relacionada à Saúde, de escolares do ensino fundamental, se faz importante, para que o professor de Educação Física possa assim realizar suas atividades de maneira mais adequada, assistindo com mais qualidade as necessidades de movimento dos alunos.

Objetivo do estudo

    Verificar os índices de Aptidão Física relacionada à saúde, em escolares de 5º a 8º série de uma escola pública estadual, da cidade de Lages/SC, visando assim, orientar e conscientizar da importância de se trabalhar esse conteúdo na escola visando uma melhor qualidade de vida atual e futura para os escolares.

2.     Referencial teórico

2.1.     O que é Aptidão Física?

    Entre uma das definições, pensamos que Aptidão Física, é a capacidade de um melhor funcionamento das qualidades físicas e intelectuais. No entanto, coisas como vigor, prontidão, fadiga, alegria, apreciação, não são fáceis de ser medidas. Para esclarecer o significado de aptidão física é importante identificar os componentes que podem ser definidos, medidos e desenvolvidos um separadamente dos outros.

    Aptidão física é um estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um não apenas realizar as tarefas diárias, as ocupações ativas das horas de lazer e enfrentar emergências imprevisíveis sem fadiga excessiva, mas também ajuda a evitar doenças hipocinéticas. (COOPER, 1970, p. 35).

    Embora no passado houvesse certo desentendimento e confusão em relação aos componentes da aptidão física, hoje em dia já existe um consenso. Os componentes mais comuns foram colocados em dois grupos: um relacionado à saúde: Força e Resistência Muscular, Flexibilidade, Resistência Aeróbica, Composição Corporal, e outro, relacionado às habilidades esportivas: Agilidade, Equilíbrio, Velocidade e Resistência Anaeróbica.

    Para alguns pesquisadores da Aptidão Física (NAHAS, 2003) e (GAYA; Silva, 2003), a resistência cardio-respiratória é a componente mais importante da aptidão relacionada à saúde (ApFRS).

    Cooper (1970, p.63) chamou a resistência cárdio-respiratória de "Capacidade Aeróbica" e deu a seguinte definição:

    Aeróbica refere-se a uma variedade de exercícios que estimulam a atividade do coração, dos pulmões durante um período suficientemente longo para produzir mudanças benéficas para o corpo. Correr, nadar, pedalar são exercícios tipicamente aeróbicos.

    A importância de uma ou outra forma de aptidão, e seus componentes relacionados à saúde, varia em função da idade, da condição geral de saúde e das necessidades e interesses pessoais. Para indivíduos jovens, atletas, bombeiros, garis, estivadores, entre outros, percebe-se facilmente a importância da saúde (desempenho motor) nas suas vidas. Alguns desses componentes assumem um papel relevante na velhice, quando a independência e autonomia passam a ser grandemente associados à capacidade de performance em tarefas da vida diária. O equilíbrio e a força muscular, além da mobilidade, são fatores importantes para a vida independente, a retenção das funções básicas e prevenção de doenças (NAHAS, 1989, 2003).

2.2.     Flexibilidade

    A Flexibilidade, ou amplitude do movimento articular, é específica para cada articulação do corpo. O movimento de cada articulação é influenciado pelos músculos, ligamentos e tendões. Segundo Tubino apud Achour Junior (1998) “Flexibilidade é a qualidade física que condiciona a capacidade funcional das articulações a movimentarem-se dentro dos limites ideais de determinadas ações”.

    O programa de flexibilidade aplicado a escolares, deve responder as necessidades de flexibilidade de acordo com as exigências do exercício de alongamento, numa amplitude de movimento que cause um mínimo de desconforto.

    A flexibilidade tem seu período de desenvolvimento ótimo da infância até o início da adolescência; a partir daí, ela diminui com o aumento da idade, em particular se não houver exercício de alongamento ou atividades que solicitem amplitudes significativas de movimento. (ACHOUR JÚNIOR, 1998, p. 28).

    Somente depois de interpretar os testes de flexibilidade (Banco de Wells), e obter as informações dos escolares, é possível determinar os métodos, tempo de permanência e o número de séries nos exercícios de alongamento.

Porque a flexibilidade é importante?

    Para aumentar a qualidade e a quantidade dos movimentos. Melhorar a postura corporal. Favorecer a maior mobilidade nas atividades diárias e esportivas.

    Evidentemente, é o profissional de Educação Física que deve orientar detalhadamente a técnica dos exercícios, mas deve dar autonomia ao escolar, para que este faça os exercícios de alongamento de acordo com suas necessidades e disponibilidade diária.

    Quando músculos e articulações são poucos utilizados, perde-se não apenas força muscular, mas também a elasticidade de músculos e tendões, reduzindo a mobilidade corporal e aumentando as chances de lesões nos movimentos da vida diária (DANTAS, 1999).

Componentes da flexibilidade

    Alguns componentes da flexibilidade segundo (DANTAS, 1999 p. 59):

  • Amplitude de movimento: "Dimensão do deslocamento do corpo ou de seus segmentos entre certos pontos, de orientação convencionalmente escolhida, expressada em graus e unidades lineares”.

  • Mobilidade: Refere-se à amplitude de movimento permitida pela articulação em função de seus diversos componente.

  • Elasticidade: Diz-se à capacidade de extensão elástica dos componentes.

  • Plasticidade: É a capacidade dos elementos articulares de se distenderem e não retornarem à sua medida inicial.

    Segundo Nahas (2003), em parte, no caso dos componentes articulares, a deformação é apenas temporária, porém uma pequena parte das deformações plásticas ocorridas como resultados do treinamento de flexibilidade de alta intensidade são irreversíveis.

2.3.     Índice de Massa Corporal (IMC)

    O Índice de Massa Corporal (IMC) estabelece uma relação entre estatura e a massa corporal, relação que indica se a massa corporal está ou não adequada à estatura. Tal índice é determinado pela razão entre a massa corporal em quilogramas e a estatura em metros elevada ao quadrado (GAYA; SILVA 2003). O Índice de Massa Corporal (IMC) é uma fórmula que indica se um indivíduo está acima do peso, se está obeso, ou abaixo do peso ideal considerado saudável. A fórmula para calcular o Índice de Massa Corporal é: IMC = peso / (altura)2 .

    Antes de tudo, é preciso salientar que o Índice de Massa Corporal é apenas um indicador, e não determina de forma precisa se uma pessoa está acima do peso ou obesa. (GAYA; SILVA, 2003).

2.4.     Capacidade aeróbica

    É a capacidade que o organismo tem de captar, transportar e utilizar o oxigênio, ou seja, o oxigênio consumido no metabolismo da célula muscular aumenta proporcionalmente à intensidade de esforço físico, até um valor limite denominado consumo máximo de oxigênio e expresso em litros por minuto (VO2 máx.). Corresponde ao maior metabolismo aeróbico possível, portanto, ao consumo máximo de oxigênio (O2). Ela é obtida através de testes de esforço específicos, cujo objetivo é produzir a maior alteração metabólica aeróbica possível, determinando-se a intensidade individual máxima de esforço. (McARDLE; KATCH, 1992).

2.5.     Força resistência muscular localizada

    A Força Resistência Muscular localizada tem como objetivo desenvolver no indivíduo uma melhor aptidão cardiovascular, seja para executar as tarefas cotidianas, seja para melhorar a resistência nos esportes. Como o próprio nome diz, essa capacidade física visa dar uma resistência maior à fadiga. Através desse tipo de treinamento, consegue-se uma definição muscular muito evidente, devido ao fortalecimento da musculatura (tônus muscular) e da conseqüente oxidação da camada lipídica subcutânea decorrente do treinamento (TUBINO, 1984).

    Teoricamente, músculos fracos cansam facilmente e não podem sustentar a coluna em um alinhamento correto. Quando se está em pé, os músculos abdominais fracos e os músculos posteriores das coxas encurtados fazem com que à pélvis se incline para frente, causando uma hiperlordose na coluna lombar. Esse stress na coluna causa as chamadas "dores nas costas" (ARAÚJO, 1999).

2.6.     Aptidão física e saúde

    A aptidão física relacionada à saúde e a aptidão motora de crianças, devem ser motivo de grande interesse para todos, e não apenas para o professor, o treinador e o médico. O Estudo Nacional de Aptidão Infantil e Juvenil “revelou que mais de um terço das crianças e jovens testados (idades entre 10 e 18 anos) não eram suficientemente ativos, em suas vidas diárias, para obter benefícios aeróbios” (ROOS; GILBERT, 1985, p.34). Este estudo nos mostra que as atuais crianças estão com baixos índices de aptidão física relacionada à saúde.

    Para Gallahue e Ozmun (2005), embora não se tenha uma concordância universal sobre aptidão física, eles definem “Aptidão Física como uma condição positiva de bem-estar influenciada por atividade física regular, características genéticas e adequação nutricional”.

    Atividade Física e exercícios físicos embora relacionados, não devem ser entendidos como sinônimos, definindo-se exercício como uma das formas de atividade física planejada, estruturada, sistematizada, que objetiva o desenvolvimento da Aptidão Física.

    Alguns dos testes de aptidão física relacionados à saúde são: resistência aeróbia, a força muscular, a resistência muscular, a flexibilidade das articulações e a composição corporal (NAHAS, 2003).

2.7.     Aptidão física e a promoção da saúde

    Na maioria das vezes a promoção da saúde é tratada como uma forma individualizada de se buscar saúde, transferindo ao próprio indivíduo a responsabilidade sobre ela. Cabe a ele esforçar para ser “saudável”, caso contrário, ele será o único responsável pelo “fracasso” (NAHAS, 1989).

    Segundo Guedes (2000), a Educação Física para a promoção de saúde sempre teve uma relação histórica, influenciada ora por tendência militar, ora por tendência médica ou desportiva. A Aptidão Física, como um dos conteúdos da Educação Física, baseava-se principalmente nos benefícios orgânicos à saúde causada pelos exercícios físicos. Visando os benefícios dos exercícios físicos para a saúde, que a Educação Física tornou-se alvo dos interesses da medicina e das instituições educacionais, devido a sua importância para a sociedade norte-americana.

    No Brasil, um dos agentes na promoção de saúde, também é a Aptidão Física, e conteúdos como o exercício físico e o desporto. Estes agentes aparecem como conteúdos essenciais da Educação Física. Ter boa condição de saúde representa um objetivo importante para a população. Está é um meio para a realização de todos os outros objetivos na vida. (NAHAS, 2003).

    A Educação Física deve justificar seus conteúdos voltando-os para a promoção da saúde, para aquisição de estilos de vida ativos e hábitos de vida saudáveis por parte da comunidade e não apenas de algumas pessoas. Esse estilo de vida é mais do que a adesão a prática de exercícios físicos, mas é a aquisição de hábitos que mantenham ou melhorem o seu status de saúde, assim como os de sua comunidade (GUEDES, 1997, 2000).

2.8     Aptidão física e Educação Física Escolar

    Numa sociedade em que a condição física assume um papel importante para a harmonia de uma vida saudável, a realização de estudos que permitam identificar em que nível de aptidão física relacionada à saúde se encontra a população, constitui-se em um importante trabalho de diagnóstico da aptidão física dos escolares, para uma posterior intervenção.

    A implicação específica de estilos de vida fisicamente ativos, como fatores de prevenção no controle de um conjunto de doenças, como as cardiovasculares, hipertensão arterial, obesidade, as hiperlipidemias, a diabete mellitus tipo II, a osteoporose, a depressão, e determinados tipos de câncer, tem levado muitos estudiosos a pesquisarem a Aptidão Física Relacionada à Saúde (GAYA; SILVA, 2003).

    A prática de atividade física na idade escolar é conveniente para estimular a adoção de hábitos de vida ativa até a idade adulta, diminuindo o risco de doenças e demais fatores negativos associados a um estilo de vida sedentário.

    A preocupação com a prática de exercício físico, tendo como referência a aptidão física relacionada à saúde, tem ocupado posição de destaque no âmbito das investigações em Educação Física escolar e das ciências do esporte. É de salientar o número significativo e crescente de estudos que vem sendo realizados por autores e instituições de renome internacional, que tem demonstrado a forte e consistente associação em atividade física e saúde (NAHAS, 2003).

    Torna-se pertinente inferir, que a escola deve se constituir como um local importante para o desenvolvimento de estratégias de Educação também para a saúde e neste contexto a aula de Educação Física, inevitavelmente, deve assumir um papel importante na promoção da Aptidão Física relacionada à saúde e, na criação de hábitos de vida fisicamente ativo (NAHAS; CORBIN 1992; GUEDES; GUEDES 1997; MOTA, 1992; MOTA; SALLIS 2002).

3.     Metodologia

3.1.     Sujeitos do estudo

    Os sujeitos da pesquisa foram escolares provenientes de uma Escola da rede estadual do município de Lages-SC, sendo que dos 40 escolares participantes no total, 24 foram meninas e 16 meninos na faixa etária de 11 a 17 anos de idade.

3.2.     Procedimentos utilizados para coleta de dados

    Previamente estipulado entre o grupo de estágio, a data, local e o horário para a coleta de dados, foi solicitado aos Srs. Pais autorização por escrito (conforme norma da instituição) para que os escolares se locomovessem com a supervisão dos estagiários e o professor regente da disciplina de Educação Física da escola, até o complexo esportivo do Serviço Social da Indústria (SESI) localizado na cidade de Lages.

    Como instrumentos para a coleta de dados foram utilizados uma Trena de 20m; 4 Cronômetro; 8 Cones; Balança com estadiometro; 4 Colchonetes; 1 Bola de medicinebol de 2 kg; Número de Identificação em cada aluno. Os dados foram anotados em fichas individuais, para serem posteriormente analisados. Para a avaliação dos dados foi utilizado o software Excel 2005 e a estatística básica (percentual).

3.3.     Protocolo de referência utilizado para a avaliação

    Para a avaliação dos componentes da Aptidão Física Relacionada à Saúde, utilizou-se da bateria do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR) que incluem testes da capacidade aeróbia (9mim corrida e caminha), composição corporal (IMC), forca resistência abdominal (1 mim), força resistência de membros superiores e flexibilidade (sentar e alcançar). A avaliação da Aptidão Física Relacionada à Saúde (ApFS) é efetivada através de critérios de referência. Isto é, adotam-se valores pré-determinados específicos de desempenho denominados pontos de corte (cut-off) sobre os quais se presume, estejam relacionados com riscos de doenças degenerativas. O PROESP-BR segue os procedimentos sugeridos pelo FITNESSGRAM (Cooper Institute for Aerobics Research), classificando os escolares em três estágios numa escala ordinal: aluno com desempenho abaixo da zona saudável de aptidão física (ZSApF); aluno com desempenho na zona saudável de aptidão física, e alunos com desempenho acima da zona saudável.

    A seguir, é apresentado um exemplo dos critérios de referência para os testes de aptidão física, sugerida pelo PROESP-BR, as quais foram adotados para esta pesquisa.

Idade

Masculino

Feminino

7

20-25

23-28

8

20-25

23-28

9

20-25

23-28

10

20-25

23-28

11

20-25

23-28

12

20-25

23-28

13

20-25

23-28

14

20-25

23-28

15

20-25

23-28

16

20-25

23-28

17

20-25

23-28

Tabela 1. Avaliação da Flexibilidade: Sentar - e – Alcançar – Critério ZSApF

4.     Apresentação dos dados e discussão

    Para a apresentação dos dados foram elaborados gráficos de cada variável e a distribuição dos escolares na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF) de cada um dos componentes da Aptidão Física Relacionada à Saúde (ApFRS).

Figura 01. Gráfico de distribuição de meninos e meninas na ZSApF para a Flexibilidade

    Na figura acima, verifica-se que 44% (7/16) dos meninos encontra-se abaixo da Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), 19% (3/16) estão na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 37% (6/16) acima da Zona Saudável de Aptidão Física.

    Quanto as meninas, 62,5% (15/24) das meninas encontra-se abaixo da Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), 21% (5/24) na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 16,5% (4/24) acima da Zona Saudável de Aptidão Física. Diante desses valores pode-se considerar que há uma semelhança na distribuição dos escolares na ZSApF.

    No estudo de Bergmann et al. (2005), pode-se observar, que no teste de "sentar-e-alcançar", no qual é exigida a participação da flexibilidade de várias articulações simultaneamente, verifica-se que as meninas demonstraram tendência a apresentar valores relativamente maiores do que os meninos.

Figura 02. Gráfico de distribuição de meninos e meninas na ZSApF para o IMC.

    Na figura 02 é apresentada a variável de Índice de Massa Corporal (IMC), referente à distribuição dos escolares na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    Analisando de forma individual cada um dos componentes da ApFRS, o IMC foi o que obteve maior ocorrência de adolescentes na zona saudável, ou seja, 100% (16/16) dos meninos encontra-se na ZSApF. Já as meninas 91% (22/24) encontra-se na ZSApF, e 9% (2/24) estão acima da ZSApF.

    Não podemos deixar de nos preocupar com o resultado, pois 9% das meninas já apresentam um nível de sobrepeso/obesidade.

    É necessária a atenção à prevalência de sobrepeso e obesidade nesta faixa etária, pois, conforme concluem Oliveira et al. (2004), “a obesidade na infância é um importante fator de risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares na vida futura”. Além disso, a tendência natural é que ao passar da adolescência para a idade adulta, as pessoas passem a desenvolver menos atividades físicas e aumentar o peso corporal.

    Na tentativa de determinar a quantidade de gordura relativa ao peso corporal de jovens, a partir da qual os riscos para saúde tendem a aumentar, Lohman apud Moreira et al. (2005) demonstrou que valores superiores a 20% do peso corporal, como gordura entre os rapazes, e 25% entre moças, agregam fatores de risco que predispõem ao surgimento e ao desenvolvimento de problemas de saúde (diabetes, doenças do coração, hipertensão arterial).

Figura 03. Gráfico de distribuição de meninos e meninas na ZSApF para a capacidade aeróbica.

    A figura acima apresenta a variável Capacidade Aeróbica referente à distribuição dos escolares na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    O resultado do teste de capacidade aeróbica nos escolares do sexo masculino mostrou que 38 % (6/16) estão abaixo da Zona saudável da Aptidão Física (ZSApF), 56% (9/16) estão na Zona saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 6% (1/16) estão acima da zona saudável de Aptidão Fisica (ZSApF).

    Nas meninas encontramos resultados inferiores ao dos meninos, 88% (21/24) das meninas encontram-se abaixo da Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 12% (3/24) estão na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    Segundo Bergmann et al. (2005), a capacidade aeróbica dos meninos é superior estatisticamente do que das meninas ao longo de todas as idades. Os meninos aumentam seu nível médio de capacidade aeróbica ao longo de todas as idades, sendo que, dos 11 aos 14 anos esses aumentos são significativos. As meninas, entretanto, melhoram sua capacidade aeróbica dos 7 aos 12 anos de idade. Depois tendem a estabilizar, e até regredir aos 16 anos.

Figura 04. Gráfico de distribuição de meninos e meninas na ZSApF para a Força/ Resistência Muscular Localizada/Abdominais.

    A figura 04 representa a variável de Força e Resistência Muscular Localizada / Abdominais referente à distribuição dos adolescentes na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    O resultado do teste de Força/Resistência Muscular Localizada nos escolares do sexo masculino mostrou que 88% (14/16) estão abaixo da Zona saudável da Aptidão Física (ZSApF), 6 % (1/16) estão na Zona saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 6 % (1/16) estão acima da zona saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    Para as meninas, 83% (20/24) estão abaixo da Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF), e 17% (4/24) estão na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    O resultado do teste de abdominais, que está apresentado no figura 04, demonstra que os escolares dos dois sexos estão em uma maioria caracterizados abaixo da (ZSApF), entre os escolares que estão caracterizados na (ZSApF), observamos que as meninas aparecem com um número maior que os meninos.

    Num estudo realizado por Malina & Bouchard (1991), as diferenças observadas entre os sexos nessa componente da ApFRS não se mostraram significantes até os 10 anos de idade, apesar de se constatar uma clara superioridade dos meninos em relação às meninas. Segundo os pesquisadores, após essa idade, as diferenças se acentuaram ainda mais, tornando-se estatiscamente significantes de tal forma que, aos 17 anos, os meninos conseguiram realizar em média um número de repetições três vezes maior do que o apresentado pelas meninas. Enquanto os resultados progressivamente maiores apresentados pelos rapazes, a partir dos 10 anos se justificam por um advento da puberdade no sexo masculino e, com isso, um ganho de massa muscular bastante acentuado em conseqüência de uma maior produção de hormônios. Por outro lado, o fato das meninas não ter conseguido apresentar tendência evolutiva ao longo das idades, deve ser examinado com alguma cautela. Da mesma forma que os rapazes, porém, de maneira menos acentuada, a maior produção dos hormônios femininos na puberdade deverá proporcionar importante ganho de massa muscular com a idade até próximo ao final da adolescência, o que também deverá provocar maiores índices de força/resistência muscular. Contudo, paralelamente ao aumento da massa muscular, ocorre também, maior acúmulo de tecido adiposo, que por sua vez, não deverá contribuir na realização de movimentos que envolvem a força e a resistência muscular, porém provocará aumentos significativos no peso corporal.

Figura 05. Gráfico da distribuição de meninos e meninas na ZSApF para a Força e Resistência dos Membros Superiores.

    A figura 05 apresenta a variável Força e Resistência de Membros Superiores referente à distribuição dos adolescentes na Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF).

    O resultado do teste de Força/Resistência dos Membros Superiores nos escolares do sexo masculino mostrou que 88 % (14/16) estão abaixo da Zona saudável da Aptidão Física (ZSApF), Muito Fraco, e 12 % (2/16), mostram um resultado Fraco.

    Nas meninas encontramos resultados inferiores ao dos meninos, 83% (20/24) das meninas encontram-se abaixo da Zona Saudável de Aptidão Física (ZSApF) Muito fraco, e 17% (4/24) mostram um resultado Fraco.

    No estudo de Lorenzi et al (2005) foi observado que os meninos possuíram valores superiores aos das meninas em todas as idades. A principal diferença nesse estudo, é que 21,7% dos meninos se encontraram no nível muito bom e as meninas 18,3 encontraram-se neste nível.

    A diferença entre os escolares do estudo de Lorenzi et al (2005), e desse estudo, apesar de não realizar uma comparação estatística, permite inferir que os estímulos motores para os estudantes dessa pesquisa, não estão em nível adequados para o desenvolvimento da Aptidão Física.

5.     Considerações finais

    Analisando de forma individual cada um dos componentes da (ApFRS), o IMC foi o que obteve a maior ocorrência das crianças e adolescentes na zona saudável. Todavia, esse fato não elimina a preocupação em se criar estratégias de saúde coletiva relativa à desnutrição e a sobrepeso/obesidade, já que cerca de 9% das crianças foram enquadradas acima da zona saudável de massa corporal, indicando a provável presença de sobrepeso/obesidade.

    Nos componentes motores da ApFRS, os resultados apontaram para uma freqüência média de 71,81% dos escolares abaixo da ZSApF, o que demonstra a carência dos estímulos motores com que esses escolares estão tendo na sua vida e principalmente na Educação Física.

    Os dados são preocupantes, e demonstram nitidamente que são necessárias estratégias de ação, que possam evitar que esses escolares pesquisados neste estudo, venham a transformar-se em adultos sedentários, e com um grande risco de desenvolverem as chamadas doenças hipocinéticas (Doenças coronárias, Derrame, Lombalgia, Pressão Alta e Obesidade).

Referências

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  • ARAÚJO, 1987; MADUREIRA, 1987 NAHAS 1985; PATE 1983; COOPER 1980. Disponível em: www.saudemovimento.com.br, Acesso em: 02 de junho 2005.

  • BERGMANN, G. et al. Aptidão Física relacionada à saúde de crianças e adolescentes do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Perfil, VII, n.7,p. 12-21, 2005.

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revista digital · Año 14 · N° 139 | Buenos Aires, Diciembre de 2009  
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