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Prevalência da dor nas costas em peões 

de tiro de laço no município de Canoas, RS

Predominancia del dolor de espalda en peones de tiro con lazo en el municipio de Canoas, RS

Prevalence of pain in the coasts in laborers who practise shot of the city of Canoas, RS

 

*Graduado em Educação Física pela

Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.

**Doutora em Ciências do Movimento Humano pelo Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento Humano, da ESEF/UFRGS

Professora do curso de Educação Física e coordenadora do curso de

Fisioterapia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

***Graduado em Educação Física pela

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS

Rudimar de Castro Silveira*

Cláudia Tarragô Candotti**

Matias Noll***

claudia.candotti@ufrgs.br

(Brasil)

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dor nas costas em peões que praticam tiro de laço nas canchas de rodeio da cidade de Canoas - RS. Este estudo é caracterizado por ser de natureza quantitativa, do tipo descritivo com delineamento exploratório. A amostra foi intencional formada por vinte e um peões que praticam tiro de laço nas canchas de rodeio da cidade de Canoas. Foi utilizado um questionário informativo de dor, com nove questões fechadas que visava obter informações sobre a ocorrência de dor nas costas, bem como sobre a freqüência, intensidade, localização da dor e turno em que a dor ocorre. Os resultados demonstraram que 85,7% (n=18) dos peões referiram sentir dor nas costas enquanto apenas 14,3% (n=3) referiram nunca sentir dor nas costas. Os resultados também mostraram que a dor se manifesta para 47,6% dos peões no final do dia, prioritariamente nas regiões dorsal e lombar da coluna vertebral concomitantemente (71,3%).

          Unitermos: Dor. Coluna Vertebral. Atividade motora

 

Abstract

          The objective of this study was to verify the occurrence of pain in the coasts in laborers who practise shot of bow in hose of roundup of the city of Canoas - RS. This study it is characterized by being of quantitative nature, of the descriptive type with explorer delineation. The sample intentional was formed by twenty and laborers who practise shot of bow in hose of roundup of the city of Canoas. An informative questionnaire of pain was used, with nine closed questions that it aimed at to get information on the occurrence of pain in the coasts, as well as on the frequency, intensity, localization of pain and turn where pain occurs. The results had demonstrated that 85.7% (n=18) of the laborers had related to feel pain in the coasts while only 14.3% (n=3) had never related to feel pain in the coasts. The results had also shown that pain if manifest for 47,6% of the laborers in the end of the day, with priority in the regions dorsal and lumbar of the vertebral column concomitantly (71.3%).

          Keywords: Pain. Spine. Motor Activity

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 139 - Diciembre de 2009

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Introdução

    O povo gaúcho pode ser caracterizado por seu modo de viver, seus usos e costumes, crenças, valores, sua cultura e pela atividade pecuária. Observando a história, pode-se notar que muitos dos costumes dos gaúchos advêm de heranças recebidas dos índios (tapes, charruas, minuanos e outros), tais como o uso das boleadeiras, do laço, o governo do cavalo, o chimarrão, o pala, o chiripá, as lendas e os mitos1. Desse modo, o gaúcho passa a ter grande intimidade com o cavalo, sendo este o seu meio de locomoção e de manejo com o gado. No entanto, com o passar dos tempos, o gaúcho que se dedicava a esta “lida” passou a ser denominado de peão, ou seja, aquele gaúcho que possui habilidades de cavaleiro, manejador do laço e boleadeira e executante do tiro de laço.

    O tiro de laço é atividade executada pelos peões sobre o cavalo que visa laçar o gado pelas guampas. A performance do peão sobre o cavalo depende da sua postura, da percepção das necessidades do cavalo, do controle do corpo e da mente e da coordenação motora. Desde o começo, ao apreender a montar no cavalo, o cavaleiro deve adquirir uma posição correta e equilibrada, pois sem equilíbrio, o peão pode vir a cair, machucar o cavalo e lesionar sua coluna vertebral.

    A obtenção de equilíbrio nas estruturas que compõem a pilastra de sustentação humana, ou seja, a coluna vertebral, não se constitui em tarefa fácil quando se está sobre o cavalo. Esta dificuldade está associada as constantes mudanças de posturas, em diferentes velocidades de deslocamento. Este quadro acaba por expor a estrutura morfofuncional da coluna vertebral a uma série de agravos que podem gerar quadros dolorosos a ela relacionados2.

    Tradicionalmente, alguns motivos de dores nas costas são, em geral, a má postura, o sedentarismo, a obesidade, os traumas (diretos ou em outras regiões, afetando indiretamente a coluna), as alterações das curvaturas da coluna, o envelhecimento, o crescimento acelerado, os distúrbios hereditários (osteoporose, por exemplo), as atividades freqüentes como agachar, levantar pesos excessivos e torcer o corpo (os famosos maus jeitos), o estresse físico ou emocional e a depressão3. Especificamente quanto ao peão, do ponto de vista teórico, as dores nas costas estão relacionadas, principalmente, com as más posturas cotidianas, com os traumas e com os movimentos repetitivos, uma vez que todos estes podem levar a contraturas musculares e, conseqüentemente, a dores musculares localizadas.

    Dada esta realidade, entende-se interessante que os profissionais de saúde passem a conhecer com mais detalhes a freqüência e as características das queixas de dores nas costas dos peões com a finalidade de encontrar formas para resolver este problema, influenciando positivamente a qualidade de vida dos peões. Além disto, uma investigação dessa natureza deve auxiliar na repercussão das atividades dos peões, tão peculiares do estado do Rio Grande do Sul. Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar a prevalência de dor nas costas em peões que praticam tiro de laço nas canchas de rodeio da cidade de Canoas - RS.

Metodologia

Amostra

    A amostra foi intencional, composta por vinte e um indivíduos do sexo masculino, peões que praticam tiro de laço em provas de rodeios na cidade de Canoas – RS. Estes praticavam a modalidade há mais de dois anos, com freqüência de no mínimo três vezes por semana e possuiam idade média de 30,4 ± 5,8 anos, massa corporal de 81,6 ± 4,4 kg, estatura de 173,8 ± 4,3 cm. Todos os peões participaram voluntariamente do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, consentindo com sua participação no estudo.

Instrumentos

    Foi utilizado um questionário de dor, com nove questões fechadas proposto por Candotti e Guimarães4, que visa obter informações sobre a ocorrência de dor nas costas, bem como sobre a freqüência, intensidade, localização da dor e turno em que a dor ocorre.

Procedimentos de aquisição

    Os peões responderam individualmente ao questionário de dor durante: (1) o Rodeio Brasão do Rio Grande, ocorrido na cidade de Canoas, nos dias 17 e 18 de maio de 2008 e (2) Rodeio do Tio Pedrinho, ocorrido na cidade de Canoas, nos dias 31 de maio e 1 de junho de 2008. Para o preenchimento do questionário foram fornecidos uma caneta e uma prancheta para apoio do mesmo. Nenhuma informação adicional foi fornecida aos peões.

Procedimentos de análise e tratamento estatístico

    Todas as questões do questionário foram codificadas e após a realização da coleta dos dados, as respostas de cada peão foram tabuladas e submetidas a tratamento estatístico.

    Para a análise estatística foram utilizados os softwares SPSS 14.0 e EPIINFO. As variáveis quantitativas que descrevem a amostra foram submetidas a estatística descritiva através de média e desvio-padrão. As variáveis qualitativas (presença de dor, localização, intensidade e turno) foram submetidas a estatística descritiva através de tabelas de freqüências e intervalos de confiança (IC) de 95%. O nível de significancia foi de 0,05.

Resultados e discussão

    Os resultados mostraram que 85,7% (n=18) dos peões referiram sentir dor nas costas enquanto apenas 14,3% (n=3) referiram nunca sentir dor nas costas (Tabela 1). Este elevado percentual de dor nas costas parece estar relacionado as atividades de tiro de laço desenvolvidas pelos peões. Este resultado não está diferente daquele apresentado por Schmidt & Kohlmann5, o qual afirma que cerca de 80% da população, em algum momento de sua vida, já experimentou a queixa de dores na coluna, de modo que a incidência e a prevalência deste sintoma devem ser estudadas como desordens epidêmicas.

Tabela 1. Tabela de freqüência de dor referida pelos peões que praticam tiro de laço

 

Frequência

Percentagem

Percentagem Válida

Percentagem Cumulativa

Não sente dor

3

14.3

14.3

14.3

Sente dor

18

85.7

85.7

100.0

Total

21

100.0

100.0

 

    Quanto a intensidade da dor referida pelos peões, os resultados mostraram que 62% (n=13) dos peões referiram sentir dor forte nas costas, 9,5% (n=2) dor moderada 14,25% (n=3) dor fraca, enquanto que 14,25% (n=3) referiram nunca sentir dor nas costas (Tabela 2). Tem sido referido que com o trabalho o homem danifica as estruturas da coluna devido as posições incorretas, levando as modificações na postura corporal6 e possivelmente as dores nas costas. Entende-se que com o passar do tempo, ao realizar movimentos repetitivos durante a jornada de trabalho ou durante atividades esportivas, no caso do presente estudo, movimentos do tiro de laço, seja comum ocorrer um aumento da dor de forma gradativa e perda da habilidade funcional.

Tabela 2. Tabela de freqüência da intensidade da dor referida pelos peões que praticam tiro de laço

Intensidade da dor

Frequência

Percentagem

Percentagem Válida

Percentagem Cumulativa

Sem dor

3

14.25

14.25

14.25

Fraca

3

14.25

14.25

28.5

Moderada

2

9.5

9.5

38

Forte

13

62

62

100.0

Total

21

100.0

100.0

 

    Quanto ao intervalo do dia em que a dor aparece, os resultados mostraram que 28,6% (n=6) dos peões referiram sentir dor ao entardecer e 19% (n=4) sentem dor a noite. Assim, 47,6% (n=10) dos peões referem dor no final de um dia de trabalho, de modo que possivelmente esta dor pode estar relacionada a atividade laborativa desenvolvida por eles no campo, ou seja, o manuseio do laço (Tabela 3).

Tabela 3. Tabela de freqüência do intervalo do dia em que a dor ocorre

Intervalo do dia

Frequência

Percentagem

Percentagem Válida

Percentagem Cumulativa

Manhã

2

9.5

11.1

11.1

Tarde

2

9.5

11.1

22.2

Entardecer

6

28.6

33.3

55.5

Noite

4

19.0

22.2

77.7

Dois turnos

3

14.3

16.7

94.4

Todo dia

1

4.8

5.6

100.0

Total

18

85.7

100.0

 

Sem dor

3

14.3

 

 

Total

21

100.0

 

 

    Estes resultados mostram que no horário do entardecer se apresentam os maiores indícios de dor durante um dia, possivelmente por ser este o momento de maior sobrecarga na estrutura física da coluna vertebral, pois é neste período que as estruturas se encontram mais fadigadas. A fadiga muscular é um fenômeno comum nas atividades esportivas e diárias, resultando numa piora da performance motora sendo também considerada um dos fatores causadores de lesões músculo-esqueléticas7.

    Quanto a existência de alguma posição ou movimento que piore a dor nas costas, 66,7% (n=14) dos peões referiram não perceber esta existência. Já quanto a existência de alguma posição ou movimento que melhore a dor nas costas, 61,9% (n=13) dos peões referiram perceber esta existência, sendo esta a posição deitada.

    A posição deitada (decúbito dorsal) foi a posição que mais alivia a dor nas costas dos peões, possivelmente porque nesta posição ocorre uma diminuição da pressão axial que causa a pressão das vértebras sobre os discos vertebrais. Segundo Oliver & Middleditch8 os níveis mais baixos de atividade dos músculos dorsais e de pressão intradiscal são encontrados na posição deitada, pois indivíduos com algum (embora nem todos) tipo de patologia de disco intervertebral obtêm alívio da dor assumindo esta posição.

    Quanto ao local da coluna vertebral que a dor se manifesta, 71,3% (n=15) referem dor nas regiões dorsal e lombar simultaneamente (Tabela 4). Este resultado pode estar associado com a posição dos peões durante a atividade de tiro de laço, que na maior parte do tempo é em posições que causam desequilíbrios do corpo, seja na posição sentada ou em pé. Segundo Coury9 o simples fato de o indivíduo passar da postura em pé para a sentada aumenta em 35% a pressão intra-discal e todas as estruturas posteriores da coluna ficam estendidas, o que, se realizado em condições de desequilíbrio corporal, como sobre um cavalo, pode ser um importante fator para a dor nas costas.

Tabela 4. Tabela de freqüência do local da coluna vertebral que a dor ocorre

Regiões da coluna

Frequência

Percentagem

Percentagem Válida

Percentagem Cumulativa

Dorsal

1

4.8

5.3

5.3

Lombar

1

4.8

5.3

10.6

Dorsal e lombar

15

71.3

84.1

89.4

Toda coluna

1

4.8

5.3

100.0

Total

18

85.7

100.0

 

Sem dor

3

14.3

 

 

Total

21

100.0

 

 

Conclusão

    Os resultados demonstraram que a prevalência de dor nas costas em peões que praticam tiro de laço nas canchas de rodeio da cidade de Canoas – RS é de 85,7%, sendo que esta dor se manifesta prioritariamente nas regiões dorsal e lombar da coluna vertebral (71,3% de ocorrência nestas regiões) e para 47,6% dos peões esta dor se manifesta no final do dia.

Referências bibliográficas

  1. Nunes ZR. Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, 2000.

  2. Knoplich J. Enfermidades da coluna vertebral. 2ª edição. São Paulo: Panamed, 1986.

  3. Cailliet R. Compreenda sua dor nas costas, um guia para prevenção tratamento e alivio. ARTMED, 2002.

  4. Candotti CT, Guimarães AC. O emprego do método de relaxamento muscular de Leon Michaux no tratamento da dor lombar de atletas de ginástica rítmica desportiva. Revista Perfil 1998; 2:2.

  5. Schmidt CO, Kohlmann T. Epidemiological Z. Orthop. Ihre Grenzgeb 2005.

  6. Knoplich J. Enfermidades da coluna vertebral: Uma visão clínica e fisioterápica. 3º edição. São Paulo: Robe, 2003.

  7. Nahas MV. Atividade física, Saúde e Qualidade de Vida: Conceitos e Sugestões para um Estilo de Vida Ativo. Londrina: Midiograf, 2001.

  8. Oliver J, Middleditch A. Anatomia funcional da coluna vertebral. Rio de Janeiro: Revinter, 1998.

  9. Coury hjc. Programa auto-instrucional para o controle de desconfortos posturais em indivíduos que trabalham sentados. Dissertação de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1994.

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